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Coluna Vitor Vogas

Jaqueline: “Acho que Casagrande topa um prato de Lula com Chuchu”

Eleitora declarada de Lula, vice-governadora faz defesa veemente do PT e diz torcer para que o governador se candidate ao Senado em 2026

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Jaqueline Moraes e seu “antes e depois” com Casagrande. Foto: Itamar Freire

Na parede, colocados lado a lado, logo abaixo de um versículo bíblico a atestar que “para Deus nada é impossível”, dois retratos ampliados bastante emblemáticos: no primeiro, Jaqueline Moraes (PSB) sorri ao lado do marido, Adilson Avelina, e do então deputado Renato Casagrande (PSB), quando ela ainda era camelô e nem sonhava em disputar mandatos eletivos; no segundo, ela surge ao lado do mesmo Casagrande, mas agora no tablado do Salão São Thiago, no Palácio Anchieta, tomando posse como vice-governadora em janeiro de 2019.

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Os retratos fazem parte da decoração toda pessoal que Jaqueline deu a seu espaçoso gabinete na Vice-Governadoria, situado no 8º andar do Palácio da Fonte Grande, no final da Rua Sete. Assim como naquela parede, a história da vice-governadora está inscrita no Centro de Vitória: sua barraquinha de camelô distava poucos metros dali, descendo a ladeira, na Praça Costa Pereira, como ela faz questão de relembrar com orgulho.

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Orgulha-se também de outras peças decorativas no recinto que também têm a ver com a história e a ancestralidade dela mesma e de outras mulheres negras: um quadro com a pintura da princesa angolana Zacimba Gaba, heroína da resistência dos escravos africanos no Espírito Santo e fundadora de um quilombo na atual Vila de Itaúnas; uma coleção de bonecas negras (“Jaquelinezinhas”), que ela ganhou de presente de outras mulheres, incluindo meninas e presidiárias que participam de projetos coordenados por ela no programa Agenda Mulher.

Mas o que mais chamou a atenção do colunista foi a planilha em tamanho humano (cerca de cinco metros de largura) que Jaqueline mandou pintarem na parede atrás de sua mesa, na qual seus assessores registram, com papeizinhos (post-its), todas as tarefas e compromissos oficiais cumpridos por ela a cada dia. Cada célula da planilha indica quantos dias faltam para o fim do mandato. É uma contagem que Jaqueline tem na cabeça, pois deseja que o encerramento de seu tempo como vice-governadora corresponda ao início de novo mandato, dessa vez na Câmara dos Deputados, como representante do PSB e do povo capixaba.

Enquanto prepara a sua campanha, Jaqueline tem sofrido muitas agressões verbais (tema que concentrou a primeira parte da nossa conversa), as quais ela atribui, em parte, ao fato de ser mulher e negra, mas também ao lado que ela assumiu, de forma muito veemente, na eleição presidencial: lado com L de Lula: “Eu votei em Lula em 2002, votei em Lula em 2006. E em 2002, como eu já era evangélica, enfrentei uma demonização do Lula naquela época”.

É um lado que ela não sabe se seu “chefe”, o governador, também vai assumir publicamente. Mas, como nos conta na entrevista abaixo, ela espera que sim: “Acho que, por ser muito partidário, ele topa um prato de lula com chuchu”, gargalha ela, mas falando sério, em referência ao companheiro de chapa de Lula, Geraldo Alckmin, agora filiado ao PSB.

Confira abaixo a segunda parte da entrevista da vice-governadora, em que, além da defesa enfática dos governos do PT, ela abraça a tese da candidatura de Casagrande ao Senado em 2026 e fala sobre a própria pré-candidatura a deputada federal neste ano: “Só se houver uma mudança cósmica [para eu disputar outro cargo]”.

A senhora já postou foto com Lula em suas redes sociais e manifestou publicamente seu apoio ao ex-presidente na eleição presidencial. Por que a senhora apoia o petista?

Primeiro, porque nós trouxemos o Chuchuzinho, né?

Hein?

O Alckmin.

Ahhhh (risos)

(Risos) Tenho muito orgulho de hoje fazer parte da Executiva Nacional do PSB, e ficamos muito felizes com a vinda do Alckmin para o PSB.

Mas, mesmo sem o Alckmin na chapa como candidato a vice-presidente, a senhora iria com o Lula, por seu coração e sua convicção?

