Coluna Vitor Vogas
Os 10 possíveis candidatos à sucessão de Casagrande em 2026 – Parte 1
Apresentamos a relação de nomes mais cotados para concorrer ao Governo do ES em 2026, como cada um chegou aqui e o que precisa fazer para chegar lá

Renato Casagrande. Foto: Hélio Filho/Secom
Em 2026, último ano do atual mandato, o governador Renato Casagrande (PSB), já reeleito na última eleição, não poderá ser candidato ao mesmo cargo. Será a primeira vez que tal fato ocorrerá no Espírito Santo desde 2010. Logicamente, isso abre uma enorme expectativa de poder.
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Por isso, a três anos da sucessão de Casagrande, já é grande a fila de possíveis candidatos ao cargo que trabalham intensamente para pavimentar o próprio caminho rumo ao Palácio Anchieta.
A lista inclui muitos integrantes do extenso bloco de aliados de Casagrande, alguns que avançam por outras frentes… e tem até quem era aliado até outro dia, mas agora está se desgarrando.
É claro que, até 2026, muita coisa pode mudar, e o efetivo rol de candidatos dependerá de incontáveis variáveis, como arranjos partidários, sucesso ou não nos próprios mandatos, o desempenho do governo Lula (PT) e o do próprio governo Casagrande; acima de tudo, os resultados das próximas eleições municipais em 2024, das quais as apostas listadas pela coluna podem sair maiores ou menores. Isso sem contar que, até lá, outros nomes podem emergir.
De todo modo, podemos dizer assertivamente que, a preços de hoje, existem dez possíveis candidatos mais cotados à sucessão de Casagrande. Neste domingo (11), apresentamos os primeiros cinco, com a história e o perfil de cada um. Acompanhe:
1. Ricardo Ferraço (PSDB)
Antes, durante e depois das eleições do ano ado, mil vezes Casagrande e Ricardo Ferraço foram indagados sobre um possível compromisso do primeiro em apoiar candidatura do segundo à sua sucessão em 2026. Mil vezes ambos negaram, peremptoriamente, qualquer acordo ou mesmo conversa entre eles nesse sentido. Fato é que, ao voltar à Vice-Governadoria após 12 anos, Ricardo automaticamente se tornou candidato natural ao cargo ora ocupado por Casagrande, por um motivo muito simples: quando a eleição de 2026 começar, ele muito provavelmente já estará exercendo o cargo. É que todo mundo aposta que, no último ano de governo, Casagrande renunciará em abril para poder concorrer a uma das duas vagas do Espírito Santo a serem abertas no Senado, ando o cetro para seu vice, que assim, já assinando como governador, poderá disputar a reeleição. Para Ricardo, seria uma forma de coroar uma longa trajetória política, iniciada muito jovem, no início dos anos 1980. Aos 18 anos, o filho de Theodorico Ferraço já era vereador de Cachoeiro; com menos de 30, chegou à Assembleia Legislativa, presidida por ele no biênio 1995-1997. Depois disso foi deputado federal, secretário de Agricultura no primeiro governo Paulo Hartung (2003-2006) e vice-governador no segundo (2007-2010). Em seu melhor momento político, Ricardo foi forçado a desistir da candidatura ao Palácio Anchieta pelo grupo de Hartung, para a qual vinha se preparando ao longo de todo o mandato de vice. Em abril de 2010, o próprio Hartung anunciou que o candidato do seu grupo seria ninguém menos que o então senador Renato Casagrande, por uma dessas ironias de que a política está repleta. Restou a Ricardo disputar uma vaga no Senado, o que logrou com votação recorde. Na Casa Revisora, relatou a reforma trabalhista do governo Temer e a reforma eleitoral de 2017, além de ter sido muito atuante em pautas ligadas à economia do Espírito Santo. Rompeu com Hartung e levou o PSDB a apoiar Casagrande em 2018, ano em que acabou apenas em 4º lugar na tentativa de renovar o mandato no Senado. De 2019 a 2022, atuou na iniciativa privada. Voltou à política como companheiro de chapa de Casagrande, pelo PSDB. Na campanha, foi importante sobretudo no 2º turno. Com seu perfil de direita conservadora e eleitor de Bolsonaro, conferiu equilíbrio ideológico à chapa de Casagrande contra Manato (PL) e fez pessoalmente a ponte da campanha com o meio empresarial, ajudando a quebrar (ou amenizar) resistências a Casagrande no setor. No começo de dezembro, conforme sinalizado antes mesmo da vitória eleitoral, Casagrande o confirmou como secretário estadual de Desenvolvimento em seu terceiro governo. No início da istração, Ricardo tem mantido a postura bem discreta que o caracterizou nos últimos anos: aparece e fala muito pouco para fora. Segue firme no PSDB e se reaproximou do ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo, agora presidente do partido em Vitória e potencial candidato à prefeitura. Com excelente trânsito junto ao empresariado, Ricardo tentou mediar, sem sucesso, um acordo com a Eco101 relativo ao contrato de concessão da BR-101. Daqui a três anos, pode enfim lançar candidatura ao Palácio Anchieta, quiçá com o apoio do mesmo Casagrande que melou seus planos em 2010. Terá 63 anos.
