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Coluna Vitor Vogas

Por que a escolha do vice de Casagrande é ainda mais importante desta vez?

A chave dessa questão está na resposta para outra pergunta: se for reeleito, Casagrande acaso completará o seu próximo mandato? É o que analisamos nesta coluna

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Renato Casagrande, Ricardo Ferraço e Marcus Vicente. Foto-montagem

 

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Em toda eleição majoritária, a vaga de candidato(a) a vice numa chapa competitiva é sempre muito cobiçada porque gera expectativa de poder: como primeiro na linha sucessória, o vice está sempre a um o de assumir o governo no lugar do titular (vide Itamar, Michel Temer e outros tantos exemplos familiares para nós). Mas a posição de vice de Renato Casagrande (PSB) é especialmente ambicionada neste ano porque vem com um atrativo adicional: em caso de vitória do socialista nas urnas em outubro, seu companheiro de chapa poderá efetivamente se tornar governador já em 2026.

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Se Casagrande se reeleger, terá a estadia no Palácio Anchieta estendida até 2026, mas seu eventual segundo governo não deve significar o fim de sua carreira política. A pergunta que se deve fazer – e que os interessados nessa vaga com certeza estão se fazendo – é: se conseguir renovar seu mandato por mais quatro anos, o que o governador fará em 2026? Muita gente, até no PSB de Casagrande, tem a resposta na ponta da língua: a aposta é que ele deixará o governo para se candidatar a senador e seguir o “curso natural” de sua trajetória política.

“O governador levará toda a sua experiência para a Câmara Alta do Parlamento, em 2026, podendo de lá encerrar a profícua carreira”, carimba, sem titubear, um experiente colaborador e correligionário de Casagrande.

Para isso, ele terá que renunciar ao cargo de governador em abril de 2026 – seis meses antes do 1º turno da eleição daquele ano, se a legislação não for alterada até lá. E assim o vice dele, seja quem for, se tornará governador por cerca de nove meses e poderá disputar a reeleição, em outubro de 2026, ocupando o cargo. Frise-se: ocupando o cargo, o que faz uma enorme diferença em termos eleitorais, pois terá nas mãos a máquina pública estadual.

É, para citar um exemplo, o que fez João Doria (PSDB) no último dia 31 de março: para concorrer à Presidência da República, anunciou sua renúncia ao cargo de governador de São Paulo em favor de seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB). Este assumiu o governo e agora vai disputar a reeleição no maior colégio eleitoral do país.

Desse modo, ao escolher seu vice agora (tem até 15 de agosto para fazê-lo), Casagrande pode estar na verdade escolhendo mais que um vice, mas um potencial sucessor no governo a partir de abril de 2026 e pelo quadriênio seguinte (2027-2030).

Por isso, nos bastidores, não faltam políticos interessados na vaga ou lembrados por aliados para ocupá-la na chapa a ser liderada por Casagrande. Entre eles, o ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB), o ex-deputado federal Marcus Vicente (PP) e até o ex-prefeito de Vitória João Coser (PT).

E, se desperta cobiça ainda maior por parte de aliados, essa projeção também aumenta o grau de responsabilidade do próprio Casagrande na escolha do seu parceiro de chapa. Dentro do próprio PSB, há quem opine que ele “não poderá repetir uma Jaqueline Moraes”, em referência à atual vice-governadora.

A fala vai no sentido de que, dessa vez, Casagrande não poderá arriscar, inovar ou surpreender, como fez em 2018. Não se trata de discutir capacidade, mas experiência em cargos eletivos e, principalmente, no Poder Executivo.

Além de toda a importância simbólica da chegada de uma mulher negra ao cargo de vice-governadora – de fato é preciso que mais mulheres, sobretudo negras, ocupem posições de poder –, Jaqueline tem se posicionado bem em pautas relacionadas à representatividade feminina na política, por exemplo.

Mas não é segredo para ninguém que falta à vice-governadora quilometragem em matéria de gestão pública e que sua única experiência em cargo eletivo antes de galgar diretamente ao Palácio da Fonte Grande havia sido um mandato de vereadora em Cariacica, o que alimenta, desde o início do governo, uma preocupação latente: se Casagrande por algum motivo precisasse abandonar o cargo, a nova governadora do Espírito Santo seria alguém com pouquíssima experiência em funções públicas. Na prática, uma grande incógnita.

