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Coluna Vitor Vogas

Erick Musso não pode ser subestimado na eleição para o Senado

Ele enxergou uma pista deserta no centro, aberta entre Magno e Rose, e está transitando por ela. Tem recursos de sobra para a campanha. E aposta no anseio das pessoas por “renovação política”

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Erick Musso em campanha. Foto: Assessoria do candidato

A 12 dias do encontro dos cidadãos com as urnas, a eleição para o Senado no Espírito Santo segue em aberto, apesar do inegável favoritismo de Rose de Freitas (MDB) e Magno Malta (PL). Como argumentei aqui nesta segunda-feira (19), o adversário com maiores condições de crescer nesta reta final é o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos). Talvez ele não cresça o bastante para superá-los, mas, decididamente, não pode ser subestimado.

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Por que Erick ainda pode ameaçar o favoritismo de Rose e de Magno? Vejamos.

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Em primeiro lugar, dos sete concorrentes diretos da senadora e do ex-senador, o candidato do Republicanos é o único com campanha poderosa o suficiente, política e financeiramente, para morder os calcanhares do candidato bolsonarista e da aliada de Renato Casagrande (PSB). Isso por conta da coligação astutamente costurada por ele em julho, quando deu um cavalo de pau e trocou uma pré-candidatura suicida ao Palácio Anchieta pela candidatura ao Senado, ocupando o espaço até então reservado para Sérgio Meneguelli, também do Republicanos.

O pulo do gato foi o acordo firmado por Erick com Felipe Rigoni, pelo qual o presidente da Assembleia garantiu a presença do portentoso União Brasil em sua coligação ao Senado.

Graças à soma de Republicanos, PSC, Patriota e União Brasil (em especial este último), Erick assegurou um bom volume de recursos de campanha e um ótimo espaço para se tornar mais conhecido no horário eleitoral gratuito.

Conforme a prestação de contas parcial de Erick, disponível na página oficial do TSE, o candidato já havia declarado, até esta segunda-feira (19), R$ 3,3 milhões em receitas. Desse total, incrivelmente, a maior parte não vem do Republicanos, mas do União Brasil. O partido de Rigoni já injetou R$ 1,8 milhão na campanha de Erick, enquanto o Republicanos já investiu R$ 1.520.000,00, em quatro remessas. Nos dois casos, a fonte dos recursos é o Fundo Eleitoral.

Com isso, Erick já está beirando o limite legal de gastos de uma campanha ao Senado no Espírito Santo (R$ 3,8 milhões) e supera em muito as receitas declaradas por Magno (R$ 2,2 milhões). Rose não pode reclamar: já recebeu perto de R$ 3,8 milhões só da direção nacional do MDB.

Quanto à exposição no horário eleitoral, o tempo de Erick (85 segundos) não se iguala ao de Rose (mais de 2 minutos), mas é quase o triplo do de Magno (33 segundos). E ele não o está desperdiçando.

Feita por publicitários da agência Teia, de Vitória – os mesmos que, com competência, dirigiram a boa campanha de Lorenzo Pazolini a prefeito da Capital em 2020 –, a propaganda de Erick tem se mostrado propositiva, enfocando dificuldades concretas do Espírito Santo e propostas para ajudar a superá-las com sua atuação no Senado.

Em seus mais de dois minutos por bloco, Rose tem se concentrado no discurso do municipalismo, nos recursos federais direcionados por ela a prefeituras capixabas e no apoio declarado a ela por muitos prefeitos (o que prova o ponto anterior). Também busca enfatizar a parceria com seu principal apoiador: no último programa, Rose e Casagrande apareceram batendo um papo, e o atual governador disse contar com a continuidade do trabalho dela em Brasília, levantando investimentos federais para o Espírito Santo.

Por sua vez, Magno prioriza a sua colagem em Bolsonaro, que já apareceu pedindo votos para ele. O ex-senador pretende concentrar em si os votos dos eleitores bolsonaristas mais fiéis. No penúltimo programa, fugindo ao próprio padrão, surgiu no canteiro de obras do Contorno do Mestre Álvaro afirmando que na verdade é ele o verdadeiro pai da obra. No último, destacou seu trabalho à frente da I do Narcotráfico.

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Enquanto isso, em programas temáticos, Erick entra em cena perguntando se o público sabe o que faz um senador, o que pode fazer um senador etc., e assume alguns compromissos por área: trabalhar para resolver os imbróglios da concessão da BR 101 e da sonhada duplicação da BR 262, mudar o Código Penal e o Código de Processo Penal (bandeiras de Contarato em 2018), aprovar no Senado medidas que melhorem a qualidade da educação, fazer a mediação junto a embaixadas para trazer oportunidades para o Espírito Santo, e por aí vai…

Cada programa é encerrado com o slogan “Chegou a hora do povo no Senado”, com variações de acordo com os temas, como “Chegou a hora dos jovens no Senado”.

A estratégia: ocupar a faixa do centro moderado

A estratégia de Erick para chegar ao Senado está centrada em duas apostas.

A primeira é capturar em larga escala o voto dos eleitores ainda indecisos, mas que a priori rejeitam Magno e Rose, firmando-se como a única alternativa realmente viável entre os dois veteranos.

