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Coluna Vitor Vogas

Aliado de Casagrande desabafa: “ES está em risco por causa de loucura ideológica”

Paulo Foletto avalia que a “loucura ideológica” da eleição nacional “contaminou” a estadual a ponto de transformar uma reeleição tranquila para Casagrande em uma disputa apertada com Manato

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Paulo Foletto é aliado de Casagrande. Foto: Elaine Menke/Câmara dos Deputados

“Estamos em risco de comprometer o futuro do Espírito Santo por causa de loucura ideológica!” A exclamação é de um dos mais antigos aliados e correligionários do governador Renato Casagrande, o deputado federal reeleito Paulo Foletto (PSB). Ao atender à ligação da coluna na tarde desta quarta-feira (19), ele acabou usando a oportunidade para fazer um desabafo político. Em seu estilo “sincerão”, o deputado avalia que a “loucura ideológica” da eleição nacional contaminou a estadual a ponto de transformar o que deveria ser uma reeleição tranquila para Casagrande em uma disputa apertada com Manato (PL).

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A conversa começou com a pergunta do colunista sobre o voto de Foletto para a Presidência. Inicialmente, ele respondeu que votará em branco. Em seguida, itiu que prefere não declarar o voto, explicando assim a sua resolução:

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“Estamos em risco de comprometer o futuro do Estado, porque é uma loucura esse troço! Você veja que eu fui mal votado e o PSB foi mal votado [nas eleições parlamentares] por causa dessa loucura. Trabalhei muito como secretário de Agricultura nos últimos anos. Pela quantidade de entregas que fiz, era para eu ter tido mais votos.”

De fato, nas eleições de deputados estaduais e federais no Espírito Santo, o PSB foi um dos partidos que tiveram desempenho abaixo das expectativas de analistas (entre os quais me incluo). Antes do dia 2 de outubro, o mercado político dava por certo que o partido de Casagrande seria um dos que faria pelo menos dois deputados federais, ao lado do PP e do Republicanos. Só conseguiu reeleger Foletto, o candidato mais votado da chapa – e, mesmo assim, a duras penas. Com 48.776 votos, ele foi apenas o 14º mais votado nominalmente (o 9º entre os dez eleitos).

Perguntamos a Foletto a que ele atribui esse desempenho frustrante dele mesmo e do PSB. Na resposta, novamente, aparece a crítica à polarização ideológica extrema que se apossou da política nacional e que divide tudo rasamente em dois blocos estantes:

“Atribuo esse resultado a um pensamento de casarem a minha figura à esquerda e de falarem mal da esquerda”, disse Foletto. “O Espírito Santo ou a ser um estado mais de direita, apesar de que a impressão que tenho é de certo equilíbrio. O bolsonarista é ‘agressivo’, se declara. O lulista fica mais ressabiado, mais quieto. Essa eleição tá muito ruim, cara! Isso tá uma m****!”, desabafou.

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Daí para a frente, não conteve o jorro:

“Ninguém está discutindo o pacto federativo. Ninguém está discutindo o SUS. Ninguém está discutindo curso superior, que acabou para o pobre, sendo que a educação é o único caminho para libertar uma nação. Ninguém está falando sobre isso. Nenhum dos dois [nem Lula nem Bolsonaro] está comprometido com nada! E nenhum dos dois, quem quer que seja eleito, vai poder ser cobrado por nada, porque não assumiram compromisso algum durante esta campanha. Vão poder dizer que não falaram nada! A campanha toda foi um ofendendo o outro. O Lula chamando o Bolsonaro de genocida e o Bolsonaro chamando o Lula de ladrão. Isso está comprometendo o Estado e o futuro do Espírito Santo.”

Ele explicou melhor seu raciocínio:

“Olha o governo do Renato [Casagrande]! É claro que estou ‘contaminado’ porque fiz parte da equipe de governo, mas, por tudo o que o Renato fez, não era para ele estar sendo questionado. É claro que estamos acreditando na vitória, mas, pelo governo que ele fez, não era para ele estar sendo ameaçado, não pelo Manato… porque o Manato não tem história de prestação de serviços no Poder Executivo. É uma pessoa boa de relacionamento, mas não tem uma história que se compare à do nosso governador. O cidadão capixaba que tem compromisso com a família dele e que quer um futuro melhor para o Espírito Santo deveria estar votando no Renato, porque foi um governo de entregas muito intensas.”

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O deputado concluiu externando o que talvez seja o sentimento de muitos aliados de Casagrande neste momento:

“Essa loucura ideológica transformou o que deveria ser uma eleição tranquila em uma eleição disputada entre um governador competente, de muitas entregas, e um adversário que nunca provou capacidade de gerenciamento. Se um governo como o que fizemos não bastou para resolver a eleição no primeiro turno, o Renato tem mesmo que ser mais incisivo agora no segundo, para que não comprometa o futuro deste estado.”

Minha análise

Com efeito, para muitos eleitores, hoje, existe uma “esquerda”, uma “direita” e nada além disso (ou no meio disso).

O debate político e eleitoral do país está empobrecido demais.

Ou você é “direita” ou é “esquerda”, sem nuances nem espaço para formulações entre esses dois blocos monolíticos.

É como se o debate se resumisse a ser de direita ou de esquerda e como se dizer-se de direita ou de esquerda bastasse a cada candidato, eximindo-o de discutir e apresentar propostas para os problemas reais do país, do Estado etc.

Quem não está de um lado, está do outro. Se você não é Bolsonaro, é Lula, e vice-versa (com tudo o que esses dois nomes carregam). Pior: se é de direita, é necessariamente Bolsonaro; se é de esquerda, é necessariamente Lula, como se os dois candidatos fossem sinônimos dos respectivos conceitos, ou como se os dois campos políticos se resumissem a suas personalidades.

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É de um primarismo que, de fato, não faz bem ao país. Ainda pior quando a disputa política é colocada em termos maniqueístas de luta do “bem contra o mal” ou até de “guerra espiritual” como temos testemunhado neste pleito, com enormes doses, indevidas e excessivas, de exploração da fé alheia e de terrorismo religioso sobre os rebanhos das igrejas.

Quem pode verdadeiramente se arvorar em encarnação do “bem”? Quem tem de fato envergadura moral e ficha perfeitamente impoluta para poder identificar no outro, e só no outro, todo o “mal”?

É uma eleição regida por um fundamentalismo religioso que em nada engrandece o debate político nacional.

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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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