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Coluna Vitor Vogas

Arnaldinho abraçou o Paulo? Hartung volta a “chacoalhar” a política do ES

E mais: A preparação de Hartung para retornar à cena, nas redes sociais. E o que Tarcísio de Freitas disse sobre o ex-governador

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Casagrande, Arnaldinho e Hartung

Casagrande, Arnaldinho e Hartung

Em sua última eleição para o Governo do Espírito Santo (na verdade, a última disputada por ele para qualquer cargo), em 2014, Paulo Hartung usou bastante a expressão “chacoalhar o Estado”, com a variação “sacudir o Espírito Santo”. Foi a exitosa campanha do “Abrace o Paulo”, dirigida pelo marqueteiro Jorge Arapiraca, de Alagoas, na qual Hartung, sem mandato, voltou ao Palácio Anchieta, derrotando o então governador Renato Casagrande (PSB).

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ados quase 11 anos, o ex-governador, com oito vitórias eleitorais e ainda hoje invicto nas urnas, está a quatro dias de se filiar ao PSD, em São Paulo, evento que marcará seu retorno “para valer” à atividade política. No próximo ano, após 12 anos sem disputar mandatos, ele é cotado para concorrer a algum cargo majoritário estadual (governador ou senador) ou participar, se conseguir, de algum projeto eleitoral nacional.

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Contudo, antes mesmo de se consumar essa “volta oficial”, Hartung voltou a chacoalhar com força a política capixaba e a sacudir o tabuleiro de xadrez político montado para as eleições do ano que vem. O xis da questão é, exatamente, se o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, abraçou ou não o Paulo – ou se apertou-lhe a mão, ou lhe deu um bom tapinha nas costas, enfim, se o grande aliado de Casagrande aproximou-se ou não, politicamente, do principal adversário político do atual governador desde aquela eleição de 2014.

No Palácio Anchieta, ninguém tem dúvida de que a resposta é sim.

Sem partido desde que saiu do Podemos, em março, e determinado a construir candidatura ao Governo do Estado, Arnaldinho reuniu-se com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, no último dia 13, para tratar de sua possível filiação ao partido. É o mesmo em que Hartung ingressará oficialmente em quatro dias.

A cúpula do governo Casagrande está convencida de que o encontro de Arnaldinho com Kassab foi articulado, nos bastidores, por Paulo Hartung.

Em nossa apuração, não encontramos nenhum elemento que comprove isto. Nenhuma fonte confirma tal informação. Procurado pela coluna para elucidar este ponto, o próprio Arnaldinho não se pronunciou. Fontes próximas ao prefeito o negam. O deputado federal Victor Linhalis (Podemos), que também participou do encontro com Kassab, disse que tudo foi articulado por ele. Mas, no Palácio Anchieta, a operação de Hartung nos bastidores é tida como informação segura, assim como um princípio de aproximação entre o ex-governador e Arnaldinho.

No Palácio Anchieta, a convicção é a de que Hartung, sem aparecer nem deixar impressões digitais, viria agindo para desorganizar o arranjo político montado por Casagrande para a própria sucessão. Esse “arranjo” consiste numa grande coalizão de aliados, que vai de Arnaldinho a Ricardo Ferraço, ando por Sérgio Vidigal, Euclério Sampaio, deputados, partidos etc. O prefeito de Vila Velha, pela popularidade, pela juventude e pelo tamanho do colégio eleitoral, é uma perna importante dessa coalizão. Sem falar que pode ser, de fato, candidato a governador do Estado com o apoio do governador. Casagrande o mantém como carta na manga se Ricardo, sua aposta prioritária, não vingar.

Ainda no Palácio Anchieta, a percepção é a de que Hartung viria, discretamente, buscando atrair Arnaldinho para outro movimento.

Em tese – apenas em tese –, se Arnaldinho de fato decidir ser candidato a governador fora do grupo de Casagrande – isto é, contra o candidato do atual governo –, isso não seria uma “sacudida”, mas um cataclismo no atual tabuleiro político do Espírito Santo, tal qual Casagrande o arrumou até aqui.

