Coluna Vitor Vogas
PSDB e Cidadania: quem a federação vai apoiar na eleição ao governo do ES?
Casamento forçado com tucanos cria dificuldades para partido de Gandini e Luciano: Cidadania quer repetir apoio a Casagrande, mas… e o PSDB de Vandinho?

Fabrício Gandini e Vandinho Leite. Fotos: Reprodução/Facebook e Tati Beling
Agora oficialmente sacramentada, a federação formada pelo PSDB com o Cidadania (antigo PPS) em âmbito nacional pode gerar, de saída, um grande problema no Espírito Santo para o partido do deputado estadual Fabrício Gandini e do ex-prefeito de Vitória Luciano Rezende.
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É que, no tabuleiro político estadual, o Cidadania é antigo parceiro do governador Renato Casagrande (PSB), faz parte do atual governo com lugar cativo no secretariado desde o início e pretende, naturalmente, reeditar o apoio a Casagrande na eleição deste ano, como afiança Gandini, presidente estadual da legenda.
Mas agora, com a federação, essa decisão não depende só da vontade do Cidadania. E o PSDB estadual – que chega para essa parceria como “sócio majoritário” – pode preferir puxar a federação para o palanque de outro candidato a governador.
“O interesse do Cidadania aqui é manter a aliança com Renato, mas agora temos o PSDB, então temos que ver quais são os interesses deles. Antes tínhamos mais autonomia. Agora é uma construção mais complexa”, ite Gandini.
O presidente estadual do PSDB, Vandinho Leite, tem externado sinais bastante ambíguos. Nos dois primeiros anos do atual mandato, o deputado estadual fez parte do bloco de oposição ao governo Casagrande na Assembleia Legislativa. Após a eleição a prefeito da Serra em novembro de 2020, na qual ficou em 3º lugar, Vandinho se reaproximou e se integrou à base do governo.
No último congresso estadual do PSB, realizado em Vitória no dia 27 de março, Vandinho disse de público (e na presença de Casagrande) que é “muito provável” a aliança do PSDB com o PSB no Espírito Santo, devido à “capacidade de articulação” de Renato Casagrande. Mas disse também que o PSDB-ES só aria a discutir a eleição majoritária a partir do dia 20 de abril. Desde então, o deputado não respondeu nem retornou as muitas tentativas de contato deste colunista.
Mas, no início de abril, no plenário da Assembleia, Vandinho usou a tribuna para manifestar insatisfação com a falta de ajuda do Palácio Anchieta na montagem das chapas de candidatos a deputado do PSDB.
E não custa lembrar que o presidente tucano mantém excelente relação política com o presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos), pré-candidato a governador em oposição a Casagrande.
A ligação de Vandinho com Erick e Pazolini
Desde os primórdios da atual legislatura, Vandinho foi um dos principais articuladores de Erick nos bastidores do plenário. Em janeiro de 2019, ele foi decisivo para levar o grupo de deputados recém-eleitos para o primeiro mandato a apoiar a primeira recondução de Erick à presidência da Casa.
A boa relação com Erick se estende para o principal aliado político do chefe do Legislativo estadual: o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini. Entre 2019 e 2020, Vandinho e Pazolini foram aliados na oposição a Casagrande em plenário.
Com outros parlamentares de oposição, os dois chegaram a participar, em junho de 2020, do episódio da inspeção a um hospital estadual na Serra então reservado para pacientes com Covid-19. O episódio foi tratado por eles como “visita técnica”, mas como “invasão” pelo governo Casagrande.
Pouco depois, na eleição municipal de 2020, Vandinho deu importante colaboração para a vitória de Pazolini na Capital. No 1º turno, bancou a candidatura da então vereadora Neuzinha de Oliveira, em detrimento de Luiz Paulo Vellozo Lucas. No 2º, levou o PSDB a apoiar formalmente o candidato do Republicanos contra João Coser (PT). Na mesma campanha, o puxador do bloco de Pazolini (literalmente), nos atos de rua, era Erick Musso.
Por essa conexão política tão forte nos últimos anos, não chegará a surpreender se Vandinho preterir Casagrande em favor de Erick Musso e procurar levar o PSDB para o palanque do republicano (considerando, é claro, que Erick vá mesmo até o fim com a sua candidatura). A questão é que, se assim fizer, o PSDB não seguirá sozinho: em tese, terá que arrastar junto o Cidadania de Gandini e Luciano, partido que agora é um irmão siamês.
Mas isso é tudo o que o Cidadania não quer.
A história do Cidadania com Casagrande
Se a relação de Vandinho com Erick e Pazolini é próxima, a de Luciano e Gandini com Casagrande não fica atrás. A parceria de Luciano com Casagrande remonta às eleições para prefeito da Capital em 2012 e em 2016. Em suas duas vitórias, Luciano pôde contar com o apoio do PSB (na primeira, Casagrande era o governador). Já Gandini chegou a ser o candidato a vice-governador de Casagrande na tentativa de reeleição do socialista em 2014, frustrada por Paulo Hartung.
