Coluna Vitor Vogas
Por que Coronel Ramalho cogita disputar a Prefeitura de Vila Velha?
Uma soma de fatores anima o secretário a pleitear a vaga de Arnaldinho em sua cidade. Mas isso significaria mudar de partido e romper com o governador

Coronel Ramalho. Foto: Reprodução
Aliados do governador Renato Casagrande (PSB) trabalham para convencer o coronel Alexandre Ramalho (Podemos) a ser candidato a prefeito de Vitória em 2024. Para o Palácio Anchieta, se o secretário estadual de Segurança Pública participar das próximas eleições municipais, esse é o papel que mais convém, como parte da estratégia geral para derrotar o prefeito Lorenzo Pasolini (Republicanos).
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Numa definição de candidatura, sempre concorrem muitos fatores. Mas existe, acima de tudo, a vontade do possível candidato. E interlocutores de Ramalho afirmam que, hoje, na realidade, o secretário está mais inclinado a disputar a Prefeitura de Vila Velha: 60% a 40%; 70% a 30%.
Em primeiro lugar, por uma avaliação de que, no colégio eleitoral canela-verde, sua candidatura teria mais chances de vitória, devido ao perfil predominante do eleitorado: nas eleições gerais do ano ado, a “direita conservadora” provou-se mais presente em território vilavelhense do que na Capital.
Além disso, justamente a estratégia palaciana exposta acima poderia levar Ramalho a manter um pé atrás: sendo candidato em Vitória, ele poderia estar indo para um sacrifício eleitoral e servindo muito mais a uma estratégia do Palácio Anchieta para derrotar Pazolini do que atendendo aos próprios interesses e planos eleitorais. O secretário estaria relutante em colocar-se a serviço do Palácio.
No entanto, para ser candidato em Vila Velha, Ramalho terá que sair do Podemos, partido do atual prefeito, Arnaldinho Borgo, que já afirmou à coluna: permanece onde está.
Defensores dessa tese apostam que o secretário tem potencial para dar trabalho a Arnaldinho (um páreo duro); poderia tirar muitos votos do atual prefeito junto ao eleitorado de direita.
Para levar adiante essa ideia, em qual partido Ramalho caberia?
Uma pessoa próxima ao secretário afirma que no fundo ele não desgosta da ideia de se filiar ao PL – mas isso soa inverossímil, pois, como ele mesmo tem absoluta consciência, entrar no partido de Bolsonaro, Manato, Assumção etc. significaria romper estrepitosamente com Casagrande.
Isso sem falar que seria bem incoerente para o próprio Ramalho: como explicar eventual filiação ao partido de Assumção, o deputado que detona a sua gestão na Sesp há anos na Assembleia, além de adversário na greve da PMES em 2017? Ramalho se declarou eleitor de Bolsonaro no ano ado, mas o contexto político estadual interdita uma aproximação do secretário com o PL. Não é por aí não.
As opções muito mais viáveis que hoje se apresentam ao secretário são dois partidos que transitam numa faixa de direita mais moderada no Espírito Santo (mais de acordo com o perfil dele): o Progressistas e o Republicanos. Nos dois casos, já existem sondagens e diálogo aberto sobre possível filiação do secretário.
Nacionalmente, ambos pertenceram à coligação de Bolsonaro à Presidência no ano ado. No contexto local, o Republicanos – partido de Pazolini e Erick Musso – está totalmente fora do governo Casagrande e de seu movimento político-eleitoral; corre numa raia própria.
O Progressistas, por sua vez, apoiou a reeleição de Casagrande e faz parte da base e do governo do socialista, mas, desde que a presidência estadual ou para Josias da Vitória, o partido tem se afastado dessa faixa na mesma proporção em que se aproxima justamente do Republicanos.
Seus respectivos presidentes estaduais, Da Vitória e Erick Musso, estão muito entrosados. Tal proximidade se materializou no convite de Pazolini ao PP para ingressar no primeiro escalão do seu governo em Vitória. O vereador Anderson Goggi recusou o convite de Pazolini para assumir a Secretaria Municipal de Cultura, mas o prefeito segue esperando a indicação de outro nome do PP.
De todo modo, PP e Republicanos hoje estão unindo forças na estruturação de uma frente político-eleitoral alternativa àquela liderada por Casagrande.
Nessa conjuntura, se Ramalho se filiar ao PP ou ao Republicanos para concorrer a prefeito de Vila Velha, isso também significará, se não rompimento total, um profundo afastamento em relação ao grupo de Casagrande e ao próprio governador. Isso por dois motivos.
Primeiro porque, a se concretizar o “movimento alternativo” formado por PP e Republicanos, ele estaria automaticamente ingressando nesse movimento.
Segundo porque, simplesmente, o candidato de Casagrande em Vila Velha tende a ser o próprio Arnaldinho, até por uma questão de compromisso, em retribuição ao engajamento pessoal do prefeito na campanha do governador à reeleição no ano ado.
Em tempo: Ramalho é morador e eleitor de Vila Velha. Para disputar em Vitória, precisará transferir o domicílio eleitoral; para concorrer em Vila Velha, basta permanecer onde já está.
O desempenho nessas duas cidades
Na eleição para deputado federal no ano ado, o secretário estadual de Segurança obteve 33.874 votos, ficando na 1ª suplência do Podemos pelo Espírito Santo na Câmara Federal.
Em Vila Velha, ele recebeu 8.942 votos (26,3% da sua votação total e 3,5% dos votos válidos para deputado federal no município).
Já na Capital, chegou a 8.969 votos (26,4% da sua votação total e 4,5% dos votos válidos para o cargo na cidade).
Desse modo, mais da metade dos votos de Ramalho (52,7%) foram dados por eleitores desses dois municípios metropolitanos.
