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Coluna Vitor Vogas

Dissidência na federação com o PT: PV prefere Casagrande a Contarato

Forçado a integrar federação com o PT e o PCdoB, presidente estadual do Partido Verde defende a tese de que divisão da esquerda em dois palanques no ES só beneficia a direita e atrapalha Lula

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Fabrício Machado é presidente estadual do PV. Foto: Facebook

Constituída em escala nacional e forçosamente replicada em todos os estados, a federação entre PT, PCdoB e PV já nasce no Espírito Santo com uma divergência em um ponto fundamental: o Partido Verde prefere apoiar a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB) a encampar o projeto de candidatura própria do senador Fabiano Contarato (PT).

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Ocorre que, pela natureza da federação – espécie de coligação válida não só durante as eleições, mas pelos quatro anos seguintes –, todas as siglas que a compõem am a atuar, na prática, como se fossem um só partido. Vai daí que Contarato agora não é só o pré-candidato do PT ao governo do Estado, mas, automaticamente, também o do PCdoB – fechado com o PT – e também o do PV, que prefere manter-se perfilado a Casagrande.

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Quem expressa esse posicionamento é o próprio presidente estadual dos verdes, Fabrício Machado, secretário estadual de Meio Ambiente desde o início do atual governo.

“O PV apoia o governador Renato Casagrande. É importante pontuar, em primeiro lugar, que apoiar a candidatura de Casagrande não é nenhum tipo de ataque à candidatura do senador Contarato. São coisas distintas. Nossa relação com Contarato é boa. Ele é um cara que atua fortemente na pauta ambiental no Senado, uma pauta muito importante para o PV. iramos o trabalho dele. Trata-se de uma questão de divergência relacionada ao leque de alianças locais. Já estamos no governo Casagrande e temos uma história de aliança com o PSB no Espírito Santo. Dificilmente vamos declarar apoio a outra candidatura.”

O presidente estadual do PV defende que as forças de esquerda caminhem juntas no Espírito Santo. “Particularmente, não acho estratégica uma divisão em duas candidaturas de esquerda.”

O raciocínio de Machado é simples. Na verdade, ele verbaliza algo que muita gente pensa na política capixaba: se tanto Casagrande quanto Contarato entrarem na mesma disputa, tendem a dividir os votos da esquerda, em um caso clássico de tiro no pé, ou de autossabotagem.

Por essa ótica, se o PT (ou melhor, a federação PT/PCdoB/PV) retirar Contarato do páreo, Casagrande tem chances de vencer a eleição já no 1º turno; mas se insistir em manter Contarato na disputa, a federação pode acabar ajudando os adversários posicionados no campo oposto: a direita ligada a Bolsonaro.

Em última análise, essa divisão de forças na esquerda pode favorecer a chegada de um candidato bolsonarista ao 2º turno. Medindo forças entre si, o PSB de Casagrande e a federação das três siglas de esquerda se enfraquecem mutuamente e fortalecem os oponentes em comum. Assim, se a federação mantiver a candidatura de Contarato, beneficiará principalmente aqueles que ela mais quer combater.

Não por acaso, esse mesmo raciocínio foi expresso em outras palavras pelo mais bolsonarista dos pré-candidatos ao governo, Carlos Manato (PL), em entrevista à coluna: […]

Para Fabrício Machado, isso é um paradoxo que precisa ser evitado:

“Essa divisão não favorece nem o PT nem o PSB. Não contribui nem para a estratégia do Contarato nem para a do Casagrande. Juntos, o PT e o PSB têm força para eleger um candidato no primeiro turno. Esse candidato, para mim, deve ser Renato Casagrande. O Contarato tem feito um trabalho brilhante no Senado, o Espírito Santo precisa dele lá. E Casagrande tem feito um trabalho brilhante no Espírito Santo. Um segundo mandato dará a ele a possibilidade de fazer ainda mais entregas”, argumenta o dirigente do PV-ES.

