Presidente do PT-ES garante: “Rose é uma apoiadora de Lula”

Jackeline Rocha diz que Rose de Freitas apoia Lula

Após a convenção estadual da Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), realizada na noite desta quinta-feira (5) na Assembleia Legislativa, a presidente do PT no Espírito Santo, Jackeline Rocha, fez o que a própria senadora Rose de Freitas (MDB) até agora não fez publicamente: garantiu que Rose está apoiando o ex-presidente Lula (PT) na eleição para a Presidência da República.

Segundo Jackeline, a senadora assumiu esse compromisso diante do próprio Lula, em um jantar com o ex-presidente, em São Paulo (no dia 18 de julho). E o apoio do PT à reeleição Rose aqui segue orientação direta da direção nacional do partido.

“Ela é uma apoiadora de Lula desde o dia em que ela foi no jantar, inclusive. É lógico que, numa candidatura majoritária, ela também faz uma aliança de coalizão. Não cabe a nós do PT do Espírito Santo fazer patrulha ideológica a partir da coligação que ela forme.  O que a gente quer é o compromisso dela em apoiar o nosso candidato a presidente, porque a gente sabe que o Lula vai ajudar o Espírito Santo. Então a gente tem essa certeza de uma via de mão dupla, daquilo que a gente pode construir daqui para a frente”, afirmou Jackeline.

No dia 18 de julho, Rose participou de uma reunião com Lula e com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, na sede da Fundação Perseu Abramo, na capital paulista. Além de Rose, que é presidente do MDB no Espírito Santo, participaram líderes regionais do MDB em outros dez estados, incluindo os senadores Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga (AM). Este declarou então à imprensa que o MDB apoiaria Lula nos estados ali representados.

Questionada sobre o tema pela coluna no último dia 28, durante a convenção da federação PSDB/Cidadania, Rose respondeu que ainda não havia decidido se apoiará Lula ou a presidenciável de seu próprio partido, a também senadora Simone Tebet (MDB-MS).

Jackeline abriu o jogo, porém. Na convenção estadual da federação de esquerda, além de homologar suas candidaturas a deputado estadual e federal, PT, PCdoB e PV oficializaram o apoio ao governador Renato Casagrande (PSB), tendo Ricardo Ferraço (PSDB) como vice, na disputa pelo Palácio Anchieta, e o apoio a Rose de Freitas (MDB) na eleição ao Senado. Segundo a dirigente petista, essa aproximação com Rose se intensificou nos últimos 15 dias justamente a partir do compromisso assumido por ela em apoiar o retorno de Lula ao Palácio do Planalto:

“Ela fez esse compromisso no jantar com o próprio presidente Lula. Foi daí que surgiu essa aproximação conosco, porque isso foi determinante para o posicionamento da federação. Se não houvesse esse compromisso, a federação nacional não faria esse posicionamento”, declarou Jackeline.

Defesa enfática da democracia

No entanto, de acordo com a presidente estadual do PT, a aliança do partido com Rose vai além de um compromisso eleitoral. O PT espera que a senadora encampe a defesa da democracia em face dos ataques às instituições promovidos sistematicamente pelo presidente Bolsonaro (PL) e seu governo. Segundo Jackeline, Rose é “peça fundamental” nessa luta.

“A candidatura do ex-presidente Lula representa a democracia. Lula hoje tem um palanque amplo. Ele tem discutido com diversos setores, não só com setores da esquerda, mas também da centro-direita e até da direita, porque ele quer governar o Brasil. Ele quer virar essa página em que a gente se encontra. Então a senadora é uma peça fundamental, porque ela faz a defesa da democracia. Ela é uma política experimentada do estado do Espírito Santo. Ela tem o seu eleitorado. Sempre ajudou também os municípios. E o que está em jogo agora, nestas eleições, é justamente isso: é quem está do lado da democracia, quem está do lado de quem quer ver o Brasil para a frente, quem está do lado de quem quer estar nessa frente para ajudar o Brasil a sair da crise em que se encontra.”

No estilo “missão dada é missão cumprida”, Rose de fato tem vestido essa camisa. Nos discursos feitos por ela nas convenções das quais participou nos últimos dias, como a da federação PSDB/Cidadania de Ricardo Ferraço e a do PSB de Casagrande, chamou a atenção a maneira como a senadora se posicionou enfaticamente em defesa da democracia, inclusive ensaiando uma polarização com o adversário bolsonarista, Magno Malta (PL):

“Em qualquer idade, não espere que eu vá pra casa colocar um bom chinelo, uma boa música, quando estão em risco coisas valiosíssimas: democracia, liberdade, justiça social e emprego”, disse ela, no evento do PSDB e do Cidadania. Rose foi deputada constituinte em 1988 e, no mesmo discurso, lembrou sua participação na luta contra a ditadura militar.

PT sem suplentes

Conforme antecipamos aqui nesta quinta, o PT decidiu não indicar nenhum dos dois suplentes na chapa de Rose de Freitas. Segundo Jackeline, o apoio eleitoral do partido nunca esteve condicionado a isso, mas, reforçou ela, a uma construção nacional e ao compromisso de Rose com a eleição de Lula e com a defesa das bandeiras do campo democrático:

“Se a direção nacional do PT fez a movimentação de apontar o nome da senadora Rose de Freitas para o Senado é porque há uma conversa nacionalmente com o MDB nos estados que apoiam [o Lula]. Então nós vamos seguir a orientação nacional. É lógico que não foi colocado na mesa nenhum condicionante e nada de troca. O que a gente quer em troca é que o povo capixaba esteja dentro da política e seja prioridade, na saúde, na educação, no combate à fome, ao racismo e às violências, principalmente contra as mulheres. O que a gente quer é que a senadora seja uma pessoa que vocalize também essas bandeiras do nosso partido e combata essas desigualdades. E, principalmente, a defesa da democracia. Portanto, não estava no rol de negociações reivindicar espaço no Senado. É uma escolha dela.”

De todo modo, itiu Jackeline, foram apresentados a Rose os nomes dos ex-deputados petistas José Carlos Nunes e Genivaldo Lievore (este último, como ela confirmou, reforçado pelo prefeito de Colatina, Guerino Balestrassi). Mas, segundo ela, foram nomes “ventilados”. Não houve uma proposta oficial.

Crescimento do PT

No fim das contas, com a retirada de Fabiano Contarato da disputa pelo Palácio Anchieta e a decisão do partido de não lançar candidatura ao Senado, o PT acabou ficando sem representante nas eleições majoritárias no Espírito Santo e, nas urnas em outubro, não deverá experimentar um crescimento expressivo no Estado, à parte a provável eleição de mais deputados estaduais (hoje o partido só tem Iriny Lopes).

Perguntei a Jackeline sobre as perspectivas de crescimento do PT no Estado após o pleito, nos próximos anos, em caso de vitória dupla de Casagrande e de Lula, tendo em vista a composição do governo do socialista e as próximas eleições municipais, daqui a dois anos.

“Primeiro que, para ter composição de governo, a gente tem que ganhar eleição. A gente não considera que esta será uma eleição fácil”, respondeu a dirigente. Para ela, não é a ocupação de espaços em governos que faz um partido crescer.

“O que faz um partido crescer é a sua representação junto com sua base social. Então acredito muito que, mesmo não tendo candidatura majoritária no Espírito Santo, a gente terá o presidente da República. Então, tendo novamente o presidente da República, fortalecendo novamente os setores desses movimentos, sem dúvida alguma o PT vai crescer. E ele já está crescendo: nós somos hoje o maior partido aqui no Espírito Santo em número de filiações.”