Desde o início de seu segundo governo, Casagrande tem membros do Cidadania em seu 1º escalão. Antigo braço direito de Luciano na Prefeitura de Vitória e até antes disso, Lenise Loureiro foi secretária estadual de Gestão e Recursos Humanos e, posteriormente, secretária estadual de Turismo, até se desligar, no fim de março ado, para disputar a eleição a deputada estadual. Foi substituída na Setur por Fernando Rocha, também do Cidadania.
Chefe da Casa Civil desde o início do atual governo, Davi Diniz também era filiado ao Cidadania – só saiu porque isso não facilitava seu trabalho de articulação política – e é aliado histórico de Luciano, Lenise, Gandini… e de Casagrande.
No já citado congresso estadual do PSB em 27 de março, Gandini também se fez presente, em nome do Cidadania. Na sua vez de discursar, chamou a própria sigla e o PSDB de “partidos irmãos”, devido à federação.
Mas não se sabe ao certo ainda se, no Espírito Santo, esses dois irmãos serão daqueles que se amam e se entendem ou daqueles que só vivem às turras.
Articulações presidenciais são outro “porém”
Há outra possível pedra no caminho do Cidadania rumo ao palanque de Casagrande no Estado – mas essa pode vir rolando lá do Planalto Central.
O PSDB nacional tem candidato próprio à Presidência (João Doria). A priori, portanto, o ex-governador de São Paulo também é o candidato do Cidadania. Mas isso a princípio nem é um problema tão grande, pois a federação PSDB/Cidadania não tem candidato próprio ao governo do Espírito Santo.
A questão é que existe a possibilidade de essa federação se unir nacionalmente com o MDB de Simone Tebet e com o União Brasil de Luciano Bivar, para lançamento de um candidato único ao Planalto. Nesse caso, quais seriam os rebatimentos no Espírito Santo? A coisa muda um pouco de figura porque, aqui, o União Brasil tem candidato ao governo: o deputado federal Felipe Rigoni.
O alento para o Cidadania é que, nos últimos dias, Bivar tem dado sinais de que desistiu da ideia da candidatura única à Presidência, o que isola o União Brasil desse grupo.
Com a palavra, Gandini
Em face de tantas variáveis a dificultar o que em outro contexto seria algo tão natural – a permanência do Cidadania na coligação de Casagrande –, Gandini adota cautela no discurso. Indagado sobre o posicionamento do Cidadania na eleição majoritária no Estado, o dirigente responde assim:
“O Cidadania tem uma aliança longa com Renato [Casagrande], mas temos que aguardar um pouco esse processo nacional porque temos visto uma movimentação mais forte. No dia 17 de maio, vou conversar em Brasília com o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, para me atualizar sobre o que a direção nacional está pensando e se haverá rebatimentos nos estados. Temos uma proximidade natural com Renato, mas temos que ver se as construções nacionais terão influência no Espírito Santo. Se a decisão [sobre a eleição presidencial] fosse apenas do Cidadania, acho que dificilmente haveria uma construção que nos engessasse no Estado. Mas, como tem uma federação consolidada, tenho que compreender melhor se isso pode engessar a gente aqui.”
Quem vai “mandar” na federação?
E se o PSDB de Vandinho quiser uma coisa e o Cidadania, outra? Segundo Gandini, “a questão toda é como ficará a direção em cada estado”, mas ele diz ainda não saber como ficará a composição do órgão diretivo da federação no Espírito Santo. Afinal, quem será o cacique local?
“Nosso interesse é que haja uma construção mais consensual com o PSDB. Mas naturalmente, se houver divergências, terá que haver um meio de dirimi-las. Talvez vá para o processo da convenção”, afirma o presidente estadual do Cidadania.
Ele nega favoritismo ou preferência do PSDB para ocupar o comando da federação no Estado – não só por ter maior porte, mas também porque os tucanos ficarão com o comando nacional. “Não tem isso colocado, não. Nunca conversamos sobre isso. Acho até que a gente tem uma vantagem em relação às últimas eleições no Espírito Santo… Mas hoje não consigo te afirmar como vai ficar o controle da federação no Estado.”
Aliança informal?
Hipoteticamente, se o PSDB quiser apoiar um candidato que não Casagrande e essa decisão prevalecer na federação com o Cidadania, o partido de Gandini pode fazer uma aliança não oficial com o PSB no Espírito Santo? O deputado se diz contra a ideia:
“Não sou a favor disso, não. Vamos tentar chegar a um consenso com o PSDB, até porque Vandinho e eu estamos dialogando muito bem. Vamos trabalhar para, se fizermos aliança com alguém, que seja uma aliança de verdade.”
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