Coluna Vitor Vogas
Quantas mortes violentas a menos o ES precisa ter para Casagrande cumprir sua promessa?
Do que o governador está falando exatamente quando se compromete a deixar o Espírito Santo, até 2026, entre os cinco estados menos violentos do país? Traduzimos em números

Imagem: João Vitor Gomes
O governador Renato Casagrande (PSB) se comprometeu nesta campanha a perseguir, se reeleito, a meta de deixar o Espírito Santo entre os cinco estados menos violentos do país até o fim de 2026, quando terminará o próximo governo. Em entrevista concedida à rádio BandNews FM no último dia 16, Casagrande reafirmou a meta, também registrada na página 39 do plano de governo apresentado por ele à Justiça Eleitoral:
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“Não havendo descontinuidade, o Espírito Santo está preparado para avançar ainda mais no sentido de promover a paz e a cidadania dos capixabas, para que o Estado alcance, até 2026, posição de destaque entre as cinco Unidades Federativas menos violentas do país.
Mas, em termos práticos e numéricos, qual é exatamente o compromisso assumido por Casagrande, ou seja, o que significa deixar o Espírito Santo “entre as cinco unidades federativas menos violentas do país”?
Tomando por base o mais expressivo indicador de violência (a taxa anual de mortes violentas intencionais registradas por cada estado), quantas mortes a menos o Espírito Santo precisará ter, por ano, para chegar ao 5º lugar? Qual é, concretamente, o tamanho da redução que Casagrande está prometendo?
Fizemos as contas para traduzir a promessa em números. Não é uma projeção precisa, por óbvio, mas um exercício matemático que nos ajuda a enxergar a dimensão do desafio.
A base utilizada foram os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, tendo 2021 como ano-base.
O conceito de “mortes violentas intencionais” usado pelo estudo inclui homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte, policiais vítimas de conflitos violentos letais intencionais e mortes decorrentes de intervenção policial (a serviço ou fora de serviço).
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ONDE ESTAMOS HOJE?
Em 2021, o Espírito Santo foi o 13º estado mais violento do país entre as 27 unidades federativas, com base no índice de mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes.
Somando tudo, o Espírito Santo registrou 1.160 mortes violentas intencionais em 2021, o equivalente a 28,2 mortes do tipo para cada 100 mil habitantes. Estamos no meio do ranking. Doze estados têm taxa ainda pior que a nossa. Outros 14 têm taxa melhor (ou menos ruim). Somos o 13º mais violento, ou o 15º menos violento.
O índice do Espírito Santo é pior que a média nacional. Em 2021, com 47.503 mortes violentas ocorridas em território nacional, o Brasil registrou 23,8 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes.
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AONDE PRECISAMOS CHEGAR?
Hoje, no mesmo ranking, as cinco unidades federativas com as menores taxas de mortes violentas por 100 mil habitantes são, nesta ordem: São Paulo (7,9), Santa Catarina (10,1), Distrito Federal (11,2), Minas Gerais (11,4) e Rio Grande do Sul (15,9).
Se quisermos ficar entre os cinco menos violentos, o índice do Rio Grande do Sul é a meta a ser alcançada. Logicamente, essa projeção para os próximos quatro anos depende de fatores imponderáveis, como a variação do índice de mortes violentas de cada estado e a própria variação populacional de cada um. Por exemplo, se em 2026 o 5º lugar for o Rio de Janeiro, com índice de 20,0 mortes por 100 mil habitantes, essa será a meta a ser alcançada pelo Espírito Santo naquele ano.
Mas, só a título de exercício, vamos trabalhar com essa meta de 15,9 mortes por 100 mil habitantes, que é o índice do atual 5º lugar (RS).
Quantas mortes violentas o Espírito Santo precisaria ter por ano, hoje, para chegar a esse patamar, considerando a sua atual população de 4.108.508 pessoas (IBGE, 2021)?
Resposta: 653 mortes, no máximo.
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Assim, mantida a atual população, o Espírito Santo precisaria ter, no máximo, 653 mortes violentas em um ano para encerrá-lo com índice de 15,9 mortes violentas por 100 mil habitantes.
Considerando o índice de 1.160 mortes violentas registradas no Espírito Santo em 2021, isso corresponde a uma redução de 507 mortes.
São cerca de 500 mortes a menos!
Portanto, o que Casagrande está prometendo é, basicamente, uma diminuição de 43,7% em relação ao número atual de 1.160 mortes.
É muita coisa! Será uma promessa difícil de cumprir.
Mas, caso ele seja reeleito, a sociedade e a imprensa estarão atentas para cobrar seu cumprimento.
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