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Coluna Vitor Vogas

Destino de Ramalho será decidido nesta tarde. Tendência: ele fora da eleição

Cúpula estadual do Podemos se reúne nesta tarde para definir se retira ou não a candidatura do coronel ao Senado. Entenda por quais motivos ele deve ser rifado pelo próprio partido

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Da esquerda para a direita: Marcelo Santos, Gilson Daniel, Alexandre Ramalho, Arnaldinho Borgo e Victor Linhalis

Alea jacta est. Em latim, “a sorte está lançada”. A frase é atribuída ao general romano Júlio César, considerado um dos maiores estrategistas militares da história. Da estratégia militar para a eleitoral, a sorte não de um general, mas de um coronel da reserva da PMES, está lançada nesta quinta-feira (28). A partir das 15h30, no gabinete do prefeito Arnaldinho Borgo, os membros da cúpula estadual do Podemos vão se reunir para tomar uma decisão: o partido manterá ou não a candidatura de Alexandre Ramalho ao Senado?

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Enquanto este texto é escrito, a tendência é que a resposta seja não: o partido não deve bancar a candidatura ao Senado do ex-comandante-geral da PMES e ex-secretário estadual de Segurança Pública. Ramalho terá que ceder e aceitar ser candidato a deputado federal ou, simplesmente, recolher o quepe e não concorrer a nenhum cargo eletivo.

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Ramalho não participará da reunião. Além de Arnaldinho, a cúpula do Podemos será formada pelo ex-prefeito de Viana Gilson Daniel (presidente estadual do partido), pelo deputado estadual Marcelo Santo (vice-presidente estadual da sigla), pelo vice-prefeito de Vila Velha Victor Linhalis (muito ligado a Arnaldino) e pelo prefeito de Viana Wanderson Bueno (muito próximo a Gilson).

Pelo que a coluna apurou, a esta altura, Ramalho ainda conserva o apoio de dois desses integrantes da cúpula: Arnaldinho e Victor Linhalis. Porém a balança tende a pesar mais para o lado de quem realmente controla o Podemos no Espírito Santo e defende a tese da retirada: Gilson Daniel, secundado por Wanderson Bueno.

Além disso, o ponto-chave é o seguinte: aquele que poderia ser o fiel da balança tem dúvidas severas quanto à viabilidade de Ramalho. Estou falando de Marcelo Santos, decano da Assembleia Legislativa e candidato a mais um mandato de deputado estadual.

Número 2 na linha de comando do Podemos no Espírito Santo, Marcelo era um dos principais incentivadores da pré-candidatura de Ramalho ao Senado. Chegou a dar à coluna uma entrevista defendendo o lançamento do coronel a senador pelo partido.

Porém, minha apuração aponta que, durante a reunião, o deputado deve colocar na mesa algumas ponderações e argumentos de ordem prática que dificultam muito a sustentação de Ramalho como candidato ao Senado.

O primeiro deles de ordem financeira.

Fator 1: “show me the money”

Toda candidatura majoritária é custosa e “drena”, sozinha, grande parte dos recursos públicos que o partido possui para financiar todas as suas campanhas no estado.

O entendimento de Marcelo, de Gilson Daniel e de muitos pré-candidatos a deputado estadual e federal pelo Podemos é que o lançamento de um candidato próprio ao Senado terá, por efeito imediato, o esvaziamento financeiro das campanhas proporcionais. Para financiar a candidatura majoritária de Ramalho, a direção estadual do Podemos terá que remanejar uma fração considerável da cota do Fundo Eleitoral do partido inicialmente reservada para os seus candidatos a deputado estadual e federal.

A cota do Podemos, partido com bancada modesta na Câmara Federal, já não é essas coisas. Assim, o candidato a deputado estadual que já receberia uma ajuda minguada teria que se contentar com menos ainda. Isso está deixando de cabelo em pé os pré-candidatos a deputado do partido.

Para citar alguns exemplos, os próprios Gilson Daniel e Victor Linhalis serão candidatos a deputado federal. Para deputado estadual, o puxador de votos deve ser Marcelo Santos, enquanto o prefeito Arnaldinho deve trabalhar para ajudar a eleger o vereador de Vila Velha Anadelso Pereira. Todos eles perderiam recursos de campanha.

