Coluna Vitor Vogas
PT abraça a estratégia de Casagrande de não abraçar Lula
Líderes do partido não apenas estão resignados como concordam que esse “desabraço” em Lula é uma estratégia necessária para Casagrande conseguir vencer a disputa estadual

Da esquerda para a direita: Casagrande, Iriny Lopes, Jack Rocha e Helder Salomão
Firme em sua resolução de “desnacionalizar” o 2º turno da eleição estadual contra Manato (PL), o governador Renato Casagrande (PSB) não está fazendo campanha para Lula (PT) nem pedindo votos para o ex-presidente contra Bolsonaro (PL). Com uma coligação no estilo “colcha de retalhos”, com partidos da esquerda à direita, tem apoiadores tanto lulistas como bolsonaristas.
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Ao contrário do que se poderia imaginar, os dirigentes e principais líderes do PT no Espírito Santo não estão nem um pouco frustrados com esse comportamento. Não só estão resignados como apoiam a decisão e concordam que esse “desabraço” em Lula é uma estratégia necessária para Casagrande conseguir vencer a disputa estadual – vitória que, se confirmada, será extensivamente do PT.
“Não só a direção do partido compreende essa estratégia do governador de não abraçar completamente a campanha do Lula, mas a própria base do partido e os movimentos sociais entendem que, para a gente ganhar a eleição e avançar no Espírito Santo, esse comportamento do Renato é a melhor estratégia”, afirma o ex-deputado estadual Genivaldo Lievore (PT), coordenador da campanha de Lula no Espírito Santo.
Os petistas, aliás, participaram da definição dessa tática desenhada para o 2º turno.
“Desde o 1º turno, as estratégias foram combinadas conosco. Aliás, desde que nós decidimos retirar os nossos pré-candidatos ao governo e ao Senado para fazer essa frente ampla no Espírito Santo. A direção estadual e nós da coordenação da campanha do Lula no Estado entendemos que essa é a melhor estratégia”, corrobora Lievore.
O raciocínio dos líderes petistas, assim como o de Casagrande e do PSB, parte de algumas premissas:
1) No Espírito Santo, Bolsonaro teve 52% dos votos válidos no 1º turno; matematicamente, se todos esses eleitores forem para Manato no 2º turno, a reeleição de Casagrande vai pro brejo;
2) Uma parcela importante dos 1.160.030 eleitores do Estado que votaram em Bolsonaro no 1º turno também votaram em Casagrande para governador, e é preciso reter esses votos;
3) Para isso, o governador não pode cair na armadilha ideológica armada pelo adversário, permitindo que o “Casagrande x Manato” vire um “Lula x Bolsonaro”;
4) Correspondendo a cerca de 2% do eleitorado brasileiro, o Espírito Santo é um colégio eleitoral com pouquíssima influência sobre o resultado final da eleição para presidente. Para o PT nacional e estadual, muito mais importante que uma improvável vitória de Lula sobre Bolsonaro no Espírito Santo é Casagrande garantir sua reeleição e, uma vez reeleito, ajudar Lula a governar o país (em caso de vitória do petista) ou seguir sendo um anteparo no Sudeste ao governo Bolsonaro (em caso de triunfo do atual presidente).
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Além disso, há um elemento prático: todos os 897.348 eleitores que votaram em Lula no 1º turno no Espírito Santo já podem ser considerados eleitores seguros de Casagrande (pode até ocorrer uma ou outra exceção, mas soa muito improvável e incoerente um voto Manula: Manato e Lula). Quem vota em Lula já deve votar mesmo em Casagrande.
Portanto, o governador não ganharia nem um voto a mais pedindo votos para Lula e fazendo campanha para o ex-presidente no 2º turno. Poderia, isto sim, perder votos de eleitores “Casanaro”. Fazendo isso, ele teria muito mais a perder que a ganhar. E os líderes petistas têm plena consciência disso.
A não vinda de Lula ao Espírito Santo, por exemplo, foi combinada por Casagrande com a coordenação estadual e nacional da campanha do petista desde o início, pois poderia comprometer sua estratégia, deixando-o em uma situação delicada que na certa seria explorada ao máximo pela campanha adversária. Ao contrário de Casagrande, Manato veio para o 2º turno apostando tudo em nacionalizar a eleição, casando sua campanha com a de Bolsonaro e buscando transformar o pleito estadual em uma disputa ideológica entre direita e esquerda.
“Tudo foi combinado diretamente com o Renato. E todas as ações aqui da nossa coordenação estadual estão combinadas com a coordenação nacional, inclusive a não vinda do Lula. Com certeza seria uma situação delicada para ele”, ratifica Lievore.
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“Na segunda-feira [3], primeiro dia após o 1º turno, nós nos sentamos com o governador e com a coordenação da campanha dele e definimos que essa é a melhor estratégia para o 2º turno. E conversamos sobre isso com quem pede voto. Não houve resistência da militância. Posso te afirmar que a nossa base está muito envolvida na campanha do Renato, quase como se ele fosse do PT, independentemente da nossa estratégia de ele não abraçar completamente o Lula”, ressalta o ex-deputado.
O malabarismo de Casagrande
E assim ficou combinado: neste desafio malabarístico de unir esquerda, centro e setores da direita em seu “Movimento 40”, Casagrande veste o boné de campanha conforme a atividade eleitoral. Ou, reformulando: o boné na sua cabeça é sempre o mesmo (o da própria campanha, com o seu número). Já os gritos dos apoiadores ao seu redor, às vezes ecoados por ele, variam bastante: ora são de “Lula”, ora são de “Bolsonaro” (e às vezes ele mesmo até vai no embalo…).
Dependendo da agenda de campanha, pode acontecer de, no mesmo dia, Casagrande participar de um evento cheio de petistas, pessebistas e outros aliados de esquerda, entre os quais só se ouvirão gritos de “Lula lá!”; e, logo em seguida, ver-se em meio a aliados à direita que são refratários ao PT e só gritam “Bolsonaro presidente!”.
Para dar um exemplo concreto, foi assim na última segunda-feira (24) à noite. Após conceder entrevista ao Estúdio 360, o governador participou de um comício com entidades ligadas a profissionais da educação, que lotaram seu comitê de campanha, em Vitória.
No palanque, das estrelas petistas, estavam Fabiano Contarato, Helder Salomão, Jack Rocha e Iriny Lopes, todos rodeando Casagrande, aos gritos de “Lula!”.
Encerrado esse evento, o governador reuniu-se com policiais militares… e aí já não se ouviu nada de “Lula!”.
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