Ainda em tese, supondo que Arnaldinho se aproxime mesmo de Hartung – por sua vez, mais próximo do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos) –, isso poderia ter consequências imprevisíveis para os planos eleitorais do grupo liderado por Casagrande. Desse trio, poderia sair um candidato a governador (um dos três) e um candidato a senador (Hartung ou Pazolini). Essa, a preocupação maior no Palácio Anchieta.

A certeza quanto ao primeiro flerte entre Hartung e Arnaldinho bastou para o governador vir a público, em declaração à coluna, e dar uma “enquadrada” no prefeito de Vila Velha. Em reação veemente, delimitou bem claramente até onde está disposto a itir de bom grado as movimentações eleitorais do aliado canela-verde:

“Se Arnaldinho se movimentar em direção a aliados, mesmo não tendo um script combinado, está dentro de um comportamento normal. Nós temos hoje aliados e adversários. Todos sabem quem são os nossos aliados e quem são os nossos adversários. Então, se o movimento for dentro de um ambiente de aliados, é um comportamento normal”.

E completou: “Ter encontro é normal da política. Ter compromisso é diferente. Ter encontro é normal. Ter compromisso e uma articulação real com quem não é aliado, isso não é adequado. E não acredito que ele esteja fazendo isso”.

O fundo dessa declaração foi Paulo Hartung.

O recado foi mais que assimilado. No mesmo dia, Arnaldinho pediu a Casagrande uma audiência e, à tarde, foi pessoalmente ao Palácio Anchieta para aparar arestas com ele.

Na conversa, além de tratarem de investimentos do Governo do Estado a serem anunciados nos festejos de aniversário de Vila Velha (23 de maio), os dois entraram diretamente nessa pauta. Pelo que apuramos, o governador foi direto. Reiterou a Arnaldinho que, no momento, Ricardo Ferraço tem seu apoio para tentar se viabilizar, mas que o prefeito de Vila velha tem toda a liberdade e legitimidade para fazer seu movimento eleitoral… desde que seja ao seu arco de alianças.

Se, em 2026, o candidato de Casagrande for mesmo Ricardo, o governador quer que Arnaldinho o apoie. Da mesma forma, se for Arnaldinho, Ricardo deverá apoiá-lo. Ou, se for um terceiro integrante do mesmo grupo, os dois deverão apoiá-lo. É o que o governador espera.

Mas, se Arnaldinho decidir avançar num flerte com adversários, ou, no caso específico, com o maior dos seus desafetos, Casagrande lavará as mãos e não se verá mais obrigado a nenhum compromisso político com o prefeito de Vila Velha. A conversa foi nesse tom.

Em conclusão, nada de ir comer barrinhas de cereal com o outro… muito menos tomar taças de vinho.

E o PSD? Está fora do grupo de aliados? Para o Palácio Anchieta, depende de quem dirigirá a sigla no Espírito Santo. Se ficar sob a influência de Hartung, é óbvio que sim. Hoje, o presidente estadual é Renzo Vasconcelos. O prefeito de Colatina não é considerado um aliado pelo governo Casagrande. E tem proximidade com Pazolini.

Após a audiência no Palácio Anchieta, Arnaldinho postou uma foto com Casagrande no Instagram e a seguinte legenda:

“Política se faz com diálogo, parceria e compromisso com o futuro. Seguimos juntos, trabalhando pelo que realmente importa: o bem do povo capixaba”.

Esse abraço, na entrada do gabinete, deve ter sido um daqueles sufocantes. O aperto de mãos, um daqueles de machucar os ossinhos dos dedos.

Quanto a Hartung, ainda não voltou formalmente à atividade política. Mas, de certo modo, “já voltou”. Parado ou não, provou que, sem aparecer, ainda tem o poder de “sacudir” os bastidores políticos do Espírito Santo.

