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Coluna Vitor Vogas

Quem é o vereador que virou a pedra no sapato de Arnaldinho

Traçamos aqui um perfil do Pastor Fabiano Oliveira – previsível por um lado, mas muito surpreendente por outro. De manifestante pró-golpe a preso pelo STF, ele virou vereador, opositor do prefeito de Vila Velha, e afirma: pode buscar algo maior na política do ES

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Pastor Fabiano é vereador de Vila Velha. Foto: CMVV

Pastor Fabiano é vereador de Vila Velha. Foto: CMVV

O vereador Pastor Fabiano Oliveira (PL) é um daqueles atores políticos improváveis que, de tempos em tempos, despontam no Espírito Santo. Um dos líderes do acampamento golpista erguido em frente ao 38º BI, na Prainha, após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, recebeu ordem de prisão preventiva do ministro Alexandre de Moraes, a pedido do MPES, no dia 15 de dezembro daquele ano. Cumpriu cerca de um ano de prisão. O acampamento, vale lembrar, clamava por uma intervenção das Forças Armadas (sem “firulas”: um golpe de Estado) que revertesse o resultado das urnas.

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Ao ser libertado, por ordem do mesmo Moraes, em 19 de dezembro de 2023, Fabiano ou a precisar cumprir, alternativamente, uma série de medidas cautelares. A principal delas: tornozeleira eletrônica, usada até hoje, e os monitorados, o tempo todo, pela Justiça. Ele não pode sair do Espírito Santo nem se ausentar de sua residência nos fins de semana. E, de segunda a sexta-feira, só pode permanecer fora de casa das 6h às 20h.

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No começo de 2024, após agens pelo PSDB e pelo PSL (sigla pela qual Bolsonaro chegou à Presidência em 2018 e que depois se fundiu ao DEM, originando o União Brasil), Fabiano filiou-se ao PL, atual partido de Bolsonaro, a convite do senador Magno Malta, presidente da legenda no Espírito Santo. Disputou, então, a sua primeira eleição, para vereador de Vila Velha. E conseguiu uma das 21 vagas na Câmara Municipal.

Tomou posse no dia 1º de janeiro deste ano e, na mesma sessão, no primeiro ato como vereador – a eleição da Mesa Diretora –, em vez de dizer “sim” ou “não”, fez um longo discurso contrário à chapa encabeçada pelo vereador Osvaldo Maturano (PRD), eleito presidente da Casa com o apoio do prefeito Arnaldinho Borgo. Foi um cartão de visitas quanto ao seu estilo e aos seus posicionamentos.

ados cinco meses de mandato, é possível afirmar seguramente: o vereador do PL tornou-se a maior pedra no tênis de corrida do prefeito Arnaldinho Borgo (sem partido) – aquela “casca dura” em sua “barrinha de cereais”.

Considerando que Fabiano está extrapolando seus direitos constitucionais e ando dos limites em atividades pretensamente “fiscalizatórias” (“batidas” sem aviso prévio em escolas e outros órgãos públicos), a Prefeitura de Vila Velha entrou com ação judicial contra ele.

Acolhendo pedido da Procuradoria-Geral do município, a Justiça Estadual proibiu o vereador, cautelarmente, de entrar em repartições e equipamentos públicos (escolas, unidades de saúde etc.), sob pena de R$ 20 mil por dia de descumprimento, a menos que ele esteja oficialmente em representação da Câmara Municipal ou de alguma comissão parlamentar – o que não era o caso, nos episódios concretos que ensejaram a ação.

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Em reação contundente, o senador Magno Malta entrou com representação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pedindo a adoção de “providências cabíveis” contra a decisão e o juiz de primeiro grau que a proferiu. Na prática, instituiu-se um cabo de guerra entre o senador (que mora em Vila Velha) e o prefeito Arnaldinho Borgo.

Com a visibilidade adquirida à frente da manifestação golpista, com os dias ados na prisão e, agora, com a ruidosa oposição a Arnaldinho, o Pastor Fabiano ou a nutrir ambições maiores. Na verdade, não é tanto ele, pessoalmente… É o projeto do partido para ele: o PL de Magno Malta pretende lançá-lo a deputado estadual no ano que vem.

“Sim. Ele é considerado um bom nome para disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa do ES”, declara oficialmente o PL-ES, por intermédio de sua assessoria.

Na última terça-feira (20), o deputado estadual Wellington Callegari, pré-candidato a senador pelo mesmo PL, entrou no plenário da Assembleia ao lado do vereador e, antes de fazer uma fala em defesa de Fabiano, disse a quem quisesse ouvir: “Será candidato a deputado estadual, com o meu apoio”.

