fbpx

Coluna Vitor Vogas

O caso a três de Casagrande, PP e Pazolini, ao som de Roberto Carlos

Entenda, na poesia e na voz do Rei, esse novo triângulo amoroso eleitoral do partido de Da Vitória com o governador e o prefeito de Vitória

Publicado

em

Renato Casagrande, Da Vitória, Lorenzo Pazolini e Roberto Carlos

Detalhes tão pequenos de nós dois / São coisas muito grandes pra esquecer, cantaria o Rei Roberto Carlos, em uma de suas imortais baladas.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

A exoneração do secretário de Cultura de Vitória, Luciano Gagno, pelo prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) ontem (1º) foi muito mais que um “detalhe” no jogo político-eleitoral capixaba e dificilmente será esquecida no Palácio Anchieta, principalmente em caso de confirmação do plano desenhado por líderes do partido do prefeito e do PP: substituir Gagno por alguém indicado pelo PP, marcando a entrada definitiva da legenda dos deputados Da Vitória e Evair de Melo na istração de Pazolini e deixando bem encaminhado o apoio da sigla à reeleição do prefeito em 2024.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

A barra tá pesada e quem tá na chuva tem que se molhar

A coluna de hoje vem assim, no embalo das canções de Roberto Carlos, por alguns bons motivos. No dia 3 de julho, em depoimento compulsório à Comissão de Cultura da Câmara de Vitória, o próprio Luciano Gagno, agora ex-secretário, definiu o cachoeirense como “o maior artista brasileiro de todos os tempos”. Gagno foi convocado nesse dia para prestar esclarecimentos sobre supostas irregularidades na Secretaria de Cultura de Vitória.

A principal acusação foi a de suposto direcionamento para as mesmas empresas na contratação de pequenos shows musicais realizados na cidade. Mas também houve questionamentos acerca de um show bem maior: o do próprio Roberto Carlos, realizado na Praça do Papa no dia 21 de abril.

Os vereadores Vinicius Simões (Cidadania) e André Moreira (PSol) contestaram o fato de a istração de Pazolini ter investido R$ 150 mil no evento, organizado por empresa privada. Como uma das contrapartidas, a Prefeitura de Vitória recebeu 400 ingressos, distribuídos, conforme acusaram, sem critérios transparentes.

O possível desgaste de Gagno pode ter tido alguma influência na decisão de Pazolini de exonerá-lo, mas definitivamente não foi o principal fator.

Amigos eu ganhei / Saudades eu senti, partindo

No dia 21 de abril, bem perto do palco montado na Praça do Papa, lá estava o prefeito Pazolini em pessoa… mas ele não curtiu o show sozinho. Conforme registro publicado no Instagram, o prefeito se fez fotografar ao lado dos dois deputados federais do PP no Espírito Santo: Evair e Da Vitória – muito sintonizados atualmente.

Vinte dias antes, Da Vitória assumira a presidência estadual do Progressistas. E é aí que está a chave de compreensão do movimento de Pazolini, com a iminente concessão da Secretaria de Cultura para um nome a ser indicado pelo partido dos dois deputados.

Evair de Melo, Lorenzo Pazolini e Josias da Vitória em show de Roberto Carlos (21/04/2023). Crédito: Reprodução Instagram

A aparição pública dos três no show do Rei foi só um dos muitos encontros nos últimos meses entre eles. Ao trio se soma o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, que também tem papel destacado nessas articulações.

Evair já declarou apoio à reeleição de Pazolini e, ontem, confirmou à coluna: “Darei minha contribuição para a recondução do prefeito e trabalho para levar o PP. Estarei à disposição quando demandado para ajudá-lo. Tenho conversado muito com ele e equipe”.

Da Vitória, por sua vez, embora de maneira mais discreta, também se empenha intensamente a fim de levar o PP para o time Pazolini, com lugar no 1º escalão.

Essas gestões de bastidores culminaram com o convite do prefeito ao vereador Anderson Goggi, em 12 de maio, para assumir o mesmo cargo, secretário de Cultura, mas esse calhambeque não decolou, pois Goggi recusou o convite duas semanas depois. Agora vem essa nova investida, com Da Vitória já efetivado no cargo de presidente estadual do PP, em convenção estadual realizada no dia 15 de julho.

Pazolini, enfim, ganhou novos amigos, e seu grupo político está prestes a ganhar um tremendo reforço. Enquanto isso, o governador Renato Casagrande (PSB) pode estar se apegando mais ao verso seguinte: Saudades eu senti, partindo…

Você é meu amigo de fé, meu irmão camarada…

… Amigo de tantos caminhos e tantas jornadas. Casagrande também poderia dedicar esses versos do Rei a um de seus mais antigos e leais aliados no Espírito Santo: o PP. Sob a presidência de Marcus Vicente – devidamente recompensado com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano desde 2019 –, o partido de centro-direita apoiou Casagrande nas últimas três eleições ao Governo Estadual: 2014 (perdeu para Hartung), 2018 (ganhou no 1º turno) e 2022 (ganhou no 2º turno, contra Manato).

Mas, agora sob nova direção, essa aliança e essa lealdade do PP podem estar prestes a se desmancharem.

