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Coluna Vitor Vogas

Sérgio Meneguelli não disse nada de mais. Na verdade, ele está certo

O que o ex-prefeito de Colatina REALMENTE disse sobre bancadas temáticas no Congresso, sobre a bancada evangélica, Crivella, casamento gay, maconha, aborto e o presidente Bolsonaro. E meus comentários sobre cada um desses tópicos

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Sérgio Meneguelli. Foto: Reprodução/Facebook

Se pode-se imputar um grande e grave erro a Sérgio Meneguelli é o de ter dito tudo o que disse, em entrevista a este espaço, estando onde está.

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Tenha sido por ingenuidade, falta de tato, erro de cálculo político ou “excesso de translucidez”, o fato é que ele assumiu, publicamente e sem medir palavras, uma série de posicionamentos pessoais que se chocam com as bandeiras e os valores sustentados pelo próprio partido: o evangélico, conservador e bolsonarista Republicanos. Assim, involuntariamente, pôs-se em rota de colisão com a direção nacional da legenda nascida da Igreja Universal – isto é, com a ala dos pastores evangélicos que de fato a controlam –, colocando em seríssimo risco a manutenção da própria candidatura ao Senado.

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Dito isso, propomos hoje o seguinte: esqueçamos por ora o partido em que Meneguelli está. Deixemos momentaneamente de lado esse conflito partidário e a distância abissal entre o que pensam o pré-candidato e os caciques da própria sigla. Atenhamo-nos por um instante ao teor de suas declarações. Concentremo-nos em analisar o mérito dos seus argumentos.

Afinal de contas, o que foi que Meneguelli falou de tão anômalo ou absurdo assim?

Sinceramente, nada.

Na minha avaliação pessoal, ele não disse nada de mais. Ao contrário: penso até que o ex-prefeito de Colatina tem razão em quase tudo o que disse na entrevista que me deu. E sinto-me até na obrigação de vir aqui registrar isso, como autor de um “pingue-pongue sincerão” que, a julgar pela reação do presidente nacional do Republicanos, pode até lhe custar a candidatura ao Senado.

Abaixo, o a analisar, um a um, alguns pontos capitais da entrevista de Serginho, como ele é mais conhecido, reproduzindo suas exatas palavras e ajuntando comentários pessoais.

1. Bancadas temáticas

O que disse Serginho

Pretendo participar de todos os debates lá [no Senado], mas de uma forma que a gente não seja Maria vai com as outras nem pau mandado. Não vou fazer um mandato temático. Acho que essa divisão não é tão democrática. […] Acho que um senador, na Câmara Alta, tem que estar preparado para todos os temas, principalmente aqueles que venham a trazer uma melhor qualidade de vida para a população. Eu não quero ser deputado de bancada. Claro: tem orientação partidária? É assim que funciona? Sim. Mas eu não quero ser Centrão, bancada ruralista, bancada evangélica… Acho que essa divisão no Legislativo é injusta. E os segmentos que não têm bancada lá? Por exemplo, lá não tem a bancada das domésticas. Lá não tem a bancada dos motoboys. Mas tem a do agronegócio, tem a dos evangélicos…”

Meu comentário

Ele está certo. Os 594 congressistas são eleitos para representar no Parlamento a todos os cidadãos brasileiros (ou, pelo menos, os do seu estado de origem). Um deputado ou senador pode até ter sido eleito com votação concentrada em determinado segmento, mas, uma vez no Congresso, deve legislar pensando no melhor interesse coletivo, não só na categoria que o ajudou a chegar lá. Não é isso o que se vê, porém: na prática, o olhar para a coletividade manda lembranças.

Muitos parlamentares se comportam como representantes ou lobistas de interesses privados (e, não raro, econômicos) de determinados grupos. Isso é ainda mais perceptível nas chamadas bancadas BBB (da bala, da Bíblia e do boi), que ganharam muita força durante o governo Bolsonaro, representando, respectivamente, os interesses da indústria das armas, de igrejas e dos ruralistas. O que Serginho disse não foi nada além de: “Tô fora! Não vou entrar nessa”.

