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Coluna Vitor Vogas

As condições de Marcelo Santos para apoiar Ricardo Ferraço até o fim 

Futuro presidente do União Brasil é, hoje, um dos principais apoiadores de Ricardo para governador… mas apoio não será mantido a todo custo, tem prazo de validade e algumas condicionantes. Saiba quais

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Ricardo Ferraço e Marcelo Santos (ao centro) durante sanção de lei estadual no gabinete do governador. Foto: Léo Junior

Ricardo Ferraço e Marcelo Santos (ao centro) durante sanção de lei estadual no Palácio Anchieta (27/03/2025). Foto: Léo Junior

Em breve, como ele mesmo confirma, o presidente da Assembleia Legislativa (Ales), Marcelo Santos, assumirá a presidência do União Brasil no Espírito Santo. O partido vai se federar nacionalmente com o Progressistas (PP), dando origem a um gigante partidário. A federação é de reprodução obrigatória nos estados. Na prática, nas eleições, funciona como um partido só. No Espírito Santo, o União Progressista (UP), nome de tal federação, será presidida pelo deputado Josias da Vitória. Significa que Marcelo, enfim, realizará o antigo sonho de presidir um grande partido no Estado. Mas, qual um rei que reina, mas não governa, dentro da federação, estará subordinado a Da Vitória – um dos seus mais antigos aliados políticos.

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Fizemos esse preâmbulo para introduzir a seguinte questão: e quanto ao “acordo de janeiro” firmado por Marcelo com o governador Renato Casagrande (PSB) e com o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB)? Por acaso segue valendo?

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Vamos lembrar: no dia 22 de janeiro, Marcelo anunciou que o União Brasil havia assumido o compromisso de estar no projeto político-eleitoral liderado por Casagrande em 2026, que tem hoje Ricardo como “nome prioritário” para a eleição ao Governo do Estado. Mas isso foi em janeiro, antes do surgimento da federação, fato que produz um novo cenário.

Agora não há que se falar em União Brasil, simplesmente; há o PP embutido, e com proeminência, na federação União Progressista. E aí? O PP acompanhará Marcelo naquela resolução inicial? No Espírito Santo, aquele compromisso prévio do União Brasil vai se estender à federação e o União Progressista estará por inteiro no projeto de Casagrande? Ou acaso, com a federação, tudo fica zerado e pode mudar daqui para a frente? Será preciso dar um F5?

Foi o que perguntamos a Marcelo Santos.

O presidente da Ales e futuro presidente do União Brasil não dá plena certeza nem garantias quanto à manutenção do compromisso anunciado em janeiro, quando o cenário era outro e não havia a federação.

Nos últimos meses, cumprindo a palavra empenhada em janeiro, Marcelo de fato tem se portado como um dos principais auxiliares de Ricardo Ferraço para que o vice-governador consiga viabilizar sua pré-candidatura ao Governo do Estado como o representante do grupo assentado no Palácio Anchieta.

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Por ora – pelo menos, por ora –, independentemente da posição da federação União Progressista no Espírito Santo, Marcelo seguirá apoiando Ricardo e ajudando o vice-governador a se viabilizar.

Mas ele dá a entender o seguinte: esse apoio não será mantido a todo custo, tem prazo de validade e algumas condicionantes.

Ricardo precisa furar a bolha”

Antes de mais nada, Marcelo avalia que, para se viabilizar, Ricardo terá de “furar a bolha” e se mostrar competitivo – o que, pondera ele, também vale para outros possíveis candidatos, como os prefeitos de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), e de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Esse grau de competitividade será mensurado por pesquisas. Na visão do presidente da Ales, deve ser comprovado até o fim do ano. Não pode esperar até abril do ano que vem, prazo fatal para Casagrande decidir se sai ou não do governo para disputar o Senado (ele quer sair) e para definir quem será seu candidato à sucessão.

