Coluna Valor em Foco
FIDC: O investimento que vive nos bastidores da economia
Com a Selic em patamar elevado, FIDCs emergem como alternativa para empresas obterem capital de giro e investidores buscarem retorno acima do CDI, ainda que riscos como inadimplência exijam análise rigorosa da qualidade dos recebíveis e governança das operações

FIDCs emergem como alternativa para empresas obterem capital de giro. Foto: Freepik
Imagine uma pequena empresa do setor varejista. Ela vende produtos a prazo, parcelado no carnê, e precisa de capital para girar o estoque e pagar seus fornecedores. O problema? O dinheiro das vendas só entra daqui a 30, 60, até 120 dias. É aí que entra uma solução pouco conhecida, mas extremamente eficiente: o FIDC – Fundo de Investimento em Direitos Creditórios.
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O empresário procura uma securitizadora. Essa empresa “empacota” os recebíveis da loja — os carnês que ainda vão vencer — e os transforma em um ativo. Esses ativos são vendidos para um FIDC, que a a receber os pagamentos dos carnês com o tempo. Em troca, o varejista recebe o dinheiro à vista, com um pequeno desconto. Todo mundo sai ganhando: a empresa tem capital de giro e o investidor, uma oportunidade de rendimento diferenciado.
Mas como o investidor a esse mercado?
Na prática, poucos conseguem investir diretamente em um FIDC. Por isso, muitos am esse universo por meio de fundos de crédito estruturado, que compram cotas desses FIDCs. E aqui entra uma parte interessante: nem todas as cotas têm o mesmo risco.
A estrutura do FIDC é como um prédio com andares de risco. No subsolo, estão as cotas subordinadas, que absorvem os primeiros prejuízos. Logo acima, no mezanino, estão as cotas mezaninas, que sofrem perdas intermediárias. E no andar térreo, estão as cotas sênior, que são as mais protegidas — elas recebem primeiro e só perdem se tudo o que está abaixo já tiver sido consumido.
É exatamente nessas cotas sênior que os fundos estruturados costumam investir. Elas oferecem um equilíbrio interessante: menor risco do que outras classes dentro do FIDC, mas com uma rentabilidade que costuma superar o CDI, graças ao spread de crédito — o “prêmio” recebido por assumir risco de crédito privado, ainda que mitigado.
Claro que nem tudo são flores. Existem riscos. Mesmo nas cotas sênior, há possibilidade de inadimplência se o fundo não for bem estruturado ou se a empresa cedente tiver problemas financeiros. Por isso, a análise da estrutura do FIDC, da qualidade dos recebíveis e da governança da operação é fundamental — e por isso o papel do gestor do fundo é tão importante.
No cenário atual, com Selic em patamar elevado, os FIDCs ganham ainda mais atratividade. Eles combinam o juro alto com o prêmio adicional do crédito privado. Para o investidor qualificado, pode ser uma forma inteligente de turbinar o rendimento da parcela da carteira voltada para crédito, com prazos de resgate geralmente entre 60 a 180 dias.
Mas, como todo investimento, é essencial entender o produto, seus riscos e suas particularidades. Este texto tem caráter exclusivamente informativo e não representa recomendação de investimento. Antes de tomar qualquer decisão, converse com um profissional de investimentos e avalie se essa estratégia faz sentido para o seu perfil e objetivos.
Nos bastidores da economia, o FIDC segue financiando empresas e gerando oportunidades. Para quem sabe onde olhar, pode ser um palco interessante para bons rendimentos.
Paulo Luives é formado em istração pelo IFES Guarapari, possui pós-graduação em Controladoria e Finanças pela Fucape Business School. Atualmente, é sócio e assessor de investimentos na Valor Investimentos.
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