2. Arnaldinho Borgo (Podemos)
Filho do já falecido político Arnaldo Borgo, Arnaldo Borgo Filho está em pleno exercício do seu terceiro mandato eletivo. Antes de chegar à Prefeitura de Vila Velha na eleição de 2020, desempenhou dois mandatos seguidos na Câmara Municipal, entre 2013 e 2020, pelo MDB. No primeiro deles, coincidindo com o governo de Rodney Miranda (2013-2016), foi secretário municipal de Assistência Social. No segundo, destacou-se por exercer um mandato de oposição sistemática e aguerrida ao então prefeito Max Filho (PSDB) em plenário, questionando medidas como a PPP da iluminação pública e o financiamento internacional contraído pela prefeitura com o Fonplata. Em 2020, sem legenda no MDB, filiou-se ao Podemos para disputar a cadeira de prefeito. Com poucos apoiadores, entrou na disputa como azarão, mas cresceu como fogo morro acima no decorrer da campanha, chegando na dianteira já no 1º turno – à frente dos medalhões Max Filho e Neucimar Fraga – e derrotando o então prefeito com ampla margem no 2º turno. Declarando-se um político de centro – mas com traços bem discerníveis de político postado à direita –, Arnaldinho tem evitado se envolver em polêmicas ideológicas e tem procurado realizar uma gestão com muitas entregas de equipamentos públicos e aceleração de investimentos na cidade. Para isso, conta com uma estratégica parceria política com o governador, de quem é importante aliado, como ficou provado na eleição do ano ado. Desde o início da campanha, mas principalmente no 2º turno, o prefeito foi o maior cabo eleitoral de Casagrande em Vila Velha. A retribuição tem vindo sob a forma de investimentos do Estado na cidade, mas também por certo virá como apoio eleitoral em 2024. Sem o confirmar antes da hora, Arnaldinho é candidatíssimo à reeleição. Para isso, deve permanecer no Podemos, como já afirmou à coluna que fará, em uma disputa para a qual, até o momento, não despontam desafiantes na cidade. Na Câmara Municipal, por exemplo, onde Arnaldinho ascendeu em contraponto ao então prefeito, o atual ocupante do cargo não encontra um só foco de resistência, muito menos de oposição. Por enquanto, céu de brigadeiro. Confirmando a reeleição no ano que vem, se não incorrer em erros graves e não houver nenhuma crise e/ou acidente de percurso, credencia-se para se candidatar ao lugar de Casagrande dois anos depois – deixando a prefeitura em abril de 2026 nas mãos de seu vice-prefeito, possivelmente o atual presidente da Câmara de Vila Velha, Bruno Lorenzutti (Podemos). Terá 43 anos. Seu partido, no caso, será outra discussão, até por causa do nome seguinte que compõe a nossa lista.
