Coluna Vitor Vogas
PT bolado: Casagrande não faz campanha para Lula no ES
Governador não esconde que apoia petista para a Presidência. Mas também não faz questão nenhuma de externar isso. Rose tampouco. Sem candidatura majoritária, campanha de Lula está muito tímida no Estado
O comando nacional da campanha de Lula (PT) está cobrando de candidatos a governador de outros partidos que são apoiados por ele um empenho maior na campanha do ex-presidente nos respectivos estados. A cobrança inclui o governador Renato Casagrande (PSB) no Espírito Santo.
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A informação foi publicada nesta segunda-feira (12) pela Coluna do Estadão. A coordenação da campanha de Lula quer que Casagrande e outros candidatos de partidos aliados os governos estaduais distribuam material de Lula em seus próprios atos de campanha. No Espírito Santo, isso não está ocorrendo nos eventos de Casagrande. E nem deve ocorrer.
Só para lembrar: o PSB tem uma aliança nacional com o PT, personificada pelo candidato a vice-presidente do petista, Geraldo Alckmin, e reproduzida em muitos estados, inclusive no Espírito Santo. Aqui, o PT está na coligação de Casagrande e apoia a reeleição do governador. Este, pelo menos protocolarmente, apoia o retorno de Lula ao Palácio do Planalto.
O ingresso do PT na coligação de Casagrande, sacramentado em julho, foi fruto de um longo debate: uma novela iniciada em fevereiro, quando a direção estadual do partido lançou a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato ao Palácio Anchieta. Após um cabo de guerra, o PT acabou topando retirar Contarato do páreo em prol da reeleição de Casagrande, mediante o compromisso do governador em apoiar a reeleição de Lula.
Para convencer o PT a ficar do seu lado, o socialista fez alguns acenos públicos, com intensidade gradual. Em março, disse a esta coluna que não teria “dificuldade alguma de votar no presidente Lula”. Em junho, declarou que seu candidato à Presidência é Lula e que, na urna, vai apertar o 13. Em julho, ao lançar sua pré-candidatura, afirmou que faria campanha para Lula (e só para Lula) no Espírito Santo – apesar de sua coligação também ter o PDT e o MDB, que têm, respectivamente, Ciro Gomes e Simone Tebet na disputa presidencial.
O acordo com o PT chegou, mas petistas (sobretudo os da base do partido, frustrados com a remoção de Contarato e com o fim de um palanque certo para Lula no Espírito Santo) ficaram a se perguntar: até que ponto Casagrande realmente se empenharia na campanha do ex-presidente? Votar em Lula é uma coisa, mas, daí a pedir votos para ele… Será que Casagrande faria mesmo campanha para Lula, durante a própria campanha pela reeleição?
A menos de 20 dias para o 1º turno, já temos a resposta parcial:
O empenho pessoal de Casagrande na campanha de Lula é o mínimo possível.
> Giro 360: os apoios dos prefeitos da Grande Vitória na eleição para o Senado
No horário eleitoral gratuito, o atual governador esbanja mais de 600 inserções de 30 segundos e mais de 60% do tempo dos candidatos ao governo por bloco de 10 minutos. Até agora, porém, não houve nem sequer uma menção à candidatura de Lula para presidente. Não houve e, pelo jeito, não haverá, a se fiar no que disse o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini, à Coluna do Estadão:
“Nós não podemos fazer isso com os outros partidos que são nossos aliados e têm seus aliados. No segundo turno, podemos discutir.”
Casagrande tem dito que sua campanha à reeleição independe de um gancho nacional. Meses antes do período eleitoral, já criticava a polarização política do país (entre Lula e Bolsonaro) e dizia esperar que ela não contaminasse a disputa estadual. Como candidato ao governo, não é que ele esteja renegando Lula nem que esteja exatamente “escondendo” seu candidato à Presidência. Mas a verdade é que tampouco está fazendo questão de apresentá-lo.
Se você perguntar diretamente a Casagrande, ele não vai negar que apoia Lula, vai dizer que vota nele e tal… Se você perguntar a Casagrande.
Espontaneamente, o governador nem sequer traz o nome do ex-presidente à baila, em entrevistas e sabatinas. Até quando toca na questão do seu posicionamento na eleição para presidente, o faz só de modo tangencial, e o nome de Lula só fica implícito.
Exemplar foi sua fala a empresários capixabas, ao ser sabatinado no Hotel Senac Ilha do Boi, no fim de agosto. Casagrande disse que nunca foi político de dissimular nem de esconder suas posições de ninguém, que todo mundo sabe qual é o seu lado… mas não chegou nem sequer a tocar no nome de Lula. Disse, ainda, quase se justificando a uma plateia possivelmente não muito simpática ao PT, que sempre foi capaz de assumir suas posições pessoais sem gerar “desequilíbrio”.
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É aquela coisa que muita gente suspeitava antes da campanha: Casagrande “está com Lula”, mas mantendo aquela distância asséptica. Quer os votos dos petistas, mas não quer perder votos dos antipetistas abraçando por inteiro o famoso “sapo barbudo” – na expressão imortalizada por Leonel Brizola.
Rose também relutante
E a timidez da campanha de Lula no Espírito Santo não se limita a Casagrande. Na eleição ao Senado, incrivelmente, entre nove candidatos, quem faz a defesa mais enfática de Lula é o do Psol, Gilberto Campos. Mas a candidata oficialmente apoiada pelo PT é Rose de Freitas (MDB).
A emedebista até agora hesita em declarar apoio a Lula. Em alto e bom som não o fez, que alguém tenha ouvido. É verdade que fez alguns gestos, como declarar apoio a João Coser (PT) para deputado estadual e encampar, em seu discurso de campanha, a defesa da democracia – algo que, implicitamente, coloca-a em campo oposto ao de Jair Bolsonaro (PL). Mas parou aí.
Candidatos a deputado: timidez total
Na propaganda eleitoral de TV, os candidatos a deputado estadual e federal da Federação PT/PCdoB/PV pedem votos para si tendo ao fundo os nomes e números da chapa Casagrande/Ferraço para o governo estadual e da chapa Lula/Alckmin para a Presidência.
Já as inserções dos candidatos a deputado do PSB só trazem ao fundo os nomes e números da chapa Casagrande/Ferraço.
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Nas chapas proporcionais, o próprio PT carece de uma gama de nomes competitivos. O deputado federal Helder Salomão e a estadual Iriny Lopes, que tentam a reeleição, surgem em seus poucos segundos no rádio e na TV dizendo que pertencem ao “time do Lula” – estratégia replicada por candidatos petistas Brasil afora.
Já os pouquíssimos candidatos a deputado do Psol têm ao fundo o dizer “Psol com Lula”. E é isso.
Muito pouco para um candidato à Presidência que lidera pesquisas.
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