“Porta-voz” de Casagrande dá o troco em Guerino: “Medíocre é a Prefeitura de Linhares”

Tyago Hoffmann rebateu críticas de Guerino

Fato: o período eleitoral já começou no Espírito Santo. Primeiro foi a acusação pública do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), aliado de Erick Musso (Republicanos), alegando fraudes em licitações realizadas pelo governo Casagrande (PSB). Depois foram as entrevistas concedidas à imprensa pelo ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD), que, falando à coluna, despejou um rio de críticas nada doces contra a istração do socialista: “Estado sem comando”, “equipe ruim demais” e “governo muito fraco, beirando a mediocridade”.

Agora, se ainda restava alguma dúvida de que as portas da campanha foram abertas, o economista Tyago Hoffmann (PSB), um dos principais aliados de Casagrande, paga as declarações de Guerino na mesma moeda e ainda deixa um troco: “Medíocre é a Prefeitura de Linhares”. Segundo Hoffmann, Guerino está “mentindo para a população”, usando “bravatas politiqueiras”, “fazendo promessas fáceis que caem na vala comum” e “palanque de forma baixa e barata”. “Mas a população já está vacinada contra isso.”

Do primeiro dia do mandato, em 2019, ao começo de 2021, Hoffmann foi secretário estadual de Governo. Depois assumiu o comando da turbinada Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico (Sectides). Pouco antes do último 2 de abril, desligou-se do cargo para ser candidato a deputado estadual pelo partido de Casagrande.

Na última sexta-feira (3), após termos publicado as declarações de Guerino, o ex-secretário entrou em contato conosco e, autorizado por Casagrande, rebateu item por item as críticas do ex-prefeito, com respostas prenhes de sarcasmo e de números positivos que desmontariam o argumento de que o governo é fraco e sua equipe, medíocre:

“Abriu-se a temporada dos salvadores da pátria, dos Midas, dos santos milagreiros, dos que vão revolucionar o mundo em três meses de mandato. […] Linhares é uma das cidades com a pior distribuição de renda do Espírito Santo. Não tem modelo nenhum para ser exportado para o resto do Estado. […] Mas, pelo jeito como ele fala, acho que Linhares deve ser Paris”, debochou o ex-secretário, escalado como porta-voz informal do governo. Ele não citou nenhuma vez o nome do governador.

Em sua entrevista à coluna, Guerino também opinou que Casagrande não tem competência para istrar “a empresa” que é o governo do Estado e nem sequer teve a habilidade de escolher gente capacitada para ajudá-lo. A exemplo de outros adversários eleitorais do governador, o ex-prefeito de Linhares assinalou a existência de um contraste entre as elevadas reservas financeiras do governo estadual e a ausência de políticas públicas ou deficiências nas já existentes, o que, segundo ele, tem se refletido inclusive no aumento da pobreza e da miséria entre os capixabas:

“Para que adianta esse dinheiro todo em caixa se nós temos 11% da população capixaba, ou seja, quase 500 mil pessoas na condição de extremamente pobres e pobres neste Estado? Isso é desumano. É inaceitável para um governo que está dormindo num colchão forrado de dinheiro, como o do Espírito Santo.”

O governo estadual tem feito superavit primário, isto é, tem arrecadado anualmente mais do que gasta. Ao lado de outros dois indicadores (solvência e liquidez), manter a despesa menor que a receita é o que leva a Secretaria do Tesouro Nacional a conferir ao Espírito Santo, desde 2012, a nota A em gestão fiscal, equivalente a um “selo de bom pagador” (entenda aqui). Entre outros pontos, isso permite ao governo estadual contrair empréstimos junto a bancos internacionais tendo a União como avalista para realizar investimentos.

“O Guerino se diz um prefeito empreendedor. Ele deveria ser o primeiro a defender a preservação da nota A. […] Ele está defendendo que o Estado tenha irresponsabilidade fiscal? Isso não vai acontecer. A sociedade capixaba não quer isso. Gostaria muito de vê-lo falar isso diante de um grupo de empresários”, retrucou Hoffmann.

