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Coluna Vitor Vogas

Contarato é candidato ao governo pelo PT… pero no mucho

Senador entra na disputa estadual meio “de banda”, já itindo que pode recuar. Entenda o que pode levá-lo a fazer isso, em nossa análise e na entrevista com ele

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Senador Fabiano Contarato. Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

Senador Fabiano Contarato. Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

Querer, ele diz que quer. Mas, se for preciso, ele recua. E, se ele “for saído”, sem problemas. É assim, meio “de banda”, aparentando querer ser candidato mas nem tanto, que o senador Fabiano Contarato entra na corrida rumo ao cargo de governador do Espírito Santo, pelo PT: “Vou cumprir a decisão nacional do partido. Se for necessário recuar, nós vamos recuar”. O senador entra assim, com um pé dentro e outro fora da raia, já itindo que pode sair do páreo antes mesmo do tiro de largada, se algumas condições se combinarem. E as “condições”, no caso, têm nome, sobrenome e carteirinha de identidade partidária: Renato Casagrande, do PSB.

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Além da determinação nacional, a manutenção ou retirada da candidatura de Contarato ao Palácio Anchieta dependerá basicamente do posicionamento do governador na eleição presidencial. Para ser mais claro, vai depender da atitude de Casagrande em relação à candidatura de Lula. Como afirmam dez em cada dez petistas, garantir o retorno do ex-presidente ao Palácio do Planalto são as prioridades 1, 2 e 3 do partido nas eleições gerais deste ano. Todo o resto é secundário. Aliás, todos os demais arranjos eleitorais, incluindo os acordos estaduais nas disputas a governador, estão subordinados a esse projeto de derrotar Jair Bolsonaro (PL) e recuperar o poder central.

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Na prática, isso significa que a prioridade do PT no Espírito Santo não é lançar nem eleger Contarato (ou qualquer que fosse o nome) a governador. O que o partido quer, antes de tudo, é assegurar um palanque forte para Lula em terras capixabas. Se, para cumprir esse objetivo estratégico, for necessário manter a candidatura própria de Contarato ao governo, muito bem, eles a manterão. Mas isso pode simplesmente não ser necessário. De novo: depende de Casagrande.

Se o governador apoiar Lula manifestamente à Presidência e garantir ao ex-presidente esse palanque forte no Espírito Santo, a candidatura de Contarato tende a ser de bom grado removida, e PT e PSB tendem a marchar em harmonia e de mãos dadas no processo eleitoral também por aqui, replicando a aliança nacional. É isto que os petistas querem: que, durante a campanha, Casagrande declare apoio e voto em Lula, que faça manifestações explícitas e enfáticas em seu favor… e que “suba no palanque com Lula”, de preferência sem aspas, posando para fotos, gravando depoimentos, participando de eventuais atos de campanha do ex-presidente no Estado.

É por esse prisma que pode ser melhor compreendido o lançamento da pré-candidatura de Contarato ao governo, no fim de fevereiro: permaneça ele no páreo ou não, lançá-lo agora funciona, antes de tudo, como uma forma de exercer pressão sobre Renato Casagrande para que ele comece a dar sinais públicos de que, seguindo o próprio partido, emprestará seu apoio a Lula na disputa presidencial.

Pouco antes do ato de lançamento de Contarato, o governador havia recebido Sergio Moro (Podemos) na Residência Oficial e dado uma declaração crítica ao PT em entrevista à Folha de S. Paulo, exasperando aliados petistas com tais atitudes. Além disso, a coluna apurou que, entre líderes locais do PT, havia (ou ainda há) nos bastidores uma crescente insatisfação com Casagrande, justamente por causa de sua enorme relutância em se posicionar a favor da candidatura de Lula. “Renato quer ter o apoio do PT à sua reeleição, mas não quer tirar foto com Lula”, resumiu um general quatro estrelas vermelhas do partido no Espírito Santo.

Nesse sentido, a candidatura de Contarato veio como reação do PT local a Casagrande para pressioná-lo – mas já nasceu com o selo de “removível” e o carimbo de “só use em caso de necessidade”.

Também nesse sentido, Casagrande começou a remodelar o discurso e a dizer exatamente o que os petistas querem ouvir de sua boca. O primeiro sinal público tão aguardado por eles foi a sua declaração em entrevista exclusiva à coluna na estreia deste espaço, na última segunda-feira (14). Pela primeira vez, o governador afirmou com todas as letras: “Não tenho a menor dificuldade em votar de novo no presidente Lula”. Foi o ponto de virada da chave. Feita para o público em geral, a fala de Casagrande foi endereçada a um destinatário bem específico: o PT do Espírito Santo. E, diga-se de agem, foi muito bem recebida na cúpula estadual petista.

Há outro fator a se levar em conta: como o próprio Casagrande afirmou na mesma entrevista, a cúpula nacional do PSB já decidiu e anunciou apoio a Lula, e tudo leva a crer que os dois partidos estarão coligados na disputa presidencial. Em seu congresso nacional, marcado para abril, o PSB deve homologar a aliança – apenas dando caráter oficial a uma decisão já tomada.

