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Coluna Vitor Vogas

Por que Ricardo Ferraço não aparece na propaganda eleitoral de Casagrande?

E, afinal, qual é o papel que o candidato a vice-governador está cumprindo na campanha do atual chefe do Executivo? É o que a coluna responde nesta análise

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Não é por falta de tempo. O governador Renato Casagrande (PSB) tem mais de 6 minutos a cada bloco de 10 no horário eleitoral gratuito. Até agora, porém, a uma semana do fim da exibição do horário eleitoral, seu candidato a vice-governador, Ricardo Ferraço (PSDB), só apareceu de uma maneira na propaganda de rádio e TV: com seu nome em letras miúdas logo abaixo do nome de Casagrande, no logotipo da chapa, cumprindo uma obrigação legal. Isso afora algumas aparições “incidentais”, em imagens da convenção do PSB em que Ricardo ficou no palanque ao lado de Casagrande.

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Devidamente apresentado ao grande público por Casagrande como seu candidato a vice, Ricardo até agora não foi. Tampouco deu qualquer declaração aos capixabas nessa condição – sempre tomando como referência o horário eleitoral gratuito. Enquanto Ricardo nem sequer aparece na propaganda do atual governador, outros candidatos fazem questão de exibir os seus.

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Alguns programas de Audifax (Rede) já foram inteiramente protagonizados pela Tenente Andresa (para falar, por exemplo, da criação de uma Secretaria da Mulher). Num programa de Guerino (PSD), o candidato falou de Linhares, enquanto seu vice, Marcus Magalhães, falou de Cachoeiro, para tratarem de desenvolvimento regional com equidade para o norte e o sul do Estado.

A constatação sobre Ricardo é tão inevitável quanto a pergunta que a acompanha: por que ele não está sendo mostrado na propaganda eleitoral de Casagrande?

Fomos atrás de respostas, ouvindo vários membros do PSB, do staff de Casagrande no Palácio Anchieta e no núcleo estratégico da sua campanha à reeleição. E as respostas, todas na mesma direção, enfatizam dois pontos:

1) Protagonismo para Casagrande

Não há propriamente um plano deliberado de “esconder” Ricardo no rádio e na TV, mas uma estratégia concentrada em dar todo o protagonismo a Casagrande. Afinal, ele está bem avaliado em pesquisas e é nele que as pessoas vão votar (ainda que, por extensão, também votem em Ricardo como vice).

“Tirando algumas peças de campanha em que há uma obrigação legal, é bem normal que o vice tenha pouco destaque na propaganda de um candidato ao Executivo”, atenua um dos estrategistas da campanha de Casagrande.

O mesmo estrategista enfatiza que, do ponto de vista do discurso da campanha, Ricardo está ajudando muito, por ser um político de perfil diferente ao do governador. “Nesse aspecto, ele fortalece o posicionamento da nossa campanha, de que o governador convive bem com todos e respeita a diversidade. Ricardo agrega muito nesse sentido, dando maior amplitude à campanha.”

Até o fim da exibição do horário eleitoral, não está prevista nenhuma aparição de Ricardo.

2) Agendas intensas e complementares

Ricardo pode até não estar figurando no horário eleitoral, mas isso não quer dizer que esteja ausente ou escanteado na campanha. Ao contrário, todas as fontes ouvidas afirmam que ele tem cumprido, de maneira intensa e disciplinada, um papel fundamental na estratégia do Palácio Anchieta: percorrer o Estado inteiro, especialmente o interior, representando a chapa oficial, pedindo votos para ele e Casagrande e chegando exatamente aonde o governador não consegue estar, em uma campanha de tiro curto em que não há um segundo a perder.

Em atividades de rua, de contato direto com eleitores, Ricardo e Casagrande só foram vistos juntos uma vez até agora. Foi na última quarta-feira (21), no reduto eleitoral de Ricardo e do pai dele, Theodorico Ferraço (PP), candidato à reeleição na Assembleia dentro da coligação de Casagrande.

Pelas ruas de Cachoeiro, os candidatos a governador e a vice pediram votos lado a lado. Fora essa exceção, Ricardo só participa com Casagrande de encontros fechados de cunho político, como reuniões com prefeitos para firmar aliança com eles e com Rose de Freitas (MDB), candidata ao Senado pela mesma coligação.

