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Coluna Vitor Vogas

Disputa pela vaga no Senado pode reservar surpresa nesta reta final

Eleição para o cargo é aquela em que o eleitor deixa mais para o fim da campanha a sua definição de voto. Nas ruas, muitos dizem não saber em quem votar, mas saber em quem não votar

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Rose de Freitas, Erick Musso e Magno Malta são candidatos ao Senado

Não digo que ele vá ganhar. Digo que é um erro subestimá-lo. Enquanto escrevo este texto, na noite deste domingo (18), estamos precisamente a duas semanas de conhecer os resultados das urnas no dia 2 de outubro. E acredito que, nesta reta final de campanha, o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), reúne condições de crescer e talvez até surpreender, a despeito dos resultados tímidos obtidos por ele nas pesquisas da Rede Vitória e da Rede Gazeta publicadas entre agosto e o começo de setembro.

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Só não sei se ele crescerá a ponto de superar os notórios favoritos, Rose de Freitas (MDB) e Magno Malta (PL) – lembrando sempre que qualquer chance de êxito implica ultraar os dois adversários mais famosos, pois só há uma cadeira em disputa no Senado neste ano.

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Por que essa disputa em especial ainda pode reservar uma surpresa? Vejamos.

Em primeiro lugar, se as eleições gerais de 2018 nos deixaram uma lição, foi a de que a disputa para o Senado é aquela em que o eleitor em geral deixa sua definição de voto mais para o fim do processo.

Naquele ano (com duas vagas em jogo no Senado), pesquisas divulgadas no começo da corrida eleitoral, por volta do início de agosto, indicavam larguíssima vantagem para os dois candidatos à reeleição: Ricardo Ferraço (PSDB) e, principalmente, Magno Malta (PL). Era recall político. Os azarões Fabiano Contarato (então na Rede) e Marcos do Val (então no Cidadania) apareciam lá embaixo, sem atingir dois dígitos das intenções de voto estimuladas.

Em meados de setembro, mais ou menos no mesmo ponto da campanha em que nos encontramos agora, as pesquisas começaram a captar uma escalada de Do Val e, destacadamente, de Contarato, proporcional à trajetória de declínio em que entraram Magno e Ricardo. As linhas das duas “duplas” estavam caminhando para se encontrar nos gráficos. Nas duas semanas finais, como diriam os analistas de pesquisas, “a boca de jacaré se fechou”.

Nos últimos dias de campanha, empurrado pelo vento mudancista que soprou varrendo tudo nas eleições 2018, Contarato atropelou a dupla de francos favoritos, levando a reboque Do Val, já que cada eleitor tinha direito a dois votos para senador naquele pleito.

Esse adiamento até o limite da definição de voto para o Senado deve-se, primeiramente, ao fato de que essa disputa se dá paralelamente àquelas para outros cargos que despertam muito mais a atenção do eleitor: os do Poder Executivo em âmbito federal (presidente da República) e estadual (governador).

A primeira em particular costuma concentrar as atenções, o que é ainda mais verdadeiro este ano, dado o ambiente de extrema polarização que vivemos. O voto para presidente foi o primeiro que a grande maioria dos eleitores já decidiu, haja vista o quadro já praticamente cristalizado entre Lula e Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto, com pouquíssimos eleitores cogitando mudar de candidato e baixíssima probabilidade de grandes oscilações a esta altura. De um instituto para outro, os números têm diferido muito; mas, dentro da série de cada instituto, pouca variação é captada.

Aí depois vem, na cabeça do eleitor, a eleição para governador. Quanto ao voto para deputado estadual, geralmente é confiado àquele candidato mais próximo do dia a dia do eleitor, assim como, em menor escala, na eleição para deputado federal. Não parece algo tão distante.

Espremidas entre essas quatro colunas, fica a eleição para o Senado. Na pesquisa Ipec/Rede Gazeta do dia 2 de setembro, cerca de 70% dos entrevistados não citaram nenhum candidato a senador no cenário espontâneo (sem terem o prévio à lista de concorrentes), o que só prova que essa corrida rumo à Casa Revisora está completamente em aberto.

