Coluna Vitor Vogas
Fim de uma era: primeiras conclusões sobre a lista tríplice do MPES
Lista tríplice já nos permite afirmar que a próxima gestão encerrará uma dinastia política iniciada há 12 anos no órgão. Batata quente agora está com Casagrande: irá ele na bola mais segura para si?

Da esquerda para a direita: Francisco Berdeal, Pedro Ivo de Sousa e Maria Clara Mendonça Perim, os integrantes da lista tríplice do MPES
A primeira conclusão que pode ser depreendida da lista tríplice formada nesta sexta-feira (22) pelos membros do MPES para o cargo de procurador-geral de Justiça não é propriamente sobre quem vai ganhar, mas sobre quem seguramente perdeu. Após 12 anos de dinastia, a lista com Pedro Ivo de Sousa, Francisco Berdeal e Maria Clara Mendonça Perim representa o fim da Era Eder Pontes no MPES. Dos três finalistas, nenhum é ligado ao hoje desembargador, procurador-geral de Justiça por três biênios.
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O candidato dele era o promotor Danilo Raposo Lirio, que não foi bem votado, chegando em penúltimo.
Desde o período de registro de candidaturas, em janeiro, comenta-se que o grupo de Eder também possa ter estimulado nos bastidores as candidaturas dos procuradores Josemar Moreira e Marcello Queiroz, para ampliar suas chances de chegar com um à lista tríplice. Mas ambos também ficaram de fora.
Na lista, temos o candidato da atual chefe do MPES, Luciana Andrade, que é Francisco Berdeal, e dois opositores do grupo assentado no poder, embora nenhum dos dois assim se declare: Pedro Ivo de maneira mais intensa, Maria Clara de maneira mais sutil.
A batata quente agora de fato está nas mãos do governador Renato Casagrande (PSB).
A “acomodação política” estabelecida ao longo dos anos entre o governo Casagrande e a cúpula do MPES, sob o comando de Eder e Luciana, não precisa ser novamente destacada aqui.
A boa chegada de Berdeal, o candidato de Luciana (em segundo, mas a uma distância relativamente curta de Pedro Ivo), de certo modo torna as coisas mais confortáveis para Casagrande, se ele quiser optar pela “bola de segurança” para si mesmo.
Seria muito mais complicado, por exemplo, se Berdeal tivesse entrado em terceiro, e raspando.
A Constituição Estadual faculta a Casagrande o direito de escolher qualquer integrante da lista tríplice, independentemente do tamanho atingido na votação realizada pelos membros do MPES. Mas, se a diferença de votos fosse absurda, a escolha causaria muito estranhamento. Além de dar muita bandeira, seria contrariar demais a vontade manifestada pela categoria nas urnas. Como Berdeal entrou com boa votação, tudo fica mais fácil e “acomodável”.
Talvez exatamente por isso, ou prevendo isso, em entrevista no início de fevereiro no Palácio Anchieta, Casagrande tenha se adiantado a dizer que vai jogar com a Constituição debaixo do braço: frisou que não necessariamente escolherá o mais votado da lista.
E aí chegamos a Pedro Ivo.
Dos três candidatos finalistas, o primeiro da lista pode ser considerado justamente o mais distante do grupo político de Luciana Andrade – com o detalhe adicional de que ele pertencia ao mesmo grupo, mas rompeu com ela de maneira impactante.
Pela mesma lógica exposta acima, pode ser Pedro Ivo, do ponto de vista de Casagrande, a escolha mais arriscada para ele mesmo (ou mais desconfortável politicamente)… Mas o promotor se fortalece muito no processo ao confirmar seu favoritismo e chegar em primeiro lugar. Tem o mais forte argumento a seu favor.
Cabe a ele, agora, intensificar o trabalho de lobby em causa própria junto ao Palácio Anchieta e seus emissários (o que, aliás, vale para os três).
Por fim, Maria Clara a a ser considerada um azarão, porque já não seria a escolha mais óbvia para Casagrande e porque agora chega em terceiro lugar.
Se Casagrande escolher a promotora, a decisão será bastante surpreendente. A menos que ele queira exatamente surpreender.
A promotora tem fama de independente, correta e rigorosa. Entre a “continuidade politicamente segura” representada por Berdeal e a mudança forte de direção simbolizada por Pedro Ivo, o governador poderia optar por uma terceira via com Maria Clara: uma mudança de direção, só que para outro lado.
Mas repito: seria uma grande surpresa, em uma eleição cujo resultado parcial, na votação desta sexta, ficou bem dentro do esperado.
Esclarecimento
Se Berdeal for o escolhido por Casagrande, Luciana Andrade obviamente continuará influindo na istração do MPES, tendo sido a maior apoiadora do seu sucessor. Alguém pode se perguntar: isso acaso não seria garantia de que Eder Pontes, por sua vez o principal apoiador de Luciana no ado, também continuaria influindo a distância (camada sobre camada)? Aí é que está.
Seria, se Luciana e Eder ainda estivessem juntos politicamente.
Os dois, porém, romperam no ano ado, exatamente por causa da sucessão de Luciana. Assim, o grupo originado em Eder se fragmentou e se ramificou. Com Berdeal, Luciana continua no poder a distância, mas não mais sob a influência de Eder.
É a leitura de quem acompanha de perto este processo.
