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Coluna Vitor Vogas

Célia Tavares quer ser candidata ao Senado pelo PT

Educadora afirma ainda que o partido tem tamanho para cobrar de Casagrande a vaga ao Senado na chapa dele, se determinação do comando nacional for apoiar a reeleição do governador socialista

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Célia Tavares. Foto: arquivo pessoal

Em 2018, a educadora Célia Tavares (PT) concorreu pela primeira vez ao Senado. Não foi bem. Com apenas 4,6% dos votos válidos, chegou em 6º lugar. Dois anos depois, surpreendeu na eleição em Cariacica. Num pleito absurdamente embolado, ou para o 2º turno contra Euclério Sampaio, com 14% dos votos válidos. Acabou derrotada pelo então deputado, ficando com 41,3% dos votos válidos na fase decisiva da disputa.

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Agora, após mais de um ano distante dos holofotes, Célia está de volta. Impulsionada pelo bom resultado obtido no último pleito municipal, ela pretende disputar novamente um lugar no Senado pelo PT do Espírito Santo.

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Apresentando-se como uma das pré-candidatas do partido para a vaga da senadora Rose de Freitas (MDB) – por sua vez pré-candidata à reeleição –, Célia acredita estar credenciada para o pleito justamente devido à boa votação alcançada por ela nas eleições municipais adas. Em 2020, o PT não elegeu nenhum prefeito no Espírito Santo, mas levou dois candidatos ao 2º turno em cidades da Grande Vitória: Célia em Cariacica e João Coser em Vitória.

“O que as pessoas falam comigo direto é que saímos da eleição de Cariacica não com uma vitória eleitoral, mas com uma vitória política, dado o contexto daquela disputa. Todos apoiaram Euclério no 2º turno, mas ele não teve vida fácil”, ressalta a petista.

Porém, para conseguir ser mais uma vez a candidata do PT ao Senado, a educadora aposentada tem pela frente alguns desafios maiores que enfrentar Euclério Sampaio em um debate eleitoral (esse não foi o ponto forte dele naquela campanha). O primeiro, supondo que o PT-ES terá mesmo um(a) candidato(a) ao Senado, é vencer a concorrência interna que começa a se desenhar.

A própria Célia cita outros dois possíveis pré-candidatos à mesma vaga: o ex-reitor da Ufes Reinaldo Centoducatte e o ex-deputado estadual Genivaldo Lievore, da corrente interna Alternativa Socialista (AS). Hegemônica há muitos anos no PT capixaba, a AS é a mesma corrente de João Coser, atual vice-presidente estadual do partido.

Além deles, há outro nome (não citado por Célia): o do vereador de Cariacica André Lopes, do mesmo reduto que ela.

Segundo Célia, a Executiva Estadual do PT ainda vai definir os critérios de escolha do(a) candidato(a) ao Senado. Enquanto isso, ela busca angariar apoios, destacando o de outra mulher (esta, sim, diariamente sob os holofotes desde o início da pandemia):

“É fato que temos outros nomes no PT. Não está definido ainda [quem será o candidato ao Senado], mas temos apoios muito importantes. Por exemplo, a Ethel Maciel gravou um áudio para nós, para distribuirmos dentro dos grupos do PT”, conta Célia, referindo-se à epidemiologista que, por curiosidade, foi vice-reitora da Ufes em gestões de Centoducatte, tendo composto com ele a chapa vencedora da eleição à reitoria em 2015.

No caleidoscópio formado pelas correntes internas petistas, Célia pertence à Articulação de Esquerda, a da deputada estadual Iriny Lopes. Também tem o apoio do campo Para Voltar a Sonhar, do deputado federal Helder Salomão, seu principal apoiador no partido. Ela foi secretária municipal de Educação em Cariacica na istração de Helder, que governou a cidade por dois mandatos, de 2005 a 2012.

Mas, de acordo com Célia, a discussão sobre Senado no PT está ando “pelo tamanho dos nomes” e não “pelo crivo das tendências internas e dos campos”.

E por que exteriorizar a pré-candidatura agora, após tantos meses longe das vitrines políticas?

“O meu nome não foi ‘pra fora’ antes porque estávamos aguardando a vinda do senador Fabiano Contarato para o partido”, responde Célia. “Se o PT precisasse lançar um nome para o governo, meu nome estava à disposição. Aliás, meu nome estava disponível para a disputa majoritária deste ano desde 2020, após as eleições municipais. Obviamente, com a decisão de Contarato de se filiar ao PT, ele é o nosso candidato ao governo.”

