Coluna Vitor Vogas
Marcelo critica PSB e manda recados para Casagrande: “Mão do governo é bem seletiva”
Possível candidato à presidência da Assembleia verbaliza insatisfação de deputados governistas com o que consideram favorecimento do Palácio Anchieta a candidatos do PSB e espaço excessivo do partido no governo

Marcelo Santos em almoço com jornalistas. Foto: assessoria do deputado
Reeleito para o sexto mandato seguido na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Marcelo Santos (Podemos) diz que não é pré-candidato à presidência da Mesa Diretora no biênio 2023-2024, mas seus movimentos indicam o contrário.
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Na última quarta-feira (16), o atual vice-presidente da Mesa ofereceu um almoço para a imprensa capixaba e respondeu a perguntas dos jornalistas presentes. Na ocasião, criticou o PSB, partido de Renato Casagrande, e mandou alguns recados retos, diretamente endereçados ao governador, os quais podem ser assim interpretados:
Para Marcelo, se quiser ter sucesso no próximo governo e construir uma boa relação com uma Assembleia que lhe deve ser mais hostil a partir de 2023, Casagrande precisa dar menos autoridade para o PSB em sua istração e, de modo inversamente proporcional, mais prestígio e mais espaço para os membros da base que não pertencem ao partido do governador.
“A mão do governo é bem seletiva”, criticou Marcelo, sem rodeios, exteriorizando um ressentimento muito comentado a baixa voz e generalizado entre deputados governistas, que consideram ter havido um favorecimento acintoso do Palácio Anchieta a candidatos a deputado estadual do PSB na última disputa eleitoral (notadamente, Tyago Hoffmann), em desfavor de outros aliados até mais antigos e leais, mas filiados a outras legendas.
Segundo Marcelo, o governo “não pode cochilar” e precisa “dar sinais claros” de que está mais aberto à participação de outros aliados. Até porque, ressalta, a oposição a Casagrande crescerá na próxima Assembleia, cuja configuração, para ele, ficará mais semelhante à da Câmara de Vitória (muita polarização entre esquerda e extrema direita). “Teremos um palco com muito MMA.”
Se der esses “sinais”, sugere Marcelo, um candidato à presidência da Assembleia com o selo do PSB, como Tyago ou Dary Pagung, pode até superar as resistências da base aliada.
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Confira as principais declarações de Marcelo Santos:
Ser ou não ser candidato à Mesa?
“Naturalmente, eu acabo entrando no páreo sem falar nada, por causa do tempo: sou o deputado com mais mandatos na Assemblei, tenho a experiência desse tempo todo de vida pública. Mas não coloquei meu nome efetivamente. […] Não que isso seja motivo para repercutir, mas ser presidente da Assembleia hoje é tomar conta de deputados. […] Então, o que eu disse ao governador? Ele me perguntou: ‘Você vai disputar a eleição?’ Eu falei: ‘Não’. ‘Mas e se essa coisa convergir para o seu nome?’ Eu falei: ‘Se for consenso e eu puder colaborar no processo, eu topo. Caso contrário, não vou colocar meu nome para disputar por mim mesmo. Não farei isso’.”
Plenário vai virar ringue
“O governador não me pediu nada. A única coisa que ele disse foi: ‘Marcelo, me ajuda a dialogar com a turma com relação a ter uma Assembleia coesa e, a partir de janeiro, a gente começar a desenhar essa questão de Mesa Diretora. […] Ele acredita que [o presidente] tem que ser alguém que tenha pulso e experiência para segurar. Não quer dizer que só seja eu que tenha isso, não. Longe de mim. Mas, que nós vamos ter um palco lá com muito MMA, nós teremos.”
“Câmara de Vitória em maior escala”
“Você tem uma Casa que está dividida hoje, com potencial ampliado de direita, que vai naturalmente ter um debate mais rígido com relação ao Governo do Estado. […] O governo Casagrande vai ter oposição. Traduzindo em miúdos, vamos ter uma Câmara de Vitória na Assembleia, por conta da polarização entre Lucas Polese, Capitão Assumção, João Coser, Camila Valadão… E talvez até isso aguce lá a Iriny, que foi deputada federal, a voltar a ser o que era, por conta desses embates que teremos lá. Isso já está bem desenhado.”