Mas Jaqueline é pré-candidata a deputada federal pelo PSB, então a repetição da dobradinha está fora de questão. Aliás, o próprio Casagrande já descartou a repetição de uma chapa com um companheiro ou companheira do PSB… o que nos leva à análise dos nomes mais cotados no momento, por “ordem de favoritismo”:

Ricardo Ferraço

Sempre lembrado em conversas de bastidores como favorito para ladear Casagrande na chapa majoritária, o ex-senador voltou a se filiar, em março, ao PSDB, partido que ainda não decidiu quem apoiará na eleição a governador. Em congresso estadual do PSB no dia 27 de março, o presidente estadual do PSDB, Vandinho Leite, declarou de público que é “muito provável” uma aliança do PSDB com o PSB no Espírito Santo.

E o próprio Ricardo, fortemente aliado a Casagrande, deve ajudar a empurrar o partido para essa direção. Sobre eleição, no entanto, o ex-senador mantém seu silêncio sepulcral.

Ricardo foi vice-governador de Paulo Hartung de 2007 a 2010. Se virar vice de Casagrande, dará à chapa do atual governador um matiz de centro-direita (bom lembrar que estava no DEM até a fusão com o PSL e, até março, no União Brasil).

Marcus Vicente

A princípio, o presidente estadual do PP e ex-presidente da Federação de Futebol do Espírito Santo é pré-candidato a deputado federal. Mas também é citado como possível vice de Casagrande, inclusive pelo seu braço direito no comando do PP, Marcos Delmaestro. Em entrevista à coluna, o vice-presidente do PP no Espírito Santo itiu que o partido quer lugar na chapa majoritária de Casagrande. Para o Senado, o nome é o do deputado federal Josias da Vitória. Para a Vice-Governadoria, Delmaestro cita Marcus Vicente e também Da Vitória.

O PP é um dos mais antigos e leais aliados de Casagrande no Espírito Santo. Esteve com ele nas eleições de 2014 e foi um dos primeiros a apoiar sua volta ao Palácio Anchieta, em 2018. Marcus Vicente foi secretario estadual de Desenvolvimento Urbano até o fim de março. Seu eventual ingresso na chapa de Casagrande também daria a esta um quê de centro-direita: histórico integrante do Centrão no Congresso Nacional, o partido hoje está na base de Bolsonaro e apoia a reeleição do presidente da República.

João Coser

Aliados do ex-prefeito de Vitória dentro do PT confirmam que o nome dele chegou a ser ventilado internamente numa composição como vice de Casagrande. Isso, é claro, pressuporia uma união de forças do PSB com o PT no Espírito Santo que nunca se mostrou tão improvável como neste momento, após entrevistas recentes da presidente estadual do PT, Jackeline Rocha.

Aliás, em diálogo com esta coluna, Jackeline afirmou que não há no PT conversa alguma envolvendo o nome de João Coser como possível vice de Casagrande. “Não só o nome do João, mas nenhum outro nome.”

Uma hipotética parceria com Coser na chapa majoritária representaria uma guinada eleitoral para a esquerda que é tudo o que o próprio Casagrande parece querer evitar nesta eleição, a julgar pela fartura de sinais fornecidos por ele mesmo.

Ele não vai itir jamais

Casagrande não vai itir jamais que pode renunciar ao governo em 2026 para concorrer ao Senado. A esta altura, é impossível extrair dele até a simples issão de que será candidato à reeleição neste ano, que dirá uma declaração sobre seus planos eleitorais em 2026…

Só lembrando…

Casagrande já foi senador, de 2007 a 2010. E, em 2026, haverá duas vagas em disputa para cada unidade federativa.

Jaqueline não foi plano A

Em entrevista a este espaço, publicada em 14 de março, Casagrande itiu publicamente algo que todo o mundo sabe: que Jaqueline Moraes foi escolhida por ele como candidata a vice, literalmente, no último minuto para registro das chapas em 2018, pois a sua primeira escolha, Lenise Loureiro (Cidadania), não pôde ser escalada devido a uma grita de aliados (incluindo Marcus Vicente).

Lenise era candidata a deputada federal na chapa que tinha o PP e o Cidadania. Se fosse remanejada para ser a vice de Casagrande, “desarrumaria a chapa”, o que levou Vicente e outros a meterem o pé na porta.

“Foi uma conjuntura específica. Foi um momento específico que levou a Jaqueline a ser vice… Foi uma avaliação nos últimos dias, que se consolidou na última hora. Nos últimos minutos, na verdade”, itiu Casagrande à coluna, para em seguida elogiar Jaqueline: “É uma excelente companheira e está colaborando muito no governo”.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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