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Coluna Vitor Vogas

Operação de Audifax pode matar candidatura de pastor antes do parto eleitoral

Ao puxar o Avante em segredo para sua coligação ao governo do Estado, ex-prefeito fere de morte candidatura de Nelson Junior ao Senado… a menos que o pastor aceite o abraço oferecido por Audifax. Ele resiste, mas pode não ter outra saída

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Audifax Barcelos e Nelson Junior

O apoio da direção nacional do Avante a Audifax Barcelos na eleição ao governo do Espírito Santo, pegando desprevenidos os representantes do próprio Avante em terras capixabas, complica enormemente o parto eleitoral do pastor, palestrante e influenciador digital Nelson Junior. Articulado diretamente com o presidente nacional da sigla, Luís Tibé, esse movimento de Audifax praticamente fere de morte a pré-candidatura de Nelson ao Senado pelo Avante no Espírito Santo.

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Digo “praticamente” porque, a bem da verdade, a permanência de Nelson no jogo no momento só depende dele (e de seus estrategistas): o ex-prefeito da Serra quer ter Nelson em seu palanque, como seu candidato a senador; mas Nelson não quer de jeito nenhum ter Audifax no mesmo palanque, como seu candidato a governador. Mais até: não topa nem sequer estar na mesma coligação de Audifax (a qual, afora o Avante, já tem a federação Rede/Psol e o Solidariedade).

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Artífices do “Projeto Nelson Junior”, os empresários Marcel Carone e Aldeci Carvalho preferiam levar sua candidatura ao Senado para a coligação de outro pré-candidato ao governo, como Erick Musso (Republicanos), Felipe Rigoni (União Brasil), ou, no plano ideal para eles, um arranjo que unisse os três na mesma chapa: Nelson como candidato a senador; Erick e Rigoni formando uma dobradinha na eleição ao governo, com um na cabeça e o outro concorrendo a vice-governador. Com o Avante “agarrado” a Audifax, isso não vai rolar: é tecnicamente impossível.

O problema, para Nelson e seus articuladores, é que a jogada de Audifax bloqueou todas as saídas estratégicas. Aliás, saídas até existem, mas ambas am por uma coligação formal com a federação Rede/Psol – portanto, esbarram na pessoa de Audifax.

Saída 1

A primeira saída é Nelson engolir em seco e se jogar de cabeça no palanque de Audifax, aceitando o abraço político-eleitoral que o ex-prefeito da Serra lhe quer dar. A porta-voz estadual da Rede, Laís Garcia, confirma: “Nelson pode ser o candidato da Rede ao Senado, se quiser”.

Nesse caso, o pastor poderia lançar sua candidatura ao Senado pela coligação completa de Audifax, contando, de saída, com cerca de um minuto de propaganda de rádio e TV a cada bloco de 10 minutos, a fim de se apresentar ao eleitorado. Como vimos, o desejo não é recíproco: mais fácil um camelo ar pelo buraco de uma agulha. O fundador do movimento “Eu Escolhi Esperar” prefere abster-se desse abraço político no ex-prefeito.

Saída 2

A segunda saída – tecnicamente possível, mas politicamente sofrível – é Nelson engolir em seco e lançar, com as bênçãos de Audifax, uma candidatura avulsa ao Senado, saindo somente pelo Avante, sem a federação Rede/Psol e o Solidariedade em sua chapa. Isso é possível porque a Justiça Eleitoral permite que partidos coligados na eleição ao governo estadual lancem candidaturas independentes ao Senado. O que não vale é a “coligação cruzada”.

Nessa “saída”, o Avante teria que bancar sozinho a candidatura de Nelson ao Senado. Os articuladores do pastor não querem isso de jeito nenhum, por um motivo prático: sozinho, o Avante só dá a Nelson míseros 9 segundos por bloco do horário eleitoral, o que já seria “nada” para qualquer candidato, quanto mais para um que necessita se fazer conhecer pelo eleitorado. Seria matar de inanição a candidatura, antes mesmo de seu nascimento.

Por ora, contudo, é o que resta ao “Projeto Nelson Junior”, a menos que nas próximas semanas seus estrategistas locais consigam promover uma reviravolta federal e tirar o Avante da coligação de Audifax, onde hoje encontram-se presos. Mas Audifafx vai se agarrar ao Avante como um buldogue agarra o osso.

