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Coluna Vitor Vogas

Erick: “Sou candidato de oposição e descarto aliança com Casagrande”

Falando com exclusividade à coluna, o presidente da Assembleia Legislativa explica por que quer chegar ao governo, por que assumiu oposição a Casagrande e por que o seu partido é “o mais conservador” de todos

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Erick Musso. Foto: Reprodução/Facebook

Em uma raríssima entrevista, falando com exclusividade à coluna, o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), declara-se pré-candidato de oposição ao governador Renato Casagrande (PSB), sem hesitação: “Claro, com certeza absoluta”. Além de destilar críticas à istração de Casagrande, conforme vem fazendo nos últimos tempos na tribuna da Assembleia e em suas redes sociais, Erick descarta completamente a hipótese de um acordo eleitoral com o chefe do Poder Executivo: “Eu descarto isso. Eleitoralmente, não temos como convergir.”

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Assim, o pré-candidato do Republicanos praticamente arquiva uma das muitas especulações que peram esta temporada de pré-campanha no Espírito Santo: a de que, até agosto, ele poderia aderir à coligação de Casagrande e, eventualmente, até se tornar candidato a vice-governador na chapa do socialista.

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“Eu fui motivado pelas pessoas a colocar o meu nome à disposição da sociedade capixaba, entendendo que chega ao fim um ciclo de duas para três décadas. O atual governador, para nós termos uma ideia, foi vice-governador de Vitor Buaiz [de 1995 a 1998]. Quando ele se elegeu, em 1994, eu tinha sete anos idade.”

No tópico “críticas ao atual governo”, Erick enfatiza algo que já foi dito aqui por Carlos Manato (PL), Aridelmo Teixeira (Novo) e até por Jackeline Rocha (PT) e que pode ser assim condensado: caixa cheio, mas barriga vazia e políticas públicas deficitárias

O Espírito Santo hoje tem 500 mil pessoas que não sabem o que vão comer no dia de amanhã. […] Não dá para ter um caixa cheio e um jovem morrer na porta do hospital, após quatro horas à espera de um leito. […] Não dá para ter um caixa cheio e uma empresa superavitária como é a Cesan, por exemplo, e a Capital ficar desabastecida por quase 15 dias, e o governador dizer que vai abastecer as pessoas com caminhão-pipa. Isso é surreal no tempo que estamos vivendo”, condena o pré-candidato, em alusão ao episódio da crise de abastecimento de água na Grande São Pedro durante o carnaval e ao da morte do garoto Kevinn, sem atendimento, às portas do Himaba.

Erick também rechaça uma aliança com Casagrande por conta das divergências ideológicas. “Não tem como nós nos alinharmos à esquerda. De forma respeitosa eu digo isso”, afirma o chefe do Legislativo estadual, situando o governador, “com certeza absoluta”, nesse polo.

Quanto a si mesmo, Erick se considera um conservador nos costumes, embora liberal na economia. E aproveita a entrevista para definir o conceito de “conservador”, à luz do estatuto do Republicanos, partido originalmente ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo.

Assim como muitos políticos evangélicos, o presidente da Assembleia conta que, na eleição presidencial, tende a apoiar a reeleição de Jair Bolsonaro (PL), acompanhando a tendência do seu partido – que já compõe a base de sustentação do presidente no Congresso Nacional.

“Não tenho problema nenhum em ser palanque e fazer palanque aqui para o presidente Bolsonaro, se a direção nacional do partido assim decidir.”

Abaixo, você pode ler toda a primeira parte da entrevista exclusiva de Erick Musso, concedida na última terça-feira (3), em seu gabinete na Assembleia. Boa leitura!

Por que o senhor é pré-candidato a governador do Espírito Santo?

Para colocar políticas estruturantes, com eficiência, e que melhorem de fato a vida das pessoas. Eu fui motivado pelas pessoas a colocar o meu nome à disposição da sociedade capixaba, entendendo que chega ao fim um ciclo de duas para três décadas. O atual governador, para nós termos uma ideia, foi vice-governador de Vitor Buaiz [de 1995 a 1998]. Quando ele se elegeu, em 1994, eu tinha sete anos idade.” Mas a minha principal motivação é olhar para quem mais precisa. O Espírito Santo hoje tem 500 mil pessoas que não sabem o que vão comer no dia de amanhã. E isso não sou eu que estou falando.

Qual é a fonte?

