Coluna Vitor Vogas
“Pazolini não faz política”: a fritura do prefeito no próprio partido
Prefeito foi eleito pelo Republicanos em 2020, mas relacionamento entre ele e líderes da sigla chegou ao momento mais delicado desde então. Entenda a bronca dos aliados de Pazolini e o que ele pode fazer (ou não fazer)

Da esquerda para a direita: Aridelmo Teixeira, Amaro Neto, Lorenzo Pazolini e Erick Musso (13/04/2023). Crédito: Reprodução Instagram
“Pazolini não faz política.” Se eu ganhasse dez reais a cada vez que escuto esta frase de fontes no meio político, sobretudo de aliados e até correligionários do prefeito, poderia negociar com a Rede Capixaba uma redução do meu salário para contratarmos um novo repórter e fortalecermos nossa equipe.
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“Pazolini não é de grupo.” Se eu recebesse a mesma quantia a cada vez que ouço esta frase dos “parceiros políticos” do prefeito, poderia abrir mão da minha remuneração e revertê-la totalmente para filantropia. Viveria de declarações.
É claro que isso é uma brincadeira combinada com um exagero intencional, mas a essência está correta: vereadores da base do prefeito e principalmente correligionários de Pazolini no Republicanos se queixam o tempo todo, entre si e com a imprensa (sob anonimato), de uma suposta postura “isolacionista” por parte do prefeito.
Nas últimas duas semanas, tentei entender melhor esta história, conversando com algumas figuras proeminentes do próprio Republicanos. As conversas não permitem dúvidas quanto a algumas constatações.
A primeira delas: o clima hoje entre Pazolini e o próprio partido, pelo qual se elegeu em 2020, é ruim, definitivamente ruim.
Neste caso, sim, não há nenhum “exagero” em se afirmar que, nos primeiros meses deste ano, a relação do prefeito com o próprio partido, presidido desde fevereiro pelo ex-deputado Erick Musso, chegou ao momento mais delicado desde que ele entrou no Republicanos, há cerca de dois anos, com tapete vermelho estendido pelo próprio Erick e pelo então presidente estadual da sigla, Roberto Carneiro.
E por que essa relação entre prefeito e partido se deteriorou tanto? Aí tornamos aos “bordões” com que abrimos a coluna.
Políticos do Republicanos, incluindo alguns com mandato, avaliam que, com a vitória de Pazolini na eleição municipal de 2020, o partido chegou à Prefeitura de Vitória… só que não. Posto de outra maneira, Pazolini chegou à prefeitura com o Republicanos (isto é, graças ao partido), mas o Republicanos não teria realmente chegado à prefeitura com Pazolini.
Como assim “não teria chegado à prefeitura com Pazolini”?
Simples: o partido não participa do governo, não tem voz nas decisões istrativas, não apita nada na gestão. E, colocando a questão em termos bem mais práticos: mesmo sendo a sigla do prefeito, o Republicanos não tem cargos na máquina istrativa, ao menos não na quantidade e na relevância que lhe satisfaria.
Essa constatação se torna ainda mais evidente quando concentramos o foco no primeiro escalão da prefeitura. Hoje, no terceiro e decisivo ano do mandato, qual é o secretário municipal da equipe de Pazolini filiado ao Republicanos, ou que possa ser considerado indicação do partido, ou que tenha sido indicado por políticos de peso da legenda no Estado? Alguns destes últimos respondem: nenhum.
No início da gestão de Pazolini, houve um, e não foi um qualquer: à frente da Secretaria Municipal de Governo, Roberto Carneiro, ninguém menos que o então presidente do Republicanos no Espírito Santo, dava à istração de Pazolini a “cara” e a “marca” do partido – até porque, no papel que exercia, era o principal representante do prefeito nas articulações políticas.
Roberto, porém, durou muito pouco no cargo. Não sobrou ninguém. E os republicanos, não adianta tampar o sol com a peneira, ressentem-se sumamente desse fato.