Talvez não iria manifestar publicamente. Mas tendência de voto, sim. Eu votei em Lula em 2002, votei em Lula em 2006. E em 2002, como eu já era evangélica, enfrentei uma demonização do Lula naquela época. Como líder comunitária e como ativista e presidente da Associação dos Camelôs, eu já enfrentava uma demonização da figura dele. E eu enfrentei numa boa. Fiquei feliz quando ele veio a Vitória, participei correndo atrás do carro. Pensei: nós vamos conseguir ser ouvidos. “Nós” quem? A classe pobre. Pense nas oportunidades que eu tive. Eu estudei na EJA [Educação de Jovens e Adultos], mas me tornei microempreendedora individual, uma política defendida pela esquerda.

Os governos do PT, especialmente os dois do Lula, sem dúvida foram responsáveis por realizações importantes para este país, no combate à fome e à pobreza, na redistribuição de renda, na valorização do salário mínimo, na geração de emprego e renda do trabalho, na expansão do ensino técnico, no o ao ensino superior, na respeitabilidade internacional… Mas há o outro lado da moeda, que foram os escândalos de corrupção, como o mensalão e o petrolão. O partido traiu as próprias bandeiras éticas. A senhora desconsidera isso?

Eu considero que, se não fosse todo o investimento que foi feito para estruturar a Polícia Federal e se não fosse a Dilma ter assinado a Lei de Delação Premiada, talvez nunca teriam tirado debaixo do tapete tantos partidos envolvidos em corrupção, que não foi só o PT, foram vários partidos. O PSB não participou, não teve seu nome citado em nenhum movimento desses. Mas, independentemente disso, todos os partidos tiveram membros envolvidos em corrupção naquele momento. Mas quem assinou a Lei de Delação Premiada? Foi a Dilma.

A senhora quer dizer que, num certo sentido, até meio paradoxal, o PT acabou pagando pela autonomia garantida aos órgãos de investigação e pela ampliação dos mecanismos de combate à corrupção que o próprio governo do PT incentivou?

Os mecanismos foram criados no governo do PT. Foram respeitadas as instituições. E acho que o mais importante no nosso país para o fortalecimento da democracia não é só enfocar que existe corrupção. Se eu for falar em corrupção, tenho que estudar desde a era de Pedro Álvares Cabral para cá e estudar os partidos que ocuparam espaços de poder no Brasil e a forma de se fazer política no Brasil. Mas o respeito às instituições veio fortemente pelo governo do PT, isto é, por governos de esquerda, porque nós participamos do primeiro governo do Lula e do segundo, com Eduardo Campos [que chegou a ser ministro de Ciência e Tecnologia no governo Lula]. Quer figura mais emblemática do que nós tínhamos com Eduardo Campos, que depois foi governar Pernambuco e foi extremamente aprovado no Brasil inteiro como um dos melhores governadores do país?

A senhora tem esperança de que, se o Lula voltar para o Planalto para um terceiro governo, ele vai governar com outro padrão ético e não permitir realmente corrupção dentro do governo?

Eu não posso avaliar padrão ético das pessoas. Isso é uma coisa muito individual. Eu tenho o meu e tenho uma régua que serve para mim e para as minhas ações. Costumo dizer que tudo de bom que você quer para o mundo começa em você. Eu tenho certeza que o governo liderado pela esquerda e pelo Lula é um governo que traz distribuição de renda, que melhora a vida das pessoas, que acredita no microempreendedor individual, que melhora a qualidade do salário mínimo, que ampliou o número de Ifes, que ampliou a construção de creches e escolas. Na minha cidade, Cariacica, não tinha creches antes do governo Lula. As que tinha eram de igrejas, alguém que fazia caridade. E depois nós conseguimos creches. O que nós temos hoje é um modelo econômico que não representa a maioria da população brasileira. Inclusive, se eu olhar para a Jaqueline, não a vice-governadora, mas a Jaqueline que foi microempreendedora informal e que representa os homens e mulheres trabalhadoras, o modelo econômico que me representa está no palanque do Lula.

Jaqueline Moraes exibe quadro da princesa escrava Zacimba Gaba. Foto: Itamar Freire

A senhora é pré-candidata a deputada federal. Nenhuma chance de mudar esse plano e disputar outro cargo?

