Coluna Vitor Vogas
Rose declara apoio a Simone Tebet para a Presidência e não a Lula. Por quê?
E mais: Justiça Eleitoral proibiu a exibição do penúltimo programa de Rose no horário eleitoral, por “abuso no uso dos prefeitos”; Marcelino Fraga liberado para concorrer a deputado estadual

Soimone Tebet entre deputado Vandinho Leite (à esquerda) e senadora Rose de Freitas (à direita)
Pela primeira vez desde o início do período oficial de campanha, a senadora Rose de Freitas (MDB) disse-o de uma maneira que não dá margem a dúvida, em entrevista ao EStúdio 360 Segunda Edição, na última segunda-feira (26): para a Presidência da República, sua candidata é Simone Tebet, também senadora pelo MDB: “Mantenho a minha posição de estar apoiando a Simone Tebet”.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
Até então, sobre o assunto eleição presidencial, Rose vinha se equilibrando no muro que erguera para si. Devido a alguns sinais ambíguos emitidos por ela mesma, não se sabia ao certo se sua opção era Simone, Lula (PT) ou a neutralidade. Quando indagada sobre o tema, inclusive por mim, ela dizia que ainda não havia se decidido.
Por isso, fiz essa pergunta à senadora que concorre à reeleição, na última segunda, em nosso telejornal. Dessa vez ela foi assertiva quanto ao voto em Simone… o que nos leva às duas perguntas seguintes: por que Rose declarou voto em Simone, em detrimento de Lula, e por que deixou para fazer isso só agora, na semana da definição?
Acredito que, em seu cálculo estratégico, Rose tenha optado pelo caminho mais conservador – não no sentido de inclinação ideológica nem nada disso, mas no sentido de ter sido cautelosa, de evitar correr riscos nesta reta derradeira da campanha, em uma possível chegada cabeça a cabeça com Magno Malta (PL).
Rose tem o apoio do PT? Tem. E não só do PT, aliás. No Espírito Santo, a veterana senadora emedebista virou a opção mais palatável para a esquerda que deseja impor nova derrota a Magno – até por uma questão de “voto útil”, como já analisei aqui.
Ela é a candidata oficial do PT ao Senado, tem o apoio declarado de líderes petistas no Espírito Santo, como Jackeline Rocha (presidente estadual) e João Coser (vice-presidente estadual) e, como se não bastasse, ganhou o reforço de representantes de entidades historicamente ligadas ao PT, como a CUT e dezenas de outros grandes sindicatos.
Ao mesmo tempo, a senadora fez, nos bastidores, um movimento de reaproximação com Lula – como prova sua participação no encontro com o ex-presidente em São Paulo, no dia 18 de julho, na presença de dirigentes do MDB em outras dez unidades federativas.
Contudo, mesmo tendo o apoio aberto do PT e mesmo tendo se reaproximado de Lula, transformar o Rá-ré-ri-ró-Rose em Lá-lé-li-ló-Lula, a esta altura da campanha, seria um risco enorme para a senadora.
> As estratégias de Rose, Magno e Erick nos dias decisivos da campanha
Uma declaração explícita em favor de Lula poderia custar-lhe votos preciosos de eleitores de centro e centro-direita que não simpatizam com o petista – principalmente no interior conservador, onde ela circula muito bem.
Poderia gerar a antipatia de representantes de partidos situados no espectro de centro para a direita integrados à ampla coligação que tem Casagrande como candidato a governador e ela mesma como candidata a senadora. Cito aqui o Podemos, o PP e o PSDB.
E a maior temeridade: poderia abalar um dos pilares políticos em que se sustenta sua candidatura, contrariando muitos dos prefeitos que, às dezenas, apoiam sua reeleição. O primeiro pilar da candidatura de Rose é o apoio total de Casagrande; o segundo é o impulsionamento eleitoral gerado por essa massa de prefeitos. Muitos deles são simpatizantes de Bolsonaro.
Para ficar em dois exemplos retirados da Grande Vitória: Arnaldinho Borgo (Podemos) e Euclério Sampaio (União Brasil). Se Rose tivesse declarado “Meu candidato é Lula”, como será que eles dois e muitos outros teriam reagido? Possivelmente, com contrariedade.
Já Sérgio Vidigal é partidário de Ciro Gomes, o presidenciável do PDT, partido que não só também apoia Rose como lhe deu a segunda suplente, a ex-prefeita de Guaçuí Vera Costa.
> Análise: a maior das ironias nesta eleição no Espírito Santo
Assim, Rose foi por um caminho seguro, até porque, cá pra nós, é um caminho natural. Mesmo que no fundo ela esteja alinhada ao PT (e a um possível terceiro governo Lula), quem poderá contestar a senadora por ela simplesmente ter decidido apoiar a candidata do seu próprio partido?
Isso sem falar que Simone Tebet é uma candidata que caiu no gosto popular, mesmo sem chance alguma de vitória eleitoral, e que pode agradar inclusive a muitos eleitores de esquerda e de Lula, em razão da sua destacada atuação na I da Covid no Senado, da postura firme e das críticas diretas e devastadoras que tem feito a Bolsonaro (muito mais que ao petista) em debates. Se houver 2º turno para presidente, não será espantoso se a maior parte dos eleitores dela migrarem para Lula contra o atual presidente.
Rose abusou do uso de prefeitos
Ao longo da atual campanha no rádio e na TV, encerrada nesta quarta-feira (28), a campanha de Rose de Freitas insistiu em descumprir algumas regras do jogo e abusou do direito de veicular declarações de apoio de prefeitos aliados.
Nesta quarta, último dia do horário eleitoral, a propaganda de Rose não pôde ser veiculada no bloco das 13 horas. A Justiça Eleitoral o proibiu, atendendo a uma ação movida pela coligação de Erick Musso (Republicanos).
Na segunda-feira (26), na maior parte de seus mais de 2 minutos e meio na TV, o programa de Rose exibiu um longo desfile de prefeitos declarando apoio a ela, como Euclério Sampaio, Sérgio Vidigal (Serra) e Guerino Balestrassi (Colatina).
> Análise: como foi o debate final da TV Gazeta entre os candidatos a governador do ES?
Acontece que isso não é permitido. E, se fosse um jogo de basebol, esse seria o strike 3 de Rose (a jogadora seria eliminada). A assessoria de Erick explicou:
“Desafiando a Justiça, a candidata veiculou participação de apoiadores em tempo superior ao permitido. Os programas eleitorais gratuitos de rádio e televisão, sejam em bloco ou inserções, só podem dispor de 25% do tempo destinado aos apoiadores, de cada programa ou inserção. Essa é a terceira vez que a candidata comete a mesma irregularidade. Desta vez, a propaganda eleitoral, com duração de 2min37seg, teve a participação de apoiadores que aparecem por cerca de 1min50seg, o que corresponde a 70% do tempo total.”
À noite, Rose exibiu outro programa, com suas duas suplentes e sem nenhum prefeito nem Casagrande.
Marcelino Fraga vivo
E, por falar em MDB, o ex-emedebista Marcelino Fraga (PSDB) está vivo na disputa por uma vaga na Assembleia Legislativa. Impugnado pelo Ministério Público Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa, ele havia sido barrado pelo TRE, mas o ministro Sérgio Banhos, do TSE, acolheu recurso de Marcelino e liberou seu registro de candidatura.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.
