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Coluna Vitor Vogas

Do governo para o Senado: como entender o movimento de Colnago?

A aposta alta do ex-vice-governador, a vocação parlamentar de Colnago, os ruídos dentro do PSD e a dificuldade do partido em apresentar uma chapa para a Câmara Federal

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César Colnago – Foto: Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados

Foram cerca de 40 dias repetindo que era pré-candidato ao governo do Estado. Mas, após conversa com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, na última segunda-feira (9), César Colnago finalmente itiu que o pré-candidato da sigla a esse cargo é o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon. E anunciou sua mudança de planos: agora fará de tudo para viabilizar candidatura ao Senado, pelo mesmo partido. Como explicar esse movimento inicial e esse deslocamento de Colnago no tabuleiro eleitoral capixaba?

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A sensação é que, após ter ficado sem espaço no PSDB estadual para tentar viabilizar candidatura ao governo, o ex-vice-governador resolveu trocar de partido em março e decidiu já chegar ao PSD fazendo um lance bem alto. Assim, conseguiu valorizar o próprio e nas negociações internas com os outros aliados do ex-governador Paulo Hartung alojados hoje no PSD.

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Deputado federal ele já disse (e reafirmou à coluna) que não será de novo de jeito nenhum. Vice-governador tampouco. Resta a candidatura a senador. Para Colnago, desde o início, era daí para cima. E é a opção que, agora, ele abraça com força.

Se, no dia 15 de agosto, Colnago realmente conseguir registrar candidatura a senador, terá sido um vencedor nesse processo – independentemente do resultado da eleição ao Senado. Do contrário, pode sair desse túnel menor do que entrou. Especialmente se tiver que se contentar com uma candidatura a algum cargo que ele mesmo enfatizou não pretender disputar de novo, como a deputado federal ou a vice-governador.

De jeito nenhum

Colnago reitera que não “descerá” para deputado federal de modo algum. “Não. Federal, não. Já fui federal [de 2011 a 2014]. Já fui bem avaliado. Vou batalhar para ocupar o Senado.”

Não cederá o espaço

Imaginemos uma situação muito comum: lá na frente o PSD negocia o apoio de outro partido a Guerino Zanon. O PSD não oferece a vaga ao Senado para atrair esse partido, mas este pede a vaga ao Senado em troca da confirmação do apoio. Como é que vai ficar? Há alguma chance de o PSD ceder esse espaço e rifar Colnago?

Ele mesmo afasta a hipótese: “Você tem três espaços na chapa majoritária. Tem a vice-governadoria, por exemplo”.

A conversa com Kassab

Elevado a presidente estadual do PSD, Colnago foi a Kassab acompanhado por um dos dois vice-presidentes do partido no Espírito Santo, José Carlos da Fonseca Júnior (o outro é o filho mais velho de Guerino, Fausto Zanon). Essa foi só a segunda vez que Colnago conversou pessoalmente com Kassab. Na primeira, como vice-governador, ele recebeu o ex-prefeito de São Paulo no museu Mello Leitão, em Santa Teresa.

Segundo Colnago, sua pré-candidatura ao Senado foi fruto de entendimento com Kassab e, antes disso, entre ele, Fonseca Júnior e outros dirigentes estaduais do PSD.

“Guerino e eu somos duas figuras centradas, com história e experiência tanto no Executivo como no Legislativo. Kassab disse que seria interessante eu e Guerino evoluirmos como duas figuras centrais nessa discussão no Espírito Santo. É possível fazer mais no governo do Estado e é possível fazer mais pelo Estado no Senado.”

Cem por cento com Guerino

Colnago assegura que agora vai se empenhar de corpo e alma também na campanha de Guerino: “Lógico, não faço nada pela metade. Quando assumo algo, assumo, acabou. Vamos trabalhar. Até vou levá-lo a algumas regiões que conheço bem”, conta ele, destacando que tem “mais entrada” nas regiões Sul e Serrana, enquanto Guerino é mais conhecido no Norte.

Histórico parlamentar

Pessoalmente, entendo que a mudança de candidatura de Colnago também faz mais sentido por ele ter perfil muito mais voltado para o Legislativo que para o Executivo. Dos sete mandatos já exercidos por ele, tirando o último (de vice-governador), todos foram parlamentares: três de vereador de Vitória, dois de deputado estadual e um de deputado federal.

Como vereador, foi líder do então prefeito Paulo Hartung e presidiu a Câmara de Vitória. Como deputado estadual, foi líder do então governador Paulo Hartung e presidente da Assembleia. Como deputado federal, foi vice-líder do PSDB na Câmara.

Vocação também

Porém não se trata só de uma questão de biografia, mas também de vocação. Colnago é um homem do diálogo, da moderação e da conciliação. Ele mesmo costuma ressaltar que uma pesquisa realizada em 2011 pela Uerj e pela revista Veja o ranqueou como o 6º melhor entre os 513 deputados federais.

Também costuma contar que, como vice-líder do PSDB, mantinha excelente relação com o então líder do governo Dilma na Câmara, Arlindo Chinaglia (médico como ele). Apesar das muitas críticas feitas da tribuna a políticas da istração Dilma Rousseff, Colnago relata que várias vezes propôs a Chinaglia emendas a projetos do Planalto e até empenhou-se em convencer a bancada do PSDB a votar com o governo em algumas matérias importantes. “Às vezes eu conseguia; às vezes, não.”

Nem tanto, nem tanto…

O próprio Colnago relativiza minha opinião a respeito de sua vocação para o Legislativo. Calcula que, ao longo dos seus seis mandatos parlamentares, ficou cerca de 40% do tempo licenciado, exercendo cargos no Poder Executivo – como secretário municipal de Vitória e secretário estadual, em diversas pastas.

Por que o ruído?

Indiretamente, na virada de março para abril, Colnago e Fonseca Júnior discordaram de maneira pública: enquanto ele insistia que era pré-candidato ao governo, o aliado afirmava que a vaga era de Guerino Zanon. Por que houve aquele ruído e como foi dirimido? “Nós estávamos chegando, e isso foi fruto de entendimentos internos. Aquele momento fez com que a gente se sentasse, conversasse e se entendesse”, responde Colnago.

“Seria ruim, sim”

Colnago ite que uma disputa interna e o prolongamento de certa indefinição sobre a candidatura ao governo poderia atrapalhar o próprio PSD na eleição majoritária. “Talvez se isso fosse levado lá ao pé da convenção, seria ruim.”

Vai ter chapa de federais?

Como o próprio Colnago reconhece, “ele [Kassab] tem muito interesse em que os estados façam deputados federais”. É claro: é o que todos eles mais querem, principalmente os dirigentes de partidos do Centrão, como Kassab.

Mas todos (sem exceção: todos) os agentes políticos capixabas fora do PSD afirmam que Guerino não entregou esse pacote e o PSD não terá chapa de candidatos a federal no Espírito Santo. Sem citar nem um só pré-candidato, Colnago, o presidente estadual, relativiza: “Todo mundo está tendo dificuldade. Não somos só nós. Mas vamos registrar chapa, sim. E vamos tentar fazer um federal”.

A conferir.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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