Coluna Vitor Vogas
Candidatura de Rigoni provoca debandada de deputados no União Brasil
Insatisfeitos com lançamento de Rigoni a governador, bancada inteira do partido prepara o desembarque. “Que Deus o ilumine”, despede-se Ferraço

Dep. Felipe Rigoni União Brasil/ES. Foto: Sérgio Francês
A ascensão de Felipe Rigoni à presidência estadual do União Brasil e a confirmação de sua pré-candidatura ao governo do Estado na certa terão rebatimentos externos no cenário eleitoral capixaba. Mas o primeiro impacto é sentido no interior do próprio partido, que hoje a por verdadeiro efeito manada. A dupla tacada de Rigoni foi a senha para o desembarque dos deputados hoje filiados ao União Brasil no Espírito Santo. Todos, sem exceção, hoje procuram outra legenda para concorrer à reeleição.
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Insatisfeitos com o lançamento da candidatura de Rigoni ao Palácio Anchieta e com a forma como a decisão foi tomada – imposta de cima para baixo –, os deputados estaduais da legenda (Theodorico Ferraço, Alexandre Quintino, Zé Esmeraldo e Torino Marques) se movimentam à procura de outro partido que lhes garanta uma boa chapa. A debandada ainda inclui a deputada federal Norma Ayub, que tentará renovar o mandato, e pode se estender ao ex-senador Ricardo Ferraço, preterido pela direção nacional do União Brasil no cargo de presidente estadual do partido. A tendência é que nenhum deles permaneça no União e que a legenda, assim, ganhe cada vez mais a cara de Rigoni no processo eleitoral.
Quem quiser disputar qualquer mandato nas eleições de outubro deve estar filiado até o dia 2 de abril ao partido pelo qual disputará o pleito. No caso de deputados estaduais e federais em fim de mandato, o dia 1º de abril marca o fim da janela para que eles possam trocar de partido sem incorrer no risco de perder o cargo. Isso dá aos dissidentes do União Brasil menos de 20 dias para se acomodarem na chapa de outro partido.
O União Brasil nasceu no ano ado, a partir da fusão de duas siglas de centro-direita: o PSL e o DEM. Após sair do PSB, Rigoni decidiu se filiar à nova sigla, sob as bênçãos da direção nacional do partido e, segundo ele, com todas as garantias de que poderia ser candidato a governador do Espírito Santo – oferecidas a ele por Luciano Bivar e Antonio de Rueda, respectivamente o presidente e o vice-presidente nacional. Tudo caminhava, porém, para que a presidência do partido no Espírito Santo fosse entregue ao ex-senador Ricardo Ferraço, que mantém excelentes relações políticas com Renato Casagrande (PSB) e, pela lógica, tende a apoiar a reeleição do governador.
Em meados de fevereiro, Ricardo e Rigoni tiveram uma divergência em torno, precisamente, do projeto de candidatura própria ao governo, obviamente defendido por Rigoni, mas não encampado pelo ex-senador. Conforme relatou Rigoni em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (14), Ricardo argumentava que uma candidatura majoritária dificultaria muito a construção das chapas proporcionais do partido (as de candidatos a deputado estadual e federal).
A consequência imediata – como está se provando – seria um esvaziamento das chapas de deputados do União no Espírito Santo, com um movimento de desfiliação coletiva dos parlamentares com mandato, candidatos à reeleição. Na prática, além do temor de perderem espaço na chapa para aliados de Rigoni ou de não terem a candidatura priorizada pela direção do partido, esses deputados preferem apoiar outro candidato a governador. Quintino, por exemplo, tem o compromisso de estar de novo com Casagrande. Já Torino é um antigo e dileto aliado do ex-deputado Carlos Manato (PL), candidato ao governo em oposição a Casagrande.
Em resumo, formou-se uma situação anômala em que os deputados do partido de Rigoni que vão concorrer à reeleição preferem não apoiar o próprio Rigoni ao governo. Assim, a permanência deles no União tornou-se insustentável, até por falta de ambiente político – é bom lembrar que Rigoni não dá sinal algum de que arredará pé da candidatura ao Palácio.
Insatisfações com Rigoni
“A partir da exigência da candidatura muito precoce do Rigoni e vindo de cima para baixo, sentimos que, democraticamente, não podíamos ficar num partido onde não tivéssemos o direito de discutir uma candidatura”, conta Theodorido Ferraço, pai de Ricardo. “Todos os candidatos a deputado estadual e federal discordaram dessa atitude. E Rigoni foi alertado que, se ele levasse seu projeto adiante, haveria uma debandada total e o enfraquecimento das chapas de deputados do União Brasil. É o que está acontecendo agora.”
Alexandre Quintino também externa insatisfação com a tomada de poder interno operada por Rigoni e explica assim a debandada dos deputados: “iro muito o trabalho que o Felipe tem feito. É um excelente deputado federal. Faz parte dessa nova política. Mas a forma como ele assumiu a presidência do partido não agradou muito aos deputados que já estavam no partido. Ele já chegou com essa pretensão de vir candidato ao governo sem nem sequer conversar com os deputados do União Brasil. Simplesmente nos deu ciência: ‘Vou vir candidato a governador e assumir a presidência’. Alguns dos deputados, então, disseram que vão sair do partido, e eu sou um deles.”
Como se vê, apesar do nome, o União Brasil já nasceu em solo capixaba como “Desunião Espírito Santo”, e o partido ficou apertado para o recém-chegado Rigoni e os deputados que lá já se encontravam. Rigoni já chegou sentando-se não na janelinha, mas no assento do motorista (no lugar de Ricardo), enquanto a família Ferraço, Quintino, Torino e Zé Esmeraldo, até então bem acomodados em seus bancos, pretendem sair do ônibus em bloco.
Conversa com Vidigal

