Coluna Vitor Vogas
Paulo Hartung só entra no PSD para disputar a Presidência ou ser vice
Concorrer ao Senado não está nos planos de PH. E, se Eduardo Leite não se filiar ao PSD, capixaba deve se tornar o plano A de Kassab na disputa presidencial

O ex governador do Espírito Santo, Paulo Hartung. Foto: Chico Guedes
Paulo Hartung tem dito a interlocutores: só se filiará ao Partido Social Democrático (PSD) se for para participar de um projeto de alcance nacional. Ou seja, se for para ser candidato a vice-presidente ou até à Presidência da República pelo partido de Gilberto Kassab.
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O ex-governador entende que o seu ciclo político no Espírito Santo está encerrado – desde que concluiu seu terceiro e último governo, em 2018. Por esse raciocínio, uma candidatura de Hartung ao Senado, muito especulada nos bastidores, é uma hipótese que o próprio ex-governador desconsidera de plano (pelo menos neste momento).
Segundo as informações que chegam à coluna, Hartung não tem interesse em voltar a disputar os votos dos capixabas em uma eleição circunscrita ao Espírito Santo, para voltar a representar o Estado no Senado, onde já esteve por quatro anos, de 1999 a 2002, antes de chegar ao Palácio Anchieta. Agora prefere disputar os votos dos brasileiros, após oito eleições sem nenhuma derrota sofrida no Espírito Santo.
Hartung está sem partido desde o fim de 2018. Pouco antes de encerrar seu último governo, desfiliou-se do MDB. Para se habilitar a concorrer a qualquer mandato eletivo em outubro, ele precisa estar filiado a um partido até o dia 2 de abril (seis meses antes do 1º turno), conforme determina a legislação eleitoral.
A possibilidade de Hartung vir a figurar em uma chapa majoritária, pelo PSD, inclusive como candidato à Presidência, não se insere no plano das quimeras. Na verdade, tem se tornado cada vez mais real nos últimos dias.
Como já amplamente noticiado pela imprensa local e nacional, Hartung tem mantido diálogo estreito com o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, que deseja vê-lo filiado à sigla para tê-lo como carta na manga. Mas Kassab pode realmente precisar lançar mão dessa carta. Tudo vai depender da resposta do governador Eduardo Leite, indeciso quanto a ficar no PSDB e terminar o atual mandato no governo do Rio Grande do Sul ou migrar para o PSD, a convite de Kassab, para concorrer à Presidência da República.
Como chegamos aqui?
Na fila de “presidenciáveis” do PSD, o ex-governador do Espírito Santo entrou nesse processo como “plano C de Kassab”. Mas já ou à condição de plano B. E, dependendo da decisão de Leite, pode estar em vias de ser promovido a plano A do partido.
No início de fevereiro – quando se intensificaram as conversas com Kassab –, estavam na frente de Hartung, por ordem de preferência: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o já citado Eduardo Leite, descontente no PSDB após ter perdido as prévias do partido para o governador de São Paulo, João Doria, no fim do ano ado.
Com o anúncio da desistência de Pacheco, em 09 de março, Kassab ou a apostar todas as fichas na filiação e no lançamento do governador do Rio Grande do Sul à Presidência. Até poucos dias atrás, Leite parecia inclinado a aceitar o convite de Kassab. Nos últimos dias, porém, o tucano ou a dar sinais de que estaria dividido. E hoje pode estar mais pendente a ficar no PSDB. Se isso acontecer, abre-se uma avenida para a candidatura de Hartung à Presidência.
Reportagem publicada nesta terça-feira (22) pelo jornal Valor Econômico informa que “apelos do PSDB e temor de isolamento balançam ida de Leite para o PSD”. Ele tem recebido apelos públicos e ostensivos de importantes líderes tucanos para não trocar de legenda. A mobilização do tucanato incluiu uma carta assinada por lideranças tucanas, incluindo o presidente do partido em São Paulo, clamando pela permanência dele.
Na mesma reportagem, até João Doria engrossa o coro do “Fica, Leite”. A mobilização teria balançado o governador gaúcho. Outro motivo pelo qual Leite já não estaria tão convicto em migrar para o PSD é o temor de isolamento no partido, hoje carente de alianças e do respaldo de outras agremiações para a disputa nacional.
