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Coluna Vitor Vogas

Entrevista com Audifax: “Sou candidato ao governo ou a nada”

Em entrevista à coluna, pré-candidato a governador pela Rede descarta candidatura ao Senado ou a outro cargo legislativo, diz esperar muitos recursos do partido e aprova federação com o Psol

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Audifax Barcelos é pré-candidato a governador do ES. Foto: André Toscano

Convicto de que será o próximo ocupante do Palácio Anchieta, Audifax Barcelos afirma que, se em agosto não for candidato ao cargo de governador, não será candidato a nada. “É o governo ou nada?”, perguntamos a ele. “É”, confirma o ex-prefeito da Serra, em entrevista à coluna publicada na íntegra abaixo.

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Em outras palavras, Audifax diz que não há hipótese alguma de ele concorrer ao Senado, ou a qualquer outro mandato legislativo – como especula-se que ele possa fazer se não viabilizar a candidatura ao Executivo pela Rede Sustentabilidade. O ex-prefeito refuta essa possibilidade por uma questão de perfil: ele mesmo não reconhece em si a vocação para ser legislador.

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Não [serei candidato a senador]. Esquece. Sou executivo. Sou gestor. Eu não sou legislador. Parabenizo quem é. […] Mas não é o perfil do Audifax.

Declarando-se “muito espiritual”, o ex-prefeito deixa, porém, uma brecha: ressalva que a única coisa que pode levá-lo a mudar de ideia, daqui a alguns meses, é uma conversa direta com Deus. “Por outro motivo, não.”

Cansado de só jogar em casa (os limites da Serra) e falando de si na 3ª pessoa (como um jogador de futebol), o redista no momento se empenha em tirar do papel sua candidatura. “Tenho vontade, tenho desejo, estou preparado, tenho equipe e tenho partido”, enumera. “Não tem motivo para eu não ser candidato a governador.”

Um dos possíveis motivos seria eventual isolamento político, isto é, se até agosto ele não conseguir agregar outros partidos em torno de seu nome. Hoje ele só tem a Rede, sigla comandada por ele no Estado. Sobre essa dificuldade, o ex-prefeito expressa confiança: “Isolado eu tenho certeza que não vamos ficar”. Mas ite que, no momento, esse é o “dever de casa” urgente que ele precisa cumprir: “De agora até agosto, que é o mês das convenções, meu dever de casa é buscar outras alianças”.

Até porque, reconhece Audifax, por não ser tão conhecido fora do seu município, as chances de êxito de sua candidatura dependem muito do tempo de TV no horário eleitoral. E a Rede não possui nem um segundo. “Qual é grande desafio? […] Eu preciso, sim, do tempo de televisão.”

Por falar em alianças e nesses preciosos segundos, o pré-candidato declara querer, sim, a concretização da iminente federação entre a Rede e o Psol. Segundo ele, sua candidatura é assegurada pela direção nacional da Rede e foi colocada por essa como condição ao Psol. Além do respaldo político, Audifax diz ter certeza de que receberá da cúpula da Rede uma injeção expressiva de recursos na sua campanha. “Tenho não só expectativa, mas certeza disso.”

Audifax só sai pela tangente ao ser questionado sobre a dificuldades eleitorais potencialmente geradas pelo casamento com o Psol – se ar a ser tachado como candidato de esquerda, ou de extrema-esquerda, e vinculado a pautas caras ao partido socialista, mas com as quais não tem identificação.

Por fim, falando em “os mais à esquerda”, o ex-prefeito deixa uma cutucada no senador Fabiano Contarato, que recentemente trocou a Rede pelo PT.

Como é que eu posso falar para você? Foi uma aposta que não só eu, mas mais de um milhão de pessoas fez [sic]. Não foi só o Audifax. A responsabilidade não foi só minha.

Com vocês, a entrevista completa:

O senhor realmente será candidato a governador?

Sou pré-candidato a governador deste Estado. Entendo que o Estado pode muito mais do que está fazendo. Rodei 75 municípios, ouvindo as lideranças não só políticas, mas também do ponto de vista da indústria, do comércio, da agricultura, eclesiásticas. Percebi isso. Entendo a necessidade de uma liderança com experiência, que já foi prefeito da maior cidade do Espírito Santo, que tem resultados para apresentar, como apresentamos na Serra. E minha vontade é fazer no Espírito Santo o que fiz na Serra.

Se não conseguir viabilizar a candidatura ao Palácio Anchieta, o senhor pode mudar de ideia, acionar um plano B e ser candidato, por exemplo, a senador?