“Por ser federação, a decisão é única. Eu não posso tomar uma decisão e o PP tomar outra, até porque quem vai liderar a federação é o deputado federal Da Vitória. Por mais que seja uma gestão compartilhada, a decisão final, quem vai editar é ele. O que nós estamos dialogando é de tomar uma decisão em conjunto, até porque meus gestos são em prol da pré-candidatura, vamos chamar assim, do vice-governador Ricardo Ferraço. Ricardo tem um desafio, como todos os outros candidatos ou pretensos candidatos: a gente não sabe até que ponto vão chegar as outras candidaturas, se vão prosperar ou não, assim como a dele. Então, é uma fase de travessia. Nós temos um mar revolto, que é esse período, para que os candidatos possam mostrar a que vieram e a sua viabilidade”, afirma Marcelo.

O futuro presidente do União Brasil ressalta que seguirá cumprindo o papel de ajudar Ricardo a “furar a bolha” e que defenderá essa alternativa junto a Da Vitória:

“Uma pesquisa científica, de profundidade, consegue te mostrar quem são os atores que conseguiram furar uma bolha, a bolha que limita. Então, o Ricardo tem essa missão. E qual é o meu papel? Ajudá-lo a furar essa bolha, como os outros candidatos, naturalmente, devem estar trabalhando isso. Porque, neste momento, fazer uma medição é muito prematuro, é só um sinal. Mas, mais um pouquinho adiante, já começa a descer o sentimento no coração do eleitor: o que ele quer para o Estado, qual o caminho que ele gostaria que o Estado seguisse, ou se quer que continue nesse ritmo que está aqui agora. Então, o meu papel é esse, de ajudar o Ricardo a atravessar esse grande desafio. E se lá na frente ele entender que vai disputar efetivamente a eleição, e ele tem afirmado isso, meu papel é dialogar ainda mais com o deputado federal Da Vitória, que tem uma sensatez muito grande, para nós convergimos no apoio a esse projeto”.

Marcelo deixa claro porém que, se “a bolha não for furada por Ricardo”, será preciso fazer uma reflexão, o que vale para a federação e para o próprio vice-governador:

“Não alcançando esse objetivo de furar essa bolha, com resultados através de estudos, nós temos que fazer uma reflexão sobre qual o caminho a seguir, não só o Ricardo, mas também a federação. Então, o meu caminho natural é o de seguir com o apoio que eu tenho feito ao Ricardo Ferraço, mas entendendo que isso tem um período, que é um período de avaliação que você vai ter que fazer para decidir se segue ou não, porque ninguém é candidato a qualquer custo. Tem que ter um deadline… Eu acredito que não podemos esperar até o período que vai chegar a ele assumir o governo [abril de 2026]. Eu acho que, antes disso, precisamos ter uma definição de qual o caminho que vamos seguir. Mais para o fim deste ano”.

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Marcelo destaca que o risco de uma candidatura a todo custo é o de deixar “à deriva” o projeto que tem Casagrande no leme.

“Nós temos que dar tempo ao Ricardo, para que ele possa, como eu disse, atravessar esse mar revolto, que é o mar de você furar bolha, pelo qual todos vão ar. Vai ar por ele o Pazolini, vai ar por ele o Arnaldinho, os que estão se colocando e a mídia tem divulgado… E Ricardo não é diferente. Então, com essa bolha furada, ele está no direito à reeleição, e aí, ele alcançando os resultados que o coloquem em uma posição de disputa, não há o que se questionar. Mas, não alcançando, ele ou qualquer outro ator naturalmente tem que decidir que não vai disputar, para não colocar, por exemplo, o projeto de um grupo à deriva.”