Outro alvo de Guerino foram os cursos de capacitação profissional oferecidos pelo governo Casagrande (dentro do programa Qualificar-ES): “Precisamos trabalhar com urgência a área de qualificação profissional. Não é com cursinho de 12, 13, 16 horas, para secretário entregar diploma por este Estado afora em ano eleitoral. São cursos de 360 horas, como vamos fazer outra vez em Linhares”.

Esse último ponto atingiu em especial o calo de Hoffmann, pois o Qualificar ES é um programa desenvolvido e executado pela Sectides, pasta que ele chefiava: “São cursos de no mínimo 120 horas, como apregoa o MEC e seguindo a legislação da educação. […] O ex-prefeito não conhece a legislação e demonstra que nem sequer conhece o programa que está criticando. Aliás, ele não conhece o Estado! O ex-prefeito, para criticar, precisa dizer a verdade às pessoas.”

Leia abaixo na íntegra as “rebatidas” do casagrandista, subindo o sarrafo dessa luta político-eleitoral:

“Salvadores da pátria”

Minha primeira reflexão é que abriu-se a temporada dos salvadores da pátria, dos Midas, dos santos milagreiros, dos que vão revolucionar o mundo em três meses de mandato. Primeiro o cara fala que vai acabar com a pobreza. Depois fala que o governo que faz os investimentos que estamos fazendo é medíocre. Medíocre é a Prefeitura de Linhares! Linhares é uma das cidades com a pior distribuição de renda do Espírito Santo. Não tem modelo nenhum para ser exportado para o resto do Estado. A Prefeitura de Linhares tem que resolver os problemas de saúde e de educação que tem lá e não ficar jogando a culpa no governo do Estado, como é o caso do hospital HGL. Por politicagem, a prefeitura impediu o governo de estadualizar a gestão do HGL. Mas, pelo jeito como ele fala, acho que Linhares deve ser Paris. Resolveu todos os problemas.

“Política baixa”

Ouvindo o prefeito, parece que tudo o que é feito é errado. E que tudo ele vai resolver em um ano. Como se acabar com a pobreza, por exemplo, dependesse única e exclusivamente da decisão de um governo e não de um investimento continuado em educação, infraestrutura e políticas sociais. Parece que tudo vai ser resolvido num e de mágica. Isso é mentir para a população. Mas a população já está vacinada contra isso. Esse tipo de promessa fácil cai na vala comum, e é isso que, infelizmente, faz com que as pessoas se afastem da política: pessoas que fazem palanque de forma baixa, barata, com política de baixa qualidade. É claro que muita coisa pode ser melhor e está por ser feita, mas ninguém faz tudo em um mandato de quatro anos. O Brasil é um país muito desigual, assim como o Espírito Santo é um estado muito desigual. São problemas tão complexos que remontam à nossa colonização. Mas eles não vão se resolver com bravatas e santos milagreiros e sim com a continuidade de políticas públicas, seriedade no trato de recursos públicos e cuidado com a gestão.

Nota A: colchão

Isso é muito politiqueiro. O Guerino se diz um prefeito empreendedor. Ele deveria ser o primeiro a defender a preservação da nota A e o Fundo Soberano, porque é essa boa gestão que se faz aqui há praticamente 20 anos o que nos permite atrair investimentos no Brasil inteiro. E essa é a melhor propaganda que o Espírito Santo pode ter entre empresários e investidores. É o que faz o [ex-presidente do Banco Central] Armínio Fraga dizer, numa live com o Ciro Gomes, que o Espírito Santo é outro país quando se atravessa a divisa do Rio de Janeiro para cá. Somos nota A desde 2012. Isso é um valor que não pode ser perdido porque é isso que permite a atração de investimentos e a geração de emprego e renda. Agora, o que sempre repetimos é que a nota A não pode ser um fim em si mesma. Deve ser um motivo de orgulho dos capixabas que permita ao Estado prestar serviços de qualidade e fazer investimentos relevantes. Ele está defendendo que o Estado tenha irresponsabilidade fiscal? Isso não vai acontecer. A sociedade capixaba não quer isso. Gostaria muito de ver o prefeito Guerino ir diante de um grupo de empresários falar isso.