Não, não tem isso. Eu já tenho o que preciso para ser governador. Em primeiro lugar, eu tenho que querer ser candidato a governador. E eu quero. Me sinto preparado para isso. Sei montar equipes. Sou muito gestor. Com todo o respeito ao que está colocado aí, sou o que tem mais experiência de gestor. Então quero, sou bom gestor, tenho algo a apresentar à sociedade neste Estado… e tenho um partido que também quer que eu seja candidato a governador e que corre risco zero de que haja uma interferência para tirar isso. Quero ser o governador municipalista. Já está pronto, só faltam três, o que é que cada município entende de prioridades, de urgência e de importância. Já está pronto o programa de governo por município. Agora já tenho um grupo estudando o programa de governo por segmento. Até agosto, vamos ouvir a sociedade, a academia… Então, tenho vontade, tenho desejo, estou preparado, tenho equipe e tenho partido. Não tem motivo para eu não ser candidato a governador.

Então o senhor não será candidato a senador em hipótese alguma?

Não. Esquece. Sou executivo. Sou gestor. Eu não sou legislador. Parabenizo quem é. Entendo que é importante termos bons legisladores. É importante para a democracia. E estamos vivendo um momento em que isso é mais importante que nunca. Mas não é o perfil do Audifax. O Audifax é executivo: o Audifax prefeito por doze anos, secretário de Estado [de Planejamento, de 2009 a 2010] e em todos os municípios da Grande Vitória. Somando essa experiência toda, são mais de 30 anos. Eu falo sempre para as pessoas: não sou melhor do que ninguém na gestão. Mas, com a experiência que tenho de mais de 30 anos, estou preparado, capacitado e animado para tomar conta deste Estado.

Mas, se eventualmente lá na frente, entre julho e agosto, o senhor não tiver conseguido viabilizar essa candidatura ao governo, o senhor não será candidato a nada?

Não sou candidato a nada.

É governo ou nada?

É. [Nesse caso] não sou candidato a nada. É lógico que… sou um homem espiritual, não estou aqui pregando religião, não uso isso para política, mas sou um homem espiritual. E aí, sim. Aí é eu e Deus [sic], da forma como Deus fala comigo. Então, aí, sim. Mas, por outro motivo, não. Já está acordado dentro da minha família.

A família apoia?

A família apoia. E, dentro do meu partido e das andanças que já fiz pelo Estado, percebo que nosso nome é viável. Isso é nítido e claro, não só pela base que tenho na Serra e pelo conhecimento da Grande Vitória. O que nós fizemos na Serra se expandiu para o Espírito Santo, e até para fora deste Estado eu percebo isso. Sinto que serei governador deste Estado.

O senhor manterá a candidatura mesmo se ficar isolado politicamente no processo eleitoral, sem alianças com outros partidos?

Olha só, eu quero ser governador e eu tenho um partido. E sinto que Deus tem colocado isso na minha vida. Repito a você: sou um homem espiritual, e Deus tem colocado isso na minha vida. Agora tenho um dever de casa: de agora até agosto, que é o mês das convenções, buscar outras alianças. Isso vai acontecer. Já conversei com vários partidos. É lógico que estou impressionado com tantos candidatos a governador que estão sendo colocados aí. Entendo isso até como positivo, bom para o eleitor, bom para a democracia e bom para o debate. Quem vai ganhar com isso é o Estado. Mas é lógico que, tendo dez candidatos a governador, só aí vão ser dez partidos [com candidatura própria], então diminui muito o leque de partidos [para firmar aliança]. Mas já conversei e vou conversar muito. E cada dia mais sinto que isso vai acontecer, viabilizando minha candidatura, que sinto que é muito viável, com respeito a todas as outras nove.

Mas isolado, então, não dá?

Isolado eu tenho certeza que nós não vamos ficar.

Quanto ao tempo de TV, é um fator fundamental na sua avaliação?

Essa pergunta é importante. Se você me perguntar: Audifax, para esse projeto, qual é o grande desafio? A população sabe dessa coisa do gestor que eu sou. Agora, eu preciso, sim, do tempo de televisão. Então, essa é uma necessidade que vou estar buscando aqui. E tenho certeza que a nacional [a direção nacional da Rede] vai me ajudar nisso também, porque o Audifax foi definido a nível de Brasil como o único candidato a governador pelo meu partido.

A Rede não terá candidato a governador de nenhum outro estado?

Nenhum outro estado. Somente no Espírito Santo. O foco do partido será o Espírito Santo.

Isso lhe dá a certeza, ou pelo menos a expectativa, de receber uma boa injeção de recursos de campanha por parte da direção nacional?