IBGE. Nós estamos falando que o Espírito Santo tem uma cobertura defasadíssima de internet e telefonia móvel. Se você sai de um município para outro no interior, não pega telefone. E nós entendemos que, com o caixa que o Espírito Santo tem, conquistado ao longo dos últimos anos, desde o ex-governador Paulo Hartung, com a construção de todos os Poderes e da sociedade capixaba, podemos fazer muito mais pelo Espírito Santo. Não dá para ter um caixa cheio e um jovem morrer na porta do hospital, após quatro horas à espera de um leito. Não dá para ter um caixa cheio e as pessoas não conseguirem tirar carteira de identidade no interior e na Grande Vitória. Não dá para ter um caixa cheio e uma empresa superavitária como é a Cesan, por exemplo, e a Capital ficar desabastecida por quase 15 dias, e o governador dizer que vai abastecer as pessoas com caminhão-pipa. Isso é surreal no tempo que estamos vivendo. Então, por acreditar que dá para a máquina pública ser mais eficiente e menos burocrática, com respeito ao atual governador, sem tecer nenhum tipo de crítica pessoal ou de ataque, não é isso, mas com propostas para o Espírito Santo, é que a gente coloca o nosso nome à disposição.

O senhor tem usado suas redes sociais e até a tribuna da Assembleia para fazer cobranças enfáticas e críticas veementes ao atual governador, como por exemplo em dois episódios recentes já citados pelo senhor: a crise de abastecimento de água em São Pedro e a morte do menino Kevinn às portas do Himaba. Podemos considerar que o senhor entra nessa disputa como candidato de oposição ao atual governo?

Claro, com certeza absoluta. Não vou dizer que sou um candidato de oposição somente por ser oposição. Sou um candidato de agregar os capixabas por um novo tempo e um novo momento na política deste Estado. Eu acredito que a gente pode avançar muito. As minhas críticas são à modelagem de governança. Eu sei separar muito bem a questão da Assembleia dessa disputa político-eleitoral. Tanto que hoje, na pauta, tem quatro projetos do governo. Então a Assembleia não parou e não parará um minuto, porque o Espírito Santo está acima de qualquer divergência política e partidária. Minha responsabilidade institucional, enquanto chefe de Poder, está acima de qualquer divergência, que é democrática no campo das ideias, dos bons embates. Mas com certeza absoluta é no campo de oposição ao atual governador.

Pelo menos até a sua última recondução à presidência da Assembleia, no início do ano ado, o senhor se mantinha numa posição, digamos, mais institucional em relação ao governo. Não praticava oposição nem se declarava assim. Quando foi que o senhor ou a se considerar um oposicionista? Qual foi o ponto da virada?

Foi quando o atual governador não entendeu a minha posição pelo não fechamento de novo do comércio. Quando nós vivemos a primeira onda da Covid-19 [no 1º semestre de 2020], era uma coisa muito nova para todo mundo. Era uma coisa que pegou de surpresa o mundo, o Brasil e o Espírito Santo. Então, naquele momento, não se sabia muito o que ser feito. Mas, no segundo momento, e aí já com anúncio de vacinas e uma série de coisas, eu vi muitas injustiças sendo cometidas com decisões do governo. Isso em fevereiro, março do ano ado.

Quais injustiças?

Você fechar um restaurante, fechar uma loja que vende um sapato por semana no interior, e ao mesmo tempo ter shows abertos para públicos de 20 mil, 30 mil pessoas. Você fechar um comércio no interior que vende um teclado, um mouse, se vender, e os ônibus do Transcol lotados e a Vale e a Jurong funcionando na sua capacidade total, com os funcionários comendo no bandejão. Então, a incoerência das decisões é que me levaram a proteger os que mais precisam: o pequeno, o micro, o médio, quem gera emprego e renda. Cem mil pessoas são ligadas ao setor de comércio e serviços neste Estado.

A partir desse momento o senhor fez uma inflexão?

Foi a hora em que nós tivemos essa ruptura, na defesa da abertura do comércio e da reabertura das escolas. Foi ali.

No entanto, nós notamos que as suas várias críticas ao governo, embora enfáticas, têm sido críticas respeitosas, sem ar do limite da educação que deve haver entre adversários políticos. O senhor acha que essa relação do senhor com o governo está rompida definitivamente, de maneira irreconciliável? A ponte foi dinamitada? Ou ainda dá para vocês caminharem juntos nesta eleição?

Não. Em termos eleitorais, na minha avaliação, não tem como nós caminharmos juntos. A relação de respeito, isso vem de berço. Eu terei respeito com o governador, com o ex-governador Paulo Hartung, com qualquer pessoa, porque o respeito é a base de tudo, assim como o diálogo. Nós temos que respeitar o Renato porque ele é o governador do Espírito Santo, ele tem uma família, ele tem uma história. Então eu não sou a favor de extremos, de ataques pessoais, de ataques à honra. Isso não comunga com a minha forma de pensar e de agir.

Tampouco durante a campanha? O candidato Erick Musso não fará ataques?