Isso nos escalões maiores da PMV.
Nos menores, o Republicanos precisa com urgência, para não dizer “desesperadamente”, dar um jeito de acomodar os seus em uma máquina de poder cheia de cargos de livre provimento a oferecer e a preencher por indicações políticas.
Ora, não custa lembrar que o partido acaba de perder, não faz nem três meses, nada menos que a presidência do Poder Legislativo do Espírito Santo, com seus mais de 300 cargos comissionados ligados à Mesa Diretora, presidida por Erick Musso até 1º de fevereiro.
Isso sem mencionar que, após ter alcançado a marca excelente de 10 prefeitos eleitos em 2020 (incluindo Pazolini), o Republicanos de Erick e Roberto viu boa parte deles trocar de partido no meio do mandato, sob o assédio do grupo político e da força da máquina do governador Renato Casagrande (PSB).
Menos prefeituras = menos cargos. Para onde vai essa galera?
“Sim, com certeza, a relação de Pazolini hoje com o partido é ruim”, responde, sem titubear, um mandatário do Republicanos. “Pazolini não faz política [opa! olha aí!]. Ele não é de grupo [vou ficar quieto]. Não fez nenhum movimento pró-partido. O Republicanos jamais foi contemplado na gestão. Os dois principais aliados dele, Roberto e Erick, não estão com ele. Pazolini ajudou alguém do Republicanos na eleição de 2022? E aí você quer que, em 2024, o Republicanos fique com ele? Para isso, ele terá que fazer gestos ao partido”.
Por “gestos”, entenda-se aquilo que mencionei acima: mais espaço na Prefeitura de Vitória. E, por “mais espaço”, leia-se mais cargos preenchidos por indicações de figurões do Republicanos. Não é só isso, claro. Mas é também, ou principalmente, isso.
“Ele não tem relacionamento partidário”, dispara outro correligionário. “Tivemos total participação na eleição dele num momento muito crítico. E nunca tivemos qualquer tipo de participação dentro do governo dele nestes mais de dois anos. Não houve gratidão da parte dele pelo nosso trabalho. Não temos nenhum secretário do Republicanos na gestão Pazolini, nem no segundo nem no terceiro escalão, por incrível que pareça. Ele não consegue dialogar, e não é um problema só com o Republicanos.”
“Errado não tá”
Se pararmos para pensar no que realmente significa essa lamúria de que “Pazolini não faz política” (fisiologismo), o prefeito não está errado, ao privilegiar critérios técnicos, de competência na área, em suas nomeações, sobretudo na escolha dos seus secretários. Assim como procurou sinalizar em sua triunfante campanha eleitoral de 2020, o prefeito arroga para si um perfil técnico e com foco na austeridade.
Nesse último aspecto, Aridelmo Teixeira (Novo), contribui. Não por acaso, foi chamado de volta por Pazolini, agora para chefiar a Secretaria de Governo.
O problema político para o prefeito é que, ao talvez radicalizar nessa obstinação de “não fazer política”, ele acabou aprofundando o seu isolamento político, na medida em que contrariou (e não foi pouco) os capas pretas do seu próprio partido.
Que diabos fará Pazolini?!?
“O Pazolini, ninguém sabe o que ele pensa”, desabafa um mandatário do Republicanos no Espírito Santo.
Ao contrário de um Capitão Assumção (PL) da vida, Pazolini é um policial/político que não faz a menor questão de exibir suas armas. Ao contrário, prefere escondê-las… não só do público e da imprensa, mas dos próprios companheiros de partido… para desespero destes.
“Isso atrapalha muito o Republicanos, na medida em que não deixa as coisas deslancharem. Ele está ficando muito isolado, o que é muito ruim para ele. E isso a gente vai destravar muito em breve”, diz um desses “companheiros”.
Mas o que o prefeito fará, afinal?