3. Gilson Daniel (Podemos)
Contador e servidor da Ufes, Gilson Daniel Batista surpreendeu o mundo político capixaba em 2012, ao desafiar a ex-prefeita Solange Lube (MDB) na eleição à Prefeitura de Viana e desbancar o grupo político instalado no poder por muitos anos na cidade da Grande Vitória. Destacando-se como gestor público, “colocou Viana no mapa” e reelegeu-se muito facilmente em 2016. Quatro anos depois, com igual facilidade, emplacou seu sucessor no cargo, o atual prefeito Wanderson Bueno (Podemos), seu afilhado político. Garantida a hegemonia em sua própria terra, Gilson quis muito mais e ou a estender sua influência para outros cantos do Espírito Santo. Um dos caminhos para isso foi a intensa atuação no movimento municipalista. De 2019 a 2021, ele presidiu a Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes). Outra via de crescimento foi a atividade partidária. Desde 2017, Gilson é o presidente estadual do Podemos, partido em franca ascensão no país e no Estado. Outro fator relevante é a já longa aliança política do ex-prefeito com o governador do Estado, construída ao longo do tempo em que Gilson governou Viana, mesmo durante o hiato em que Casagrande ficou sem mandato, de 2015 a 2018. No início de 2021, por nomeação de Casagrande, ele se tornou secretário estadual de Governo e, logo depois, de Planejamento. Em sua primeira candidatura à Câmara, elegeu-se deputado federal com boa votação no ano ado, tendo sido o 4º mais votado entre os 10 eleitos pelo Espírito Santo. De quebra, o Podemos também elegeu o ex-vice-prefeito de Vila Velha Victor Linhalis. Sob a direção de Gilson, o partido apoiou a reeleição de Casagrande e segue tendo lugar de destaque na composição do atual governo, com dois representantes no 1º escalão: a secretária de Governo, Emanuela Pedroso (levada à equipe de Casagrande por ele), e o de Segurança Pública, Alexandre Ramalho. Enquanto isso, o agora deputado aposta num mandato voltado para a agenda municipalista, ajudando prefeitos capixabas a viabilizar seus pleitos em Brasília e preenchendo o vácuo deixado pela ex-senadora Rose de Freitas (MDB), que tinha esse perfil de atuação. O deputado fez campanha nas ruas para Casagrande em 2022 – mais um adepto do voto “Casanaro” –, mas, desde o início do atual governo, a relação entre eles esfriou (certamente já esteve melhor). Dependendo do destaque alcançado por Gilson no mandato federal e de como ele chegará posicionado em 2026, poderá postular o comando do Executivo Estadual, com ou sem o apoio do atual governador. Legenda para ele não será problema. Terá 48 anos.
4. Josias da Vitória (Progressistas)
Entre os integrantes de nossa lista, é sem dúvida o personagem que tem despertado o maior interesse nos últimos dois meses, por conta do reposicionamento radical que tem dado à própria carreira e ao partido agora dirigido por ele no Espírito Santo, o influente Progressistas (PP). Com raízes políticas em Colatina, o cabo da reserva da Polícia Militar do Espírito Santo chegou à Assembleia Legislativa no pleito de 2006. Pelo PDT, exerceu três mandatos seguidos na Casa, de 2007 a 2018, consolidando sua parceria política com o atual governador. Tanto que, após a derrota eleitoral de Casagrande para Hartung em 2014, manteve-se fiel ao aliado, fazendo oposição moderada ao governo de Hartung (2015-2018) na Assembleia. Em 2018, trocando o PDT pelo Cidadania, elegeu-se para o primeiro mandato na Câmara dos Deputados, como o 3º mais votado para o cargo no Estado. Ali chegou chegando, sendo eleito pelos pares, logo no seu primeiro mês em Brasília, para coordenar a bancada do Espírito Santo no Congresso Nacional. Numa prova de sua reconhecida capacidade de articulação política, exerce o cargo até hoje, há cinco anos consecutivos, tendo sido reconduzido quatro vezes em sequência (a última delas, em fevereiro deste ano). Em março do ano ado, trocou o Cidadania pelo Progressistas. Em outubro, renovou o mandato na Câmara com relativa folga: foi o 5º mais votado entre os 10 eleitos. Isso após ter se articulado, sem sucesso, para ser o candidato ao Senado de Casagrande, que preferiu apoiar a não reeleita Rose de Freitas. Desde as eleições de outubro, os dois antigos aliados têm se afastado muito. Além da questão do Senado, comenta-se que, na transição, o governador não teria atendido a pleitos do deputado. Alguns falam em Secretaria de Agricultura; outros, na de Desenvolvimento Urbano, com “porteira fechada” para Da Vitória indicar quem quisesse. O fato é que, sem nada disso, o deputado lutou, articulou-se e conseguiu talvez ainda mais valioso: o controle sobre os rumos do Progressistas no Espírito Santo. Tomando o partido das mãos do secretário estadual de Desenvolvimento Urbano, Marcus Vicente – sem mandato desde 2018 –, Da Vitória assumiu a presidência da sigla no Estado, no dia 1º de abril, por determinação dos caciques nacionais. Desde então, tem dado ao Progressistas, ainda sócio do governo Casagrande, um rumo bastante diferente. Gradativamente, tem descolado o partido do movimento liderado pelo governador, à medida que aproxima a si mesmo e ao PP de notórios adversários de Casagrande, como o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos). A guinada de Da Vitória tem explicações no ado, no presente, mas, principalmente, no futuro. Ao lado de Evair de Melo, o outro deputado federal reeleito pelo PP-ES, o agora ex-aliado de Casagrande tem coordenado um intenso movimento de bastidores visando à formação de uma frente ampla de partidos de direita no Espírito Santo (PP, Republicanos, PL e outros mais), que podem unir forças já nas eleições municipais de 2024 e dois anos depois, no próximo pleito estadual. Se o plano der certo, ele pleiteará o lugar hoje ocupado por Casagrande. Disputar o Senado é o mínimo. Terá 55 anos.