Fator 2: isolamento político

A outra preocupação a ser colocada na mesa é de ordem jurídica e política. Como já explicamos detalhadamente aqui, o Podemos (incluindo Ramalho e todos os caciques regionais que tomarão parte na reunião) é um partido da base do governo Casagrande e, a priori, integra a coligação do atual governador na campanha pela reeleição.

Ocorre que o PSB de Casagrande vai se coligar, na eleição ao Senado, com o MDB da senadora Rose de Freitas, que pleiteia a reeleição e que será a candidata apoiada pelo próprio governador.

Assim, por determinação imposta pela legislação eleitoral, se quiser insistir no projeto de lançar Ramalho ao Senado, o Podemos será obrigado a se desligar da coligação de Casagrande na eleição ao governo estadual e terá que lançar o coronel ao Senado em uma chapa avulsa, sem nenhum partido aliado e sem ter, ao menos formalmente, nenhum candidato a governador.

Na prática, o que significa lançar uma chapa avulsa ao Senado? Significa, por exemplo, que os candidatos a deputado estadual e federal do partido (incluindo Gilson Daniel, um dos maiores aliados de Casagrande) não poderão, por exemplo, produzir e distribuir material de campanha casado com a do governador, nem figurar ao seu lado em atividades de campanha.

Assim, Gilson Daniel, um dos maiores aliados de Casagrande, não poderá fazer campanha com o próprio governador nem contar oficialmente com sua ajuda para se eleger deputado federal.

O fator Erick Musso

Por último, há um ingrediente político novo, que deve jogar a pá de cal nas pretensões de Ramalho: a decisão do presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos), de desistir de ser candidato ao governo para disputar a vaga em jogo no Senado.

A decisão de Erick já está tomada, independentemente do destino de Ramalho. Eventual implosão da pré-candidatura do coronel não é uma condição para o novo projeto de Erick… mas, se confirmada, pode ajudá-lo consideravelmente.

O grupo político de Erick está apostando na retirada de Ramalho. Se o ex-secretário realmente ficar fora da corrida ao Senado, abre-se, em tese, para Erick, uma pista que ele pode percorrer e um filão que ele pode explorar.

No momento, os principais concorrentes ao Senado na disputa são a senadora Rose de Freitas e o ex-senador Magno Malta (PL), dois veteranos da política capixaba, cada um com mais de 30 anos de rodagem e de mandatos acumulados.

Se Ramalho entrasse na disputa, teoricamente, poderia dar trabalho para os dois, apresentando-se como “novidade política”, jamais testado nas urnas, atraindo a atenção e os votos dos eleitores ansiosos por renovação política.

Sem Ramalho no páreo, Erick pode tentar preencher esse vácuo, apresentando-se ao eleitorado capixaba como a “terceira via”, a “novidade eleitoral”, a verdadeira “alternativa” a quem está cansado de Magno e Rose.

Aos 35 anos de idade – completados no mês de fevereiro –, Erick não é propriamente uma novidade política, aliás pelo contrário. Tendo começado muito jovem a sua ascensão política como vereador em Aracruz, vem emendando mandatos há uma década. E, só na presidência da Assembleia, já leva quase seis anos.

Mas, em primeiro lugar, essa informação a ao largo do conhecimento de grande parte do eleitorado, que só deixa para pensar em política no período eleitoral (ou até no dia de ir votar).

Além disso, juventude ele com certeza tem: com 35 anos recém-completos, acaba de atingir a idade mínima exigida pela Constituição Federal para que um cidadão brasileiro possa disputar o cargo de senador. Difícil encontrar um candidato ao Senado mais jovem que ele.

Como se não bastasse, a parceria eleitoral que ele acaba de firmar com Felipe Rigoni (outro jovem, de 31 anos) pode ajudar a conferir à campanha de Erick ao Senado o frescor e a ideia de “novidade” que ele pretende transmitir ao eleitorado.

Pressupondo a ausência de Ramalho, Erick fica livre para desfilar sozinho por esse filão.

E o que mais nos importa aqui: essa tese e esse projeto “Erick Musso ao Senado” aram a ter em Marcelo Santos, o fiel da balança para Ramalho, não só um apoiador… Marcelo é um dos principais fiadores da candidatura de Erick ao Senado.

Perdendo um de seus maiores aliados no debate interno no Podemos, Ramalho está automaticamente fora.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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