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Crescimento da oposição
“A Assembleia eleita tem a bancada de que eu faço parte, que é de aliados, tem uma bancada um pouco independente e tem uma bancada contra. Essa bancada contra o governo será maior do que é hoje.”
Insatisfação dos deputados aliados
“Quando acabou o 1º turno, [entre] os parlamentares que se reelegeram e os que não se reelegeram, a conversa era uma só: a forma como o governo tratou o processo eleitoral com relação aos aliados. Isso é um defeito do PSB: quando chega na eleição, eles colocam um corredor que só a o partido, e aí nós ficamos à margem dessa relação. Por mais que você tenha ali uma relação pessoal. Eu, particularmente, tenho uma relação com o governo e com o governador muito estreita. Eu nunca marquei agenda com Renato a não ser por Whatsapp, eu e ele. Ele me liga às 6 horas da manhã para trocar informações. ‘Você consegue entregar isso aqui hoje? Esse projeto e tal?’ Mas essa relação é mútua, porque, da mesma forma que eu vou lá presidir sessão e aprovo um projeto em 1 minuto e 20 segundos – isso é ruim em tese, mas é bom para o governo, porque você entrega um projeto importante, tem prazo –, então a relação que a gente espera do governo é também fazer as entregas nas cidades. Mas não é só isso. Quando chega na hora da eleição, é uma hora em que você precisa ter aquela mão te empurrando. Ela só vai para alguns. Ela é bem seletiva. E isso gerou problema inclusive de gente que chegou novo no PSB, que não é considerado peessebista. Então, o governo enfrenta esses problemas, porque a turma fica um pouco com o pé atrás.”
“Sinais, fortes sinais”
“O governo precisa dar sinais. Renato Casagrande é uma coisa. E o governo como um todo é outra. Então ele precisa dar sinais de que ele e o governo dele vão ser da mesma forma. Renato é um cara que eu acredito muito no eu ele tem de melhor para o Espírito Santo. A relação dele com a gente, ele pessoa, enquanto governador, é muito legal. Ele é um ser humano fantástico. Boas ideias, bons projetos. Mas muita coisa acaba sendo atrapalhada por causa dessa relação. Acho que o partido é importante para ele, muito fiel a ele, mas o partido não é maior que ele nem maior que o governo e nem pode ser governo. Então, quem quer que seja o nome [do próximo presidente da Assembleia], o governo precisa dar sinais de que não vai ser o partido político que vai comandar uma Assembleia ou um governo ou uma pasta específica. Esse sinal pode mudar, por exemplo, esse entendimento sobre o próprio Tyago Hoffmann, sobre o próprio Dary Pagung. Isso pode mudar. Mas o governo precisa dar esses sinais. E acredito que Renato está preparado para isso. Ele viu o que aconteceu de ruim no governo dele. A Ceasa é um exemplo clássico na questão partidária que ocupou aquela empresa.”
O risco da “autoconfiança”: “Governo não pode cochilar”
“Para o governo enfrentar a oposição, ele tem que dar sinais. ‘Ah, Marcelo, eu acho que o melhor seria Tyago Hoffmann…’ Ele tem que dar sinais. Senão fica parecendo um quintal do Palácio Anchieta, e isso é ruim para a Assembleia. Senão o governo cochila. A estatística do trânsito é que você bate e comete as infrações maiores quando está próximo de casa, porque sua autoconfiança é tão grande que você sabe seu caminho de casa que você bate, você cochila. Então essa é uma hora em que o Estado tem que ter uma Assembleia que, por mais parceira que seja, ela precisa ter a sua autonomia e independência, para justamente cobrar dele: ‘Isso aqui não está legal, não. Tem alguns erros aqui.’ Porque a gente erra, e no caminho de casa.”
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