2. Bancada da Bíblia

O que disse Serginho

“O Estado é laico. Como é que vai ter uma bancada evangélica onde o Estado é laico? […] Acho que todos os segmentos devem participar. Mas eu não vou agir nessa linha. Não é todo republicano que é evangélico. Talvez o partido tenha sido fundado no Rio de Janeiro lá, não sei o quê e tal, mas eu não vejo como um partido evangélico. Parto do princípio de que o Estado é laico. Como é que vou participar de uma bancada religiosa? Eu sou contra essas nominações, sabe? A função de todos lá é a mesma: representar o povo brasileiro, não importa se ele é católico, se é crente, se é ateu ou não.”

Meu comentário

Ele está certo. Na minha opinião, a atuação de uma “bancada evangélica” caracteriza uma distorção do nosso sistema de representação parlamentar. Em vez de legislarem para todos, respeitando a premissa de que o Estado brasileiro é laico (bem lembrada por Serginho, mas que nem deveria ser esquecida), muitos parecem confundir o terno de parlamentar com o de pastor ou líder religioso, a tribuna com um púlpito, argumentação com pregação. A própria existência de um partido político para representar interesses e crenças de determinadas igrejas já é, por si, bastante discutível.

Se o parlamentar, em qualquer casa legislativa, ao decidir sobre certas matérias, coloca suas crenças religiosas (de foro íntimo) acima da Constituição, das leis e do interesse público, já começa mal. Se ele se elege e chega ao Congresso especificamente com a missão de representar uma igreja ou uma fé, já começa errado.

A fé de todos deve ser respeitada, mas, em uma democracia liberal e em um Estado republicano como o nosso, não deve se misturar com política e com poder. Ora-se em templo religiosos, em ambientes privados… O Parlamento não é lugar de oração (aliás, nenhuma repartição pública o é), muito embora tantos parlamentares e governantes se esqueçam disso.

A própria presença de crucifixos e outros símbolos cristãos em espaços oficiais dos Três Poderes (tribunais, casas legislativas, gabinetes em geral) deveria ser repensada, assim como a prática instituída da leitura de versículos bíblicos ao início de sessões legislativas – pode não parecer óbvio de tão naturalizado que é, mas, de saída, isso exclui todos os cidadãos que não se sentem representados pela fé cristã.

Crenças religiosas, restritas aos seguidores de determinada igreja, frequentemente se chocam com interesses e direitos coletivos e com a própria legislação brasileira. Mas o que se tem visto, com incômoda frequência e indesejável naturalidade, aqui do lado na Câmara de Vitória, em Brasília e alhures, são parlamentares querendo fazer valer pre(con)ceitos religiosos (aqueles da sua própria religião) sobre direitos e interesses coletivos e garantias constitucionais, ao legislar sobre certos assuntos (vide o caso do “Escola sem Partido” e seus genéricos).

Pior ainda são os candidatos que ficam fazendo proselitismo religioso e, como disse Serginho, usando o nome de Deus em vão para “parecerem bonzinhos” e se elegerem. Isso se chama exploração da fé alheia. Ele pode não ter medido bem as palavras, mas, em essência, está correto.

3. Marcelo Crivella

O que disse Serginho

“Eu acho que o Crivella foi mais um pastor do que um prefeito. Então não, eu vou ser prefeito, vou ser político. Eu não vou ter mandato com religião.”

Meu comentário

Ele está certo. Marcelo Crivella, um expoente dessa relação distorcida entre política e religião, realmente foi um prefeito que se comportou como um pastor (um mau pastor) à frente da segunda maior cidade do país, precisamente como afirmou Serginho. Governou o Rio de Janeiro favorecendo outros líderes religiosos na obtenção de serviços da prefeitura e priorizando as próprias crenças religiosas em detrimento dos interesses da maioria da população e, inclusive, das tradições festivas e culturais da cidade (vide o que aconteceu com o carnaval do Rio durante o seu governo).