Se quiser sair do Republicanos – o que não é nem um pouco certo –, os dois futuros abrigos que lhe parecem mais plausíveis e promissores são o Progressitas (PP) e o União Brasil (UB). Mas, antes mesmo de nos atermos à pergunta “ele mudará de sigla?”, há uma anterior: ele será candidato?!?
Tem gente, inclusive no próprio Republicanos, para quem Pazolini na verdade não pretende postular a reeleição, nem pelo Republicanos nem por partido algum. Simplesmente, mesmo sendo o inquilino do gabinete, renunciará ao direito de concorrer.
Para um republicano, o verdadeiro plano incubado na mente de Pazolini é fazer como fez Sinatra (“deixe o palco e vá embora”), ou, mais precisamente, imitar o exemplo de Paulo Hartung em 2018. Dizer: “Olha, fiz minha parte. Graças a uma política de austeridade fiscal, peguei Vitória mal das pernas há quatro anos e deixo a prefeitura arrumadinha, com as contas saneadas para quem me suceder”. E aí, com esse mesmo discurso, volta à cena em 2026 para tentar chegar ao Palácio Anchieta.
Entre alas do Republicanos, circula mesmo essa visão. Mas tenho sérias dificuldades em concordar com isso.
Para mim, é candidatíssimo
Ora, estamos em abril de 2023. Pazolini, é fato, perdeu tempo demais, demais, demais… um tempo precioso e que não volta, metendo-se em disputas de fundo político-eleitoral, em vez de se concentrar em brilhar como prefeito.
Mas vejam só: ele tem tempo de sobra para chegar competitivo, muito competitivo, à antessala da eleição municipal de 2024, daqui a um ano. Como já observei aqui, ele parece ter se dado conta de que o caminho que estava seguindo não o estava ajudando em nada (tipo “autossabotagem”) e virou completamente a chave no início deste ano. O foco agora são três: entregas, entregas e entregas.
E, ora bolas, se o projeto maior de Pazolini for mesmo disputar o Governo do Estado em 2026, faz muito mais sentido ele tentar se reeleger em 2024 e, tendo sucesso, chegar bem mais forte ao pleito estadual dois anos depois do que chegará se estiver sem mandato.
Até por essa explícita “virada radical de chave”, na hora certa, estou convencido de que Pazolini vai, sim, ou pelo menos deseja, pleitear a reeleição. Se o fará pelo Republicanos ou por outra legenda, é uma outra discussão.
Fica ou sai do Republicanos? Para mim, vai ficando…
Mas também tenho, neste caso, não propriamente a convicção, mas na verdade a intuição de que, se estiver em sua mente trocar de partido, ele estrategicamente só o fará no limite do prazo do calendário eleitoral para isso, ou seja, entre março e princípios de abril do ano que vem. Por que o faria antes?
Vale lembrar que prefeitos na verdade podem trocar de sigla a qualquer tempo sem risco de perder o mandato. Trocar de legenda agora, ou antes do limite do prazo legal para disputar a reeleição, só teria o efeito de motivar mais adversários eleitorais contra ele, inclusive dentro do Republicanos (Amaro? Leandro Piquet? Cris Samorini?). Por que dar essa bobeira? Por quê, se pode cozinhar o galo do Republicanos por mais um ano?
Por outro lado, há quem acredite – e vejo muita pertinência nisso – que Pazolini no fundo, no fundo, não tem a menor intenção de sair do Republicanos. Quer mesmo é tentar a reeleição pelo partido que lhe deu guarida em 2020.
Primeiro porque, convenhamos: o partido do Bispo Macedo (amém!) é de respeito.
