Coluna Vitor Vogas
E se Ricardo Ferraço presidir federação com partido de Pazolini?
Coluna analisa os pontos favoráveis ao vice-governador para, contrariando o senso comum, assumir o comando da inusitada federação entre MDB e Republicanos, discutida por caciques nacionais

À esquerda, Casagrande com Ricardo Ferraço; à direita, Pazolini com Erick Musso
Intensificaram-se, neste mês de maio, as conversas de dirigentes nacionais que podem resultar numa federação partidária formado pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e pelo Republicanos. No último dia 6, os respectivos presidentes nacionais, Baleia Rossi e Marcos Pereira, reuniram-se na Câmara dos Deputados para tratar do assunto. Devem ter nova reunião em breve. No dia 7, avaliamos aqui que, se essa federação de fato tomar forma, nenhuma outra terá maior poder de “bagunçar” o tabuleiro político-eleitoral do Espírito Santo.
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Isso porque hoje, nesta capitania, MDB e Republicanos estão em lados opostos quando se trata do governo de Renato Casagrande (PSB) e da sucessão do governador.
O MDB é o partido do vice-governador Ricardo Ferraço, presidente estadual da sigla e principal aposta do grupo liderado por Casagrande para ser o candidato ao Governo do Estado. Sem esconder a pretensão, Ricardo trabalha intensamente, desde o início do ano, para se viabilizar.
O Republicanos, por sua vez, tem em seus quadros ninguém menos que o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, tratado pelo próprio partido como pré-candidato ao governo. Pode ser apontado hoje, tranquilamente, como o principal possível candidato de oposição ao grupo de Casagrande… e de Ricardo Ferraço. Potencialmente, Ricardo e Pazolini são, hoje, os maiores adversários e concorrentes um do outro. Água e óleo.
Ora, se realmente se consumar a federação do MDB com o Republicanos, apenas um dos dois poderá ser candidato a governador do Espírito Santo, caso ambos permaneçam filiados às respectivas siglas até o fim do prazo imposto pelo calendário eleitoral para a filiação de pré-candidatos: 4 de abril de 2026. Se, ada essa data, os dois estiverem juntos nessa eventual federação, um deles vai sobrar.
Assim, para viabilizar candidatura ao governo, um dos dois terá de buscar outra legenda até a referida data. Qual dos dois? O que estiver mais fraco internamente até lá.
Estamos falando tudo aqui em hipótese – até porque ninguém sabe ainda se a ideia da federação vai de fato avançar, e já há quem duvide muito, em virtude das grandes diferenças ideológicas entre os dois partidos e, principalmente, das arestas regionais a resolver em muitos estados, a exemplo do Espírito Santo.
Mas, supondo que a federação se torne uma realidade daqui a alguns meses, a resposta para a pergunta “qual dos dois, nesse caso, prevalecerá?” está na resposta a outra que a precede: quem, nesse caso, assumirá o controle da federação entre MDB e Republicanos no Espírito Santo?
Em uma análise mais apressada – e foi exatamente a que trouxemos aqui no dia 7 –, poderíamos ser levados a enxergar favoritismo para o Republicanos. Com efeito, alguns pensam que a tendência, na partilha dos territórios pelos caciques nacionais, é que o Espírito Santo entre na cota do partido de Pazolini. Isso com base no critério que tem preponderado nas discussões para formação de fusões e federações entre outros partidos, como a possível fusão entre Podemos e PSDB e a iminente federação entre União Brasil e Progressistas (PP): o número de deputados federais da bancada do estado em questão.
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Por esse critério, no União Progressista, a presidência da federação no Espírito Santo ficará com o deputado federal Josias da Vitória (PP). Isso porque o PP tem dois deputados federais na bancada capixaba na Câmara (Da Vitória e Evair de Melo), contra nenhum do União. Dois a zero.
Pelo mesmo critério, se a fusão do Podemos com o PSDB se concretizar, a presidência do novo partido no Espírito Santo caberá ao deputado federal Gilson Daniel. Isso porque o Podemos tem dois federais na bancada do Espírito Santo (Gilson Daniel e Victor Linhalis), contra nenhum do PSDB. Dois a zero.
A se replicar tal critério numa federação entre o Republicanos e o MDB, o placar seria o mesmo: dois deputados federais do primeiro (Amaro Neto e Messias Donato) contra nenhum do segundo. Dois a zero. Daí o suposto favoritismo do Republicanos.