“O Espírito Santo, com essa junção de forças, pode contribuir muito, inclusive, na política nacional. Não é dividindo que vamos atingir os nossos objetivos. Essa divisão pode inclusive ajudar um candidato de direita a chegar ao segundo turno. Ter muitas candidaturas fraciona muito a votação, e é importante estarmos juntos nesse processo. Creio que é preciso haver uma ampla junção de forças”, desenvolve Machado.

Em âmbito nacional, o PSB e a federação PT/PCdoB/PV estarão coligados e, na eleição presidencial, o candidato a vice-presidente de Lula (PT) será o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB). Na opinião de Fabrício Machado, a divisão dessa coligação nacional em dois palanques no Espírito Santo prejudica até o objetivo estratégico prioritário de todas essas forças de esquerda, que é levar Lula de volta à Presidência.

“No Espírito Santo, o PV também vai apoiar o Lula. Mas essa divisão na eleição ao governo estadual prejudica até a campanha do Lula no Espírito Santo. Havendo duas candidaturas a governador aqui, com Renato num palanque e Contarato no outro, não consigo entender como isso favorece uma frente ampla de apoio a Lula em nosso Estado. Precisamos todos nós, PT, PV, PCdoB e PSB, estar juntos em torno da candidatura do Lula no Espírito Santo, para que a campanha dele tenha força no Estado. Dois palanques trarão um sentimento de divisão. Vai haver até uma confusão dos eleitores: por que o Geraldo Alckmin, que é do PSB, é vice do Lula e o Contarato, que é do PT, está em outra frente estadual? E vice-versa.”

O presidente estadual do PV diz que já transmitiu esse ponto de vista de modo muito franco e transparente à presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, e a outros líderes petistas no Estado, como João Coser, Helder Salomão, Iriny Lopes e Nunes.

“A Jackeline é uma excelente presidente, e dialoga bem comigo e com o Neto Barros [presidente estadual do PCdoB]. Temos feito reuniões na sede do PT estadual. Herdamos um processo de cima para baixo [a federação], mas as reuniões têm transcorrido numa cordialidade muito boa. Sabemos que o PT vai para a mesa com um peso político maior, mas o PV e o PCdoB têm sido tratados de forma muito respeitosa, não de forma desequilibrada. O nosso único ponto de discordância, ou de esclarecimento, diz respeito à eleição a governador.”

Acontece que o PV é minoria (ou voto vencido) nesse “triunvirato” de presidentes estaduais reunidos no fórum deliberativo provisório da federação no Espírito Santo. A presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, afirma que conta com o apoio de Neto Barros na tese de manter a candidatura de Contarato ao governo.

E, quando for oficialmente constituído o órgão diretivo e decisório da federação no Estado, o PV continuará em minoria, em face da predominância do PT – ainda mais fortalecido com o apoio do PCdoB.

Nesse caso, se realmente “sobrar” na federação e for voto vencido na tese de apoiar Casagrande, o que fará o PV? Segundo Machado, sua intenção é esgotar as tentativas de convencimento interno, mas, se as vias do entendimento politico fracassarem, ele pretende se informar acerca dos caminhos jurídicos para que o PV possa de fato apoiar Casagrande sem violar nenhuma norma nem descumprir o estatuto da federação. Isso pode ar até por uma autorização especial por parte do comando nacional da federação.

“Essa é uma discussão que vamos levar para o comando nacional da federação em Brasília. Se a legislação permitir e se houver uma autorização de cima para baixo, nós vamos fazer. O que estamos fazendo no Espírito Santo por enquanto é dialogar de maneira que um consiga ajudar o outro. Vou esgotar as possibilidades de convencimento político. Se não for possível, vou procurar me informar sobre como fazer isso. Ainda não sei qual seria o formato. Talvez um acordo com o PV nacional, junto com o PT. Até porque o Casagrande tem uma relação muito próxima com o José Luiz Penna, presidente nacional do PV, assim como o PV é muito próximo hoje do PT. Estamos no meio do caminho entre o PT e o PSB.”

Ou seja, no meio desse fogo cruzado entre PT e PSB no Espírito Santo, o PV pode depender de uma intervenção direta, em Brasília, do próprio Casagrande para salvar o apoio do PV a ele mesmo – o que, obviamente, interessa acima de todos ao próprio governador.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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