O próprio Pastor Fabiano adota discurso bastante cauteloso, mas se coloca à disposição do comando do PL-ES (Magno), seguindo a linha “soldado do partido”:

“Hoje estou vereador de Vila Velha e tenho a intenção de prosseguir. Mas, se for convocado pelo partido, jamais vou me negar a fazer valer o que o PL me direcionar. Não posso hoje afirmar que sou candidato a deputado estadual, mas, se for convocado, estarei à disposição do meu partido, do senador Magno Malta e do povo do Espírito Santo!”

O atual vereador avalia que, na Assembleia Legislativa, poderá “fazer um trabalho melhor para Vila Velha e para o estado do Espírito Santo”:

“Com certeza, seria uma honra exercer essa função no Legislativo Estadual. Tenho recebido incentivo não só de Callegari, mas de algumas pessoas da política e do povo de Vila Velha que têm falado comigo. Mas não posso esquecer para o que fui eleito. Prefiro, neste momento, me dedicar à população de Vila Velha. Mas, se eu for convocado em 2026, jamais vou me furtar a ir para o front e colocar meu nome à disposição na disputa para deputado”.

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Opositor declarado ao prefeito

Abertamente opositor à gestão Arnaldinho Borgo, o Pastor Fabiano afirma que ou a assim se declarar em função de posicionamentos da prefeitura e de requerimentos de informação jamais respondidos pelo Executivo Municipal. Hoje, ele se considera “o líder da oposição na Câmara de Vila Velha”:

“No primeiro e no segundo mês, eu não me colocava como oposição, mas como um vereador que votaria no que é correto para a cidade. Mas agora, devido a todos os posicionamentos da atual gestão, que é uma gestão precária, que tem deixado muito a desejar para a população de Vila Velha, tenho me colocado como o líder da oposição na Câmara, para fazer valer o direito do povo.

Quando fazíamos pedidos de informação aos secretários, eles não nos respondiam. Quando você não quer responder é porque tem algo a esconder…”

Sobre esse negócio de ser “o líder da oposição”, talvez só tenha faltado combinar com Rafael Primo (em italiano, aliás, “Primeiro”), do Partido dos Trabalhadores (PT).

Diga-se de agem, este começo de legislatura na Câmara de Vila Velha produziu uma situação insólita: entre os 21 parlamentares, os únicos dois de oposição são, no plano ideológico, diametralmente opostos.

“Fora eu, só tem o Rafael Primo, que tem o nicho dele, mas é de oposição também”, atesta o Pastor Fabiano. “Entendo que o Rafael também é de oposição, por se manifestar como eu. Votamos no que é melhor para a cidade, mas, quando vemos alguma irregularidade, nos manifestamos com veemência na defesa da população de Vila Velha.”

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A Casa está uma bomba”

De acordo com o Pastor Fabiano, não são só os dois opositores manifestos que têm críticas e discordâncias quanto à atual istração municipal… Segundo o vereador do PL, existe, hoje, uma insatisfação latente no plenário da Câmara de Vila Velha, a qual poderá “explodir” nos próximos meses:

“A Casa está uma bomba! Há muitos vereadores insatisfeitos. Eles dizem que é um prefeito que vive de promessas. Tem atendido vereadores de outros municípios, mas não os atende. Existe um movimento silencioso, mas acredito que, no mais tardar até agosto, isso vai explodir”, vaticina.

Deus? Pátria? Família? Bandeiras que surpreendem…

Indagado pela coluna sobre as principais bandeiras do seu mandato na Câmara e em eventual mandato na Assembleia, o Pastor Fabiano surpreende – positivamente, aliás, por mostrar equilíbrio e moderação muuuuuuito discrepantes da imagem que dele se faz e que, convenhamos, ele mesmo apresenta, do “fanático” no carro de som em frente ao 38º BI ao vereador bolsonarista que tem rompantes em plenário.

“Minhas principais bandeiras são a defesa dos servidores públicos da nossa cidade, da educação e da saúde” responde o parlamentar.

Ué! Como assim?!? Cadê “Deus, pátria e família”?!? Quedê “defesa dos valores cristãos”?!? Ele responde que isso não é necessário:

“Para mim, já se tornou natural essa atitude de minha parte. Quando se trata da família, todos já sabem do meu posicionamento. Hoje, quando vou na escola, estou defendendo a família. Quando vou na unidade de saúde, estou defendendo a família. Sou PL, sou presidente Bolsonaro, mas, aqui em Vila Velha, procuro não trazer Lula e Bolsonaro, mas aquilo que Magno Malta tem falado: ‘Não abra mão de defender a população, custe o que custar’. Então tenho defendido isso. Tudo o que é defendido por meu partido em nível nacional, defendo com veemência. Mas, aqui no município, temos outras coisas acontecendo que fogem do contexto nacional do meu partido, então tenho que me posicionar”.

