Coluna Vitor Vogas
Audifax apresenta sua chapa e avisa: “Não vou nacionalizar a eleição”
Liderando coligação formada por quatro sigla que nacionalmente apoiam Lula, candidato a governador escolheu dois cristãos conservadores como parceiros de chapa: a Tenente Andresa como vice e o pastor Nelson Junior como seu candidato a senador. “Nem Lula nem Bolsonaro terá a caneta para governar o ES”

Em primeiro plano, da esquerda para a direita: Andresa Silva, Audifax Barcelos e Nelson Junior. Foto: assessoria de Audifax
Não se sabe se foi 100% espontâneo ou se teve o dedo da equipe de marketing da campanha…. mas que foi impactante, foi. Com gestual muito simbólico, ao anunciar sua candidata a vice-governadora (a Tenente Andresa) e seu candidato ao Senado (o pastor Nelson Junior), na tarde deste sábado (13), Audifax Barcelos empunhou e ergueu a sua caneta e, com ela em riste, afirmou aos jornalistas presentes:
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“Vocês, com todo o respeito, querem nacionalizar a política e a nossa candidatura. Eu não farei isso. Eu acho que a gente não pode nacionalizar uma eleição que é para governador do Estado. Eu, Audifax, não vou nacionalizar a eleição para governador do Estado. Tenho dito muito para as pessoas que quem vai ter a caneta para governar o Estado, para definir para onde vão os recursos públicos, para definir de fato a prioridade para segurança pública, para acabar com as barbaridades que estão acontecendo neste Estado na segurança pública, o caos na saúde pública, quem vai ter a caneta para resolver esses problemas não será Lula nem Bolsonaro. Será nós [sic].”
O gesto e a declaração de Audifax foram feitos durante a entrevista coletiva, na sede estadual do Solidariedade, em Vila Velha, em que o candidato a governador anunciou a sua a chapa completa – multifacetada do ponto de vista ideológico. Além da federação Rede/Psol, à qual pertence o ex-prefeito da Serra, sua coligação na eleição ao governo do Estado será formada por Solidariedade e Avante. Pelo Solidariedade, Andresa Silva será sua candidata a vice-governadora; pelo Avante, Nelson Junior será seu candidato ao Senado, numa troca de apoio informal (a coligação com o Avante vale apenas na eleição ao governo, sendo Nelson obrigado a lançar candidatura independente a senador).
A fala enfática de Audifax foi feita em resposta aos muitos questionamentos dos jornalistas presentes (eu, inclusive) sobre eventual candidato dessa coligação à Presidência da República e sobre a preferência pessoal de cada um dos três na corrida ao Palácio do Planalto. A pergunta era inevitável e decorre do fato de que todos os partidos que compõem no plano local essa coligação liderada por Audifax estão, nacionalmente, coligados com o PT e apoiando Lula. Todos: a federação Rede/Psol (de Audifax), o Solidariedade (de Andresa) e até o Avante (de Nelson), com a desistência de André Janones.
No Espírito Santo, porém, o encaminhamento é outro, como tratou de esclarecer Audifax: ele não quer nem vai entrar nessa bola dividida. Quer focar em seus feitos na Serra, em seu currículo como gestor e nos problemas do Espírito Santo.
Mesmo insistentemente indagados, nenhum dos três integrantes da chapa respondeu quem apoia para presidente (mas, a julgar pelos respectivos posts, Andresa é sabida apoiadora de Bolsonaro; Nelson, possivelmente, também; quanto a Audifax, ganha um city tour na Serra quem souber). A chapa propriamente dita não terá candidato oficial à Presidência: foco total na eleição estadual.
Assim, o desenho final da chapa de Audifax ganhou, ideologicamente, um contorno diversificado. Temos ali quatro partidos que nacionalmente apoiam Lula, unidos numa coligação liderada por uma federação de esquerda… Mas tanto o pastor Nelson como a militar Andresa se definem como “cristãos conservadores”… o que Audifax na verdade também é, em sua faceta evangélica – apesar de ter exercido a política, a vida inteira, por partidos de esquerda e centro-esquerda.