Nesse sentido, é interessante notar a rápida mutação de Erick desde o momento em que anunciou a sua mudança de rota eleitoral.

Como pré-candidato a governador, Erick estava seguindo mais por uma linha “candidato cristão conservador” e tentando penetrar no nicho do bolsonarismo, onde chegou a disputar algum espaço com Manato (PL) – até em coerência com seu partido, já que o Republicanos está na base congressual e na coligação do presidente à reeleição.

Essa rivalidade chegou a gerar uma situação embaraçosa: no dia 23 de julho, quando Bolsonaro esteve em Vitória para a Marcha para Jesus, Erick compareceu à recepção ao presidente no Espaço Patrick Ribeiro, mas não foi convidado para subir ao palco (ao contrário de Manato e de Guerino Zanon) e ainda recebeu algumas vaias de parte do público. De todo modo, como pré-candidato a governador, Erick dizia com desenvoltura que daria palanque a Bolsonaro, até por uma questão partidária.

Já como candidato a senador, Erick está buscando trilhar um caminho de centro moderado. Desde a entrevista coletiva em que anunciou o seu desvio de percurso, no fim de julho, deixou de falar com ênfase sobre apoiar Bolsonaro. Sintomática foi a entrevista concedida por ele, nesta segunda, ao Estúdio 360 Segunda Edição. O colega Kaká e eu até insistimos na pergunta, mas ele fez questão de não dizer se votará no atual presidente. “Eu digo se vocês me disserem em quem vão votar para senador”, esquivou-se. Tá ok.

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Além disso, em suas mais recentes entrevistas já em plena campanha, não é nem que ele se furte a responder sobre temas da pauta moral muito caros aos bolsonaristas, como o aborto e questões identitárias. Se questionado, ele dá sua opinião. Mas, como postulante ao Senado, a agenda de costumes não está no topo de sua plataforma de campanha, e religião tem ado longe do horário eleitoral do candidato evangélico.

A grande sacada de Erick e de seus estrategistas foi perceber que, nessa raia do centro, entre a extrema-direita de Magno e a esquerda inclinada para Rose, havia na verdade um descampado, uma pista deserta a percorrer. E ele está tratando de ocupar esse grande vazio, trilhando agora um caminho de centro, ou no máximo centro-direita.

Era a mesma trilha que poderia ter sido percorrida pelo Coronel Ramalho (Podemos), se tivesse conseguido se candidatar a senador – acredito que com chances reais de vitória. Mas Ramalho ficou pelo caminho, e também nisso esteve a sacada de Erick: captar a iminente implosão da pré-candidatura do coronel ao Senado, que deixou ainda mais deserta essa pista da centro-direita.

A estratégia: apostar na renovação política

A segunda parte da estratégia, diretamente vinculada à primeira, é canalizar para si os votos de quem busca por “renovação política”, firmando-se como o melhor representante dessa ideia, reforçada pela sua juventude: seus 35 anos correspondem à idade mínima que um cidadão brasileiro precisa ter para se candidatar a senador.

Nesta segunda (19), sabatinado por empresários na Findes, Erick afirmou: “O que tenho pedido é uma oportunidade de renovação, mas não como ocorreu, com frustração”, disse o candidato, em referência à eleição de Contarato e Do Val em 2018. “O Senado muitas vezes vira aposentadoria de político. Quero inverter essa lógica.”

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A bem da verdade, essa ideia de “renovação” no caso de Erick é um tanto quanto duvidosa: apesar da relativa pouca idade, ele já tem uma boa estrada na política. Neto de Heraldo Musso, emenda mandatos há dez anos, desde os 25, na Câmara de Aracruz e na Assembleia, presidida por ele há quase seis.

A pretensa “renovação” também é um pouco arranhada quando confrontada com algumas “raposices” protagonizadas por ele à frente do Legislativo estadual para não só permanecer no poder como concentrar poderes em suas mãos.

Também cai por terra quando levamos em conta algumas práticas políticas bem antigas herdadas de seus antecessores e mantidas ou até aprofundadas por ele no comando do Casa, como a distribuição de cargos comissionados para deputados aliados, sempre com o mesmo intuito de garantir a fidelidade da sua base de apoio interno e, em última análise, permanecer na presidência.

A questão é que essas informações são de conhecimento de quem cobre ou acompanha de perto o cotidiano da política capixaba, o que na certa representa fração mínima do eleitorado. Para o grosso da população, Erick está se apresentando agora nesta eleição majoritária e é, de fato, uma novidade. Neste caso, ser bem pouco conhecido, algo que constituiria desvantagem em seu projeto inicial de concorrer ao Palácio Anchieta, pode converter-se em um ponto vantajoso para ele na corrida ao Senado.

Chegando o dia 2 de outubro, a caminho do local de votação ou já na fila da seção eleitoral, muitos podem se dar conta de que também têm que votar para senador: “Ah, é mesmo, e quem são os candidatos? Rose? Não. Magno também não… Quem mais tem? Não quero anular meu voto. Erick Musso? Tá. Vou dar uma chance para ele”.

É uma possibilidade.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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