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Líder dos atos golpistas no ES?!?

Hoje com 47 anos, Fabiano Oliveira já foi filiado ao PSDB e ao PSL, antes de entrar no PL, a convite do senador Magno Malta, no início de 2024.

Sobre o marcante episódio das manifestações golpistas e de sua prisão, ele evita se intitular um “líder”, mas não nega a sua “veemência” naquele período:

“Repito toda vez aquilo que dizíamos lá: todos nós éramos lideranças. Não vou me furtar a dizer que me manifestei com um pouco mais de veemência, com um pouco mais de ânimo, mas não dá para identificar quem era o ‘líder’ ali… Fui preso no dia 19 de dezembro de 2022 e libertado no dia 19 de dezembro de 2023”, relembra o vereador.

Alternativamente à prisão, ele cumpre, há mais de um ano, uma série de medidas cautelares. Mas, também surpreendentemente, exprime compreensão e paciência em relação ao seu caso. “Não há processo nem inquérito. Isso é uma petição. E, pelo MPF e pela Polícia Federal, já houve manifestação a favor da minha inocência. Estou aguardando a decisão da Justiça. Continuamos recorrendo. Acredito que, hoje, a Suprema Corte esteja sobrecarregada de muitas ações e, por isso, meu caso terá de aguardar mais, até pelas prioridades.”

Sobre a decisão judicial que o proíbe de adentrar repartições públicas municipais, ele reage e contesta: “A verdade foi totalmente deturpada pelo município. Entendemos que deveríamos ter sido chamados para nos manifestar e não que nos tivesse sido tirado aquilo a que temos direito: fiscalizar. Afinal sou pago, e muito bem pago, pela população, para exercitar o meu dever, que é o de fiscalizar”.

To ber or not to be… “pastor”?!?

Uma das grandes polêmicas que circundam o vereador do PL diz respeito ao título de líder religioso usado por ele – inclusive como “nome de urna” e no exercício do mandato. Afinal, o “Pastor Fabiano Oliveira” é ou não é, efetivamente, pastor evangélico?

Indagado sobre isto pela coluna, ele responde o seguinte:

“Fui consagrado pastor na comunidade evangélica Shekinah, na Serra, fundada pelo Pastor Ademir Almeida. Hoje, sou pastor e estou pastor na Assembleia de Deus da Praia da Costa, com o Pastor Marinelshington. Mas não posso exercer minha função pastoral nem ir a templos, pois hoje estou proibido, devido às medidas judiciais. Hoje não estou podendo ir à igreja, a não ser em cultos online”.

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O Pastor Marinelshington é filiado ao PL, é amigo de Magno Malta e costuma “puxar” orações, a pedido de Magno, em eventos do partido, como encontros estaduais e convenções. Entramos em contato com ele para checar as informações. Ele confirma o que informa Fabiano: “Sim, nós o consideramos pastor na Assembleia de Deus da Praia da Costa. Ele não participa dos cultos noturnos porque está impedido. Mas temos orações nas tardes de quarta-feira”.

Segundo o Pastor Marinelshington, Fabiano participa de tais momentos e até realiza algumas dessas orações vespertinas no templo, no bairro nobre de Vila Velha.

Comentário pessoal: personagem?!?

A entrevista reproduzida acima foi a primeira que fiz, na vida, com o vereador Pastor Fabiano. Foi a primeira vez que nos falamos. Poucas vezes, em minha experiência jornalística, minha expectativa em relação a certo “personagem político” (produzida por ele mesmo) foi tão “desmentida” no diálogo com o próprio.

Cheguei a ver, “com estes olhos”, o Pastor Fabiano, no Parque da Prainha, em frente ao quartel do Exército e em cima de um carro de som, a bradar como um extremista/fundamentalista coisas de fazer duvidar da sanidade do sujeito…

Mas, na conversa por telefone, que diferença! Nada a ver com aquele personagem do “carro de som”. No lugar daquele “fanatismo” do cara que chegou a ser preso, o que ele expressou foi tranquilidade, equilíbrio e moderação. Na parte “em off”, reflexões críticas que nada têm a ver com aquela impressão inicial… o que nos leva a fazer a necessária pergunta: até que ponto não a de um “personagem”?!?

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