A intensidade do “vento mudancista”   

A eleição de 2018 foi marcada pela expressão nas urnas de um anseio acumulado dos eleitores brasileiros em geral por mudança (qualquer mudança, a meu ver sem muito critério), o que favoreceu a eleição de um sem número de outsiders, candidatos vindos de fora do sistema político, muitos dos quais autodeclarados “não políticos”.

Desta vez, parece que o vento mudancista que ou arrastando tudo em 2018 já não está tão poderoso quanto esteve quatro anos atrás. Após o duro aprendizado colhido em quatro anos de governo Bolsonaro, não há indícios de que o eleitor agora esteja em busca de “mudança por mudança” nem de que a “renovação política” por si mesma vá prevalecer de novo como critério máximo de escolha.

Mas, no caso específico da eleição para o Senado no Espírito Santo, há um fator muito particular que não se pode ignorar: a “fadiga de material” tanto de Magno quanto de Rose, a qual o eleitor capixaba pode colocar na balança na hora em que parar para definir seu voto para o cargo – e essa hora, repito, pode ficar para os últimos dias, a véspera ou até o dia mesmo da votação.

Tanto o presidente do PL no Espírito Santo quanto a presidente estadual do MDB são políticos mais que calejados, com uma longa estrada na vida pública.

Com 73 anos de idade, Rose exerce mandatos há exatas quatro décadas, desde 1982 (contando o atual, já foram oito, sempre como parlamentar). Afora um intervalo de 1994 ao ano 2000, seus mandatos foram exercidos de maneira interrupta, pelo MDB, pelo PSDB e brevemente pelo Podemos.

Com 64 anos, Magno acumulou mandatos (também sempre parlamentares) ao longo de cerca de três décadas, ando por Assembleia Legislativa, Câmara dos Deputados e Senado, do início dos anos 1990 a 2018, quando não triunfou na tentativa de renovar sua estadia no Senado. Nessa Casa, cumpriu dois mandatos, de 2003 a 2018.

Rose trabalha para permanecer no Senado. Magno, para voltar. Ambos correm o risco de acabar perdendo fôlego nesta reta final, acometidos pelo desgaste e pela rejeição de uma parcela do eleitorado capixaba, cujo tamanho é incerto, aos dois representantes da velha guarda, após tantos anos emendando mandatos.

Um sinal que não pode ser ignorado é o resultado ruim colhido por ambos justamente na eleição de 2018. Mesmo colando sua imagem a todo custo em Bolsonaro (literalmente até no leito hospitalar do Albert Einstein após a facada), Magno acabou chegando em terceiro lugar e não logrou emendar seu terceiro mandato no Senado. Não conseguiu nenhum encaixe no governo Bolsonaro e ou os últimos quatro anos sem mandato nem cargo público.

Quanto a Rose, concorreu pela segunda vez na vida ao governo estadual, pelo Podemos, tendo obtido resultado desanimador: nem sequer chegou a 10% dos votos válidos. Não ficou sem mandato porque o seu no Senado só vence agora.

Na semana ada, recebemos no EStúdio 360 dois candidatos ao Senado para a série de entrevistas que estamos realizando: Gilberto Campos (Psol) e Nelson Junior (Avante). Embora muito diferentes em quase tudo, ambos disseram, em momentos separados, exatamente a mesma coisa sobre isso: tanto segundo o socialista como segundo o pastor conservador, as pessoas nas ruas ainda não sabem em quem votar para senador, mas dizem saber em quem não querem votar (Magno e Rose).

O sentimento captado nas ruas por tais candidatos ainda não se traduziu em pesquisas de que eu tenha conhecimento (as da Rede Vitória e da Rede Gazeta), mas o campo desses levantamentos foi feito nas primeiras semanas de campanha. A última Ipec/Rede Gazeta foi publicada no dia 2 de setembro. O quadro pode ter mudado desde então e pode mudar ainda mais até 2 de outubro.

Se Gilberto e Nelson estiverem certos, o maior beneficiário desse voto “nem-nem” (nem Magno nem Rose) tende a ser Erick Musso.

E por que Erick?

É o que explicarei aqui em breve.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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