Como está na parede ali: para Deus, nada é impossível. Eu hoje sou pré-candidata a deputada federal. Só se houver uma mudança cósmica (risos).

Houve uma especulação de que a senhora poderia repetir a dobradinha na chapa majoritária com Casagrande para mais um mandato. Ele mesmo já disse que muito dificilmente. Mas a senhora acha impossível?

Muito difícil. Hoje nós governamos com uma frente ampla, e o PSB hoje tem muito interesse na minha candidatura a deputada federal. Sou mulher, sou mulher negra, tenho representatividade, então eu percebo na militância do próprio partido que preciso trilhar esse caminho.

E, além disso, a senhora considera que estrategicamente é mais interessante para o governador e para o governo escolher um vice de outro partido para prestigiar aliados e ampliar a coligação?

Acho que a escolha do vice deveria não ser só uma questão partidária. Penso que tem que ser uma escolha muito linkada com o perfil que o governador quer trazer. Ele fez essa leitura em 2018. Você sabe que eu não esperava ser a vice, mas ele desenhava um perfil. Neste momento, o Renato Casagrande está liderando o processo transitório das lideranças políticas do Estado. Hoje mais de 60% do nosso secretariado é formado por jovens. E você percebe que são jovens gestores com muitos resultados. Posso citar Nésio Fernandes, Pablo Lira, Victor de Angelo, Fabrício Noronha, Nara Borgo…

Então é possível, ou até provável, que ele escolha um vice jovem, que venha desse grupo de jovens lideranças que ele está formando?

Acho que o perfil está bem desenhado na cabeça dele. Lógico: se eu tivesse que optar, poderia ser outra mulher, mas não cabe a mim.

Qual é o perfil desenhado na cabeça dele? A senhora sabe. Pode me dizer?

Não, não sei (risos). A cabeça é dele.

Mas em 2018 ele queria uma mulher. Isso é fato. E dessa vez, a senhora acha que esse fator de gênero será importante?

Eu vou ar para o meu pai: “Cada cabeça seu guia” (gargalhada). Se eu tivesse que dar uma opinião, é lógico que eu gostaria que fosse uma mulher. Mas ele, concordando em ser candidato à reeleição, creio que pela experiência política que tem, ele vai analisar um perfil que realmente possa fazer essa transição. Acho que não é só uma questão partidária. Tem também que se ver o perfil. E os partidos aliados têm quadros.

A senhora pensa que, em 2026, se reeleito, ele se lançará ao Senado?

Eita! Se eu tivesse que fazer uma aposta partidária, eu falaria assim: “Venha ao Senado e feche a sua carreira com chave de ouro no Senado”. Eu diria isso para ele.

Jaqueline Moraes apresenta sua coleção de bonecas negras. Foto: Itamar Freire

A senhora apoia o Lula. Todos os candidatos na chapa do PSB para a Câmara Federal farão o mesmo?

Acredito que sim. Pode ter uma ou outra diferença. Mas a gente tenta convencer pelo menos a militância.

E quanto ao governador? A senhora acha que ele vai apoiar o Lula?

Então…

A senhora até se balançou na cadeira…

Dei uma ajeitadinha aqui na cadeira (risos). Ele sempre foi partidário. Eu posso dizer assim. Eu não vou afirmar nem que sim nem que não, mas nós temos um governador que está há 32 anos no mesmo partido. Nós temos um governador que ajudou a construir a maior parte das lideranças deste Estado. Às vezes as pessoas não conseguem compreender isso porque ele é uma pessoa muito simples e dialoga com todo mundo. Mas, quando você faz uma análise de cada liderança, inclusive os que estão disputando hoje contra ele, foi ele quem deu as mãos e fez essas lideranças. Se você olhar até o ex-governador [Paulo Hartung], que hoje não é candidato a nada e não está filiado a nenhuma sigla, a primeira eleição dele [a governador, em 2002] foi no PSB. Foi o PSB que o abrigou.

Mas, voltando ao ponto, quando a senhora diz que o governador é “muito partidário”, é porque acredita que, seguindo a resolução nacional do próprio PSB, ele também vai apoiar o Lula no Espírito Santo?

Eu não posso falar por ele. Se eu afirmar que ele vai apoiar o Lula, estarei colocando palavras na boca dele, concorda?

Mas ele deveria?

Acho que, por ele ser muito partidário, ele topa um prato de lula com chuchu (gargalhada).

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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