As possibilidades de recuo

Essa pré-candidatura própria ao governo é exatamente a segunda dificuldade que pode frustrar as aspirações de Célia. Supondo que o PT decida mesmo manter Contarato na corrida ao Palácio Anchieta (algo incerto a preços de hoje), é natural pensar que o partido estará disposto a ceder a vaga de candidato ao Senado na chapa para uma segunda sigla, como uma forma de atrair aliados e construir uma coligação em torno do atual senador.

E se o PT tiver que abdicar da candidatura própria ao Senado em favor de outra sigla, para conseguir formar uma coligação de apoio a Contarato, Célia abrirá mão da sua pré-candidatura sem problemas?

“Sem dúvida!”, responde ela, sem vacilar. “Penso que é sempre bom não estar isolado. Se tivermos a possibilidade de estar numa coligação e se tivermos que abrir mão da candidatura ao Senado, creio que seria muito nobre e não me furtaria a fazer isso, até porque temos um candidato a governador muito competitivo. Como já tivemos que lançar chapa puro-sangue nas últimas duas eleições estaduais [em 2014 com Roberto Carlos e em 2018 com Jackeline Rocha], estamos nos preparando para os dois cenários. Mas, se tivermos que ceder o nome, não temos problema nenhum em ceder espaço para um aliado.”

Falando em aliados, não se podem perder de vista os dois outros partidos de esquerda que serão parceiros íntimos do PT nessa eleição, na federação constituída pelos três: o PV e o PCdoB. Ora, se esses dois já estarão com o PT de qualquer forma, apoiando Fabiano Contarato, não terão o direito de pleitear a indicação do candidato ao Senado na chapa? “Nas conversas atuais, não há essa reivindicação”, afasta Célia.

Eventual composição com Casagrande

Por fim há um terceiro possível obstáculo que, se confirmado, poderá não só desmanchar a candidatura do PT ao Senado, mas, antes de tudo, a candidatura do partido ao governo do Espírito Santo.

E se o PT tiver que retirar a candidatura de Contarato ao governo, por ordem da cúpula nacional, para apoiar a reeleição de Casagrande (como uma das contrapartidas requeridas pelo PSB em troca do apoio total ao retorno de Lula ao Palácio do Planalto)?

Célia acredita que isso não ocorrerá e que a coligação nacional do PT com o PSB não terá reflexos na eleição ao governo do Espírito Santo como terá na de outros estados. Isso porque, segundo ela, o próprio Casagrande tem se apresentado como um candidato de centro, em um campo diferente ao do PT, e não indica fazer questão de ter o apoio do partido de Lula:

“As conversas em nível nacional estão apontando que o Espírito Santo não será um estado em que o PSB vai reivindicar o apoio do PT. Nossos dirigentes nacionais têm dito isso para a gente. Até por conta da posição do próprio governador, que tem falado muito que prefere o centro e nos coloca como esquerda. Ele falou isso diversas vezes. Quando ele fala nesses termos, ele coloca o Espírito Santo fora da possibilidade de coligação com o PT e libera o PSB de, nacionalmente, fazer essa discussão com o PT. Sabemos que isso pode mudar. Mas hoje é o que está posto. O PSB vai fazer a coligação nacional para apoiar o Lula, isso já está fechado. Mas essa aliança nacional não tem rebatimentos aqui no Espírito Santo.”

Certo, mas… e se tiver rebatimentos?

“Se nós tivermos que retirar nossa candidatura ao governo para seguir com Casagrande, o PT também coloca algumas condições”, afirma Célia.

Quais sejam…

“O PT coloca a condição de que também terá que ficar bem na chapa majoritária. São especulações, mas o PT tem tamanho para isso.”

Inclusive com o lugar de candidato ao Senado na chapa de Casagrande?

“Por que não?”, retruca ela.

Ou seja: se tiver mesmo que trocar a candidatura de Contarato pelo apoio a Casagrande, o PT, segundo Célia, pode reivindicar até a vaga para o Senado na chapa do governador.

Mas o que não falta no já longo rol de aliados de Casagrande são aspirantes a essa mesma posição, de Rose de Freitas (MDB) a Josias da Vitória (PP), ando por Alexandre Ramalho (Podemos).

Correção

Na primeira versão deste texto, informávamos, equivocadamente, que a atual presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, pertenceria à corrente Alternativa Socialista (AS). Na verdade, ela faz parte da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB). A coluna foi atualizada às 13h30 desta terça-feira (12).

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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