Não só me dá expectativa, mas certeza. Se você olhar dois anos atrás, na eleição de prefeitos, mesmo sendo um dos menores partidos do Brasil, o partido que mais botou recursos nas campanhas de prefeito no Espírito Santo foi a Rede. Mais do que qualquer outro.

Já tem uma cifra combinada, ou um valor mínimo para bancar a sua campanha?

Se você levantar lá na eleição para prefeito, que foi há dois anos, você vai ver que nós fomos o partido que mais colocou recursos [nas candidaturas da Rede no Espírito Santo]. Então provavelmente, para governador, vai ser muito mais.

O senhor tem se falado com o governador Renato Casagrande?

Com certeza faz mais de um ano que não converso com ele.

E com o ex-governador Paulo Hartung?

Com esse eu tenho conversado um pouco mais.

Ele pode ser considerado um incentivador da sua campanha?

O Paulo, a gente tem que respeitar o tempo dele. Quem conhece um pouco o Paulo tem que entender isso. Tem que entender e respeitar isso. O Paulo tem o tempo dele. É uma liderança neste Estado, foi determinante demais lá atrás. Sempre coloco que este Estado é antes de o Paulo ter sido governador e depois. Mas tenho que respeitar o tempo dele e aconselho todos a fazerem o mesmo.

Sobre Fabiano Contarato: ele chegou ao Senado em 2018 pela Rede, com o seu total apoio, filiado pelo senhor e com a legenda assegurada pelo senhor. No meio do mandato, em fevereiro, troca de partido e agora se lança ao governo do Estado, possivelmente contra o senhor. Como o senhor avalia esse movimento do senador?

Respeito. É democrático. Como eu disse, respeito todas as candidaturas, é bom para a democracia, para a população e para o debate eleitoral. Ele provavelmente vai defender uma linha diferente da minha, com certeza. Fiquei o ano ado todo querendo conversar com ele para tratar da saída dele da Rede. Consegui em dezembro. Nessa conversa, tratamos da saída dele. Desejo que Deus abençoe a ele, a vida dele e tudo. Mas… como é que eu posso falar para você? Foi uma aposta que não só eu, mas mais de um milhão de pessoas fez [sic]. Não foi só o Audifax. A responsabilidade não foi só minha. Foi minha e de mais de um milhão de pessoas que apostamos nele. Mas vida que segue e vamos pra frente.

Aposta frustrada?

Eu não poderia estar colocando essa coisa de “aposta frustrada”. A gente esperava uma coisa, e isso não aconteceu. Então, vida que segue, vamos pra frente. Espero que ele seja feliz, que siga a vida dele e que Deus abençoe a vida dele. Nós vamos seguir a nossa.

E quanto à iminente federação da Rede com o Psol? O comando nacional da Rede já aprovou a ideia da federação, a qual, uma vez confirmada, também valerá nas disputas locais em todos os estados. Nesse caso, o senhor será o candidato ao governo não só da Rede, mas também do Psol. De que maneira isso influencia a sua candidatura?

Olha, essa decisão é algo que não está ao meu alcance. A federação ainda não foi concretizada. Isso pode ser feito até o fim de maio. Estou muito tranquilo em relação a isso. O que posso te dizer é que minha candidatura é garantida pela Rede, independentemente da federação. Não estou participando das conversas nacionais. Mas uma das condições que a direção nacional da Rede colocou para a direção nacional do Psol, para poder fechar a federação, é a manutenção da minha candidatura ao governo no Espírito Santo. Repito: é a única candidatura da Rede a governador no Brasil inteiro.

O senhor vai conversar com os representantes do Psol no Estado?

Vamos dialogar, sim, como já estamos dialogando. Já conversei duas vezes com a Camila [a vereadora de Vitória Camila Valadão]. Já conversei com o Juliano [o presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros].

O Psol é um partido bem de esquerda no espectro ideológico, com muitas bandeiras ligadas a causas identitárias e direitos das minorias. Tem um nicho fiel de apoiadores, mas desperta a rejeição de parte do eleitorado. O senhor acha que pode enfrentar alguma dificuldade junto aos eleitores capixabas se ar a ser identificado como o candidato do Psol ao governo?

Quanto a isso, estou muito tranquilo. Vamos fazer tudo com muita paciência, com muita humildade e com muito respeito a todos. Tudo no tempo certo.

O Psol te ajuda com o tempo de TV, não é?

Olha, eu quero [a federação]. Se você me perguntar se eu quero, eu quero.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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