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Coluna Vitor Vogas

Detalhes e bastidores da união eleitoral entre Erick Musso e Rigoni

O que os dois disseram (e o que não disseram) na coletiva de imprensa em que anunciaram juntos a retirada das respectivas candidaturas ao governo, sua aliança e seus novos planos eleitorais

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Erick Musso e Felipe Rigoni, durante coletiva de imprensa (28/07/2022). Foto: Leonardo Duarte

“Casablanca” é um filme triste, com final idem, marcado por aquela frase clássica: “Acho que este pode ser o início de uma bela amizade”. Expressando mais que o início de uma parceria eleitoral, mas também o de uma “bela amizade”, o deputado estadual Erick Musso (Republicanos) e o federal Felipe Rigoni (União Brasil) anunciaram lado a lado, na última quinta-feira (28), o fim das respectivas candidaturas ao governo do Estado, marcado, segundo eles, pelo início de uma “aliança para construir um novo ciclo no Espírito Santo” (pensando não nesta eleição, mas nas próximas).

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Não foi propriamente um grand finale para quem (Rigoni em especial) entrou na pré-campanha, há quatro meses, anunciando, para já, “o fim do ciclo político de 20 anos de revezamento de Paulo Hartung e Casagrande no poder no Espírito Santo”.

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Foi uma maneira não tão convincente de os dois buscarem sair por cima, de forma honrosa, de uma disputa ao governo estadual na qual morreram abraçados antes da largada oficial da campanha.

Erick troca a candidatura ao governo do Estado pela postulação a senador, no lugar que antes era ocupado pelo ex-prefeito de Colatina Sérgio Meneguelli (também do Republicanos), que, por sua vez, a a ser candidato a deputado estadual. Rigoni abandona a candidatura ao Palácio Anchieta para pleitear a reeleição na Câmara dos Deputados.

Se na eleição ao governo os dois somados chegavam a míseros 5% das intenções de voto nas pesquisas, agora am a ser, na minha avaliação, candidatos competitivos nas respectivas postulações.

Rigoni pode ter dificuldades pelo tempo inacreditável que perdeu para pavimentar a candidatura à reeleição, mas creio ter chances reais de se manter na Câmara, ao o que Erick, a meu ver, pode surpreender na corrida ao Senado (por absoluta falta de um candidato com o seu perfil ligado à juventude e à ideia de “renovação política” que ele tentará fazer colar).

O Republicanos de Erick e o União Brasil de Rigoni, somados ao PSC e ao Patriota, am a formar uma coligação de apoio a Erick na eleição ao Senado e válida tão somente para essa disputa. Não formarão coligação nem apoiarão ninguém na eleição a governador a que acabam de renunciar.

Perguntei a Erick se a decisão de rifar a pré-candidatura de Meneguelli partiu da direção estadual ou da direção nacional do Republicanos. Ele respondeu, objetivamente, que foi da nacional.

Há fortíssimas controvérsias.

Sem nos aprofundarmos demais, basta apontar o principal beneficiário dessa sacudida no tabuleiro.

Jogadores imprevisíveis

Não é de hoje que Erick e o presidente estadual do Republicanos, Roberto Carneiro, parceiro inseparável do primeiro, têm se revelado enxadristas políticos. Daqueles que, quando menos se espera, podem dar um tapa no tabuleiro ou virá-lo de cabeça para baixo.

E as peças do xadrez que se segurem.

O papo de Rigoni com seus colegas de chapa

Perguntei a Rigoni como ele conterá eventuais focos de insatisfação entre seus agora companheiros na chapa do União Brasil para deputado federal, uma vez que quase todos que já estavam lá entraram na chapa (e no partido), a convite de Rigoni, sem essa “surpresinha” apresentada agora: a presença do próprio na chapa. Por que eles não podem sentir que no fim das contas vão trabalhar para ajudar o presidente do partido a se reeleger?

Rigoni respondeu que, ao contrário, sua chegada fortalece a chapa de federais do União, a qual, segundo ele, a a poder eleger dois federais.

De novo: há fortíssimas controvérsias. O prognóstico mais realista é que o União fará, no máximo, um deputado federal no Espírito Santo. E, se o fizer, será Rigoni. Resta saber se os demais pré-candidatos estão cientes disso.

Rigoni sobre Lula

Segundo Rigoni, “não há a menor possibilidade de o União apoiar Lula” para presidente, informação chancelada, afirma o deputado, pelo presidente nacional da legenda, Luciano Bivar.

“De senador pra baixo”

“A nossa união é de senador pra baixo”, afirmou Erick, reforçando que a coligação não terá candidato a governador. Ele explicou que cada candidato a deputado estadual ou federal dos quatro partidos coligados ficará inteiramente livre para apoiar o candidato que quiser para o Palácio Anchieta. “Cada indivíduo dentro dos seus partidos tem a liberdade de fazer a sua escolha.”

“Sempre uma escolha”

É o título da autobiografia de Rigoni lançada em maio.

Sem candidato ao governo

Questionado insistentemente sobre eventual candidato a governador, Erick afirmou que seu foco agora a a ser 100% a própria candidatura a senador: “Eu vou pedir voto a senador da República”, disse ele. “E eu, a deputado federal”, emendou Rigoni, provando que a dupla Erigoni está afinada.