> Sangraram pelo fogo amigo: Meneguelli, Ricas, Ramalho, Contarato, Colnago…
“Governo tem que ser menos ideológico”
Audifax deseja ar ao largo, o mais longe possível, desse debate ideológico.
Ao mesmo tempo, aposta nessa diversificação justamente para quebrar (ou contrabalançar) aquela pecha incômoda de “candidato da esquerda” que pode ser colada nele por adversários se a eleição estadual for levada para esse lado, devido à presença do Psol na coligação. Não por acaso, o Psol nem sequer saiu na foto do anúncio da chapa. E assim será mantido durante toda a campanha: bem distante de Audifax.
“Não houve nenhuma orientação da direção nacional da Rede para que a gente apoiasse candidato A, B ou C. Em relação ao Psol, houve sim. Mas, em relação especificamente à Rede, não houve isso”, afirmou Audifax, começando a responder sobre a eleição presidencial.
Em seguida, ou ao discurso contrário à “nacionalização” do pleito estadual para governador e senador. E exaltou a “diversidade de opiniões” representada em sua chapa:
“Essa diversidade é importante para a democracia. Acima de tudo, tem que ter respeito. Eu vou respeitar a preferência dele [Nelson]. Vou respeitar a preferência dela [Andresa]. Agora, eu não gostaria que a gente nacionalizasse uma eleição que é para o governo do Estado. A gente nunca fez isso na história do Estado. Cabe a nós, pela responsabilidade que temos, olhar para o Estado do Espírito Santo.”
O redista ainda enfatizou que, enquanto prefeito da Serra, exercitou na prática esse respeito à diversidade, tendo istrado a maior cidade capixaba durante o governo de quatro presidentes (acrescento: dois de esquerda, um de direita e um de extrema-direita):
“Vou respeitar, como respeitei na Serra, as diferenças, as questões ideológicas de cada um. É fato: a gente praticou de verdade isso na Serra. Fui prefeito com Lula, fui prefeito com Dilma, fui prefeito com Michel Temer e fui prefeito com Bolsonaro. E é o que quero fazer agora para a população do Espírito Santo. Já fui prefeito com quatro presidentes da República e, com os quatro, consegui as coisas para a minha população. Então, quem quer que seja o próximo presidente, me sinto preparado para ser o representante do Estado. O governo deste Estado tem que ser menos ideológico e tem que ser mais gestor. Trazer mais resultados para a população”, pontuou, deixando de agem uma das muitas farpas no governo Casagrande (PSB).
Nelson: “É como um casamento”
Agora parceiro eleitoral de Audifax, Nelson Junior também opinou: “A diversidade nos une, estarmos numa plataforma tão mista. Mas o nosso compromisso é com a sociedade capixaba, é o de entregar os resultados que a sociedade capixaba espera.”
O pastor ainda cunhou a analogia do matrimônio:
“Trabalho há 25 anos com famílias, com restauração de casamentos, ajudando casais a permanecerem juntos. E todo mundo quer saber o segredo do sucesso de um casamento. As pessoas tendem a pensar que o segredo do sucesso do casamento é as pessoas serem iguais. Eu estou há 25 anos com a Angela [Angela Neto, mulher dele] porque, ao longo desse tempo, desenvolvemos a capacidade de lidar com as diferenças. A gente está junto porque a gente se aceita, discordando de um monte de coisas. O segredo não é pensar igual. É saber lidar com as diferenças. E o respeito um pelo outro.”
Já Andresa enalteceu a capacidade de diálogo de Audifax com os que pensam diferente: “Simpatizo com os princípios conservadores, então sou conservadora. Mas isso não foi um obstáculo para a nossa união. Por quê? Porque o Audifax dialoga com todos. Então isso não foi um obstáculo. Eu vim para somar, para agregar, principalmente para cuidar das pautas da mulher, da segurança pública, e para trazer boas políticas públicas para melhorar a qualidade de vida da população capixaba.”
Eu acrescentaria: longe de ter sido um “obstáculo”, foi exatamente por ter esse perfil que ela foi escolhida por Audifax.