Essa escassez de “agendas em comum” poderia reforçar aquela tese acerca de uma estratégia para se evitar ao máximo associar a imagem de Ricardo à de Casagrande. À unanimidade, as fontes ouvidas pela coluna desmentem essa teoria. As agendas, na verdade, são paralelas e complementares.

Assim como Casagrande, Ricardo recebe uma agenda própria de compromissos diários de campanha a cumprir, não coincidente com a de Casagrande. As duas agendas saem do Palácio Anchieta, das mãos da mesma equipe, e são feitas assim de propósito, de modo que os dois possam estar sempre em lugares diferentes no mesmo dia, alcançando assim mais eleitores. É o bom e velho dividir esforços para somar forças, dando à campanha maior amplitude.

“Ricardo literalmente complementa o governador. Onde o governador não está, ele está. Ele é disciplinado e cumpre todas as agendas. Quando a gente entende que é importante, como em Cachoeiro, a gente juntou os dois lá”, conta um dos responsáveis pela montagem da programação.

“O Ricardo tem apagado alguns incêndios, tem ido aonde Renato não consegue ir, no norte e principalmente no sul. Na ausência de Renato, ele tem feito algumas atividades ao lado de Rose e com os candidatos a deputado federal da nossa coligação, ajudando na nossa relação com eles, porque são muitos e o Renato não pode estar com todos”, relata um colaborador da campanha.

“A quilometragem do Ricardo está maior que a do governador”, brinca outro auxiliar de Casagrande. “A campanha é curta, então o Ricardo sempre vai para onde o Renato não pode ir, ou seja, normalmente vai pro lado oposto do governador. Estamos mobilizando pro Ricardo a mesma estrutura que mobilizamos pro governador, inclusive de pessoal para bandeiraço e panfletagem. Ricardo vai e as pessoas vão junto.”

A título de exemplo, nesta quinta (22) Casagrande ou o dia em atividades em Vitória e na Serra (ele tem feito muitos encontros com donos e funcionários de empresas, para pedir votos), enquanto Ricardo rodou por Itarana, Itaguaçu e Santa Teresa.

Nesta sexta (23), o governador irá para Colatina, enquanto Ricardo seguirá para Domingos Martins e Marechal Floriano. Amanhã (24), Casagrande ficará na Grande Vitória, enquanto seu candidato a vice seguirá para Guarapari.

Com a palavra, o coordenador

Perguntamos ao coordenador da campanha da chapa Renato/Ricardo, Vitor de Angelo, sobre a ausência do segundo na propaganda massiva de rádio e TV e sobre o papel reservado ao candidato a vice na campanha. Ele respondeu:

“A campanha não é só a propaganda de rádio e TV. Aparecer mais ou menos não deveria ser, na minha visão, um critério para chegarmos a alguma conclusão sobre a importância dele ou não. Na articulação política, por exemplo, Ricardo tem tido um papel muito importe e ativo, até pela sua estatura política. Ele tem promovido e coordenado uma agenda complementar à do governador. E o governador, por mais que rode bastante, está no exercício do cargo. Não está com a agenda completamente livre para se dedicar à campanha.”

Conclusão: o que Ricardo realmente agrega?

Desde antes de ser escolhido oficialmente por Casagrande como companheiro de chapa, sabia-se que Ricardo não seria o candidato a vice para agregar votos, mas sim outros ativos.

O ex-senador entrou na chapa para agregar o PSDB, a simpatia do setor empresarial, uma melhor interlocução com tal setor e um equilíbrio ideológico de centro – já que ele mesmo é de centro-direita, enquanto Casagrande habita a centro-esquerda.

Uma das fontes da coluna amarra:

“Ricardo não está sendo necessário para fazer votos. Está aqui para equilibrar a relação política e a concertação que Renato fez entre o governo dele e o mundo empresarial. Renato não é um político com perfil muito próximo do andar de cima do Espírito Santo. Trazendo Ricardo para o lado dele, Renato fez um aceno para o setor produtivo: ‘Ele estará aqui para conduzir a conversa com vocês’. Como vice-governador, Ricardo terá um papel fundamental no próximo governo: o de fazer a interlocução com o setor produtivo e com futuros negócios do Espírito Santo.”

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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