Coluna Vitor Vogas
Entrevista com Marcos Delmaestro: o que explica o crescimento do PP no ES?
Dirigente explica a estratégia que permitiu o agigantamento do partido no Estado e garante que, com as novas proporções, o PP reivindicará o vice ou o senador na chapa de Casagrande

Ato de filiação do deputado estadual Theodorico Ferraço, na sede do PP-ES, em Vitória (28/03/2022). Marcos Delmaestro é o último à direita.
“Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder!” Assim profetizou Dilma Rousseff (PT) quando era presidente da República. Mas, data massima venia à petista, ela não estava certa não… Em alguns casos concretos na política, é indiscutível o ganho ou benefício de determinado político ou partido. É o caso do Progressistas (PP), de longe o partido que mais cresceu no Espírito Santo durante a temporada da janela para trocas partidárias e de filiação de pré-candidatos que pretendem disputar as eleições de outubro.
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Antes da abertura da janela, no dia 3 de março, o PP tinha no Espírito Santo só um dos 30 deputados estaduais (Renzo Vasconcelos) e só um dos dez federais (Evair de Melo). Quadruplicou esse número de mandatários. Agora, na Assembleia Legislativa, sua bancada de quatro deputados inclui Theodorico Ferraço, Marcos Madureira, Raquel Lessa e Marcos Garcia.
Mas o mais incrível foi a expansão da bancada na Câmara dos Deputados: com a chegada de Josias da Vitória, Neucimar Fraga e Norma Ayub, além da permanência de Evair, o PP agora concentra quatro dos 10 integrantes, ou 40% da bancada capixaba na Casa. É a primeira vez que isso ocorre neste século. A última vez que um mesmo partido havia concentrado tantos representantes em nossa bancada federal foi lá nos tempos áureos do PMDB, nos idos da Constituinte (1988) e dos anos 1990.
Não por acaso, a chapa de federais do PP tem sido chamada nos bastidores de “chapão da morte”, ou até “grupo da morte”, visto que todos disputarão a reeleição.
Para explicar esse projeto de expansão do PP no Espírito Santo, os fatores que permitiram tamanho crescimento e as metas eleitorais da agremiação, entrevistamos o secretário-geral do PP, no Estado, Marcos Delmaestro, nº 2 na cadeia de comando e praticamente porta-voz do presidente, Marcus Vicente.
Marquinhos, como é mais conhecido, destaca que o PP fez o seu “dever de casa”, enquanto a maioria dos dirigentes de outras siglas simplesmente não atentou para a nova legislação eleitoral, com destaque para as mudanças impostas pelo fim das coligações proporcionais.
“Quem ficou esperando Renato [Casagrande], Paulo Hartung ou a formação da federação, perdeu o timing do calendário eleitoral. Teve gente que nem leu o regulamento ou não entendeu direito. Enquanto isso, fizemos nosso dever de casa e saímos na frente.”
O dirigente também enfatiza que, com as dimensões recém-adquiridas, o PP se considera habilitado para reivindicar a Casagrande um lugar destacado ao seu lado na chapa oficial da situação, seja com o candidato a senador (Da Vitória), seja com o candidato a vice-governador (Da Vitória ou Marcus Vicente). “A gente quer participar da majoritária.”
Confira a entrevista completa de Marcos Delmaestro:
O que explica esse crescimento assombroso do PP no recente período de janela partidária e filiações dos pré-candidatos?
A primeira explicação está no nível de organização do partido. O PP hoje está organizado em todos os 78 municípios capixabas. Você só consegue subir uma estrutura se tiver base. O segundo fator é o compromisso e a palavra que mantemos no PP, respeitando sempre o projeto das pessoas. Precisamos respeitar qualquer projeto que venha para o partido. Entramos forte na janela partidária [aberta em 3 de março], com o evento do PP que realizamos no dia 11 de março. Tivemos a presença do presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, o terceiro na linha sucessória da Presidência da República. Isso mostrou a nossa força. Numa reunião interna recente, o Marcus Vicente disse: “Estou aqui pra ficar no meio dos grandes”. E estamos montando o partido para todos, não só para um. Foi com essa pegada que o PP cresceu.
Quando foi que começou, internamente, esse ambicioso projeto de expansão?
O nosso planejamento nos permitiu isso. Começou quando o Marcus Vicente assumiu a presidência estadual, creio que em 2014, no lugar do então presidente, Nilton Baiano. Naquela eleição estadual, o Marcus Vicente ficou com o Renato [Casagrande], enquanto o Nilton Baiano ficou com o Paulo [Hartung]. Marcus Vicente era então o vice-presidente estadual e assumiu no lugar do Nilton. A gente podia pegar toda a estrutura, botar para o Marcus Vicente e prejudicar as pessoas, mas a gente não trabalha assim.