Ex-colaboradores de Hartung

No mercado político capixaba, em meio a uma onda de especulações, são lembrados pontos de interseção entre Arnaldinho e Paulo Hartung. Duas mentes fundamentais no núcleo pensante do prefeito, embora não trabalhem com o ex-governador há muitos anos, mantiveram estreita colaboração com Hartung por longo tempo: o assessor especial da Secretaria Municipal de Governo, Robson Leite, responsável pela articulação política de Arnaldinho, e o secretário municipal de Comunicação, Felício Corrêa, que conduz o marketing político do prefeito.

A preparação para o retorno de Paulo Hartung nas redes sociais

Como numa contagem regressiva para a filiação ao PSD, Hartung, nas últimas semanas, ou a intensificar, em seu perfil no Instagram, postagens de caráter político, muitos deles memorialísticos. Para resgatar a própria trajetória, de líder estudantil da Ufes a governador por três mandatos, postou fotos de si em debates e materiais de campanhas para deputado estadual, deputado federal, prefeito de Vitória, senador e por aí vai…

Há poucos dias, publicou também uma foto dele na capa do jornal A Gazeta no auge da campanha a governador em 2014 (sua última). E repostou uma reportagem televisiva de 1984, na qual ele, então jovem deputado estadual, dá entrevista em defesa da emenda das Diretas Já (que acabaria rejeitada no Congresso), durante comício na Praça Oito, Centro de Vitória.

A assessora de imprensa de Hartung, Vivian Camargo, publicou e distribuiu um vídeo feito para a campanha dele à reeleição em 2006: uma detalhada retrospectiva de sua trajetória como homem público até aquele ponto. A série de depoimentos começa justamente com o do pai de Hartung, o senhor Paulo Gomes, sua maior referência e maior incentivador na vida pública. Na quarta-feira (21), na mesma rede social, o ex-governador postou uma foto antiga ao lado do pai, em homenagem ao senhor Paulo Gomes, que completaria 100 anos na data.

Em paralelo, Hartung tem provado estar bastante ativo – pelo menos no ambiente político de São Paulo. Na terça-feira (20), publicou encontro com o presidente nacional do Republicanos, partido do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Hartung é incentivador de ambos, lá e cá.

Pereira postou: “Invasão capixaba em São Paulo! […] Conversamos sobre temas que unem nossos estados e tratamos de iniciativas para acelerar o desenvolvimento regional e do Brasil, algo que o Republicanos já vem construindo com seriedade e bons resultados. Seguimos juntos!”

No sentido da leitura: Roberto Carneiro, Paulo Hartung e Marcos Pereira

No sentido da leitura: Roberto Carneiro, Paulo Hartung e Marcos Pereira

Quem também participou desse encontro foi Roberto Carneiro, outro velho aliado de Hartung. Hoje presidente do Republicanos em São Paulo, Carneiro foi secretário de Esportes no último governo de Hartung (2015/2018), entre outros cargos. Também foi o principal articulador político da chegada de Pazolini à Prefeitura de Vitória em 2020.

No dia seguinte, quarta-feira, também em São Paulo, Hartung participou de evento importante promovido pelo Governo de Tarcísio: o lançamento do Programa de Superação da Pobreza do Governo do Estado de São Paulo, o Superação SP. A idealizadora do programa é ninguém menos que Andrezza Rosalém, secretária de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social no último governo Paulo Hartung e atual Secretária de Desenvolvimento Social de São Paulo, por indicação do próprio Hartung a Tarcísio.

Durante a solenidade, Andrezza agradeceu muito, nominalmente, ao ex-governador e declarou que ele foi o “avalista” de sua nomeação. “E que avalista!”, exclamou.

Tarcísio confirmou que a indicação partiu de Hartung, a quem se desdobrou em elogios: “É uma pessoa muito especial, um governador destacado, um exemplo de homem público, uma pessoa que pensa o Brasil e uma pessoa que foi fundamental para a construção desse elo”.

O governador de São Paulo disse que ligou para Hartung pedindo ajuda para escolher alguém para chefiar a pasta. Chamou Andrezza de “preciosidade”. Agradeceu ao ex-governador “pela presença, pela paciência e pelos conselhos”. “Você é parte disso.”

Hartung também tem feito menções elogiosas a Tarcísio em suas redes sociais.