Nesse caso, em troca do apoio a Lula na eleição presidencial, a cúpula nacional do PSB, da qual Casagrande faz parte, deve pedir algumas contrapartidas: uma das principais deve ser o apoio do PT a alguns de seus candidatos a governador, especialmente nos Estados já governados pelo PSB, caso do Espírito Santo. Questão de reciprocidade.

Se essa expectativa se confirmar, lembrando que a própria prioridade é fazer o que for preciso para eleger Lula, o PT-ES não terá escolha senão declinar da candidatura de Contarato – como o próprio ite. Ciente disso, o senador já entra nesse páreo dizendo-se predisposto a retirar a candidatura em favor de Casagrande se tal for a exigência do PSB para fortalecer a candidatura de Lula e se tal for a determinação do comando nacional do PT.

Mas, ora, se tudo parece encaminhar-se para esse desfecho, tornamos à pergunta: por que o PT lançou Contarato agora? É provável que para começar a ouvir o que deseja ouvir de Casagrande e, agora, começa a ouvir de fato. Por reciprocidade, se Contarato abdicar do páreo, Casagrande deverá cumprir sua parte no acordo. E dar palanque a Lula no Estado.

Entrevista: Fabiano Contarato

Na última sexta-feira (11), em entrevista ao programa Estúdio 360, o senador Fabiano Contarato itiu de modo muito “transparente” (palavra usada por ele no ar) que, se o acordo nacional entre PT e PSB ar por essa exigência, ele acatará a ordem nacional e, como um obediente “soldado do partido” recém-chegado à tropa, desistirá sem problema algum de ser candidato a governador, em favor da candidatura de Renato Casagrande.

Questionado sobre possíveis críticas ao atual governo estadual, o senador foi vago, não tocou em nenhum ponto específico e no fim acabou defendendo, genericamente e sem ênfase, “mais investimentos sociais”. Na verdade, o senador chegou a reconhecer “méritos e qualidades” no governo Casagrande. Guardou as críticas para o governo Bolsonaro.

Faz sentido, se levarmos em conta que eles podem estar juntos daqui a alguns meses: por que bater agora em alguém que você pode apoiar na campanha, dando munição a potenciais adversários em comum?

Após a entrevista à TV Capixaba, Contarato conversou com a coluna. Dessa vez mostrou maior entusiasmo. Disse “querer muito” ser candidato a governador. Mas tornou a declarar que, se necessário, abdica da disputa em favor de Casagrande, para ajudar a fortalecer a candidatura de Lula. Confira:

Sua candidatura a governador é para valer?
É para valer. Não tenha dúvida disso. Tanto eu como o partido… A militância do PT está aguerrida em construir este projeto de governo para debater o Espírito Santo. A candidatura é para valer, sim!

O senhor, pessoalmente, quer?
Quero, e muito. Eu quero, sim. Acho que o Espírito Santo merece ter uma candidatura progressista. E aí estamos mantendo esta pré-candidatura ao governo do Estado. O partido está motivado, está renovado. O partido sabe que tem que construir este projeto de governo e escolheu o nosso nome para representar como pré-candidato. Eu estou aguerrido para construir isso e espero que a gente possa efetivar esta pré-candidatura lá na frente.

Mas o objetivo principal da sua candidatura, caso se confirme, é dar um palanque forte para o ex-presidente Lula no Espírito Santo?
Perfeitamente. O nosso objetivo é a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sempre teve um olhar voltado para o social, que é o olhar com o qual eu mais me identifico. Instituiu todos os programas que permitiram que a população, principalmente a população hipossuficiente, pudesse ter um pouco mais de dignidade.

E, se o governador Renato Casagrande, lá na frente, declarar apoio ao ex-presidente Lula, aceitar dividir o palanque com ele aqui no Espírito Santo, posar para fotos ao lado dele… O senhor retira a sua candidatura, visto que já estaria cumprido esse objetivo de garantir para Lula um palanque próprio no Espírito Santo?
Olha, não tenha dúvida de que eu tenho que respeitar uma decisão nacional. E, se esse for o objetivo primordial, a eleição do presidente Lula, e se houver uma composição e [o PSB] colocar como pré-requisito o PT abrir mão da nossa candidatura, a gente pode abrir mão. Mas isso não nos exime de apresentar ao próprio governo estadual os pontos que o Partido dos Trabalhadores reputa importantes para que ele, uma vez atendo a candidatura dele ao campo progressista, possa avaliar o comportamento dele enquanto governador do Estado.

Ou seja, se vier essa decisão de cima para baixo, da parte do comando nacional do PT, em acordo com a direção nacional do PSB, de replicar no Espírito Santo uma coligação, o senhor está predisposto a recuar?
Perfeitamente. Eu vou cumprir a decisão nacional. Se for necessário recuar, nós vamos recuar. Mas eu volto a falar: uma vez fazendo essa coligação, isso não impede que a gente apresente ao Casagrande quais são os pontos que o Partido dos Trabalhadores entende que ele precisa avaliar.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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