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Coluna Vitor Vogas

Doutor Hércules declara apoio a Erick contra Casagrande na eleição

Magoado com o governador e com o PSB, ele afirma que “o coração de muita gente está com Alzheimer no Espírito Santo”

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Hércules Silveira declara apoio a Erick Musso. Foto-montagem: Vitor Vogas

Após ar todo o atual governo Casagrande como integrante da base aliada na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Hércules Silveira trocou o MDB pelo Patriota aos 47 minutos do segundo tempo (ou na prorrogação) da janela partidária. Presidido no Estado pelo também deputado Rafael Favatto, o Patriota acaba de anunciar apoio ao presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos), na eleição ao governo estadual, contra Casagrande. Em entrevista à coluna, Hércules afirma que agora também apoia a candidatura de Erick, acompanhando a decisão do seu novo partido:

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“Eu acompanho o partido. Sempre fui fiel ao partido a que fui filiado. ei 12 anos filiado ao MDB e sempre fui fiel ao MDB. Agora estou no Patriota e, naturalmente, vou acompanhar o que a direção do partido determinar.”

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A entrevista de Hércules (cuja íntegra você lê abaixo) também elucida algo que já era comentado em tom menor nos corredores da Assembleia: Erick atuou pessoalmente para conseguir encaixar Hércules no Patriota e foi quem encontrou uma solução para o imbróglio partidário em que o doutor havia se metido. O próprio Hércules confirma o papel fundamental desempenhado pelo presidente da Assembleia, citado por ele ao lado de Favatto como alguém a quem deve gratidão.

Favatto também confirmou para nós a atuação direta de Erick nessa articulação que foi praticamente a operação de salvamento de Hércules.

No dia 1º de abril, último dia para deputados trocarem de partido sem correr o risco de perder o mandato, Hércules desfiliou-se do MDB. Mas, no dia seguinte (2), ainda conversava com dirigentes de partidos da base aliada de Casagrande, na tentativa de se acomodar em algum deles. Chegou a falar, no dia 2, com o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini, mas só encontrou recusas.

Hércules também chegou a preencher uma ficha de filiação no site do PSB nacional, mas Gavini declarou que a direção local do PSB não abonaria a filiação. Eis que, no dia 5, Favatto e Hércules anunciaram a filiação do segundo ao Patriota (jurando que tudo foi feito no dia 1º, dentro do prazo legal).

Seja como for, Hércules encontrou em Favatto e Erick o socorro que não obteve de Casagrande e do PSB. E não esconde seu ressentimento com o Palácio Anchieta. Sem citar nomes, o doutor dá seu diagnóstico: tem muita gente com Mal de Alzheimer na política capixaba.

“Eu não posso ser ingrato, como muita gente é ingrata. Aliás, gratidão é a memória do coração. Essa frase não é minha. É muito dita e pouco usada, porque muita gente fala isso, mas pratica outra coisa. O coração de muita gente está com Alzheimer.”

Ou seja: enquanto jura lealdade e expressa gratidão a Erick e Favatto, Hércules sugere que o governo foi ingrato com ele após anos engrossando a base parlamentar de Casagrande.

O deputado afirma, contudo, que continuará votando com o governo nos projetos do Executivo que sejam bons para a sociedade capixaba. Mas uma mudança de postura é esperada.

Indício forte disso foi o fato de ele já ter sido um dos dez deputados que am o requerimento de Danilo Bahiense (PL), deputado de oposição, para a criação da Frente Parlamentar de Valorização Salarial de Policiais e Bombeiros (incômodo para o Palácio). Há cerca de um mês, seria muito difícil imaginar algo assim.

Abaixo, você confere a entrevista completa de Hércules:

Após muitos anos no MDB e na base de Renato Casagrande, o senhor agora está filiado ao Patriota, que acaba de anunciar apoio à candidatura de Erick Musso a governador, contra Renato Casagrande. O senhor também apoiará o Erick na eleição ao governo do Estado?

Eu acompanho o partido. Sempre fui fiel ao partido a que fui filiado. ei 12 anos filiado ao MDB e sempre fui fiel ao MDB. Agora estou no Patriota e naturalmente vou acompanhar o que a direção do partido determinar.

E quanto à sua atuação parlamentar, o senhor vai mudar seu comportamento em relação ao governo Casagrande, principalmente na votação das pautas importantes e projetos vindos do Executivo? Agora apoiando um candidato de oposição, o senhor sai da base do governo?

