Coluna Vitor Vogas
O terceiro mandato de Casagrande: “novo governo”… mas nem tanto
Coluna analisa detalhadamente o desenho final do secretariado com que o governador inicia sua terceira agem pelo Palácio Anchieta. Entre muitas permanências, uma pequena inversão de posições e o retorno de alguns velhos auxiliares, houve pouquíssimas mudanças reais e só uma grande surpresa

Foto oficial do secretariado escalado para o início do terceiro governo de Renato Casagrande. Foto: Hélio Filho/Secom
Foi um mantra repetido à saciedade por Renato Casagrande durante o 2º turno da eleição ao governo estadual: se ele fosse reeleito, o seu terceiro governo seria um “novo governo”. O lema voltou à tona em sua primeira entrevista coletiva após a posse para o terceiro mandato, no domingo (1º), e durante a sua entrevista ao EStúdio 360 nesta segunda-feira (2).
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Um “governo” não existe por si mesmo, como entidade abstrata ou estrutura com vida própria. Na verdade, um governo nada mais é que as pessoas que o compõem. Por esse critério, quando analisamos o desenho final do secretariado montado por Casagrande para governar com ele nesse recém-inaugurado terceiro mandato, concluímos que, sim, pode até ser um “novo governo”… mas não tanto assim.
Se incluirmos o cargo de chefe de gabinete, a istração anterior, encerrada em 31 de dezembro, era composta por 24 colaboradores com status de secretário de Estado. Desse total, nesta virada de mandato, nada menos que 14 foram mantidos por Casagrande rigorosamente nas mesmas funções (veja lista completa no pé desta coluna).
Além disso, dois deles apenas trocaram de posição: Álvaro Duboc, até então na Secretaria de Governo, voltou a assumir a de Planejamento; Emanuela Pedroso (Podemos), que estava na de Planejamento, ou para a de Governo. Aí já são 16 (dois terços dos 24).
Dos oito restantes, outros três são antigos colaboradores do governo estadual (inclusive nas duas primeiras gestões de Casagrande), escalados pelo governador para voltar a comandar pastas já chefiadas por eles próprios num ado recente. Um dos três, na verdade, foi ali disputar a eleição em 2022, não ganhou e voltou para as mesmas funções: desligado do cargo em abril, Alexandre Ramalho (Podemos) reassume o comando da Segurança Pública (Sesp).
Enquanto isso, André Garcia, antigo colaborador de Casagrande, volta a comandar a Secretaria de Justiça (Sejus), pasta já liderada por ele em 2012, durante o primeiro governo do socialista. Similarmente, Enio Bergoli reassume a Secretaria de Agricultura (Seag), a qual chegou a encabeçar de 2009 a 2014, no segundo governo de Paulo Hartung e no primeiro do próprio Casagrande.
Aí já são 19 dos 24. Restavam cinco cadeiras para acomodação das esperadas “novidades”.
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Se quisermos ampliar o leque, na verdade o número de assentos agora, no início do terceiro governo Casagrande, ou de 24 para 26 (mesma quantidade da convocação para a Copa do Mundo). Isso porque uma pasta foi criada (a Secretaria Extraordinária de Políticas para Mulheres), enquanto outra (a Sectides) foi desmembrada em duas: a de Desenvolvimento (Sedes) e a de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti).
Restavam sete, portanto.
Mas tampouco aí, para ser sincero, houve grandes novidades que justifiquem – repito: exclusivamente por este ângulo de análise – o lema de “novo governo”. Na maior parte, as escolhas de Casagrande atenderam a critérios partidários: contemplar siglas aliadas importantes no 1º escalão, ainda que não tenha sido esse o único critério levado em conta.
A cadeira criada e a recriada foram preenchidas, respectivamente, pela ex-vice-governadora e pelo atual.
Fidelíssima a Casagrande, Jacqueline Moraes se torna a primeira secretária de Políticas para Mulheres da história do Espírito Santo, preenchendo assim parcialmente a cota reservada ao PSB no próprio governo.
Enquanto isso, o sucessor de Jacqueline na Vice-Governadoria, Ricardo Ferraço, a a acumular o comando da Secretaria de Desenvolvimento, o que em parte também reforça a presença do PSDB na istração.
Aí restavam cinco cadeiras. Destas, três escalações foram claramente norteadas pelo critério partidário.
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A Secti a a ser conduzida pelo deputado estadual não reeleito Bruno Lamas. Atendendo ao PSB, ele volta ao 1º escalão do governo após ter dirigido a Secretaria de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades) entre 2019 e 2020.
A Secretaria de Turismo (Setur) foi destinada ao presidente estadual do PDT, Weverson Meireles, cumprindo a cota do prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), padrinho político do novo secretário.
Para a Secretaria de Esportes (Sesport), o escalado foi o ex-deputado estadual José Carlos Nunes, em atendimento a um pleito do PT, cuja presidente estadual, a deputada federal diplomada Jack Rocha, é aliada do novo secretário.