Mas não tão rápido, não tão rápido…
Sempre em hipótese, o comando dessa federação no Espírito Santo também pode cair no colo de Ricardo Ferraço. Por que não?
Um primeiro ponto a considerar é que cúpula do Palácio Anchieta não tem a menor dúvida: Ricardo não sairá do MDB. Estão convictos e determinados em relação a esse ponto.
Ora, de onde vem tamanha convicção, tamanha determinação?
Invertendo o raciocínio, se o comando estadual ficar com o vice-governador, essa federação entre o MDB e o Republicanos poderá inclusive ser não um problema, mas muito conveniente aos interesses dele mesmo e do Palácio Anchieta. Em vez de ser ele próprio forçado a sair, Ricardo pode ter a grande chance de dar um “chega pra lá” em Pazolini.
Se pegar a presidência, em vez de ser ele a precisar sair mais à frente, Ricardo poderá “encurralar” Pazolini por dentro da federação e obrigar o prefeito a sair do Republicanos se quiser mesmo concorrer ao governo.
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Ricardo é mil vezes mais articulado com a direção nacional do MDB, incluindo Baleia Rossi, do que é Pazolini com a direção do Republicanos. Ricardo foi senador pelo MDB. Quando voltou a se filiar ao MDB e assumiu a presidência estadual, em outubro de 2023, num evento em Cariacica com Baleia, este declarou que queria Ricardo candidato a governador pelo MDB.
Também na certa terá peso, nas reflexões dos dirigentes nacionais, o fato de que Ricardo possivelmente será o governador (candidato à reeleição, portanto) durante o processo eleitoral, após a renúncia de Casagrande em abril de 2026 para se candidatar ao Senado. Como uma federação partidária poderá negar legenda ao próprio incumbente do cargo para ele pleitear a reeleição?
Além disso, vale lembrar que, para ser candidato a governador, Pazolini terá de fazer um movimento contrário ao de Ricardo: até abril, terá de renunciar ao mandato de prefeito de Vitória.
Portanto, enquanto Pazolini estiver saindo, descendo para a planície, Ricardo estará entrando, subindo para o grau de governador do Estado. Enquanto o primeiro terá de disputar a eleição sem mandato e sem a máquina da Prefeitura de Vitória nas mãos, o segundo poderá disputá-la sentado na cadeira de governador e operando a máquina estadual. Isso na certa entrará no cálculo de qualquer dirigente nacional.
Finalmente, o MDB deve apoiar com força a candidatura do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, se ele postular a reeleição – até em retribuição ao empenho de Tarcísio na campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB) à reeleição na capital paulista, em 2024. Há de querer do Republicanos contrapartidas em outros estados. O Espírito Santo pode ser um deles.
Pazolini nunca foi ligado a questões partidárias. Nunca foi de “construir partido”, exercitar militância, participar da vida partidária. É constantemente definido, nos bastidores, por correligionários queixosos, como alguém que não é “de grupo”. Também é definido como “bicho solto”, sem apego a determinada sigla ou grupo.
O prefeito não tem nenhuma relação direta com os dirigentes nacionais do Republicanos. Entrou no partido em 2020, circunstancialmente, quando era deputado estadual, para disputar a Prefeitura de Vitória. Chegou à sigla a convite de duas pessoas: o então presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, e o então presidente estadual do Republicanos, Roberto Carneiro.
Tendo herdado a posição de Carneiro, Erick, hoje, é o presidente estadual do Republicanos, além de secretário de Governo de Pazolini em Vitória. É ele quem assume pessoalmente toda a articulação partidária em nome do prefeito e compensa a falta de envolvimento pessoal de Pazolini nessa área. No fim do ano ado, Erick levou o prefeito ao encontro de Marcos Pereira, em São Paulo. Segundo nossa apuração, Pazolini se colocou à disposição da direção nacional do Republicanos para a disputa de cargo majoritário estadual em 2026.
Quanto a Roberto Carneiro, tornou-se nada menos que o presidente do Republicanos em São Paulo, estado no qual Marcos Pereira radicou-se e pelo qual é deputado federal. Tem excelente trânsito e influência junto ao presidente nacional. Pode ser o maior trunfo de Pazolini na disputa interna com Ricardo, inevitável se essa inusitada federação realmente sair.
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