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Coluna Vitor Vogas

Escolha de suplente de Rose abre crise com aliados de Casagrande

Com Solange Lube na 1ª suplência da senadora, Gilson Daniel e outros líderes do Podemos ameaçam apoiar Erick Musso. Rose faz aceno, mas avisa: “Vou pedir o apoio do Gilson… Só não vou me ajoelhar aos pés dele”

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Da esquerda para a direita: Solange Lube, Rose de Freitas e Vera Costa

Da esquerda para a direita: Solange Lube (MDB), Rose de Freitas (MDB) e Vera Costa (PDT). Foto: Cacá Lima

Não foi fácil a escolha da 1ª suplente da senadora Rose de Freitas (MDB). O empresário Léo de Castro (PSDB) foi sondado, mas recuou. Um companheiro de chapa do PT foi cogitado, mas forças de direita aliadas ao governador Renato Casagrande, como o PP, não aceitaram. A senadora acabou optando pela ex-prefeita de Viana Solange Lube (MDB) para a 1ª suplência, além da ex-prefeita de Guaçuí Vera Costa (PDT) como 2ª suplente.

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Mas o nome de Solange também não ganhou aprovação unânime entre os partidos da coligação que apoia Casagrande para o governo estadual e Rose para o Senado. Contrariados com a escolha, líderes estaduais do Podemos, uma das 11 siglas da coligação, ameaçam apoiar informalmente outro candidato ao Senado, o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos). O bonde da dissidência é puxado pelo próprio presidente estadual do Podemos, o ex-prefeito de Viana Gilson Daniel.

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O motivo da rebeldia é, basicamente, a rivalidade política local entre o grupo de Gilson Daniel e o de Solange Lube.

Os dois foram adversários eleitorais pela Prefeitura de Viana em 2012, na primeira eleição vencida por Gilson Daniel (então no PV). Agora, nas palavras de um dos líderes regionais do Podemos, o partido se sente “traído” com a escolha de Rose. Isso porque o Podemos tinha um pré-candidato ao Senado, o coronel Alexandre Ramalho, mas Casagrande escolheu Rose como a candidata da coligação. Gilson Daniel, então, barrou a candidatura de Ramalho, que vai concorrer a deputado federal.

“Fomos para o sacrifício político, retiramos Ramalho da disputa ao Senado em favor da candidatura de Rose, e agora ela nos paga resgatando Solange Lube… Ela terá que pagar essa conta”, advertiu, sob anonimato, um líder local do Podemos.

A “conta”, no caso, pode ser deixar de receber o apoio dos prefeitos de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, e de Viana, Wanderson Bueno (afilhado político de Gilson). São as duas cidades da Grande Vitória governadas pelo Podemos. E o exército de cabos eleitorais de Arnaldinho e Wanderson/Gilson Daniel pode ser remobilizado para a campanha de Erick.

O vice-presidente estadual do Podemos, Marcelo Santos, já iria de qualquer modo com o presidente da Assembleia, seu aliado.

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A resposta e os recados de Rose

Nada que “desassossegue” Rose. Adotando discurso conciliador, a senadora afirmou que a eleição estadual não pode ser reduzida a uma disputa local circunscrita a Viana:

“Isso não está me colocando em desassossego porque, desde o dia em que disse que aceitava disputar, eu não fui ungida. É lógico que sei do esforço que tem internamente para que a gente possa ser um nome que e a ser apoiado. Acho que não dá para olhar a política do Estado do Espírito Santo, que importa tanto, por uma disputa de Viana, por uma disputa de Guaçuí, ou de Irupi… A Solange já foi prefeita. E ela não está nem com esse olhar para a prefeitura, está com o olhar para o Estado. É por isso que ela está aqui.”

Para conter a potencial debandada do Podemos, Rose fez acenos a Gilson Daniel (dizendo que ele vai se eleger deputado federal), a Arnaldinho e a Wanderson Bueno (rendendo muitos elogios aos dois jovens prefeitos). Também disse que vai procurar o presidente estadual do Podemos para conversar, que deseja ter o apoio dele e que, como congressista, nunca faltou a Viana (inclusive quando Gilson foi prefeito, de 2013 a 2020):

“Olha, eu ficaria muito feliz recebendo uma declaração de apoio do ex-prefeito de Viana e presidente do Podemos, Gilson Daniel, porque eu não faltei ao município de Viana ano nenhum. Durante estes oito anos de mandato, 80% do que foi para Viana, inclusive escola técnica, foi trazido pelo nosso trabalho”, disse Rose, aplaudida pelos apoiadores presentes na sede estadual do MDB, onde anunciou suas duas suplentes, no fim da tarde de segunda-feira (15).

“Se estiver em jogo o trabalho, eu acho que ele [Gilson] vai reconhecer em mim uma parceira de antes e de agora, com o prefeito que está lá, que tem excelente desempenho”, completou, chamando Bueno de “revelação política”.

Rose, porém, tratou de demarcar o seu limite: procurar Gilson, sim; humilhar-se para ele, não.

