Coluna Vitor Vogas
Análise: por que Manato escolheu um jovem empresário como vice?
Bruno Lourenço (PTB) é a terceira ponta do triângulo sobre o qual Manato quer alicerçar sua campanha. Não por acaso, são três segmentos sociais onde o bolsonarismo é muito forte

Chapa PL/PTB ao Palácio Anchieta: Carlos Manato e Bruno Lourenço
Candidato ao governo estadual mais identificado com o presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-deputado federal Carlos Manato (PL) anunciou nesta sexta-feira (5), como candidato a vice-governador, o presidente estadual do PTB, Bruno Lourenço, empresário há 15 anos no setor de comércio exterior e estreante nas urnas.
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Ao escolher o jovem empresário como seu parceiro de chapa, Manato quer, logicamente, reforçar a “entrada” da sua candidatura no meio empresarial capixaba, mas não só isso: a presença de Bruno na chapa é a ponta que faltava para completar a base triangular sobre a qual o ex-deputado federal pretende calçar sua candidatura: classe médica, meio militar e setor empresarial.
Não por acaso, são três segmentos sociais onde o bolsonarismo está profundamente enraizado e onde o atual presidente tem uma legião de apoiadores – os quais Manato há de querer canalizar.
O triângulo que o candidato bolsonarista pretende desenhar pôde ser visualizado durante a coletiva de imprensa em que ele apresentou o seu vice. A classe médica está representada na campanha por ele mesmo, ginecologista, obstetra e hospitalar, além de sua esposa, a deputada federal Soraya Manato (PTB), também médica especializada em ginecologia e obstetrícia.
Quanto ao meio militar, Manato nunca escondeu que havia grandes chances de ele optar por um companheiro de chapa que viesse da caserna. Nos últimos dias, modulando o discurso, indicava estar indeciso entre um militar e um empresário. Acabou dando a segunda opção. Mas, se os militares não estão representados na chapa, a presença deles se faz sentir por toda parte na campanha, o que ficou visível e palpável durante a entrevista coletiva desta sexta-feira. Não estão presentes na chapa, mas estão onipresentes na campanha.
Para começar, sentado à direita de Manato (o vice estava à sua esquerda), ninguém menos que o Tenente Assis, candidato a senador pelo PSL com Manato em 2018 e agora candidato a deputado federal pelo PTB.
Ao lado de Assis e Bruno, sentados à cabeceira da mesa, estavam dois representantes de movimentos de policiais e bombeiros militares no Espírito Santo: o Cabo PM Góes, presidente do Projeto Político Militar (PPM), e o tenente dos Bombeiros Militares Emerson Santana, presidente da Associação dos Bombeiros Militares do Espírito Santo (ABMES).
O próprio local escolhido para a apresentação da chapa fala por si: a sede do Aspomires (Associação dos Militares da Reserva, Reformados, da Ativa da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e Pensionistas de Militares do Estado do Espírito Santo), em Bento Ferreira, Vitória.
E, atrás de Manato e Bruno, como pano de fundo do ato, ainda pam um backdrop do PPM (foto acima), movimento que apoia Manato para o governo e Magno Malta (PL) para o Senado e que visa a eleger militares ou candidatos comprometidos com a agenda da categoria para cargos públicos. No backdrop, além do logotipo do PPM, o escudo de uma série de associações de classe dos militares no Espírito Santo.
Manato agradeceu muito aos representantes dos militares e disse que eles o ajudaram a formular seu plano de governo na segurança pública. “Nessa área, eles serão ouvidos o tempo todo. São eles que vão construir juntos. Temos a certeza de que o projeto deles já está no nosso plano de governo. Então, conversamos com eles que precisávamos agregar um outro segmento, que agregue valor para nós”.
É aí que entra Bruno Lourenço.
Agora, o vice de Manato é o terceiro vértice desse triângulo. Politicamente novato, o petebista chega com a missão, explicitada por Manato, de estabelecer a ponte entre ele e o meio empresarial, tanto durante a campanha como no governo, em caso de vitória:
“Escolhemos o Bruno com uma função muito maior. Ele pode até ter outro cargo [como secretário, em caso de êxito nas urnas], mas não precisa ter. Ele vai ter uma missão. A missão do Bruno, que eu conversei muito com ele hoje, é de aproximar o empresariado, fazer esse link do empresariado, através da Findes, da Fecomércio, do Espírito Santo em Ação, das CDLs, do comércio exterior… Ele vai ser o nosso grande porto seguro, para filtrar, para dialogar com esses segmentos e trazer para dentro do governo essas pautas e desenvolver. Então é uma missão muito maior do que vocês possam pensar.”
Chamando Manato de “doutor” (olha aí a medicina sublinhada), o próprio Bruno enfatizou que entra na chapa com o propósito de ajudar os empresários capixabas:
“Estamos aqui para somar, para ajudar os nossos empresários do Espírito Santo. O meu sonho é recuperar o comércio exterior do estado do Espírito Santo, que todo mundo sabe o quão grande já foi. E nós vamos conseguir. […] Estamos aqui para recuperar a economia do nosso estado, gerar empregos, acabar com essa fome e essa miséria que vêm assolando o nosso estado. […] Confio no doutor Manato para isso. Agradeço a vocês pela oportunidade, e contem comigo para desenvolver por quatro anos o nosso estado, se Deus quiser.”