Não, não tenho que sair da base do governo, mesmo porque, quando os projetos forem em benefício do povo, eu vou votar naturalmente. E até agora o governador não tem mandado nenhum projeto que possa prejudicar a população, que seja alguma armação, que seja em benefício pessoal para algumas pessoas e algumas empresas. Então, o que o governador mandar para cá, se for do interesse do povo, como tem sido até agora, eu vou continuar votando a favor. Não é porque agora sou do Patriota e o partido vai apoiar o Erick que nós vamos fazer oposição sistemática ao governo. De forma alguma. Vamos acompanhar o governo em todos os projetos que forem bons.

Então hoje o senhor se considera um deputado aliado do governo, de oposição ou independente?

Eu dependo do meu partido. O que meu partido determinar eu vou votar. E o líder do meu partido é Rafael Favatto. Vou acompanhar a votação do Rafael.

O senhor se sente, de algum modo, traído ou abandonado pelo governo Casagrande e pelo governador por não ter recebido a ajuda necessária para resolver a sua situação partidária no limite do prazo da janela para trocas?

Não. O governador tem os seus motivos e as suas razões. E eu tenho as minhas também. E o futuro vai mostrar. Acho que, se eu estivesse no partido do governador, modéstia à parte, eu somaria mais para o PSB. Mas o PSB e algumas pessoas do PSB não queriam que eu entrasse. Estou pagando hoje um preço porque estão dizendo que tenho muitos votos…

É até um paradoxo, não? O senhor acaba sendo “punido” por seu histórico de sucesso eleitoral?

Na verdade, tenho feito um mandato bom, um mandato muito responsável, muito “pés no chão”. Tenho lutado por uma saúde pública melhor. Atravessamos uma pandemia terrível, e muitas providências boas foram tomadas com o apoio não só da minha pessoa, mas também pela Comissão de Saúde [presidida por Hércules]. Também há o trabalho social que eu faço, ajudando muitas entidades sem fins lucrativos. Então, tenho feito um mandato de sucesso e estou pagando por isso. Fui rejeitado por alguns partidos e por alguns deputados, achando que eu iria para lá para tirar as cadeiras deles. Não se trata disso. Acho, modéstia à parte, que eu poderia fortalecer algum partido indo para lá. Mas, na verdade, não foi possível. E estou aí com o Patriota. Vamos disputar a eleição. Espero ter sucesso. Se eu ganhar a eleição, vai ser bom. Se eu não ganhar também, vou para a roça criar galinhas.

Qual é sua meta de votação individual? Pretende, no mínimo, repetir os 30 mil votos de 2018?

Na penúltima eleição [em 2014], cheguei a ter, só em Vila Velha, 36 mil votos. Depois, na última eleição, com uma divisão dentro do MDB, acabei perdendo 10 mil votos. Dez mil votos são uma cadeira de deputado. Teve deputado que entrou com 11 mil votos. Então, em 2018, perdi 10 mil votos, mas mesmo assim tive mais de 30 mil votos. Então, a minha expectativa de votos, em números, eu não devo falar. Espero uma boa votação, mas quem faz esse cálculo são os deputados, os colegas e vocês da imprensa.

Nessa sua transferência para o Patriota, o senhor contou com a colaboração direta do presidente Erick Musso? Ele ajudou nessa construção?

Na verdade, nós conversamos também. Nós conversamos com o presidente, e ele conversou com o Rafael [Favatto]. Eu não posso ser ingrato, como muita gente é ingrata. Aliás, gratidão é a memória do coração. Essa frase não é minha. É muito dita e pouco usada, porque muita gente fala isso, mas pratica outra coisa. O coração de muita gente está com Alzheimer. Quem tem Alzheimer esquece a memória recente. Você se lembra da infância, mas esquece onde colocou a chave do carro, se esquece de tomar o comprimido. Então, muita gente fala da “memória do coração”, mas não pratica a gratidão.

Quem “está com Alzheimer” na política capixaba?

Muita gente.

Favatto também é obstetra e é pré-candidato a deputado federal, enquanto o senhor disputará a reeleição. Vocês farão uma campanha casada, com um pedindo votos para o outro?

Com certeza. Ele também é de Vila Velha e é obstetra como eu. Temos a expectativa de muitos votos em Vila Velha.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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