O flerte com Kassab
Em início de namoro público, Hartung ou a ser citado por Kassab como possível candidato a presidente pelo PSD em uma entrevista ao programa “Em foco”, da GloboNews, no dia 02 de fevereiro. Na ocasião, ele disse o seguinte à jornalista Andréia Sadi: “Teriam outros bons quadros, não fosse a candidatura do Pacheco, que poderíamos apoiar; são sempre lembrados dentro do partido. Tem o Eduardo Leite, que não deixa de ser um grande quadro… o nome do Paulo Hartung”.
“O nome do Paulo Hartung” não surgiu do nada na mente de Kassab. Antes do aceno na entrevista, de acordo com reportagem da Veja publicada em 03 de fevereiro, Hartung fez chegar a Kassab o recado de que toparia ser presidenciável pelo PSD. O emissário foi o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, comandante do partido no estado que liga o Espírito Santo a São Paulo. Segundo a Veja, PH e Paes almoçaram juntos no Rio.
“Kassab captou o aceno e o transformou em demonstração pública de abertura”, publicou a Veja. Na semana seguinte, os dois se encontraram para tratar da possibilidade. Depois desse encontro, o Valor Econômico publicou: “Kassab traz Hartung para o PSD para ser o presidenciável ‘plano C’: ex-governador do Espírito Santo poderia disputar se Pacheco desistir e projeto Leite não vingar”.
Pacheco já desistiu. Quanto a Leite…
Já na última quarta-feira (16), a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, informou que, caso Leite não mude de partido, o PSD deve lançar outro nome à sucessão de Jair Bolsonaro. “Segundo Kassab tem dito a interlocutores, a pré-candidatura do ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung voltaria então à mesa. Ou seja, o PSD terá candidato a presidente de qualquer maneira”. Esse “retorno à mesa” pode estar prestes a acontecer.
Vice-Presidência
Hartung só se filiará ao PSD para ser candidato a presidente ou (frise-se) a vice-presidente da República. Neste último caso, se Leite não entrar no PSD e Kassab desistir de lançar candidato à Presidência, PH poderia ser o nome trabalhado pelo PSD para composição como vice em outra chapa. Mas, se Leite entrar no PSD para ser o candidato à Presidência, Hartung poderia entrar na sigla para ser seu vice em uma chapa puro-sangue. Neste caso, porém, o partido iria para a disputa presidencial em situação de total isolamento.
Apoio a Lula
Kassab tem dito que, no 2º turno, o PSD apoiará o ex-presidente Lula.
Digitais na eleição local
Enquanto segue se concentrando nas articulações nacionais, Hartung também tem incentivado o lançamento de pré-candidaturas ao governo do Espírito Santo (contra Renato Casagrande). A mais notória delas é a do delegado federal Eugênio Ricas, que quer entrar no PSD para concorrer a governador. No último governo Paulo Hartung, Ricas foi secretário estadual de Justiça e também de Controle e Transparência. Em 2018, chegou a ser incentivado por Hartung para disputar sua sucessão, mas não topou.
“Decisão pessoal”
Hartung de fato é o maior incentivador de Ricas, mas tem feito chegar a interlocutores que a decisão sobre candidatura é pessoal: cabe ao delegado definir se entrará ou não nesse páreo.
Outros nomes
Hartung também tem incentivado outros agentes políticos com quem é bem relacionado e que também trabalham para viabilizar candidatura ao Palácio Anchieta. Entre eles, Guerino Zanon (MDB), Audifax Barcelos (Rede) e César Colnago (PSDB).
Zé Carlinhos
Falando em boas relações, o aliado forte de Hartung no PSD estadual é José Carlos da Fonseca Junior. Zé Carlinhos, como é mais conhecido, foi chefe da Casa Civil de Hartung no seu último governo (2015-2018). O atual presidente estadual do PSD é o deputado federal Neucimar Fraga… talvez não por muito tempo.
Por onde anda?
Desde 2019, Hartung é presidente executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), cuja sede fica na cidade de São Paulo. É ali que ele a a maior parte do tempo, voltando a Vitória nos fins de semana. Também atua como conselheiro do RenovaBR e do Agora, movimentos cívicos voltados para a formação de novos líderes políticos.
Com Huck, não deu certo
Falando em renovação, vale lembrar que, entre 2017 e 2018, Hartung foi um dos grandes incentivadores e fiadores políticos da natimorta candidatura do apresentador Luciano Huck à Presidência. À época, PH chegou a ser especulado como vice numa chapa liderada pelo apresentador. Um dos fundadores do RenovaBR, Huck acabou desistindo da ideia. E Hartung precisou esperar mais um ciclo de quatro anos para ver outro cavalo ar encilhado na sua frente.
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