Coluna Vitor Vogas
Casagrande revela o perfil buscado por ele para o substituto de Nésio na Saúde
E mais: as secretarias que restam para Renzo Vasconcelos; as incertezas na Secretaria de Educação e no Comando Geral da PMES; a quase fritura de Nara Borgo neste início de semana e a reação rápida do governador

Renato Casagrande e Nésio Fernandes. Foto: Helio Filho/Secom
Em meio a pouquíssimas surpresas, à recondução de muitos secretários e a algumas poucas trocas de cadeiras, o cargo mais disputado e cobiçado no alto escalão do próximo governo Casagrande é, de longe, o de sucessor de Nésio Fernandes (PCdoB) à frente da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
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Em outubro, por pressão de prefeitos e parte da classe médica, Nésio foi retirado de cena por Casagrande: não teve escolha senão tirar férias prolongadas, que se estenderão até o fim do ano.
Substituído interinamente por Tadeu Marino (PSB), o secretário já está de malas prontas para Brasília, se bem que mais correto seria dizer que ele nem precisa fazer as malas: como presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e integrante da equipe de transição de Lula (PT), ele já está estabelecido em Brasília há semanas e de lá não deve sair, pois seu destino muito provável é ser nomeado para algum cargo técnico no Ministério da Saúde.
Enquanto isso, como a coluna já demonstrou, está havendo no Espírito Santo um choque de visões entre o público e o privado na gestão da Sesa pós-Nésio.
De um lado, aliados de Casagrande defendendo um novo secretário que seja, como Nésio, um sanitarista puro-sangue, chão de fábrica (ou de hospitais) do Sistema Único de Saúde, defensor intransigente do fortalecimento da atenção primária, do SUS e da rede pública de saúde gerida pelo Estado; do outro, defensores da tese de que o sucessor de Nésio pode e deve vir da iniciativa privada, até para cicatrizar a ferida aberta no relacionamento entre parte da classe médica capixaba e o governo Casagrande.
Com duas pilhas de papeizinhos com sugestões de nomes em cima de sua mesa (uma apresentada por Ricardo Ferraço, a outra pelo próprio Nésio), o governador disse ontem, após sua diplomação no TRE, que o próximo secretário de Saúde será anunciado por ele na próxima semana. E, provocado pela coluna, descreveu o perfil que procura para o lugar do secretário:
“O perfil é o de alguém que compreenda a importância do Sistema Único de Saúde, o papel que ele tem para a sociedade capixaba e para a população mais vulnerável em especial. E um gestor. Alguém que tenha capacidade de gerenciar uma secretaria que chega a executar por ano R$ 4 bilhões. Então alguém que entenda do SUS, mas que ao mesmo tempo possa ser gestor e tenha capacidade de diálogo com todos que se relacionam com a saúde pública no nosso estado.”
Então recapitulando os três pré-requisitos:
1) Conhecimento sobre o SUS
2) Capacidade gerencial
3) Capacidade de diálogo
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Perguntamos também a Casagrande se o escolhido pode vir da iniciativa privada ou se há alguma restrição a isso.
“Eu não tenho restrição. Quero só que a pessoa seja de fato um defensor do Sistema Público de Saúde, tenha essa capacidade de gestão e essa capacidade de dialogar.”
Jogo de varetas
A ordem dos anúncios dos próximos secretários de Estado revela que Casagrande está fazendo como quem joga o popular jogo de varetas: indo do mais fácil para o mais difícil.
A decisão mais complexa, justamente na Secretaria de Saúde, deve ser a última a ser anunciada. “Mais complexa” por sua importância, pelo tamanho do seu orçamento (R$ 3,4 bilhões estimados para o ano que vem; o maior entre as secretarias) e pelos muitos interesses atravessados como varetas sobre a escolha.
Na transição em 2018, Nésio Fernandes foi justamente o último secretário anunciado por Casagrande, já no fim de dezembro, com a posse batendo-lhe à porta.
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Dúvida na Sedu
Casagrande também vai anunciar na semana que vem o próximo secretário de Educação. Na mesma entrevista, ele não confirmou a permanência de Vitor de Angelo. Mas também não excluiu. Ou seja, como vimos dizendo aqui desde novembro, o secretário é uma interrogação: pode tanto ficar no cargo como ser substituído.