No meio político capixaba, a chapa de deputados federais do PP tem sido chamada de “chapa da morte” ou de “grupo da morte”, porque vem a princípio com quatro deputados em busca da reeleição, além do próprio Marcus Vicente. Numa projeção “com os pés no chão”, dá para eleger três. Com otimismo, até quatro. Mas, de qualquer maneira, alguém vai sobrar… Qual é o cálculo da direção do partido?
Hoje, 40% da representatividade dos votos válidos para deputado federal estão dentro do PP. Na eleição de 2018, o coeficiente eleitoral para eleger um deputado federal no Espírito Santo ficou em 193 mil votos. Com o aumento da população, estou achando que neste ano serão 197 mil votos. Subindo a régua, 200 mil. Com 280 mil, a gente faz o segundo. Com 420 mil, é certo que faremos o terceiro. E, com a maior votação total, sempre estaremos girando na frente dos demais. A gente trabalha para fazer três, mas podemos fazer quatro, se a sinergia dos outros partidos começar a desmontar. Por exemplo, no Podemos, se [Alexandre] Ramalho for mesmo candidato a senador, como fica a chapa de deputados federais? Tem partido aí com uma chapinha que, se por exemplo uma mulher pegar Covid, sai da campanha e a chapa desaba.
De todo modo, pelo menos um desses “cabeças de chave” colocados no mesmo “grupo da morte” do PP não vai conseguir se eleger. Pelo menos um deles vai sobrar, se não dois. Com esse ou essa que ficar de fora, o que o partido vai fazer após as eleições?
Tem muitas variáveis. Por exemplo, Evair acha que, se Bolsonaro ganhar, ele vira ministro ou algo assim. Um desses nomes hoje na chapa de federais pode se tornar candidato a vice-governador ou a senador. Se ficarmos com só três desses nomes, a gente faz dois federais. Mas tem muitas variáveis.
Sua resposta me leva a outro ponto fundamental: a partir desse “agigantamento”, o PP se credencia a reivindicar espaço na chapa majoritária a ser liderada pelo governador? No evento com Arthur Lira, o próprio presidente da Câmara externou esse pleito. E agora, vocês vão mesmo cobrar isso?
A gente quer participar da majoritária. O PP está sob a aliança de Renato Casagrande. Isso está consolidado. E gente já conversou que é isto: a gente quer participar da majoritária.
Senador ou vice-governador?
Isso está em aberto. Onde o governador achar que a gente pode entrar para gerar um equilíbrio… O que posso frisar para você é que estamos dentro do projeto do Renato, e o PP agora ganha musculatura para fortalecer esse projeto.
Quem pode ser o vice oferecido pelo PP?
Pode ser o Marcus Vicente. Pode ser o Da Vitória. Mas essa conversa não é agora. Não vamos antecipar isso. O que a gente fez foi nosso dever de casa.
Muita gente comeu mosca?
Cara, com o fim das coligações nas eleições proporcionais, o período de definições de chapas, que até 2018 caía em julho, ou agora para o início de abril. E, nessa nova legislação, quem ficou esperando Renato, Paulo Hartung ou a formação da federação, perdeu o timing do calendário eleitoral. Teve gente que nem leu o regulamento ou não entendeu direito. Enquanto isso, fizemos nosso dever de casa e saímos na frente. Só naquele evento de 11 de março, quem viu falou: “É aqui que eu quero ficar”.
Nacionalmente, o PP compõe o Centrão, dá sustentação ao governo Bolsonaro no Congresso desde o início de 2021, tem ministro e apoia a reeleição do presidente. Aqui, como o senhor mesmo sublinhou, o partido faz parte de um governo de centro-esquerda e apoia a reeleição de Casagrande, um governador em nada alinhado com o bolsonarismo. Não é incoerente?
Não tem incoerência. É “partido”. O nome já diz: ele tem partes. O PP vai fechar, sim, com o presidente Bolsonaro. Isso está fechado. Mas a direção nacional do PP libera as bases nos estados para o seu fortalecimento regional. Vou te dar um exemplo: o vice-governador do Estado da Bahia é do PP, e o governador Rui Costa é do PT. Então, o partido é “partido”. O que a direção nacional nos cobra é resultado.
“Resultado” como?
O resultado é eleitoral. E depois transformar esses mandatos em políticas públicas para as pessoas. Ao fim de toda eleição, você tem que levar uma cestinha de resultados para a nacional.
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