Audifax não vai abrir mão do Avante

A posição da Rede é clara e, pelo que a coluna apurou, o mesmo vale para Audifax. Pode ser dividida em três pontos:

1) Eles não abrirão mão, em hipótese alguma, de ter o Avante formalmente coligado com a Rede na disputa pelo governo do Espírito Santo. Com isso, Audifax garante para si mais 9 segundos em cada bloco de 10 minutos na propaganda eleitoral de rádio e TV. Somado ao tempo do Psol (federado à Rede) e do Solidariedade (que já está com ele na coligação), isso dá a Audifax cerca de um minuto por bloco, fator considerado essencial por seu QG. Sem contar o dinheiro do Avante para a sua campanha!

2) O prefeito quer ter Nelson Junior em seu palanque, como seu candidato a senador. No que depender do ex-prefeito, os dois farão uma campanha casada ao governo estadual e ao Senado.

3) Se Nelson topar, será bem-vindo. Se não quiser, será “liberado” por Audifax para lançar sua candidatura ao Senado pelo Avante (de forma independente) e apoiar informalmente outro candidato a governador que não Audifax. “Nelson, pessoalmente, pode subir no palanque de quem ele quiser. O que não podemos nem vamos fazer é abrir mão do partido dele coligado conosco”, afirma um redista.

Vale frisar que, tecnicamente, conforme entendimento reafirmado pelo TSE, Nelson Junior pode ser candidato ao Senado em uma chapa avulsa, mesmo que o Avante esteja formalmente coligado à Rede na eleição ao governo estadual. Aliás, isso também vale para o Psol, que pode lançar o historiador Gilbertinho Campos ao Senado numa candidatura avulsa, mesmo estando federado com a Rede.

Na prática, do ponto de vista jurídico, Audifax pode ser candidato ao governo sem ter nenhum candidato ao Senado “para chamar de seu”; e o Psol e o Avante podem lançar seus respectivos candidatos ao Senado, em chapas separadas, sem que esses apoiem nem tenham o apoio de Audifax.

O que diz a porta-voz da Rede

A porta-voz estadual da Rede, Laís Garcia, aposta na atração de Nelson para o palanque de Audifax: “A gente respeita muito os dirigentes locais do Avante. Estamos dialogando muito também com eles. Para nós, da Rede, será um prazer pedir votos para o Nelson. A Rede ainda não tem candidato ao Senado. As coisas acontecem naturalmente: como o Avante está conosco agora na chapa… é um processo natural que isso aconteça. O Nelson é candidato ao Senado; o Audifax é candidato ao governo do Estado. O Nelson ainda não tem candidato a governador; o Audifax ainda não tem candidato a senador”.

Ela ressalta, porém, que, se Nelson assim quiser, o caminho está aberto para ele ser candidato de modo avulso: “A Rede sempre teve espaço para candidaturas avulsas. Isso está, inclusive, no estatuto do partido. Nós chamamos de ‘candidaturas cidadãs’. O Nelson pode perfeitamente, se ele quiser e optar assim, se lançar nesse sentido, como um ‘candidato cidadão’”.

Incompatibilidade ideológica: o Psol

A bola está com Nelson Junior. Ser ou não ser o candidato ao Senado de Audifax só depende dele. Pelo ex-prefeito e seu staff, ter em seu palanque o pastor e influenciador digital – um conservador de direita – seria até interessante, do ponto de vista estratégico, pois poderia ajudar a quebrar a resistência ideológica que, espera-se, alguns eleitores podem desenvolver em relação a Audifax devido à presença forçosa do Psol ao seu lado, pelo menos formalmente, já que o partido de esquerda está federado com a Rede. No Espírito Santo, é um casamento forçado. Mas eles não deixam de estar casados.

Por ironia, essa presença do Psol com Audifax – ainda que forçada e ainda que apenas formal – pode ser considerada, sem dúvida, a grande explicação para a resistência de Nelson e seu staff em aceitar mergulhar no palanque de Audifax. Com base em suas numerosas postagens no Instagram, pode-se dizer que o pastor e o Psol são como água e óleo: com maior ou menor grau de explicitude, ele costuma criticar a esquerda, partidos de esquerda e pautas consideradas de esquerda (e muito caras ao Psol). E a recíproca é verdadeira.

Mas tem também a Rede!

Mesmo que, no Espírito Santo, o casamento Rede & Psol seja só de fachada, os artífices do “Projeto Nelson Junior” não enxergam de modo algum seu candidato em uma coligação que, forçosamente, inclui o Psol. Vai contra o que prega o pastor. Mas o nariz torcido não é só ao partido de Guilherme Boulos.

A própria Rede de Audifax também não agrada muito ao olfato político de Nelson e de seus articuladores, pois também rescende a esquerda. E, de fato, assim é: ao menos nacionalmente, a Rede de Marina Silva e de Randolfe Rodrigues se caracteriza como um partido de esquerda; na eleição à Presidência, está com Lula (e o ex-presidente chegou até a operar para que Marina fosse a vice de Haddad em São Paulo).

