Coluna Vitor Vogas
Nésio sobre sucessor na Saúde: “Não foi indicado por mim, mas foi escolha acertada”
Aplaudindo a opção de Casagrande por Miguel Paulo Duarte Neto, o ainda secretário analisa as credenciais do hospitalar que vai substituí-lo em poucos dias

Nésio Fernandes e Miguel Paulo Duarte Neto
Despedindo-se do cargo, o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes (PCdoB), afirma que não foi o autor da indicação do seu sucessor, mas enche de elogios o diretor hospitalar Miguel Paulo Duarte Neto, anunciado nesta quarta-feira (21) pelo governador Renato Casagrande (PSB).
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Para Nésio, a escolha de Casagrande foi “muito acertada”. Na definição do ainda secretário, a agem de Miguel pelo cargo de diretor-geral do Hospital Estadual Central, no Parque Moscoso, correspondeu a um “período virtuoso” para aquela unidade hospitalar.
“Miguel não foi indicado por mim. Foi uma escolha própria e individual do governador do Estado. E, na minha opinião, foi uma escolha muito acertada. Ele já era um quadro muito bem avaliado pelo período virtuoso de atuação dele como diretor-geral do Hospital Estadual Central. É um gestor hospitalar conhecido no Brasil inteiro e muito bem avaliado. Saiu da direção do Hospital Central porque recebeu ofertas mais vantajosas para atuar em outro espaço. A escolha foi uma boa surpresa, e acho que o governador acertou.”
Nésio faz questão de enfatizar as pressões sofridas, por todos os lados, por Casagrande durante o processo de escolha do seu substituto – até porque foi um processo longo, deflagrado em meados de outubro, durante o 2º turno da campanha eleitoral. Àquela altura, Nésio acabara de sair de férias e já circulavam comentários de que ele não voltaria ao comando da Sesa.
“O governador sofreu pressões de todo tipo durante esse período. São R$ 4 bilhões de orçamento esperado para a Sesa no próximo ano. Logo, são R$ 4 bilhões de interesses envolvidos. Interesses dos servidores públicos, das carreiras, mas também privados e políticos. A margem de erro nessa escolha é muito pequena, e acredito que o governador tenha acertado.”
O “acerto”, no caso, tem 52 anos, é gaúcho de Porto Alegre e, desde junho, vive em Florianópolis, onde dirige o serviço do Samu no estado de Santa Catarina, por uma organização social. Antes disso, porém, foi diretor-geral do Hospital Geral, no Parque Moscoso – experiência enaltecida por Nésio –, de dezembro de 2020 a junho de 2022. Isso pela Fundação Estadual de Inovação em Saúde (iNova Capixaba), criada na gestão do atual secretário na Sesa.
Por sinal, a experiência profissional de Miguel está muito associada a organizações sociais (as OS), fundações ou associações de direito privado, sem fins lucrativos, que prestam serviços públicos para reduzir problemas sociais.
Antes de chegar ao Espírito Santo no fim de 2020, o hospitalar teve o que certamente foi sua experiência mais importante, como CEO (chief executive officer) da OS Pró-Saúde. Ele dirigiu a organização por quase nove anos, de setembro de 2011 a junho de 2020.
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O elefante na sala
A Pró-Saúde é uma gigante do segmento hospitalar. Como registra o próprio Miguel em seu perfil no Linkedin, essa OS tem receita bruta de R$ 1,5 bilhão, 16 mil funcionários e responde por 28 unidades de saúde, além de quatro centros de educação infantil, espalhados por doze estados brasileiros.
No ado, porém, a Pró-Saúde também já esteve envolvida em rolos gigantescos, sobretudo no estado do Rio de Janeiro. Segundo Nésio, a chegada de Miguel ao cargo de CEO se deu após a eclosão dessas polêmicas, justamente com o objetivo de implementar políticas de integridade corporativa (compliance) na Pró-Saúde.
“Ele é um gestor muito experiente. Participou de programas de inovação dentro da gestão hospitalar. ou por diversos processos tanto de estruturação de hospitais como de reestruturação de uma grande OS, que foi a Pró-Saúde. Ele foi para essa OS para implementar políticas de compliance. Assumiu esse desafio num período de crise dessa OS, na perspectiva de sua credibilidade e do respeito a seu trabalho.”
Para Nésio, o currículo completo do seu sucessor, notadamente a citada experiência como CEO da Pró-Saúde, dá a Miguel Paulo as credenciais necessárias para gerir a secretaria com quase R$ 4 bilhões de execução orçamentária prevista para 2023. Isso inclui não só o perfil gerencial como a capacidade de diálogo com múltiplos organismos e agentes públicos e privados, dotados de pensamentos diversos:
“O perfil de gestor dele é muito completo. Ele não istrou apenas um hospital e sim uma rede gigantesca de hospitais. Isso dá a ele, sem dúvida nenhuma, competências muito necessárias para gerir a Secretaria de Saúde. Dentro de uma OS de grande porte, ele teve que se relacionar com governos de todo tipo, com órgãos de controle, com agentes dos mais variados matizes políticos e ideológicos.”
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Pé no público, pé no privado
Nésio refuta a ideia de que Miguel não estaria preparado para gerir a Sesa por não vir das fileiras dos sanitaristas (nem médico é) nem ser um autêntico representante do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele também rejeita a ideia de que seu sucessor possa dar à Sesa uma guinada privatista, por ter a carreira quase toda construída em organizações sociais, que a rigor são entidades privadas:
“Não se pode dizer que a experiência dele foi privada no sentido estrito, porque ele atuou em uma organização privada que prestava serviços ao SUS. Então, ele geriu a saúde pública”, contra-argumenta o ainda secretário.
Aliás, vale recordar a frase com que o próprio Miguel Paulo abriu sua entrevista a este espaço logo após ser anunciado por Casagrande, na noite de quarta-feira (21): “Sou um defensor ferrenho do SUS. Tenho minha vida profissional sempre ligada ao SUS”.
Dizendo-se amigo de Miguel, Nésio também declina algumas qualidades pessoais do próximo secretário: “Ele é um cara do bem, muito gentil e sem soberba”.
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Saiba mais
Miguel Paulo Duarte Lemos tem três graduações: é bacharel em Economia (PUC-RS), em istração de Empresas (Estácio de Sá) e em Ciências Contábeis (Estácio de Sá). Está cursando uma quarta, em Matemática, também pela Estácio.
Além disso, tem quatro especializações, entre MBAs e pós-graduações: em Finanças (PUC-RS), em Docência do Ensino Superior (Uniban), em istração Financeira, Contábil e Controladoria (Univel) e em istração Hospitalar (Centro Universitário São Camilo).
Desde junho deste ano, é diretor-geral do Samu em Santa Catarina, pela Fundação de Apoio ao HEMOSC/CEPON (Fahece).
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