Coluna Vitor Vogas
Escudeiro de Arnaldinho pode trocar de partido para ser vice-prefeito
Presidente da Câmara de Vila Velha, Bruno Lorenzutti cogita trocar o Podemos por PP ou Republicanos para ampliar a coligação do prefeito à reeleição

Arnaldinho Borgo e Bruno Lorenzutti: parças. Crédito: Reprodução Facebook
O presidente da Câmara de Vila Velha, Bruno Lorenzutti, está em vias de mudar de partido. Pode ir para o PP, para o Republicanos, ou, com menores chances, para o PSD. Ele é filiado ao Podemos, mesma sigla do prefeito Arnaldinho Borgo, de quem é um dos aliados mais antigos, leais e importantes – praticamente o braço direito do prefeito na política local.
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Bruno é o presidente municipal do Podemos, ajudou a erguer o partido em Vila Velha e foi quem levou Arnaldinho para o partido em 2020. Mas está fortemente propenso a migrar para outra legenda, por uma questão de estratégia política e eleitoral.
Como grande escudeiro do prefeito, Bruno é o nome mais cotado para completar a chapa de Arnaldinho à reeleição no próximo ano, como seu candidato a vice-prefeito. Em 2020, apoiado por Bruno, Arnaldinho entrou na campanha à prefeitura como um azarão, com poucos apoiadores na classe política (Bruno entre eles) e só duas pequenas siglas com o Podemos em sua coligação (o PTC e o Solidariedade). Assim, até por falta de opção, concorreu por uma chapa puro-sangue, tendo como candidato a vice o advogado Victor Linhalis, também do Podemos.
Já em 2024, com a máquina nas mãos e capital político bem maior, Arnaldinho tem tudo para montar uma coligação bem mais ampla. Não tem por que se limitar a uma chapa monopartidária.
A posição de vice é tradicionalmente utilizada pelos candidatos e dirigentes partidários como um meio para atrair outros partidos para a coligação. Ou seja, costuma ser negociada. Ficando no Podemos, Bruno não agrega nenhuma outra força política à chapa de Arnaldinho. Indo para outra sigla, ele automaticamente a leva consigo para a coligação de Arnaldinho. E esse partido escolhido por Bruno não só garante o apoio à reeleição do prefeito como se credencia para entrar na chapa dele em posição de destaque, com o candidato a vice.
Por sinal, essa posição “vale ouro” hoje em Vila Velha.
Já bastante cobiçada em condições normais, a vaga de vice do prefeito postulante à reeleição desta vez está ainda mais disputada e valorizada por uma questão de expectativa de poder: se Arnaldinho conseguir se reeleger, o vice eleito com ele a a ser, virtualmente, o possível futuro prefeito de Vila Velha.
Isso porque, se realmente renovar o mandato, Arnaldinho tende a sair das urnas em 2024 muito forte politicamente e portanto em totais condições de ambicionar o cargo de governador como o seguinte em sua ascensão.
Se de fato se lançar à sucessão de Casagrande (PSB) dois anos depois, ele não poderá completar o segundo mandato de prefeito. Por força da legislação eleitoral, será obrigado a renunciar ao mandato meses antes do pleito de outubro de 2026. Nesse caso, quem assumirá a Prefeitura de Vila Velha será o vice-prefeito – aquele, segundo a mesma hipótese, eleito com ele em 2024.
Desse modo, o companheiro de chapa de Arnaldinho em 2024, em caso de vitória eleitoral, estará em posição muito privilegiada: do lugar no corredor, pode ar direto ao assento do motorista da prefeitura em menos de dois anos.
Pelo mesmo raciocínio, também para Arnaldinho, a escolha do seu candidato a vice em 2024 se reveste de importância ainda maior. Estrategicamente, ele não pode prescindir de ter ao seu lado, como primeiro da linha sucessória, alguém de extrema confiança – como é o caso de Bruno.
Se o prefeito realmente aspirar ao Palácio Anchieta e tiver de abdicar do cargo, é fundamental para ele ter a certeza de que o bastão será ado para alguém que faça parte do seu “grupo político raiz”, que tenha total sinergia política com ele e lealdade a toda prova, que lhe transmita absoluta segurança e garanta a continuidade de suas políticas – um braço direito, enfim.
Na soma desses quesitos, Bruno acumula ainda mais pontos na bolsa de apostas para a vaga. Para Arnaldinho, tê-lo como vice-prefeito seria como um “seguro político”. E, é claro, também seria uma maneira de Arnaldinho, mesmo após a eventual renúncia, seguir exercendo influência sobre a istração municipal.
“Vice é a última coisa que se define, até na porta do cartório” e tal… Mas nesse caso, hoje, Bruno parece para Arnaldinho uma escolha segura, inquestionável – e até necessária, pelas razões já expostas.
Por isso seu e no momento está valorizado no mercado político canela-verde. O partido que conseguir filiar Bruno não estará apenas “assinando” com o presidente da Câmara de Vila Velha. Estará, potencialmente, “contratando” o próximo vice-prefeito da cidade e talvez até o próximo prefeito, quem sabe já em 2026.
Na “pior hipótese”, se Arnaldinho se reeleger e decidir não disputar o governo, cumprindo até o fim seu segundo mandato, o próximo vice-prefeito da cidade estará de todo modo muito bem posicionado para concorrer à sucessão do próprio Arnaldinho em 2028, como o candidato do prefeito, adiando em apenas dois anos a chegada à Prefeitura. “É negócio” de qualquer maneira, por qualquer ângulo de análise.
Bruno Lorenzutti já recebeu convites de PP, do Republicanos e do PSD. Os dois primeiros estão mais quentes, pelas razões que explico a seguir.
Peça de um mosaico bem mais amplo: a direita se agrupa no ES
Assim como o convite do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), para o PP integrar o seu governo, a possível ida de Bruno Lorenzutti para o PP ou o Republicanos pode ser compreendida como parte de um movimento bem maior, peça de um quebra-cabeça bem mais amplo.
Insere-se no mesmo movimento, em plena marcha no Espírito Santo, de formação de uma grande frente alternativa à de Casagrande no Estado, que pretende reunir partidos da centro-direita à extrema direita e que objetiva, em última análise, uma união de forças nas eleições municipais de 2024 e nas estaduais de 2026.
Capitaneada pelos deputados federais Josias da Vitória e Evair de Melo, ambos do PP, esse movimento hoje está mais avançado entre PP, Republicanos e PL. Mas a turma pretende atrair outros partidos, como o Podemos de Arnaldinho e Bruno – o qual hoje, como o próprio PP, faz parte da coalizão formada em torno de Casagrande no governo estadual. Mas isso pode mudar.