A pele partidária de Audifax (que não se considera de esquerda) pode não combinar tanto com seu próprio conteúdo; o ex-prefeito pode estar bem à direita de seu próprio partido… mas seu partido ainda atende por Rede Sustentabilidade.

Flerte com Erick abortado

Após se desgarrarem em junho do governo Casagrande (PSB) e da coligação do atual governador, o que os representantes do Avante no Espírito Santo realmente queriam era levar o partido, e a candidatura de Nelson Junior ao Senado, para a coligação encabeçada pelo presidente da Assembleia, Erick Musso – também evangélico, conservador, de direita etc., formando uma dobradinha dentro desse mesmo espectro com um candidato ao governo com quem sentiam sinergia bem maior.

Aliás, foi pressentindo um iminente anúncio de aliança do Avante do Espírito Santo com Erick Musso que Audifax antecipou-se e anunciou o apoio do mesmo Avante para ele mesmo – frisando: com o aval da direção nacional da agremiação.

O que diz o estrategista de Nelson

Não filiado ao Avante, mas apresentando-se como consultor do partido e coordenador do “Projeto Nelson Junior”, o empresário Aldeci Carvalho – que ocupou função parecida na campanha de Marcos do Val (Podemos) ao Senado em 2018 – contou à coluna a sua versão dos fatos. Ele está totalmente alinhado com Nelson e com Marcel Carone.

Segundo Aldeci, eles receberam “com muita surpresa” a notícia do apoio da direção nacional do Avante a Audifax. “É fato” – diz ele – que, “bem lá atrás”, Audifax conversou diretamente com o presidente nacional do Avante, o deputado federal mineiro Luís Tibé. Cientes disso, ele, Carone e Nelson Junior foram conversar pessoalmente com Tibé.

“O Tibé colocou que teve o diálogo com o Audifax. Ele disse que acreditava na candidatura do Nelson ao Senado e que preferia que o Avante caminhasse com o Audifax na eleição ao governo do Espírito Santo, pelas relações e pelo diálogo dele com o Audifax. Colocamos que tínhamos dúvidas e pedimos ao Tibé um tempo para dialogar com o Audifax. Então, dentro dessa linha, saímos de lá com toda a condição de sentar com o Audifax aqui e dialogar”, relata Aldeci.

A partir daí, seguiram-se quatro rodadas de conversas entre Aldeci, Marcel Carone, Audifax e o pessoal da Rede no escritório do ex-prefeito em Bairro de Fátima – as duas últimas, com a presença de Nelson.

“Saímos de lá com Nelson e Audifax um olhando no olho do outro e com uma situação que era o ‘Projeto Nelson Junior’ buscar o melhor caminho e continuar dialogando com quem entendesse que tinha que dialogar e se viabilizar onde fosse a melhor composição para o projeto. Não saímos de lá com nada fechado em relação a aliança e apoio a Audifax.”

“Não é o melhor para o Nelson”

Tangenciando o tema “Psol e Rede”, Aldeci reconhece que, por “diversos elementos”, eles preferiam não fechar uma aliança eleitoral com Audifax:

“A gente compreende que o Audifax é um cara diferenciado. Não temos problema nenhum de caminhar com ele. Mas o projeto todo não é o melhor projeto para o Nelson. O Nelson é um conservador. Não vou entrar em particulares… mas, por questão estratégica, não era a melhor sinergia nem o melhor local para ele estar. Tem alguns elementos que a gente tinha encontrado melhor em outras posições.”

Os planos para Nelson convergiam para Erick Musso, sinaliza Aldeci. “Na chapa do Republicanos, há N igrejas, N candidatos religiosos dentro do projeto… O Nelson é cristão, é evangélico, é um cara de credibilidade nesse mundo.”

Após o anúncio feito pela assessoria de Audifax na última terça-feira (5), Carone ligou para Tibé e, desde então, os articuladores de Nelson estão buscando uma conversa com Audifax. “Precisamos dialogar e entender o que está acontecendo”, diz Aldeci.

E agora?

“Agora”, responde Aldeci, “esperamos que seja cumprido o que alinhamos: de aqui termos a liberdade de, democraticamente, escolher o nosso melhor caminho. O que a gente topa e espera é que se cumpra o que foi combinado. Audifax é um cara sério, diferenciado, experiente, vivido politicamente. A gente acredita que ele nem esteja sabendo disso. Não foi ele quem trouxe isso. Acredito que vai ser cumprido o que foi combinado com ele.”

Em tempo

É óbvio que Audifax está não só sabendo como participando de tudo…

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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