Coluna Vitor Vogas
Mesmo com veto ao PT, PP fica na coligação de Casagrande
Diretório Nacional do PP, que apoia Bolsonaro, vetou coligações com o PT em todos os estados. No ES, PP e PT coabitam a coligação de Casagrande. Mas dirigente capixaba diz que veto não se aplica aqui: “Não muda nada”.

Casagrande, Ricardo Ferraço e Marcus Vicente
No Espírito Santo, o Progressistas (PP) é o partido que melhor exemplifica uma situação não tão rara, mas sem dúvida insólita: uma força política que apoia, ao mesmo tempo, Jair Bolsonaro (PL) para a Presidência da República e Renato Casagrande (PSB) para o governo estadual. Na noite desta terça-feira (2), o paradoxo aumentou, com uma decisão tomada pelos caciques nacionais do PP: o Diretório Nacional anunciou veto a coligações majoritárias com o Partido dos Trabalhadores (PT) em todos os estados.
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Em primeira leitura, literal, o veto da direção nacional do PP pode se aplicar ao partido no Espírito Santo. No limite, pode forçar os dirigentes estaduais a desfazerem o que já haviam definido inclusive em convenção. Diz a nota:
“O Diretório Nacional do Progressistas informa que a sigla não irá fazer coligação com o Partido dos Trabalhadores em nenhum Estado brasileiro. O PP oficializou, por meio de convenção nacional, coligação com o PL e apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro.”
Na disputa pelo governo do Espírito Santo, PP e PT, a princípio, fazem parte da mesma coligação majoritária: aquela que reúne partidos que apoiam a reeleição de Casagrande, tendo o ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB) como candidato a vice-governador.
O PT deve formalizar o ingresso nessa coligação na convenção estadual da federação Brasil da Esperança, também formada por PV e PCdoB, marcada para esta quinta-feira (4), às 19 horas, na Assembleia Legislativa.
O PP, por sua vez, já aprovou, em convenção realizada no último sábado (30), coligação com o PSB de Casagrande e com a federação PSDB/Cidadania, à qual pertence Ricardo Ferraço. Na ata da convenção, registrou-se:
“Quanto à formação de coligação majoritária para o cargo de governador e vice-governador, foi proposto que o partido integrasse a Coligação em que figurasse o Partido Socialista Brasileiro PSB e que fosse delegado [sic] à Comissão Executiva Estadual poderes para formação e constituição de coligação para a eleição majoritária, com ampla possibilidade de aliança com quaisquer partidos”.
O presidente do PP no Espírito Santo é o ex-deputado federal Marcus Vicente, antigo aliado de Casagrande e secretário estadual de Desenvolvimento Urbano na atual istração, até abril deste ano.
“Muito barulho por nada”
A direção estadual do PP mantém entendimento diferente daquele sugerido pela leitura inicial da nota do Diretório Nacional. Segundo o secretário-geral do partido no Espírito Santo, Marcos Delmaestro, a proibição de que trata a nota não se aplica às decisões tomadas pela Executiva Estadual aqui e não terá o menor rebatimento nos arranjos locais. “Não muda nada”, resume o dirigente. “O PP continuará na coligação do PSB de Casagrande para o governo do Estado.”
Segundo Delmaestro, o que a direção nacional do PP não ite em hipótese alguma é que o partido, nos estados, integre coligação majoritária que tenha o PT em posição de destaque, com o candidato a governador, a vice-governador ou, ainda, a senador. Em outras palavras, na disputa por um governo estadual, o que o PP não pode fazer de jeito nenhum é apoiar uma candidatura majoritária do PT.
Por outro lado, ainda conforme o entendimento de Delmaestro, o PP pode pertencer à mesma coligação que o PT sem óbice, desde que o PT não tenha candidatura majoritária e que a chapa seja montada com candidatos de outros partidos.
É o caso da coligação majoritária encabeçada por Casagrande e construída em torno do atual governador.
O candidato ao governo é do PSB, o vice vem da federação PSDB/Cidadania e a candidata ao Senado, em não havendo reviravolta, será Rose de Freitas (MDB). Tanto o PT quanto o PP são partidos satélites nessa coligação. Ambos estão ali como coadjuvantes. Sim, o PP está dividindo espaço com o PT na mesma coligação majoritária, mas pode dizer que não está apoiando nenhum candidato majoritário do PT. Eis o entendimento da cúpula estadual.
“Aqui no Espírito Santo, o PP fechou com Renato Casagrande, candidato a governador do PSB 40, e fechou com Ricardo Ferraço, candidato a vice-governador da federação PSDB/Cidadania 45. A gente não está com o PT para governador nem para vice-governador. Então a gente não está fechado com o PT. O PT é mais um partido da coligação, igual ao PP. Então não muda. Estão fazendo muito barulho por nada. Isso não terá nenhum reflexo aqui”, afasta Delmaestro.
Contextualização
O PP é um partido do Centrão, faz parte do governo Bolsonaro, apoia-o no Congresso e a sua reeleição. No país, o PP é controlado pelo presidente nacional licenciado, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, do Piauí. A manifestação da cúpula do PP ocorreu dias depois de dirigentes do partido no Piauí terem entrado na Justiça Eleitoral, numa tentativa de proibir a circulação de imagens que mostrem Bolsonaro com candidatos apoiados pelo PP na disputa ao governo local. Ou seja, no estado do próprio Ciro Nogueira, o PP quer esconder Bolsonaro.
Se o caso do Espírito Santo dá margem a interpretações, a decisão do Diretório Nacional tem efeitos certos e imediatos sobre outros estados, como o Ceará. Em convenção realizada no último sábado (30), a direção estadual do PP havia fechado uma aliança com o ex-governador Camilo Santana (PT), candidato ao Senado, e com o candidato petista ao governo, Elmano de Freitas. Nesta terça, a direção nacional do PP interveio para cancelar a coligação.
De acordo com Marcos Delmaestro, o foco da direção nacional são estados como esses, onde o PP local realmente queria fazer uma aliança direta com o PT, e não o Espírito Santo. Ele acrescenta que, oficialmente, a Executiva Estadual não recebeu nenhum comunicado da Nacional.
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