Coluna Vitor Vogas
Ex-aliado de Max vira líder de Arnaldinho na Câmara de Vila Velha
Após trajetória de duas décadas de parceria com Max Filho, vereador se tornou aliado do atual prefeito e acaba de assumir sua liderança em plenário

Joel Rangel, com Arnaldinho Borgo ao fundo, do lado direito. Crédito: Reprodução Facebook
O prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) tem um novo líder na Câmara de Vila Velha: sai o experiente Rogério Cardoso (Podemos), entra o também veterano Joel Rangel (PTB). O vice-líder do prefeito também foi substituído: no lugar de Osvaldo Maturano (PSDB), Arnaldinho indicou Flávio Pires (Agir).
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Exercendo a liderança na Câmara desde o início do mandato, em janeiro de 2021, Cardoso pediu ao prefeito para ser substituído na função, no que foi acompanhado por Maturano. Oficialmente, Arnaldinho ainda não enviou à Casa o ofício designando seu novo líder, mas a mudança foi anunciada em uma reunião com vereadores e secretários na sede da Prefeitura no último dia 31 e, na prática, Joel Rangel já estreou na “nova” função na sessão de ontem (7).
As aspas se justificam porque o experiente parlamentar já exerceu a função de líder do prefeito em plenário em duas istrações anteriores: na de Rodney Miranda (2013-2016) e, antes disso, em parte dos primeiros governos de Max Filho (2001-2008).
Por sinal, a antiga relação com Max Filho (PSDB) é um dado a destacar na trajetória do novo líder de Arnaldinho, notório adversário do ex-prefeito, em mais uma das muitas evidências de que o mundo político não gira, mas capota – inclusive em Vila Velha.
Desde o início do atual mandato, Joel se posiciona em plenário como aliado de Arnaldinho e integrante de sua base parlamentar. Antes disso, porém, podia ser considerado facilmente um aliado histórico de Max Filho em Vila Velha, numa relação que remonta à primeira eleição de Joel e que perdurou até a última disputa municipal, em 2020. Na ocasião, como fizera em todos os pleitos municipais desde o ano 2000, ele compôs o grupo de Max Filho e apoiou o então prefeito, derrotado por Arnaldinho em 2º turno.
Hoje, Joel não hesita em declarar apoio incondicional à reeleição de Arnaldinho em 2024: “Tenho esse compromisso”.
Se ainda se considera aliado de Max Filho? O novo líder de Arnaldinho responde assim:
“Tenho compromisso com a cidade. Arnaldinho é o prefeito. Ele assumiu, está fazendo muitas obras na cidade. Conseguiu atrair muitos investimentos do Governo do Estado para Vila Velha. Tenho profundo respeito e iração pelo Max e, principalmente, pelo pai dele [o ex-governador Max Mauro], que para mim é um grande homem púbico. Mas, na quadra atual da política de Vila Velha, o meu alinhamento político e o da Câmara Municipal é com o prefeito Arnaldinho, por vários motivos. Esse é o caminho tomado pelo conjunto dos vereadores”, afirma Joel, alargando a análise.
A trajetória de Joel Rangel
Hoje com 47 anos, Joel Rangel começou bem jovem na atividade política. Já no ensino fundamental, elegeu-se presidente do grêmio estudantil do tradicional colégio estadual Vasco Coutinho, no Centro de Vila Velha. Também milita desde novo nas pastorais da Igreja Católica e no grupo de jovens da paróquia do Santuário, também no Centro.
No ano 2000, aos 23 anos, elegeu-se para o primeiro mandato de vereador, pelo antigo PHS, no coletivo de Max Filho e apoiando o filho de Max Mauro em sua primeira eleição para prefeito de Vila Velha.
Em 2004, reelegeu-se vereador pelo PDT, partido pelo qual Max Filho também reelegeu-se prefeito.
Dois anos depois, ainda no PDT e com o apoio de Max, candidatou-se a deputado estadual. Teve quase 10 mil votos, sendo cerca de 8,5 mil em Vila Velha, mas não beliscou uma vaga na Assembleia. Tornou-se, então, secretário municipal de Assistência Social, entre 2007 e 2008, na segunda metade da segunda istração do então aliado.
Em 2008, em mais uma demonstração da ligação umbilical de outrora com seu padrinho político, Joel foi para o sacrifício nas urnas: a pedido de Max, topou compor a chapa encabeçada por Dyonizio Ruy Junior (PDT) à Prefeitura de Vila Velha. O empresário foi o candidato do então prefeito à sucessão, mas não foi bem votado e perdeu no 1º turno.
Joel, então, completou o seu curso de Direito, candidatou-se a vereador em 2012 pelo PSB e conseguiu voltar à Câmara, para o terceiro mandato.Pertenceu à base de Rodney (eleito prefeito no mesmo pleito, pelo DEM) e chegou a ser líder dele na Câmara.