Nessa geleia de siglas nanicas desintegradas pela reforma eleitoral de 2017 e pela cláusula de barreira (aleluia!), o Republicanos é um sobrevivente. No Espírito Santo, mais que um sobrevivente, é (com louvor) uma das atuais potências partidárias (glória a Erick e Roberto Carneiro). Tem estrutura, tem recursos…
A reeleição do único prefeito do Republicanos a comandar uma capital no país seria ou não seria uma prioridade, inclusive financeira, para o presidente nacional, Marcos Pereira, e para o bispado completo? É uma pergunta retórica.
Em segundo lugar, por que diabos (perdão, Senhor!) Pazolini sairia do Republicanos a fim de disputar a reeleição por outra sigla, só para botar o respeitável Republicanos na já imensa fila de partidos, da extrema esquerda à extrema direita, interessados em apeá-lo do poder??? Não vejo muito propósito nisso.
Sinceramente, para Pazolini sair do Republicanos, de hoje até o limite do prazo, somente se a relação política com Erick, Roberto, Amaro Neto, Devanir Ferreira, Hudson Leal, Messias Donato, Leandro Piquet etc. degringolar de vez e chegar a níveis ináveis para todas as partes.
Do contrário, sair do Republicanos seria, a meu ver, um movimento não muito inteligente, cujo resultado seria tão somente ampliar a oposição já não pequena a ele por todos os lados.
Porém, para ficar no partido, e ficar de boas no partido, Pazolini precisa fazer aqueeeeeles “gestos”.
Erick e Amaro se reuniram com o prefeito ontem.
Vamos ver os “gestos” de Pazolini.
Arnaldinho Borgo
Como publiquei aqui na semana ada, há um segmento do Republicanos, liderado pelo vereador de Vila Velha Devanir Ferreira e pelo deputado estadual Hudson Leal, interessado em filiar no Republicanos o prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos).
O flerte é real, mas duvido muito que Arnaldinho disputará a reeleição em 2024 por outra sigla que não o Podemos. Vale o mesmo raciocínio: se o fizer, atrairá adversários para si mesmo, sem a menor necessidade. No Podemos, no momento, o prefeito está bem acomodado.
Segundo o presidente estadual do partido, o deputado federal Gilson Daniel, a reeleição de Arnaldinho e dos prefeitos de Viana e Guaçuí são tratadas como prioridades no Podemos.
Se conseguir se reeleger no ano que vem, o o seguinte de Arnaldinho deve ser postular o Palácio Anchieta em 2026. Aí é outra história totalmente diferente, e nada garante que ele fique no Podemos, até porque aí será enorme a fila de potenciais concorrentes à sucessão de Casagrande, inclusive na federação a ser formada pelo Podemos com o PSDB e o Cidadania. A fila é puxada pelo vice-governador Ricardo Ferraço (PSDB).
Entre figurões já muito bem assentados no Republicanos, também há uma resistência enorme a essa hipótese de filiação de Arnaldinho, não só pensando na eleição de 2024, mas, principalmente, na de 2026. A fila de “candidatáveis” ao Governo do Estado já é grande entre quem está no Republicanos. Por que introduziriam no partido mais um para filar essa boia?!?
Messias quer Euclério no partido
Arnaldinho Borgo nada! Quem o deputado federal Messias Donato quer filiar ao Republicanos é o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (União Brasil), seu padrinho político. Por motivos muito parecidos, essa troca também não deve rolar: Euclério segue no UB, pelo menos por enquanto.
Reginaldo Almeida
O ex-deputado e ex-vereador de Vila Velha Reginaldo Almeida tem convite e está muito bem encaminhado para se filiar ao Republicanos. Chegará participando da Executiva Municipal. Ele é o presidente estadual do Partido Social Cristão (PSC). Este, porém, não superou a cláusula de barreira em 2022 e será incorporado pelo Podemos.
Sérgio Meneguelli
O deputado estadual Sérgio Meneguelli se enfezou e, no fim do ano ado, deu entrevistas indicando o desejo de sair do Republicanos. Mas em breve ará a compor a Executiva Estadual do partido, em um cargo menor (vogal ou algo assim).