5. Evair de Melo (Progressistas)
Diretor-presidente do Incaper de 2009 a 2014 e apaixonado por agricultura e cooperativismo no campo, Evair Vieira de Melo “pulou a porteira” e já começou a carreira política em Brasília, como deputado federal, pelo Partido Verde (PV). Em 2014, elegeu-se para o primeiro mandato na Câmara, e desde então já emendou outros dois (está no início do terceiro), ambos pelo Progressistas. Antipetista contumaz, votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff em abril de 2016. Desde 2017, quando o então deputado federal Jair Bolsonaro começou a percorrer o país e a preparar a candidatura à Presidência, Evair identificou-se com ele e tornou-se incondicional apoiador do então candidato azarão. Com a chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto e a acentuação do quadro de polarização ideológica no país, o deputado ou a assumir gradualmente posicionamentos alinhados à direita bolsonarista (para alguns, “conservadora”; para outros, simplesmente radical). Não só integrou a base do governo Bolsonaro desde o início como se tornou, no meio do mandato, um dos vice-líderes do governo na Câmara. No ano ado, reelegeu-se como o 3º candidato a deputado federal mais votado pelos capixabas entre os eleitos. Obviamente, apoiou Bolsonaro para a Presidência, enquanto, no plano estadual, foi um dos poucos apoiadores da malsinada candidatura do ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD) ao Palácio Anchieta, no 1º turno. É um notório opositor e crítico do governo Casagrande, mas ninguém o viu perfilado a Manato (PL) no 2º turno, o que tem uma explicação estratégica: com a derrota do candidato do PL e do bolsonarismo na disputa estadual, Evair pretende herdar o espólio de Manato, assumir o lugar do ex-deputado e ascender à liderança local no campo bolsonarista, hoje carente de referências e de representação política no Estado. A ideia é ocupar o vácuo político deixado por Manato e o vazio de lideranças na direita capixaba mais apaixonada por Bolsonaro. Para isso, ele tem a seu favor mais quatro anos de mandato em Brasília, mas agora na oposição radical ao governo Lula (PT). Para se destacar nesse novo papel, Evair não tem perdido uma oportunidade de protagonizar polêmicas e embates com ministros de Lula, como Marina Silva e Haddad, em audiências e reuniões de comissões da Câmara. Pode parecer gratuito, mas tudo obedece a um método e faz parte da estratégia do deputado, que almeja chegar em 2026 em condições de lançar candidatura ao governo como representante dessa direita, apostando na polarização ideológica com o PT e a esquerda em geral. No momento, está bem fechado com Da Vitória, Pazolini, Erick Musso (Republicanos), entre outros líderes dessa frente de direita ainda embrionária no Espírito Santo. Mas, para viabilizar o plano, pode precisar ir para outro partido (talvez o PL), pois, se permanecer no PP, só haverá legenda para um: ou ele ou Da Vitória, sendo o último quem agora dá as cartas no partido neste Estado. Em tempo: de todos os membros da lista, Evair é o único que ite abertamente estar se preparando para disputar o governo em 2026, conforme entrevista concedida à coluna. Terá 54 anos.