Sérgio Vidigal convidou deputados para o PDT. Foto: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados
No balanço do mesmo busão (e no embalo da sanfona), o movimento de desfiliação conjunta dos deputados do União Brasil acabou agregando outros parlamentares. Também cogitando sair de suas siglas, os deputados estaduais Hércules Silveira (MDB) e Marcos Garcia (PV) têm participado de reuniões com Ferraço, Quintino, Torino e Zé Esmeraldo em busca de nova legenda.
Nesta terça-feira (15), exceto por Garcia, o bloco de insatisfeitos se encontrou com o prefeito da Serra, Sérgio Vidigal, comandante do PDT no Espírito Santo, que ofereceu abrigo a todos. Vidigal, porém, estabeleceu uma condição: aliado que é de Casagrande, disse que só aceitará filiar quem apoiar a reeleição do governador. Isso, de plano, complica muito o ingresso de Torino Marques, por exemplo.
Na próxima sexta-feira (18), o mesmo grupo deve se reunir com o deputado federal Neucimar Fraga, presidente estadual do PSD, como ele mesmo confirma.
Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, Rigoni disse não ser um revolucionário, mas um reformista. Mas sua chegada ao poder interno causou uma revolução interna no próprio partido.
Ferraço: “Cada um seguirá o próprio destino”
Procurado pela coluna nesta terça, Theodorico Ferraço verbalizou o descontentamento do grupo com Rigoni, pela maneira como se deu a troca de guarda no comando estadual do União. E deu sua versão sobre a insatisfação de Ricardo Ferraço:
“Quando ou do PSB para o PSL, ele [Rigoni] fez um entendimento com o Antonio de Rueda. Aceitou se filiar, desde que ele fosse candidato a governador. Até aí, nada demais. Quando surgiu o momento de unificação do PSL com o DEM, dando origem ao União Brasil, o Ricardo estava escolhido para ser o presidente estadual. Acontece que disseram ao Ricardo que havia esse entendimento e que ele deveria assumir o compromisso de coordenar a campanha do Rigoni a governador. Ricardo respondeu que respeitava esse entendimento, mas que não queria coordenar a campanha de ninguém, que ele não tinha condições de comandar uma candidatura nascida de cima para baixo. E disse que, nesse caso, o Rigoni é quem tem que comandar o partido no Espírito Santo e que cada um deveria seguir o próprio destino. Feito isso, ele fez a escolha de sair do partido.”

Theodorico Ferraço expõe insatisfação de deputados com Rigoni. Foto: Assembleia Legislativa
Segundo Ferraço, Ricardo ainda não saiu do União do Brasil, mas ele mesmo e sua esposa, Norma Ayub, já decidiram trocar de partido. “Só posso desejar ao Felipe Rigoni que ele tenha muito sucesso e que Deus o ilumine nesse caminho que ele está buscando. O que a gente quer é deixa-lo o mais à vontade possível no partido para que ele busque o caminho que deseja e que sonha. E desejamos que ele não volte atrás, que encontre apoio e que seja candidato a governador até o fim, para que o Espírito Santo acredite nesse idealismo que ele está buscando.”
Ferraço então está sugerindo que, após provocar essa debandada, Rigoni pode não se viabilizar? Ele responde: “Tem que se viabilizar e continuar lutando até o final. Agora, se ele vai fazer isso, só ele pode responder”.
O veterano deputado cachoeirense afirma que ele e Norma necessariamente seguirão para o mesmo partido – ele como candidato a deputado estadual; ela, a federal. Na mesa, segundo ele, há convites de siglas como PSD, PTB, PDT, PSDB, PSC e PL. “Estamos verificando onde é que a gente cabe e qual é o partido que cabe na gente. Tem que ter mão e contramão.”
Sobre os planos eleitorais de Ricardo, o pai do ex-senador afirma que, até o momento, ele não se declarou candidato a nada. Não conseguimos contato com o próprio Ricardo.
Quintino: “Rigoni é capaz de se eleger”
Apesar de não apoiar Rigoni, Quintino acredita que o deputado reúne, sim, condições de chegar ao cargo de governador. “Nada contra o Felipe. Acredito na possibilidade de ele chegar ao governo do Espírito Santo, como Zema chegou ao de Minas e como o Witzel chegou ao do Rio. Ambos largaram lá de baixo nas pesquisas. Ele é um rapaz estudioso, esforçado e muito inteligente. Tem possibilidade, sim, pelo esforço e pela capacidade que possui.”
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