Pautas federais

Na entrevista coletiva, demonstrando a virada de chave, Erick já enfocou algumas pautas federais, como a necessidade de destravar os eternos gargalos logísticos do Espírito Santo.

Presidência: Erick também ajusta o foco

“No tocante” à eleição presidencial, a adaptação do discurso de Erick foi sensível (para não dizer radical). Como pré-candidato a governador, ele vinha lutando por espaço no terreno bolsonarista. Em entrevista à coluna, declarou que não teria problema algum em dividir palanque com Bolsonaro (candidato apoiado pelo partido dele). E, quando o próprio presidente esteve em Vitória, no último dia 23, na “Marcha para a Jesus”, Erick foi ao encontro dele no Aeroporto de Vitória.

Na coletiva, foi perguntado a Erick se ele manterá esse apoio. Ele não se posicionou a favor de ninguém para presidente. “Temos que ser mais Espírito Santo e menos polarização”, desconversou.

A nova estratégia

Na briga pelo Senado, o polo extremo do bolsonarismo já está monopolizado pelo ex-senador Magno Malta (do PL, como o presidente, que inclusive já o chamou em vídeo de “nosso candidato ao Senado” no Espírito Santo).

Ao lado de Rigoni (que o ajuda neste aspecto), Erick buscará se vender como candidato de centro para centro-direita, moderado.

Rigoni de bizu com Casagrande

Rigoni itiu aquilo que já havíamos publicado aqui: conversou recentemente com o governador Renato Casagrande (PSB). Mas desconversou sobre a comentada reaproximação política entre os dois: “Conversamos sobre o cenário político-eleitoral do Espírito Santo”.

Pesquisas “não foram um fator”

Tanto Rigoni quanto Erick negaram a influência das pesquisas eleitorais em sua decisão de recolher seus carros para os boxes na corrida ao governo. “Nunca foi pra nós uma questão”, declarou Rigoni.

“Se pesquisa eleitoral decidisse eleição, Pazolini, Arnaldinho e Euclério não seriam prefeitos hoje. Entendemos que nosso projeto demanda maior tempo de maturação no que tange ao Executivo estadual, mas abrindo este novo ciclo político, que a por uma mudança geracional”, formulou Erick.

De novo e em letras garrafais: HÁ FORTÍSSIMAS CONTROVÉRSIAS.

Por que Meneguelli será estadual?

Erick deu sua versão sobre o processo de reflexão que levou Meneguelli a aceitar ser candidato a deputado estadual pelo Republicanos. Segundo o presidente da Assembleia, alguns líderes políticos conversaram pessoalmente com o colatinense, incluindo o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (também do Republicanos).

“Fizemos um apelo ao Serginho para que ele não saísse da vida pública. E ele atendeu a um apelo nosso para que não deixasse de disputar a eleição.”

Expectativa sobre Meneguelli

Se o ex-prefeito popstar de Colatina a a ser a aposta do Republicanos como recordista de votos para a Assembleia? Erick manteve os pés no chão: “Eleição é uma caixinha de surpresas. É muito prematuro. Não dá para medir. Mas ele sem dúvida é uma figura competitiva, altamente popular”, elogiou o presidente da Assembleia.

Mantendo o discurso cauteloso, ele afirmou que, com Meneguelli na chapa, o Republicanos pode eleger de três a quatro deputados estaduais. É uma previsão tão conservadora quanto o ideário do partido.

Pedido de Magno, Bolsonaro e/ou Marcos Pereira?

Erick desmentiu que tenha recebido algum pedido de Brasília para rifar a candidatura de Meneguelli ao Senado. “A mim, não [chegou pedido algum]”.

“Vou pedir apoio ao Ramalho”

Erick ainda negou que aposte na derrocada da pré-candidatura ao Senado de Alexandre Ramalho pelo Podemos, nem concordou que pode se beneficiar com eventual confirmação da queda do coronel.

“Respeito o Coronel Ramalho. Nunca trabalhei querendo tirar ninguém ou achando que, se fulano sair, eu me beneficio. Essa coisa do toma lá dá cá, do tira a qualquer custo, não é comigo. Se ele não for candidato, vou pedir o apoio dele. Mas, se for, eu respeitarei. Desejo sucesso e que toque a vida dele adiante.”

“Só se Deus não deixar”

O presidente da Assembleia disse que, agora, só não será candidato a senador “se Deus não deixar”.

O tempo é relativo, dizia Einstein

“Os últimos dois dias pareceram quatro anos”, desabafou Rigoni.

Momento descontração

Apesar de todo o cansaço e de toda a tensão, a coletiva também teve um momento bem gozado. Como fez 31 anos em junho, Rigoni não tem a idade mínima de 35 para concorrer ao Senado. Para isso, terá que esperar exatamente mais um ciclo eleitoral completo. Perguntei-lhe se ele cogitaria ser candidato ao Senado agora, se já tivesse os 35 anos de Erick.

“Ué, não sei, eu não tenho 35 anos… É igual eu dizer: ‘Se eu enxergasse…’”, comparou o deputado, rindo e fazendo rir os jornalistas e assessores presentes.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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