Números da economia

Não tem nenhum retardado fazendo política pública no governo. Essa “equipe fraca” que ele fala é a que está fazendo o maior conjunto de entregas da história do Espírito Santo. Quero frisar: o atual governo do Espírito Santo fez os maiores investimentos que o Estado já viu em todas as áreas. Mesmo numa crise como a da pandemia, esse “governo fraco” mantém sua nota A em gestão fiscal, dada pelo Tesouro Nacional, fazendo os maiores investimentos da história do Estado. Esse “governo medíocre” consegue obter excesso de arrecadação ano após ano. Esse mesmo “governo medíocre” a que o ex-prefeito se refere é o criou o único Fundo Soberano de um ente subnacional em toda a América Latina. O Estado do “governo incompetente” é o Estado que no ano ado gerou um saldo de 50 mil novos postos de trabalho, em plena pandemia, e que este ano já apresenta um crescimento mais de duas vezes acima da média do PIB brasileiro. Esse é o “Estado incompetente”.

Números sociais

Na educação, essa “equipe medíocre” fez rees para os municípios que totalizam mais de R$ 500 milhões só no último edital do Funpaes [Fundo Estadual de Apoio à Ampliação e Melhoria das Condições de Oferta da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, criado pelo atual governo e regulamentado em 2021]. Na saúde, graças ao trabalho dessa “equipe medíocre”, amos de cerca de 600 leitos permanentes de UTI antes da pandemia para mais de 1,2 mil hoje na rede hospitalar estadual. No auge da pandemia, chegamos a ter mais de 2 mil leitos de UTI, contando os que adquirimos temporariamente junto aos hospitais particulares. No saneamento básico, já investimos mais de R$ 1 bilhão em macrodrenagem. Na segurança, estamos longe de estar bem, mas estes últimos quatro anos são os quatro melhores anos da série histórica de redução de homicídios, a partir do trabalho desse “governo medíocre”. Esse “Estado medíocre” é também o mais transparente do Brasil segundo todos os organismos que você pensar, da Transparência Brasil à Transparência Internacional. Esse Estado medíocre está fazendo um programa de qualificação profissional que, só este ano, abrirá cerca de 200 mil vagas.

Qualificar ES

São cursos de, no mínimo, 120 horas. De 120 a 240 horas. E duram dois meses e meio. Não têm nenhuma conotação política. São considerados cursos de formação continuada. O MEC apregoa esse tipo de curso, e seguimos a legislação da educação. O ex-prefeito não conhece a legislação e demonstra que nem sequer conhece o programa que está criticando. Aliás, ele não conhece o Estado! O ex-prefeito, para criticar, precisa dizer a verdade às pessoas. O Qualificar ES não é um programa eleitoreiro. É um programa que tem mudado a realidade de muitas pessoas. Chegaremos ao fim do atual mandato com aproximadamente 500 mil pessoas tendo feito uma formação única. E vamos chegar a 1 milhão de inscrições. Como o ex-prefeito Guerino desconhece o programa, ele fala que são cursinhos que não servem para. Eu acho que as pessoas que fazem os cursos vão adorar ouvir que ele acha que são horríveis. Tem cursos de operadores de caixa, cuidadores de idosos, confeiteiros, panificadores, gamificação, inglês, Libras para professores. Os que são voltados para os de professores são na escola estadual Vasco Coutinho. Tem mestres e doutores fazendo esses cursos. Inclusive, o certificado do Qualificar ES vale pontuação em concursos públicos de qualquer prefeitura e do governo do Estado também. Muita gente que trabalha na prefeitura dele pontuou por ter feito o curso.