4. Direitos para casais homoafetivos

O que disse Serginho

“Vou te responder com uma frase que o Caetano canta: ‘Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é’. Se a pessoa for feliz naquele casamento, que ela seja feliz. Não tenho que opinar sobre como aquela pessoa quer viver. […] Direitos reconhecidos acho que qualquer sociedade deve ter. Às vezes você divide uma casa com uma pessoa do mesmo sexo. Mesmo que você não tenha relação afetiva com aquela pessoa, vocês estão dividindo um mesmo espaço, então têm que ter os mesmos direitos. Cada um tem o direito de ser o que quer ser. Isso para mim é uma coisa tão assim… Eu não sei nem por que se entra nesses debates, porque a própria sociedade vai conquistando isso.”

Meu comentário

Ele está certo. É óbvio que casais homoafetivos devem ter seus direitos reconhecidos e garantidos pela Justiça brasileira, como qualquer casal heterossexual. “A família é a base da sociedade”, ok, mas existem inúmeros modelos de família que não o heteronormativo. A “tradicional família brasileira” é estatisticamente predominante, mas não exclui a existência das demais. E todos esses modelos precisam ser igualmente acolhidos pela lei (herança, pensão, adoção, comunhão ou separação de bens, direitos civis em geral).

Aceite-se ou não, a homossexualidade é um fato social, que acompanha a espécie humana ao longo das civilizações; é um fato da vida. Já dizia Hebe Camargo em antológica entrevista ao “Roda Viva” nos anos 1980: gays trabalham, pagam seus impostos etc., são cidadãos como outros quaisquer e cumprem seus deveres como quaisquer cidadãos. Por que o Estado deveria negar-lhes direitos?

Isso é pauta do século ado e, como disse Serginho, a sociedade evolui. emos para a próxima.

5. Legalização da maconha

O que disse Serginho

“Quando se fala da legalização da maconha ou do aborto ou de qualquer outra coisa, tem que haver debate, tem que se ver a forma como é. Por exemplo, nos Estados Unidos, no estado de Massachussetts, a maconha é liberada. Mas não é liberada de qualquer maneira. Tem que se ver a forma como a proposta é colocada na mesa. Pode ser liberada de uma forma que seja prejudicial, mas pode ser liberada de uma forma que pode até trazer divisas. É como a discussão sobre jogos de azar no país: tem que se ver como é a maneira. As pessoas têm mania de colocar ‘ou oito ou oitenta’: ou você fuma maconha ou você é contra. Ora, você pode não fumar e não gostar, mas aceitar e não ver mal nenhum. […] É um tema que eu quero participar. Todos os temas polêmicos que envolvem a saúde da população a gente tem que colocar em primeiro lugar.”

Meu comentário

Ele está certo. Em primeiro lugar, note-se que não se falou de nenhuma droga ilícita além da maconha. A pergunta foi especificamente sobre a cannabis sativa, cuja comercialização e o consumo já foram legalizados em diversas partes do mundo – Uruguai, países europeus, estados norte-americanos. A política de “guerra total às drogas”, lançada por Nixon nos Estados Unidos nos anos 1970 e replicada até hoje no Brasil, provou-se completamente inócua no decorrer das décadas. Para muitos estudiosos, gera o efeito contrário ao pretendido: só faz retroalimentar o crime organizado.

Se o Estado descriminalizar a cannabis, regulamentando e fiscalizando as etapas da cadeia do negócio (produção, venda, tributação), pode transformar esse comércio em mais uma atividade econômica lícita geradora de divisas que voltarão para os cofres públicos (ou seja, para o próprio Estado) e que poderão se reverter em benefícios para a comunidade. Nesse caso, em vez de tirar da escola crianças hoje seduzidas pelo tráfico, a venda legal da maconha poderia ajudar a financiar a construção de escolas para essas mesmas crianças, privando o tráfico de uma lucrativa fonte de receitas e, por consequência, enfraquecendo-o.

Acima dos tabus e preconceitos, ou da hora de o Brasil realmente se abrir para uma discussão honesta e equilibrada sobre o tema e sobre as possíveis FORMAS de se legalizar a maconha, como bem frisou o próprio Serginho e como já foi feito em muitos países. É preciso ressaltar: o ex-prefeito de Colatina nem sequer se disse a favor da descriminalização. Tudo o que fez foi mostrar-se aberto a discutir o tema, levando em conta as possíveis formas de legalização.