Eu quero ter um milhão de amigos / E bem mais forte poder cantar

Sob a presidência de Da Vitória, o PP está expandindo consideravelmente suas “amizades políticas” no Estado, inclusive em direções antagônicas. Buscar novos amigos é legítimo quando se trata dos interesses eleitorais do seu partido e dos próprios, mas, em política, não dá para querer ser “amigo” de todo mundo ao mesmo tempo; ou, para ser mais preciso, é difícil querer ser “amigo em comum”, no plano estadual e no municipal, de duas personalidades que não se sentam à mesma mesa para discutir política.

Por inflexão do primeiro, Pazolini e Casagrande têm cultivado desde o início deste ano um relacionamento institucional muito melhor que aquele mantido por eles até o ano ado. Mas isso não muda o fato de que são adversários políticos e têm um ado bem recente de brigas públicas pesadas.

Apesar de ter ele mesmo um histórico de parceria com Casagrande, Da Vitória está empurrando o PP para o palanque eleitoral de Pazolini, desafeto do governador. Simples assim.

E, mesmo que não mergulhe pessoalmente na campanha, é provável que Casagrande trabalhe nos bastidores contra Pazolini, fazendo o que estiver ao seu alcance para ajudar a eleger um aliado seu no lugar do atual prefeito.

Fato é que governador e prefeito não estarão juntos eleitoralmente. Mais fácil Roberto Carlos se apresentar de preto, ar máquina zero no cabelo, pular do palco nos braços do público qual estrela do rock em vez de arremessar flores ou, sei lá, revelar encontros românticos com Wanderléa nos camarins da Jovem Guarda.

Foi isso o que Casagrande quis dizer ao declarar a este espaço, no dia 23 de maio: “O PP escolheu seu caminho. E nós vamos escolher o nosso”.

Vem, que o tempo pode afastar nós dois…

É fato: por pleitos e expectativas não atendidas, Casagrande e Da Vitória se afastaram desde as eleições do ano ado. Até andaram se reaproximando recentemente, mas a relação não é mais a mesma.

Todavia, muito mais que problemas do presente ou do ado, esse deslocamento de Da Vitória em direção a Pazolini e ao Republicanos tem muito mais a ver com pretensões futuras. Não é segredo para ninguém que o coordenador da bancada do Espírito Santo no Congresso tem interesse em concorrer ao Palácio Anchieta em 2026 – ou, no mínimo, ao Senado, como já poderia ter ocorrido em 2022, se Casagrande o tivesse apoiado.

“Nós temos que estar à disposição da sociedade. Naquilo que for importante, nós estamos a postos”, disse-me o próprio Da Vitória em 19 de junho.

Evair de Melo é outro que tem interesse na mesma vaga – no caso dele, de forma ainda mais aberta: “Estou me preparando para disputar o Governo do Estado!”, declarou-me o deputado, no começo de junho. O secretário-geral do PP no Espírito Santo, Marcos Delmaestro, já me disse que a Executiva Nacional da sigla reivindica o lançamento de um candidato próprio ao Governo do Estado em 2026.

Assim, para chegar forte no pleito de 2026, o PP terá uma escala decisiva na eleição municipal do ano que vem. Precisa arregimentar forças e eleger o maior número de prefeitos e vereadores em 2024.

Da Vitória e os demais progressistas sabem que as forças de esquerda – especificamente, o PT – estão fazendo o mesmo e que, com Lula no poder central, também podem chegar muito competitivas à eleição estadual de 2026. Dependendo do resultado no próximo pleito municipal, podem chegar ainda mais fortes.

Nesse contexto, ganhar Vitória – e evitar o retorno do PT à prefeitura da Capital – é fundamental para essas pretensões.

Por essa soma de fatores, Da Vitória está começando a construir um movimento político-eleitoral próprio, independente do que é liderado por Casagrande (com a presença do PT e do PSB do próprio governador) e muito mais alinhado a forças da centro-direita à extrema direita. Está buscando amarrar alianças com partidos desse campo, como o Republicanos e o PL.

Existem mil garotas querendo ear comigo

Como provou em sua convenção estadual, o PP tem o carrão mais cobiçado do momento na política estadual. De Ricardo Ferraço (PSDB) a Audifax Barcelos (sem partido), de Pazolini (Republicanos) a Marcelo Santos (Podemos), políticos os mais diversos foram lá prestigiar o partido e a consolidação de Da Vitória em seu comando.

Eu tenho tanto pra lhe falar / Mas com palavras não sei dizer…

Procurei o próprio Da Vitória, diretamente e via assessoria, para comentar esses movimentos. Sem sucesso.

Esse cara sou eu!

Erick Musso: o ex-presidente da Assembleia está presente em cada o descrito aqui.

Eu sei que um outro deve estar falando ao seu ouvido / Palavras de amor como eu falei, mas eu duvido…

Como a política dá mais voltas que os caracóis dos cabelos do jovem Caetano homenageado pelo Rei, nada impede que Da Vitória acabe voltando para os braços de Casagrande. Do contrário, o governador poderá cantarolar ao pé do ouvido do antigo aliado: Não adianta nem tentar me esquecer / Durante muito tempo em sua vida eu vou viver