“Vou procurá-lo para dialogar, sem sombra de dúvida. Só não vou me ajoelhar aos pés dele. Mas te juro que vou dialogar até o último minuto com todas as forças políticas. Será um deputado federal. Está credenciado pelo trabalho que fez, pelo cargo que ocupou no governo Casagrande, que lhe deu um grande apoio. Vamos ver se conseguimos dissipar as dúvidas e superar os obstáculos”, afirmou a senadora, produzindo novos aplausos.

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Sobre Arnaldinho: “Também vamos atrás dele!”

Ela garantiu que também procurará Arnaldinho. Até o momento, o prefeito da segunda cidade mais populosa do Estado ainda não lhe declarou apoio.

“Eu já converso muito com ele, inclusive eu apoio a istração dele. Agora, tudo no seu tempo. Arnaldinho faz parte da nova geração política que está chegando ao Estado”, disse ela, mantendo o tom elogioso, mas “avisando” à jovem guarda: “Conquista na política se faz coletivamente”.

“Tenho certeza que Arnaldinho vai refletir sobre isso, porque é isso que tenho recebido do povo de Vila Velha quando estou por lá: muito apoio e muito incentivo.  Não quero ter nada como uma sentença. Quero ter como um caminho que a gente começa a percorrer a partir de agora. Vamos atrás do Arnaldinho também!”

Sobre o PP: “Queriam o Senado ou a vice”

Também integrante da coligação de Casagrande e de Rose, o PP é outro partido que concentra muitos potenciais dissidentes. O partido tentou emplacar o candidato a senador da coligação governista (Josias da Vitória), depois chegou a cogitar apoiar o Coronel Ramalho (que não vingou) e acabou ficando sem lugar algum na chapa majoritária liderada pelo governador.

Agora, alguns candidatos do PP, como o deputado federal Neucimar Fraga, podem apoiar Magno Malta (PL) para o Senado, enquanto outros podem engrossar a campanha de Erick Musso. O secretário-geral do PP no Estado, Marcos Delmaestro, esteve na convenção do União Brasil ao lado de Erick. E, ontem, ou na sede do MDB pouco antes do anúncio das suplentes de Rose, que contemporizou:

“[Cada um tomar seu rumo] é próprio da democracia. Como eu não sei fingir, digo que o PP queria duas coisas: queria o Senado ou queria a vice [de Casagrande]. Esse é um processo que foi istrado pelo titular dessa disputa ao governo, que é o governador. Ele conversou, fez alianças, alinhavou etc. Reconheço que havia uma expectativa [do PP] de compor a vice, de ter a vaga para o Senado. Internamente, essas correntes têm que ser respeitadas…”

A senadora deixou um último recado:

“Caminho existe para quem quer tomar. Agora, o meu papel é convencer que há uma candidatura que respeita a política capixaba, trazendo para o povo, como forma de honrar o seu voto, aquilo que o povo demanda todo dia. Se quiserem colocar alguém que não quer se comprometer com o Estado, a decisão é individual. Eu vou para a decisão coletiva.”

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Sobre o Senado: “Temo o que possa acontecer”

Falando nisso, sem citar nenhum adversário, a senadora voltou a frisar um temor: “Estou indo [para a disputa à reeleição] porque temo o que possa acontecer no Senado. Tem alguém pior do que eu? Não. Tem alguém melhor? Também não. O que de melhor eu tenho para dar ao meu povo é minha dedicação e meu trabalho. E desse não abro mão nem para férias”.

Governo Bolsonaro: “Muitas políticas equivocadas”

Na convenção da Federação PT/PCdoB/PV, a presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, declarou que Rose já está apoiando Lula e já assumiu esse compromisso perante o próprio ex-presidente. Foi por isso, segundo Jackeline, que o PT do Espírito Santo topou apoiá-la.

Rose disse, contudo, que ainda não se decidiu sobre o tema. Por outro lado, voltou a fazer discurso muito crítico ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e enfático em defesa da democracia:

“Meu partido tem uma candidata, que é a Simone Tebet. Não incentivei a candidatura dela, pelo contrário. Eu tenho uma grande preocupação com a democracia. Só quem viveu as amarguras de uma ditadura sabe dizer o quão cara é a liberdade, a democracia. Tudo o que nós estamos fazendo aqui é à sombra dela. É com ela. Sem isso nós não estaríamos aqui, porque houve tempo em que quatro pessoas se reunirem na esquina era considerado conspiração.”

Citando cortes no orçamento do MEC, Rose apontou “muitas políticas equivocadas” no atual governo federal, sendo uma delas o flerte com o autoritarismo.

“Hoje o país é livre. Nós temos democracia. Vou dizer que o governo Bolsonaro errou em tudo? Não. Tem acertos. Mas tem políticas equivocadas. Muitas. Uma delas é não defender a democracia. Estamos dialogando no MDB para ver se a gente enxerga um universo comum de decisões que nos garanta que esse Brasil continuará livre e que tenha também propostas para atender educação, saúde e tudo mais”, disse ela, finalizando:

“Não estou indecisa sobre o caminho a tomar. Estou apenas indecisa sobre com quem tomar esse caminho.”

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Possível interpretação

Rose está segura de que está do lado da democracia – portanto, contra Bolsonaro. Só não tem certeza se declarará apoio a Lula ou se ombreará com a candidata do seu partido, Simone Tebet.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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