Em 2016, já no MDB, Joel até foi bem votado, mas não renovou o mandato na Câmara, no pleito que marcou o retorno de Max à prefeitura, pelo PSDB. Joel foi trabalhar na Assembleia Legislativa, como diretor-geral, sob a presidência de Erick Musso (Republicanos).
No pleito municipal seguinte, fiel à sua história, apoiou a reeleição de Max contra Arnaldinho. Dessa vez deu-se o contrário: ele se deu bem e, pelo PTB, voltou à Câmara para seu quarto mandato; quanto a Max, perdeu por ampla margem no 2º turno para Arnaldinho… que agora tem o apoio de Joel.
“Em 2020, apoiei Max no primeiro e no segundo turno. Mas iniciei este mandato com a resolução de apoiar tudo aquilo que fosse bom para Vila Velha. O povo fez uma escolha, escolheu outra forma de istrar. E eu não fui eleito para dificultar o mandato de qualquer um que fosse o prefeito. Se fosse Max, eu ajudaria. Se fosse outro, eu ajudaria. É minha forma de enxergar as coisas”, diz Joel.
Agora conduzido pela terceira vez, com o terceiro alcaide diferente, à função de líder do governo, Joel terá como principal missão facilitar a aprovação dos projetos de lei enviados pelo Executivo. Não que por ali o prefeito enfrente grandes dificuldades. Absolutamente todos os projetos enviados por Arnaldinho desde o início do mandato foram aprovados sem resistências – muitos deles por unanimidade.
Joel afirma que quer exercer o papel de “ponte” e “canal”.
“Vou atuar fortalecendo o papel da Câmara de Vila Velha como instituição que deve exercer o seu papel de forma republicana e responsável, como ela tem buscado ser, fortalecendo o protagonismo da Câmara, ajudando na relação do Executivo para que os projetos de interesse da sociedade sejam sempre as prioridades das nossas ações.”
Além da experiência legislativa, Joel é considerado dono de um perfil de ponderação e diálogo.
Por que Cardoso saiu?
Há pelo menos seis meses, o agora ex-líder do prefeito, Rogério Cardoso, estava fazendo hora extra na função. Ele mesmo assumiu o cargo em 2021 querendo ficar só por dois anos. Como o próprio Cardoso reconhece, o líder é sempre muito demandado, a função absorve seu ocupante, consome um tempo precioso… e estamos a um ano da próxima eleição municipal, de modo que os vereadores já entraram no “modo reeleição”.
Também por isso, as cobranças do colega sobre ele – principalmente dos novatos – vinham se intensificando. Aquele pleito não atendido, aquela indicação não contemplada para um cargo na prefeitura, aquele buraco não tampado na rua do bairro do vereador… tudo isso deságua de algum modo sobre o líder… A soma desses fatores levou Cardoso a entregar o boné, para poder, de agora em diante, concentrar-se na própria reeleição.
“Eu pedi para sair. Foram dois anos e sete meses na liderança, quando a praxe são dois anos. É muito desgastante e é salutar que se troque. Os vereadores têm as suas demandas e acham que o líder pode resolvê-las, mas não é bem assim. Os vereadores mais jovens, principalmente, criam uma expectativa muito grande. São pleitos por espaços na istração, preenchimento de cargos comissionados, realização de obras nos redutos, interlocução com os secretários…”, verbaliza Cardoso, agora livre da incumbência. “Meu mandato acabou ficando em segundo plano.”
Relação com a Câmara
A relação do governo Arnaldinho com o plenário da Câmara segue boa. Aqui e ali até espocam algumas manifestações pontuais de insatisfação, ainda mais com a tensão pré-eleitoral, mas não há o menor foco de oposição e, como dito, todos os projetos do prefeito são aprovados facilmente.
A exceção, se pode se chamar assim, é a atuação do vereador Fabio do Vale (Patriota), que andou literalmente plantando bananeiras (pés de banana mesmo) em buracos nas ruas da cidade.
Robinho Leite
Para garantir que da Câmara não virá nenhum problema até a campanha pela reeleição, Arnaldinho nomeou, em julho, o experiente articulador político Robinho Leite para um cargo de assessor especial ligado à Secretaria de Governo.
Na prática, Robinho se dedicará principalmente à tarefa de azeitar o relacionamento do governo com os vereadores, recebendo e buscando encaminhar os pleitos de cada parlamentar. A ideia é que ele construa uma relação mais próxima e permanente de escuta, atuando como mediador e como primeiro ouvido da prefeitura aos reclames dos edis.
Nota oficial
Por meio de nota, a assessoria da Prefeitura de Vila Velha comentou a substituição do líder e do vice-líder do prefeito:
“A nova composição de liderança do governo na Câmara é um processo natural e democrático, que agora será conduzido pelos vereadores Joel Rangel e Flávio Pires, líder e vice. O prefeito, inclusive, agradeceu muito a condução republicana do vereador Rogério Cardoso e do vereador Osvaldo Maturano, que sempre mantiveram ambiente de construção coletiva entre Executivo e Legislativo em prol do desenvolvimento de Vila Velha.”