Restavam, então, duas cadeiras. E aí, sim, encontramos as duas únicas escolhas que podem ser classificadas como surpresas na composição do alto escalão, sendo uma relativa e a outra absoluta.
A surpresa relativa foi o ainda deputado federal Felipe Rigoni, não tanto pelo nome – desde meados de novembro, já se sabia do desejo de Casagrande em tê-lo na equipe – mas pela pasta para a qual ele acabou escalado: a de Meio Ambiente (Seama).
A ida de Rigoni para o time, mesmo não tendo sido esse o fator determinante, também ajuda a ampliar o arco partidário de alianças em torno de Casagrande, já que o deputado é o presidente estadual de outra legenda: o União Brasil. Como tem mandato até o fim de janeiro, Rigoni só deve ser nomeado oficialmente em fevereiro.
Finalmente, a única verdadeira grande surpresa no retrato final do “novo” secretariado: o economista e hospitalar gaúcho Miguel Paulo Duarte Neto, ex-diretor-geral do Hospital Estadual Central no Parque Moscoso, para o lugar de Nésio Fernandes (PCdoB) no cargo de secretário de Saúde.
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Casagrande: “Mudar comportamentos”
Em entrevista ao EStúdio 360 nesta segunda-feira (2), o governador afirmou: “Vamos aproveitar tudo o que fizemos de bom, mas temos que estar permanentemente em transformação, porque o mundo está permanentemente em transformação”.
Casagrande respondeu como pretende implementar de fato um “novo governo” com uma equipe tão pouco alterada. Ele frisou que alterou 40% do 1º escalão (há ressalvas, como expusemos acima) e acrescentou que outras mudanças virão nos escalões inferiores, mas destacou que a principal mudança esperada por ele é no comportamento da equipe: deseja que os secretários se comuniquem melhor e mais diretamente com a sociedade capixaba e que estejam cada vez mais à disposição da imprensa para esclarecimentos:
“As pessoas precisam compreender que precisamos mudar comportamentos. Às vezes a mudança no comportamento é sutil. É o compromisso com o resultado. É o compromisso em fazer a comunicação de forma diferente. O último processo eleitoral nos ensinou que muitas vezes as pessoas estão pouco se importando com obras, com coisas concretas. As pessoas querem comportamentos, posicionamentos, posturas. Então o governo tem que responder adequadamente, tem que estar à disposição da imprensa.”
Ele exemplificou:
“Em vez de você lançar uma nota numa rede social explicando um assunto polêmico, é melhor vir aqui nesta bancada e tratar do tema de forma objetiva. […] Então é um comportamento de estar à disposição das pessoas, de se conectar diretamente com a população. A comunicação pode dar clareza naquilo que a gente quer de novo neste governo que agora estamos começando.”
O governador relatou que, na primeira reunião com o secretariado após a posse, na manhã desta segunda-feira (2), pediu a todos muito trabalho: “Acordar cedo com vontade de ir pro trabalho. Se acordar cedo com vontade de ficar em casa, tem que pedir pra sair”.
Também pediu aos secretários para começarem o quanto antes a perseguir o cumprimento das propostas apresentadas durante a campanha eleitoral. Em seu terceiro governo, na comparação com o anterior, Casagrande quer apresentar mais resultados e acelerar processos, respostas e entregas à população, inclusive com uso de novas tecnologias.
A conferir.
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Os 14 secretários mantidos nos respectivos cargos
Cyntia Grillo: Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social
Davi Diniz: Casa Civil
Edmar Camata: Controle e Transparência
Fábio Damasceno (PSB): Mobilidade e Infraestrutura
Fabrício Noronha: Cultura
Flávia Mignoni: Comunicação
Jasson Hibner Amaral: Procuradoria Geral do Estado
Jocarly Martins de Aguiar: Casa Militar
Marcelo Calmon Dias: Secretaria de Gestão e Recursos Humanos
Marcelo Altoé: Fazenda
Marcus Vicente (PP): Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano
Nara Borgo (PSB): Direitos Humanos
Vitor Amorim de Angelo: Educação
Valésia Perozini (PSB): Chefia de Gabinete do Governador
Os dois que inverteram as posições
Emanuela Pedroso (Podemos): Governo
Álvaro Duboc: Planejamento
Os três que voltam para antigos cargos
Alexandre Ramalho (Podemos): Segurança Pública
André Garcia: Justiça
Enio Bergoli: Agricultura
Os sete “novatos”
Bruno Lamas (PSB): Ciência, Tecnologia e Inovação
Felipe Rigoni (União Brasil): Meio Ambiente
Jacquelie Moraes (PSB): Políticas para Mulheres
José Carlos Nunes (PT): Esportes
Miguel Paulo Duarte Neto: Saúde
Ricardo Ferraço (PSDB): Desenvolvimento
Weverson Meireles (PDT): Turismo
ERRATA
Na primeira versão desta coluna, eu havia informado, por engano, que a secretária de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Cyntia Grillo, é filiada ao PSB. Na realidade, ela não tem filiação partidária. A publicação foi corrigida.
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