Não. Vou jogar dentro das quatro linhas, debatendo propostas para melhorar a vida das pessoas. A disputa é uma coisa. A briga a do limite.

Mas hoje então, pensando eleitoralmente, não há mais a menor possibilidade de uma composição com o atual governador?

Não. Eu descarto isso. Eleitoralmente, não temos como convergir.

Estou insistindo neste ponto porque uma das especulações neste período de muitas especulações é que o senhor poderia até se tornar o vice na chapa de Casagrande, em um eventual entendimento entre vocês nos próximos meses…

Sou candidato a governador. O nosso partido é um partido conservador. O nosso partido é um partido que faz parte, hoje, da base de sustentação do presidente Bolsonaro. É um partido de direita. Não definiu ainda apoio para a eleição presidencial. Isso é uma decisão da direção nacional…

E o senhor, quem apoiará à Presidência?

Eu vou aguardar a decisão da nacional. Não tenho problema nenhum, se a nacional assim decidir, em ser palanque e fazer palanque aqui para o presidente Bolsonaro. Mas o governador tem que olhar pelo Espírito Santo e construir pontes, não construir muros. Acho que o Renato errou quando ele brigou com o governo federal. Independentemente do presidente que estiver sentado na cadeira, um governador, principalmente de um estado que não é uma grande potência, precisa construir pontes e não levantar muros para que as coisas não cheguem. Olha como está a nossa BR 101: aumentando pedágio em cima de pedágio e duplicando 20% do que já deveria estar duplicado. Olha como está a BR 262. Cadê a linha férrea de Vitória ao sul do Estado, ligando ao Rio de Janeiro, [contrapartida] da nova concessão da Vitória-Minas. Olha como está atrasado o Contorno do Mestre Álvaro. E tantas e tantas outras coisas que nós já poderíamos ter destravado se tivesse a capacidade de diálogo, de articulação, de reciprocidade. Não tem como nós nos alinharmos à esquerda. De forma respeitosa eu digo isso.

E por esquerda o senhor também compreende o atual governador?

Com certeza absoluta.

O senhor acredita que, nacionalmente, o Republicanos tende a seguir com Bolsonaro?

Acredito. E, depois das novas filiações, ei até a acreditar um pouco mais. O ex-ministro Tarcísio [de Freitas], da Infraestrutura, é pré-candidato a governador de São Paulo pelo partido. A ex-ministra Damares [Alves] veio para cá. O vice Mourão veio para cá. Então acredito que a tendência natural seja essa.

O que é ser conservador, na sua concepção? Tenho ouvido muito isso, e vocês mesmos têm levantado a bandeira de que são o partido mais conservador, ou o único partido conservador de verdade. Pensando na perspectiva do Republicanos, como o senhor me explicaria esse conceito?

Vou te explicar com base no estatuto do Republicanos. Ser conservador é respeitar a opção das pessoas, mas defendendo o conservadorismo do que nós entendemos como princípio bíblico. Ser conservador é ter pai e mãe. Ser conservador é termos banheiros para homens e mulheres dentro da escola. É não termos política de ideologia de gênero dentro das escolas. Ser conservador é respeitar a opção sexual das pessoas, mas não comungar com casamento homossexual. Ser conservador é respeitar a posição de cada um, mas não defender a liberação da maconha, por exemplo. Ser conservador é respeitar a divergência de opiniões, mas defender veementemente o valor da vida e ser contra o aborto. E assim por diante. E sermos liberais na economia.

Então conservador nos costumes, mas liberal na economia?

Isso.

O conceito está bem imbricado com uma concepção bíblica, digamos, tradicional, do livro sagrado dos cristãos…

Da família tradicional brasileira.

Certo. Mas se você, por exemplo, for perguntar para o Manato, aliado do Magno Malta, ele vai dizer a mesma coisa: que é conservador, de direita, contra o aborto, “ideologia de gênero” etc. Tendo em vista o rol de candidaturas que coexistem nesse mesmo campo, por que o Republicanos é “mais conservador”, ou “verdadeiramente conservador”?

Isso e uma política nacional que foi implementada. Nós respeitamos todas as candidaturas colocadas nesse campo. Mas nós acreditamos que os nossos valores estão previamente estabelecidos, de forma estatutária. O nosso partido é um partido que nasceu dentro da igreja. Hoje, abre uma frente mais ampla.

Nasceu da Igreja Universal do Reino de Deus, no caso.

É. Mas nós temos uma frente muito mais ampla. Então acreditamos nisso. Nós defendemos isso e defenderemos isso no processo eleitoral.

Pessoalmente, o senhor professa alguma fé?

Sou evangélico.

De qual denominação?

Hoje no Ministério Efatá, em Vila Velha, mas que é uma antiga denominação da Assembleia de Deus.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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