6. Aborto

O que disse Serginho

“Como cristão, eu jamais cometeria um aborto, apesar de achar que o aborto é uma questão mais para as mulheres discutirem. O homem às vezes tem filhos abortados e nem sabe disso. Agora, a mulher sabe quando aborta um filho. Como cristão, sou contra ceifar qualquer tipo de vida. E o feto é vida.”

Meu comentário

Ele está certo: independentemente de etnia, cor, classe social, origem, religião ou credo, quem aborta são as mulheres. Por isso, elas realmente deveriam ser mais ouvidas neste debate – que por sinal muitas vezes nem existe, interditado por homens do alto de seus palanques, tribunas ou púlpitos. O aborto é um tema muito delicado (porque envolve a discussão, com contornos científicos, metafísicos e transcendentais, sobre quando exatamente tem início a vida humana); mas é uma das questões mais envoltas em um véu de hipocrisia neste país.

Mulheres fazem abortos clandestinos. Ponto. É outro fato social. Fazem-no cotidianamente, não raro encorajadas ou até intimidadas por seus parceiros, em número que não aparece nas estatísticas oficiais. O que as estatísticas, sim, revelam: quase todas as mulheres brasileiras são cristãs… donde se conclui que, logicamente, quase todas as mulheres brasileiras que abortam são cristãs – e o fazem apesar dos tabus e mandamentos religiosos.

Premidas pela necessidade, por alguma circunstância da vida, a mãe solteira, a adolescente, a esposa que não pode alimentar outra boca não são impedidas pelo dogma. Tornemos a Hebe Camargo: até esse ícone da tradicional família brasileira e do conservadorismo cristão já itia, nos anos 1980, ter abortado anos antes. A mulher rica cristã faz aborto; a pobre cristã, igualmente. A diferença estará no atendimento recebido, dependendo do poder aquisitivo e da qualidade da clínica que se poderá ou não pagar.

A pergunta que deveria ser feita: até que ponto a interdição deste debate está levando mulheres aos milhares ou até milhões no Brasil a colocar em risco a própria vida, incluindo menores de idade?

7. Jair Bolsonaro

O que disse Serginho

Em parte, sim, me identifico com Bolsonaro; em parte, não. Eu não sou um político que o líder faz tudo, eu vou lá e me identifico. Eu sou um crítico. Então tem coisas que eu concordo com Bolsonaro como tem coisas que eu não concordo. […] Por exemplo, concordo com ele quando ele quer realmente fazer economia, quando ele quer desburocratizar, acabar com certos mimimis. Agora, tem coisas que eu não concordo. Por exemplo, acho que a política ambiental deixa muito a desejar. […] Na pandemia, não segui a orientação do governo Bolsonaro. Segui a orientação da ciência. Fui firme e forte. E bati de frente com bolsonaristas doentes na cidade, comerciantes… […]. Subi no trio elétrico pedindo às pessoas que fechassem, que respeitassem. Fui para a rua fazer isso. Respeitei os decretos que vinham de cima. […] Pandemia não é uma questão de política. É uma questão de ciência. Fui um dos maiores incentivadores e até hoje incentivo a vacina. Então, me envolvi como cidadão e, como prefeito, fiz aquilo que achava que deveria ser feito, como a maioria do mundo fez: segui a ciência.”

Meu comentário (pandemia)

Em primeiro lugar, ressalte-se: Serginho declarou que votará em Bolsonaro, por coerência e fidelidade partidária, seguindo a orientação do seu partido. O que ele ressalvou é que não se considera um “bolsonarista” (no sentido do apoio incondicional), pois não é “seguidor de mitos” e tem personalidade política própria. Por isso, prefere manter-se livre e independente para aprovar medidas e posturas de Bolsonaro quando concorda com o presidente ou para reprová-las e criticá-las quando não está de acordo, dependendo de cada caso.

Nas críticas, a bem da verdade, Serginho foi até econômico. Limitou-se a citar pontualmente duas áreas em que a atuação do governo é mesmo totalmente condenável: a gestão (se é que se pode chamar assim) da pandemia e a política ambiental.