Bruno Lorenzutti, Josias da Vitória e Arnaldinho Borgo, em foto de 2021. Crédito: Reprodução Facebook
Filiar Bruno Lorenzutti ao PP ou ao Republicanos e garantir a presença dessa frente na chapa de Arnaldinho em 2024, em troca do apoio do Podemos em outras comarcas, é, para Da Vitória e companhia, uma forma de atrair para essa frente o partido presidido no Estado pelo deputado federal Gilson Daniel (Podemos).
Não foi por outro motivo que, na semana ada, o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, reuniu-se com Arnaldinho, Lorenzutti e o deputado federal Victor Linhalis, que, ao lado dos dois primeiros, compõe o “trio de ferro” do Podemos em Vila Velha. Também participaram da conversa o vereador Devanir Ferreira, o presidente da Câmara de Vitória, Leandro Piquet, e o deputado estadual Hudson Leal, todos do Republicanos.
Secretário-geral do Republicanos no Estado, Devanir é um dos que trabalha pela filiação de Bruno ao Republicanos. Mas, dentro do próprio Republicanos, há quem avalie que o destino mais provável do aliado de Arnaldinho na verdade é o PP.

Post de Erick Musso registrando a reunião citada acima. Crédito: reprodução Instagram
Além do movimento forte realizado nos bastidores por Da Vitória, a possível ida de Bruno para o PP neutraliza uma possível candidatura de Neucimar Fraga contra Arnaldinho na cidade e traz o ex-prefeito de arrasto para essa mesma composição.
Hoje um dos vice-presidentes estaduais do PP (cargo mais simbólico), Neucimar é o 1º suplente de Da Vitória e Evair na Câmara Federal. Tecnicamente, como está sem mandato, pode trocar de legenda a qualquer tempo.
Bruno deixará a presidência do Podemos
Num outro indicativo muito forte de que Bruno Lorenzutti está com os dias contados no Podemos, Victor Linhalis afirma que em breve será mudada a escalação da Executiva do partido em Vila Velha, presidida pelo vereador, em “órgão definitivo”, até 28 de agosto. Em comum acordo, Bruno será substituído na presidência por um nome a definir.
Ora, por que ele deixaria o cargo de direção partidária se não estivesse de fato em vias de sair do partido?
A importância na chegada de Arnaldinho
Bruno Lorenzutti ingressou no Podemos em 2015. Pelo partido, disputou seus dois mandatos na Câmara Municipal, em 2016 e 2020. É o presidente da Câmara de Vila Velha desde 2021, tendo sido reeleito em junho de 2022 para o biênio 2023-24. Assim, ará os quatro anos da atual legislatura como presidente do Legislativo Municipal.
Em 2020, já presidindo o Podemos em Vila Velha e já grande aliado de Arnaldinho, Bruno foi um dos que levaram o então colega de vereança para o partido.
Com o apoio de Bruno (um dos poucos à época), Arnaldinho tentou ser candidato de oposição ao então prefeito Max Filho (PSDB) pelo MDB. Porém, cogitando lançar o então deputado estadual Hércules Silveira, o MDB não deu legenda a Arnaldinho, que, para conseguir disputar, foi obrigado a mudar de sigla. Foi acolhido pelo Podemos. Com a chegada de Arnaldinho à prefeitura, o partido cresceu significativamente em Vila Velha.
Gilson Daniel: “Não vejo problema algum”
O presidente estadual do Podemos, Gilson Daniel, diz não ver problema algum em eventual migração de Bruno Lorenzutti dentro da estratégia apresentada, se for uma construção consensual.
“Bruno é meu amigo. Foi o cara que construiu o Podemos em Vila Velha. Não quero perder o Bruno nunca. É um cara de um conhecimento técnico e político muito grande. Mas isso pode ser uma estratégia de Arnaldinho e Bruno, aí é preciso falar com eles. Se for dentro de um acordo político, desde que esteja alinhado com Arnaldinho, não vejo problema algum. Porém Bruno só pode sair em março.”
De fato, para poder mudar de agremiação em total segurança, sem risco algum de perder o atual mandato na Câmara, Bruno precisa esperar a abertura da próxima janela partidária, em março do ano que vem.
Mas, se for tudo mesmo bem amarrado com o Podemos, o PP, o Republicanos etc., ele pode esperar tranquilamente, com o aporte nas mãos já carimbado.
