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Coluna Vitor Vogas

“Lula fará governo com a cara do Brasil”, diz Casagrande ao “Valor”

Em entrevista ao jornal, governador apresentou expectativas positivas sobre o governo do petista (“Vai pacificar o Brasil”), mas deixou alguns alertas. Para ele, “Lula não tem o direito de errar na economia”

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Lula e Renato Casagrande, no Egito, durante a COP27. Entre eles, o governador reeleito do Pará, Helder Barbalho. Foto: Giovani Pagotto

Em entrevista ao jornal “Valor Econômico” publicada nesta quinta-feira (17), o governador Renato Casagrande (PSB) fez projeções otimistas a respeito do próximo governo Lula, mas deixou alguns alertas. O mais importante deles: o presidente eleito é obrigado a fazer um bom governo e “não tem o direito de errar na economia”.

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Para o governador reeleito do Espírito Santo, “Lula fará um governo com a cara do Brasil” e cumprirá “uma tarefa para a História”: “pacificar o país” e fazer a política voltar “para o leito natural do rio, de mediação do debate”, pondo fim ao exercício da política como forma de enfrentamento contínuo, conforme praticada nos últimos quatro anos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

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“Nós – e coloco nós porque sou governador e quero ajudar – não temos o direito de não fazer um bom governo. Precisamos fazer a política voltar a ser um sinônimo de mediação, debate, conciliação. Com Bolsonaro, observamos a política sendo mais uma forma de confronto do que de mediação. O governo Lula é a chance de a política não ser mais só enfrentamento”, disse o governador.

Na opinião de Casagrande, a posição política do Brasil é “equilibrada, de centro”, e, “com humildade”, Lula conseguirá fazer um governo que represente essa posição (diferentemente do atual presidente).

“Bolsonaro estabeleceu uma estratégia de confronto, que é o estilo dele, e Lula precisa estabelecer outro estilo. Com humildade, conseguirá fazer um governo que represente a posição política do Brasil, que é equilibrada, de centro.”

Para o governador, a fim de ampliar a sua campanha e o seu futuro governo, Lula tomou “uma decisão muito acertada” ao escolher o ex-governador de São Paulo (PSB) Geraldo Alckmin como vice-presidente, dando um sinal justamente nessa direção do equilíbrio:

“Foi uma decisão muito acertada. Deu estabilidade e ampliou o movimento de Lula. […] Alckmin de vice fez Lula dar um sinal, desde o começo, de que queria campanha ampla. Tenho plena convicção de que Lula vai fazer um governo com a cara do Brasil. É uma chapa que acena a setores sem relação histórica com o PT e o PSB, e tenho confiança de que Lula vai fazer um governo que execute aquilo que fala todos os dias: a ideia de pacificar o Brasil.”

Na visão de Casagrande, o fato de Lula já ter dito que não pretende concorrer à reeleição em 2026 é “libertador para ele”, na medida em que lhe permitirá tomar medidas necessárias que talvez não tomasse se tivesse o compromisso com mais um mandato, além de ajudá-lo na tarefa de pacificar o país.

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“Resgate da Federação”

Do ponto de vista da relação com os estados, trocar Bolsonaro por Lula representará, para Casagrande, “uma grande mudança” – para melhor, como fica implícito em sua fala. Ele não chegou a dizer isso, mas só faltou afirmar que o ainda presidente não governa de fato, pois terceiriza todos os assuntos istrativos para seus ministros. Segundo Casagrande, Lula assumirá pessoalmente a tarefa de dialogar com os governadores, o que proporcionará o “resgate da Federação”.

“Vai ser grande a mudança. Bolsonaro tem um estilo: delega todos os assuntos federativos aos ministros, poucas vezes teve a preocupação de se reunir com os governadores, prefeitos. Nos poucos momentos em que reuniu, durante a pandemia, foram reuniões conflituosas. Há diferença entre reunir os 27 governadores com uma equipe e conversar diretamente com o presidente sobre os temas federativos. Esse resgate da Federação representado pelo novo presidente, coordenando e centralizando alguns temas como reforma tributária, é importante para a sociedade. Se o presidente Lula conseguir manter essa relação com os governadores e prefeitos, haverá uma retomada e um fortalecimento do debate federativo no Brasil.”

Uso “sem precedentes” da máquina

Casagrande considera “sem precedentes” o uso da máquina pública por Bolsonaro na tentativa de se reeleger. “Desde a redemocratização, nunca tínhamos visto medidas tomadas às vésperas da eleição como tivemos este ano.” Como consequência, avalia, “o custo da eleição foi altíssimo e está exigindo soluções muito rápidas de Lula e Alckmin com relação ao Congresso”.

A criação sem precedentes de benefícios sociais na antessala do processo eleitoral gerou gastos desenfreados que extrapolam o teto de gastos, deixando um rombo fiscal no orçamento de 2023 que o próximo governo terá de executar. Como não poderá acabar com tais benefícios (até porque também assumiu o compromisso eleitoral de mantê-los), o governo Lula terá pouquíssimo espaço no orçamento para fazer investimentos públicos.

Por isso, para Casagrande, o governo Lula terá que garantir a estabilidade econômica e o controle da inflação, transmitindo ao setor privado a confiança necessária para voltar a fazer no país os investimentos de que o Brasil depende “como nunca antes” para retomar o crescimento econômico.

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“Foi uma eleição de dois turnos e Bolsonaro tomou medidas para beneficiar segmentos da sociedade com diversos auxílios. Além do Auxílio Brasil, teve o de gás, de caminhoneiro, taxista. Os dois candidatos tiveram que assumir compromissos, caso eleitos, de manutenção dos benefícios. Agora precisa fazer essa PEC [da Transição] para retirar do teto de gastos. O segundo turno teve um custo para os brasileiros que vai se refletir em 2023”, avaliou Casagrande.

“Sabendo que o ano que vem vai ter muito pouco dinheiro para ações diretas, o fundamental é que tenhamos confiança e muito investimento privado, que é o que vai gerar oportunidades para os brasileiros. O acerto na indicação dos ministérios da Fazenda, do Planejamento, é o que vai nos dar o controle da inflação e uma economia forte, que gere oportunidades. Todo mundo tem direito de errar, mas na economia o presidente não tem esse direito.”

“Conquistamos um feito”

Na entrevista ao “Valor”, Casagrande ainda reconheceu que defendeu até onde foi possível a concepção de uma terceira via para a Presidência, apesar de no fim ter apoiado Lula (seguindo a decisão nacional do PSB). “De fato defendi a terceira via, porque achava, como muitos, que era possível construí-la, mas o cenário se polarizou.”

Ele confessou que se sentiu prejudicado pela nacionalização do primeiro turno, já que dominava as pesquisas de intenção de voto para governador do Espírito Santo, mas acabou tendo que disputar um segundo turno contra Carlos Manato (PL). Mas destacou, sem muita modéstia, que foi o único candidato com “identidade progressista” e coligado com o PT a vencer a eleição para governador em um estado onde Bolsonaro foi o candidato a presidente mais votado.

“Sim, [fui prejudicado pela polarização,] mas depois conquistamos um feito. O Espírito Santo foi o único estado em que, mesmo com bolsonarismo forte, um candidato coligado a Lula ganhou. Em quase todos os estados, o presidenciável puxou seus candidatos.”

É verdade, como nós mesmos já observamos aqui.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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