União Progressista quer lugar na chapa majoritária… quer Da Vitória candidato a senador… e quer apoio integral à sua chapa de federais

Assim como Da Vitória, de quem ele é histórico aliado, Marcelo avalia que, no Espírito Santo, o União Progressista terá porte, peso político, recursos e tempo de TV e rádio para pleitear lugar à mesa com qualquer um para negociar sua participação em uma chapa majoritária. Mais objetivamente: o União Progressista vai querer, no mínimo, ter candidato a vice-governador. Mas, no plano ideal, quer lançar candidatura ao Senado e, dependendo do desenrolar dos fatos, pode até discutir candidatura própria ao Governo do Estado, segundo Marcelo:

“Nós temos aquilo de que todo candidato majoritário precisa, que é o tempo de televisão e de rádio. Nós também temos como prioridade a reciprocidade. O que é isso? É estarmos sentados à mesa sem fórmula pronta de que caminho nós vamos seguir em conjunto. Quem será o nosso candidato a governador? No desenho principal, Ricardo Ferraço. Como é que nós vamos compor a Vice-Governadoria se ele for o candidato? Quem é o senador da República, além de Renato [Casagrande]? E o segundo nome? E as duas suplências? Se não, não nos interessa participar. Seja com um candidato a vice, seja com um candidato ao Senado. Ao Senado ou, em último caso, até na majoritária principal. Mas para isso tem que ter reciprocidade”.

Em entrevista a este espaço, publicada no dia 30 de abril, Da Vitória afirmou: “Tenho muita vontade de disputar uma eleição majoritária”. Também disse: “Topo disputar qualquer eleição, desde que seja projeto de grupo”.

Marcelo endossa as palavras do amigo, aliado e futuro parceiro de federação:

“O Da Vitória é um ativo político muito importante. Ele está preparado para ocupar qualquer posição majoritária, seja de governo ou Senado. Na política e na vida comum, você não pode tirar o brilho das pessoas, e talvez até o sonho delas. Então, essa discussão não é só com o Da Vitória. É com o próprio Ricardo Ferraço, é com o próprio Renato Casagrande… A federação veio e não acabou com o sonho de ninguém. E eu tenho que respeitar o sonho dele”.

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Sendo ainda mais direto, o futuro presidente do União Brasil afirma que Da Vitória daria um ótimo senador:

“Ele já tinha se colocado à disposição para disputar qualquer outra posição que não a de deputado federal. Eu acredito que o Da Vitória possa ocupar uma vaga muito importante no Senado da República. Dependendo do que ocorrer, ele também pode disputar o governo. Mas eu quero trabalhar para que o Ricardo seja o nosso nome. Não sendo, a primeira opção que eu tenho é o Da Vitória”.

Assim, esta é a primeira contrapartida que o União Progressista, de Marcelo e Da Vitória, espera de qualquer um que queira o apoio da federação na eleição para governador: lugar de destaque na chapa. Isso vale, claro, para Casagrande e Ricardo. Se quiserem seguir contando com o apoio da futura federação, terão de estar abertos a isso. O ideal, segundo Marcelo, é que Da Vitória seja um dos dois candidatos a senador, com Ricardo candidato a governador, na chapa da situação. É o que ele chama de “reciprocidade”.

Mas essa é só a primeira contrapartida. A segunda é o apoio integral do Palácio Anchieta à chapa da federação para a Câmara de Deputados. A chapa terá 11 candidatos. Marcelo será um deles. O presidente da Ales é pré-candidato declarado a deputado federal desde novembro de 2022. Quem quiser o apoio do União Progressista na eleição majoritária terá de fortalecer a sua chapa de federais na disputa proporcional. Marcelo acredita que, assim, essa superfederação poderá fazer, pelo menos, três dos dez federais eleitos pelo Espírito Santo, com chances de chegar a quatro.

Podemos dar um exemplo do que seria esse “fortalecimento”. O ex-deputado federal Felipe Rigoni, mesmo sem a presidência da sigla, seguirá no União Brasil – pelo menos, até abril do ano que vem. Até lá, poderá buscar outro partido para tentar voltar à Câmara dos Deputados. Tem conversa aberta, por exemplo, com dirigentes do Podemos. Ora, o União Progressista conta com os votos de Rigoni para fortalecer sua chapa. Se, por orientação de Casagrande, Rigoni for parar em outro partido, Marcelo e Da Vitória lerão isso como um sinal de que o Palácio Anchieta não está tão disposto assim a oferecer as contrapartidas desejadas… e poderão repensar o seu apoio ao candidato do governo na corrida ao Palácio Anchieta.

Eis o jogo que ará a ser jogado.

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