Carone: “Não somos só nós, não”
Por fim, escalado como 1º suplente de Nelson, o presidente estadual do Avante, Marcel Carone, levantou um ponto pertinente: essa “variedade” de posições na mesma coligação está longe de ser exclusividade do Espírito Santo, muito menos da chapa de Audifax.
Nesta eleição local mesmo, o que não faltam são exemplos. Candidato ao Senado, o conservador e evangélico Erick Musso (Republicanos) juntou-se ao União Brasil de Felipe Rigoni, um liberal inclusive nos costumes. Já na coligação de Casagrande, governador de centro-esquerda que apoia Lula, constam, por exemplo, do PT ao PP, partido que não só apoia Bolsonaro como tem quatro deputados federais bolsonaristas (todos candidatos à reeleição): Da Vitória, Norma Ayub, Evair de Melo e Neucimar Fraga.
“Como a eleição tem muitos partidos, é muito difícil conciliar essa coerência partidária que as pessoas querem a resposta agora, mas nunca foi assim, né?”, ressaltou Carone.

Audifax Barcelos e Andresa Silva. Foto: assessoria de Audifax
O perfil de Andresa
Natural de Vila Velha, Carla Andresa Silva tem 35 anos. É casada e tem uma filha de dois anos. Formada em Farmácia, está nos Bombeiros Militares do Espírito Santo há 15 anos. Entrou na corporação como soldado.
Após cinco anos lotada em Marechal Floriano (atuando principalmente na ambulância, por sua formação na área de saúde), ou no concurso para o Curso de Formação de Oficiais dos Bombeiros-ES, feito em Belo Horizonte. Foi a primeira mulher da história a alcançar a primeira colocação geral do curso, com três anos de duração, façanha que ela destaca com orgulho: “É um ambiente muito masculino”.
Na corporação, especializou-se em combate a incêndios e primeiros-socorros. Fez pós-graduação em Segurança Pública e, como oficial dos Bombeiros, tem formação em gestão.
É tenente há cinco anos e ou um ano como assessora de comunicação dos Bombeiros-ES. Desenvolveu projetos que ganharam repercussão nacional, como a primeira Brigada Autista e a primeira Brigada composta por jovens com Síndrome de Down.
“Isso também me incentivou a fazer mais fora do âmbito dos Bombeiros. Acredito que, com dedicação e com empenho, eu posso fazer muito mais. Pessoas de bem têm que dar o nome, para a gente fazer a diferença”, disse ela, elogiando muito Audifax:
“É um gestor muito competente, que eu iro muito. Fico feliz por ter sido feito o convite a uma mulher. Após 15 anos de Bombeiros, quero poder fazer mais pelas pessoas. O meu compromisso é com a vida, em todos os aspectos. Quero convocar as mulheres para estarem comigo nesse projeto para a gente somar forças.”
Audifax explicou que escolheu Andresa principalmente por quatro fatores: por ser mulher, por ser jovem, por ter formação como gestora e porque sua prioridade será a segurança pública, “diferentemente do atual governo”.

Andresa Silva e Audifax Barcelos. Foto: assessoria de Audifax
Futura secretária de Estado
Antecipando planos para a companheira de chapa, o ex-prefeito afirmou que ela “será uma vice atuante, pra dentro, que vai participar ativamente do nosso governo”.
Inclusive ocupando uma secretaria? – perguntamos a Audifax. Ele respondeu que, provavelmente, sim:
“Será muito bem-vinda. Será uma eleição muito difícil. Só que mais difícil ainda é governar. E eu não vou usar a prática do atual governo, que é a do ‘toma lá, dá cá’. Não farei isso. Em nenhum momento, o Solidariedade ou o Avante colocou para nós qualquer relação de troca de secretaria nem nada. Isso nunca aconteceu. Mas a Andresa, pelo perfil dela, cabe em qualquer lugar como secretária. Está claro isso para nós, pela sua formação. Historicamente eu tive alguns vice-prefeitos, que sempre fizeram parte da minha istração. Então é provável que assim será com ela. Onde? A gente vai conversar.”
Na próxima coluna, Nelson Junior.
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