A gestão da pandemia é catastrófica. Desde março de 2020, o presidente pratica uma contínua política de sabotagem às medidas básicas de prevenção do contágio – as de isolamento social, ainda mais vitais quando nem sequer vacinas existiam –, além de manter uma sistemática campanha pessoal de desestímulo à vacinação em massa, por meio de uma série de gestos e declarações estapafúrdias (a lista é longa). Isso quando governantes do mundo inteiro, com o mínimo de senso de urgência e de valorização da vida humana, corriam no sentido contrário ao do governante brasileiro.

Eximindo-se da responsabilidade pela adoção de medidas impopulares, mas imprescindíveis entre 2020 e 2021, Bolsonaro lavou as mãos e foi circular por aí a pé, de moto e a nado, incentivando aglomerações e deixando para prefeitos e governadores todo o ônus político de decretar limitações a atividades econômicas e à circulação das pessoas.

Era o que ele deveria ter feito se quisesse de fato salvar vidas. E, se os estados não tivessem assim agido a partir de sua omissão, muito mais vidas teriam sido perdidas além das quase 700 mil ceifadas pela doença até agora – número que, vale lembrar, só é confiável devido à formação de um consórcio de veículos de imprensa, alimentados pelas secretarias estaduais de Saúde. No errático Ministério da Saúde, nada menos que quatro ministros aram pela pasta em dois anos.

Como se não bastasse, o presidente mostrou-se incapaz de se solidarizar com as vítimas e seus parentes (ao contrário, mais de uma vez zombou delas, ao imitar jocosamente pessoas sem ar, com Covid) e de manifestar o traço que mais nos distingue como seres humanos: a capacidade de se sensibilizar perante a dor do outro. Ele não a tem.

Meu comentário (meio ambiente)

Quanto à preservação ambiental, exibindo uma visão retrógrada, do século ado, Bolsonaro a concebe como inimiga do progresso e não como aliada do desenvolvimento econômico – num momento em que o resto do mundo transita de uma ultraada economia fóssil para uma economia verde.

Antes de ser eleito e durante o exercício do mandato, o presidente expressou diversas vezes desprezo e desrespeito pelos povos originários do país – o que vale também para o vice-presidente, Hamilton Mourão –, também tratando as reservas indígenas demarcadas como entrave para o livre desenvolvimento de certas atividades econômicas em áreas florestais, como a pesca, a extração madeireira e o garimpo (uma obsessão pessoal).

Órgãos vitais de proteção do meio ambiente, da cultura e da vida dos povos originários, como o Ibama e a Funai, estão enfraquecidos. Por ações, omissões e especialmente declarações, Bolsonaro estimula o desmatamento e a ocupação ilegal de reservas ambientais e de terras indígenas. Longe da fiscalização, garimpeiros e outros fora da lei sentem-se legitimados e “autorizados pelo presidente” para intensificar atividades ilegais nessas áreas.

O desmatamento no Brasil tem aumentado ano a ano, assim como os conflitos e a violência contra fiscais, ambientalistas, jornalistas e defensores de direitos humanos da população indígena. Prova maior disso é o recente e emblemático episódio do esquartejamento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips, que levou Bolsonaro, uma vez mais – assim como em relação à pandemia –, a expor seu lado mais cruel.

Suas declarações sobre o caso imputam às próprias vítimas a culpa pelo seu assassinato, no Vale do Javari. Primeiro, ele definiu a expedição da dupla como “excursão” e “aventura”. “Pelo que tudo indica, se mataram os dois, espero que não, estão dentro d’água. E dentro d’água pouca coisa vai sobrar, peixe come, não sei se tem piranha no Javari”. Na última quarta (15), chegou a este extremo: “Esse inglês era mal visto na região, fazia muita matéria contra garimpeiros, questão ambiental. Então, naquela região bastante isolada, muita gente não gostava dele. Deveria ter segurança mais que redobrada consigo próprio”.

Como cidadão e jornalista, deixo aqui o meu repúdio a mais essa declaração do presidente (esta, sim, uma anomalia).

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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