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Coluna Vitor Vogas

Em queda livre desde 2014, PT pode ressurgir como força política no ES

Aparentemente, apoio do partido a Casagrande saiu quase de graça para o PSB. Mas, em caso de vitória da chapa, pagamento será a prazo e dividido em três parcelas: secretarias de Estado, Assembleia e eleições 2024

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Petistas em manifestação de rua. Foto: flickr do PT

Em queda livre desde 2014, o Partido dos Trabalhadores (PT) pode voltar a emergir como uma força política no Espírito Santo a partir da “abertura das urnas” em outubro. Não tanto pelo desempenho dos seus próprios candidatos (na verdade, o saldo eleitoral do PT no Estado deve ser pouco expressivo), mas porque o resultado das disputas para presidente e governador pode criar um ambiente muito favorável para a reascensão do partido no cenário político estadual nos próximos anos. Esse ressurgimento depende, fundamentalmente, do retorno de Lula (PT) ao Palácio do Planalto e da permanência de Renato Casagrande (PSB), com o apoio do PT, no Palácio Anchieta.

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Nas negociações com o PSB de Casagrande, o PT do Espírito Santo aceitou remover a pré-candidatura de Fabiano Contarato ao governo estadual para apoiar a reeleição do atual governador, cumprindo os desígnios da direção nacional. O partido chegou a pleitear espaço na chapa majoritária de Casagrande, com o candidato a vice-governador ou a senador apoiado por ele. Não terá nenhum dos dois.

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Restará à legenda a opção de lançar candidatura avulsa ao Senado, representando a federação PT/PCdoB/PV, mas mesmo essa alternativa parece ter poucas chances de vingar: no momento, até alguns petistas consideram mais provável que o partido se contente, no máximo, em emplacar o 1º suplente da chapa de Rose de Freitas (MDB) ao Senado – e nem isso é totalmente garantido.

Noves fora, fica a impressão de que o acordo com o PSB saiu quase de graça para Casagrande. Os dirigentes petistas teriam “vendido barato demais” esse apoio. Mas não é bem assim. O pagamento será feito a prazo e em três prestações. Envolve espaço destacado na formação da equipe do próximo governo Casagrande, influência nos trabalhos da Assembleia Legislativa na próxima legislatura e, acima de tudo, protagonismo nas próximas eleições municipais, em 2024, especialmente na Grande Vitória.

A quitação de todas as três parcelas, insisto, depende do êxito eleitoral de Casagrande – e também por isso a direção do PT no Espírito Santo deve se engajar mais do que nunca na campanha do socialista à reeleição: estão mirando no ponto futuro.

Secretarias de Estado

Em caso de vitória de Casagrande, uma secretaria de Estado é o mínimo que o PT poderá pleitear. Mas, se Lula voltar à Presidência (com o PSB na Vice-Presidência), o moral e o capital político do partido voltarão às alturas. Para obter investimentos voluntários da União, Casagrande precisará cultivar excelente relação com o Planalto… Nesse contexto, o PT terá tamanho de sobra para reivindicar pelo menos duas secretarias no próximo governo Casagrande, como ponto de partida para as negociações.

Ora, em 2010, o partido emplacou justamente dois secretários na montagem do primeiro governo estadual do socialista: Rodrigo Coelho na Assistência Social e Alexandre os no Turismo, além do vice-governador, Givaldo Vieira. E o momento era de alta para o PT: Lula encerrava seu segundo mandato com elevada popularidade a acabara de conseguir emplacar Dilma Rousseff (PT) como a sua sucessora.

Assembleia: João Coser

Depois, em janeiro do ano que vem, virá o processo eleitoral para formação da Mesa Diretora que comandará a Assembleia Legislativa pelo biênio seguinte.

Sim, é bastante prematuro tratar agora dessa disputa interna. Mas, na “Rádio Corredor Político”, não falta quem aponte, desde já, o nome do petista João Coser como potencial candidato à presidência da Assembleia que faria os olhos de Casagrande brilharem e desfrutaria de todas as bênçãos do governador, se este for reeleito e se Coser, candidato a deputado estadual, conseguir mesmo voltar para a Casa onde exerceu mandatos nos anos 1980 e 1990. A eleição da Mesa ocorrerá no dia 1º de fevereiro de 2023.

Eleições municipais

Saltando para o ano seguinte, teremos as próximas eleições municipais. E aí vocês podem ter certeza de que o PT vai querer tirar um atraso que já é monumental no Espírito Santo. Basta dizer que, em 2020, o partido de Lula não elegeu simplesmente nem um prefeito sequer nos 78 municípios capixabas. Em 2016, já tivera desempenho pífio, fazendo somente o prefeito de Barra de São Francisco, cidade do noroeste capixaba, com cerca de 40 mil habitantes.