Bruno criticou Casagrande pela perda do Fundap, durante seu primeiro governo (2011-2014). “Tive a oportunidade de ver o auge do comércio exterior no Estado e a sua decadência, em 2014, quando o atual governador conseguiu perder o benefício e gerar mais de 200 mil desempregados direta ou indiretamente. Tenho certeza de que o Espírito Santo pode muito mais. […] Como cristão, capixaba e patriota, estou aqui para ajudar o nosso governador [Manato] a mudar a história do nosso estado.”
“Segurança, saúde e empresários”
Manato agradeceu aos militares ali representados por estarem com ele, mesmo sem lugar na chapa. E, ao fazê-lo, explicitou o seu tripé: “Se eles não estivessem conosco, não daria para fazer segurança, saúde e empresários”.
Em busca do PSC e do Patriota
No momento, a coligação majoritária de Manato, Bruno e Magno só conta com o PL e o PTB. Mas Manato acredita que ainda é possível agregar outras siglas até o dia 15 – o último para registro de candidaturas. Ele frisou que o Patriota e o PSC ainda não firmaram aliança com nenhum candidato a governador.
Ambos são partidos de direita e tinham o pré-compromisso de apoiar Erick Musso (Republicanos) para governador. Erick, porém, desistiu do governo para concorrer ao Senado. “Espaço para entrar, tem”, afirmou Manato.
O candidato do PL ao governo não vai mexer no vice, nem para atrair outros aliados. Será mesmo Bruno Lourenço. “Na majoritária, já tá definido”, garante.
“História de vida com Bolsonaro”
Quando Erick ainda era pré-candidato ao governo, ele se apresentava como apoiador de Bolsonaro (até porque o Republicanos está na coligação do PL com o presidente). Mas Guerino Zanon (PSD) também se declara eleitor de Bolsonaro. Perguntei a Manato se, com a saída de Erick desse páreo, ele a a ser o único candidato bolsonarista a governador ou se a a dividir esse campo com Guerino.
Manato deu uma curta risada, agradeceu a pergunta e respondeu assim:
“Bolsonaro é do Brasil. Bolsonaro é do mundo. Bolsonaro é do Espírito Santo. Todo mundo que quiser declarar apoio a Bolsonaro, fique à vontade. Declare, faça campanha para Bolsonaro. Eu acho que é a melhor escolha que tem. Agora, qual é o partido de Bolsonaro? O PL. Qual é o número de Bolsonaro? 22. Qual é a história que Bolsonaro tem no Espírito Santo? Quando foi a primeira vez que ele veio no Espírito Santo? Eu estava lá. As outras duas vezes, eu estava lá. Ficou hospedado na minha casa. Tenho uma história de vida com Bolsonaro. Tenho uma história de vida com a direita conservadora. Os outros não têm essa história de vida.”
A declaração de apoio do presidente
Manato frisou que o próprio Bolsonaro já gravou um vídeo chamando-o de “nosso candidato a governador” do Espírito Santo:
“Venderam para alguns que ele não iria me declarar apoio. Quem quiser, a gente pode ar o vídeo aqui, que ele chegou do meu lado, botou a mão no meu ombro e disse ‘Nosso pré-candidato a governador, Manato. Nosso senador, Magno Malta’. Ele já declarou isso. Achar que ele não vai vir no Espírito Santo e que não vai gravar para nós é acreditar em Papai Noel.”
O direito à imagem de Bolsonaro
Manato também deixou implícito que Guerino, se quiser, não poderá usar material de campanha com Bolsonaro, pois o partido do ex-prefeito de Linhares não está na coligação nacional do presidente. “O Erick, se quisesse, poderia, porque o Republicanos está na coligação do Bolsonaro. Ele agora, como candidato a senador, pode usar. Agora, quem não está coligado nacionalmente pode ter dificuldade com a lei.”
Alfinetada na dupla Erigoni
Comentando o recuo de Erick Musso e de Felipe Rigoni (União Brasil), Manato alfinetou: “Erick e Rigoni arriscaram um projeto que, respeitosamente, foram projetos pessoais. E os projetos não vingaram. Eles recuaram não é porque quiseram recuar. É porque não teve viabilidade nos projetos. Acho que os votos do Rigoni se diluem, mas não comigo. E os do Erick acredito que vamos herdar mais.”
Soraya Manato
Manato pediu desculpas pela ausência de Soraya Manato, mas justificou que ela estava em Brasília, trabalhando.
“Porto seguro”
Assim Manato referiu-se ao PTB, no processo de construção de sua candidatura.
Momento descontração
Ao apresentar suas informações pessoais, Bruno contou que é casado, tem dois filhos, trabalha há 15 anos no comércio exterior… e é flamenguista. Essa última informação dividiu as reações dos aliados presentes. Pode lhe dar muitos votos (a torcida é grande), mas também tirar alguns.
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