Aspirante ao posto
Nos bastidores, quem viria se articulando a fim de suceder Vitor na pasta é o secretário municipal de Educação de Cariacica, José Roberto Martins Aguiar, conhecido como J.R. É um profissional raiz da educação, respeitado na área e cujo trabalho tem agradado muito ao prefeito Euclério Sampaio (União Brasil).
J.R. já era secretário na gestão municipal ada, do prefeito Juninho (Cidadania). Ao assumir, Euclério decidiu mantê-lo, por conta de suas boas referências.
Incerteza na PMES
Casagrande também não deu certeza sobre a manutenção do atual comandante-geral da PMES, Douglas Caus. Na primeira agem de Alexandre Ramalho (Podemos) pela Sesp, os dois tiveram alguns atritos. Agora, Ramalho está de volta…
“Esse é um assunto que vou refletir e dialogar com o secretário que estou escolhendo [Ramalho]. É o o seguinte à escolha do secretário”, disse Casagrande.
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O que resta para Renzo
Que Renzo Vasconcelos (PSC) terá assento no secretariado, é certo. Mas, com a vaga de secretário de Agricultura preenchida por Enio Bergoli – em indicação lastreada por Ricardo Ferraço –, restam três opções ao deputado estadual: Esportes, Turismo ou Meio Ambiente.
Ele pegará o que vier, é claro.
De 22 a 26 na base? “Concordo!”
Em entrevista publicada há 15 dias por esta coluna, o secretário-chefe da Casa Civil, Davi Diniz, projetou que, entre os 30 deputados estaduais eleitos, o governo Casagrande terá de 22 a 26 aliados na próxima legislatura da Assembleia. Indagado por mim sobre isso, o governador concordou com a projeção do secretário.
Oposição segura
Quem com certeza já vai começar o próximo mandato fora da base: Capitão Assumção (PL), Lucas Polese (PL), Callegari (PL) e Coronel Weliton (PTB).
Os demais o Palácio Anchieta avalia que “dá para trazer”.
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A volta da que nunca foi
Sob pressão de movimentos sociais, Casagrande anunciou, no fim da tarde desta terça-feira (20), a permanência da advogada Nara Borgo (PSB) na Secretaria de Estado de Direitos Humanos (SEDH).
Horas antes, a coluna noticiou o manifesto divulgado ontem (19) por dezenas de movimentos sociais, alguns deles ligados à Arquidiocese de Vitória, intitulado “Carta ao Novo Governo”. Dirigindo-se diretamente a Casagrande, os signatários cobraram do governador mudanças profundas na condução da SEDH e acusaram a “indesejável continuidade do atual estado de coisas” na secretaria, após as eleições.
A carta foi interpretada como uma forma de minar Nara Borgo e pressionar Casagrande a substituir a secretária.
Entretanto, dentro do governo, a avaliação sobre o desempenho de Nara é bastante diferente. Ela conta com a aprovação e o endosso do próprio Casagrande e do andar de cima do Palácio Anchieta – como prova agora a sua manutenção no cargo.
“De olho no golpe”
Nesta terça-feira, antes da tuitada do governador confirmando a permanência de Nara, a secretária reagiu com bom humor à carta dos movimentos sociais. Fazendo referência ao impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016, sugeriu, subliminarmente, que estaria em execução um golpe com a finalidade de derrubá-la do cargo.
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Encontro de vices
Raro encontro, raro registro: na cerimônia de diplomação no TRE, lado a lado, a atual vice-governadora, Jacqueline Moraes (PSB), e o recém-diplomado sucessor dela no cargo, Ricardo Ferraço (PSDB). O encontro, contudo, não será tão raro a partir de janeiro: os dois serão colegas de equipe no 1º escalão do governo (ela como a primeira secretária de Políticas para as Mulheres, ele como secretário de Desenvolvimento, além de vice-governador).

Jacqueline Moraes e Ricardo Ferraço, na cerimônia de diplomação. Foto: Vitor Vogas
Os dois se verão bastante nas reuniões governamentais.
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