Naturalmente, se Lula e Casagrande vencerem e se ambos estiverem bem avaliados até lá, as possibilidades dos candidatos petistas crescerão bastante. O que podemos dizer, neste ponto do processo, é que o PT pretende estar na disputa, com candidatos próprios, nos principais colégios eleitorais do Estado – e não só para fazer figuração.

Em Vitória, a única certeza maior que o pó preto nas areias de Camburi é a de que João Coser está louco para concorrer de novo a prefeito em 2024, contra Lorenzo Pazolini (Republicanos). Se voltar para a Assembleia na janelinha, aumentam suas chances de se viabilizar.

Em Vila Velha, após ter sido candidato azarão pela Rede em 2018, Rafael Primo pode tentar mais uma vez chegar ao Executivo municipal, agora filiado ao PT. Primo não é candidato a nada este ano.

Em Cariacica, apesar de o prefeito Euclério Sampaio (União Brasil) ser um grande aliado de Casagrande, petistas já arregaçam as manguinhas para disputar a prefeitura contra ele. Em grupos s circulam os nomes da educadora Célia Tavares e do vereador André Lopes. Mas alguns defendem mesmo é que o deputado federal Helder Salomão finalmente volte a disputar a prefeitura da cidade governada por ele de 2005 a 2012 – até porque Euclério é tido como páreo duro. Em outubro, Helder concorrerá à reeleição na Câmara dos Deputados.

Na Serra, situação parecida: o atual prefeito, Sérgio Vidigal (PDT), é um dos mais importantes aliados de Casagrande. Mas o ex-deputado estadual Roberto Carlos já aquece as turbinas para disputar o cargo. Outra possibilidade cogitada é que a presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, transfira para a Serra o seu domicílio eleitoral e concorra lá. No pleito deste ano, Roberto Carlos tenta voltar à Assembleia, enquanto Jackeline concorrerá a uma vaga na Câmara Federal.

Renovação com Contarato

O que também se prevê para o PT capixaba nos próximos anos é um processo de renovação dos líderes locais. Essa reciclagem interna pode se dar em torno da nova e ascendente referência política do partido no Espírito Santo: Fabiano Contarato. Os já citados Rafael Primo e Roberto Carlos, por exemplo, são muito próximos ao senador. O segundo foi, inclusive, assessor parlamentar de Contarato e ou com ele pela Rede Sustentabilidade.

Resultados previstos este ano

Nas eleições deste ano, os resultados do PT-ES deverão ser modestos. O partido não tem mais candidatura ao governo. Ainda que decida manter candidatura ao Senado (Célia Tavares ou Reinaldo Centoducatte), será um voo tão kamikaze quanto a PEC das Bondades recém-aprovada no Congresso Nacional: chances muito remotas de vitória.

Restam as candidaturas proporcionais. Na Câmara dos Deputados, a chapa do PT pode eleger um candidato, mas não sem dificuldade: a reeleição de Helder depende essencialmente do seu próprio desempenho nas urnas e do tamanho da ajuda que ele obterá dos outros candidatos do partido, principalmente Jackeline Rocha.

Para ter chances de brigar por uma das dez vagas do Espírito Santo nas sobras, a chapa do partido deve somar algo em torno de 150 mil ou 160 mil votos válidos. Se Helder repetir sua votação de 2018 (73.384 votos, no auge do antipetismo), pode até ar, mas por um triz. Jackeline terá de contribuir com pelo menos 40 mil votos, somados aos cerca de 30 mil votos na legenda que os petistas esperam receber, mais as pequenas votações dos demais integrantes da chapa.

Especula-se que, para colaborar nesse esforço, até Reinaldo Centoducatte possa “descer”: em não sendo candidato ao Senado, pode concorrer a deputado federal (como foi em 1982).

Agora, se Helder ultraar sozinho a marca dos 100 mil votos, como alguns acreditam ser possível (no embalo de Lula etc.), aí ele estará seguramente reeleito, com a ajuda do voto de legenda e dos companheiros de chapa.

Os mais otimistas acreditam em um resultado estrondoso de Helder por um detalhe: ele há de surfar sozinho na “onda lulista”. Dos atuais dez deputados da bancada capixaba na Câmara, ele é o único que defende Lula, o PT e seus governos.

Já na Assembleia, petistas estimam que a federação com o PV e o PCdoB fará seguramente dois deputados, com chances reais de brigar por uma terceira vaga nas sobras. O primeiro citado por todos é Coser. Com chances de beliscar a(s) outra(s) vaga(s), competem a atual deputada Iriny Lopes, o já mencionado Roberto Carlos, o ex-prefeito de Baixo Guandu Neto Barros (PCdoB), o ex-vereador de Cachoeiro Alexandre Bastos (PV), entre outros.

Contarato teria ajudado

Também por isso alguns petistas lamentam a implosão do “Plano Contarato”. A candidatura do senador ao governo poderia impulsionar as candidaturas do PT a deputado. Com ele na disputa, o partido poderia fazer um deputado federal com tranquilidade, além de três deputados estaduais, podendo talvez chegar a quatro.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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