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Coluna Vitor Vogas

Afinal, por que Ricardo Ferraço voltou para o PSDB?

Além da boa relação com o tucanato, ex-senador ajuda Casagrande a prospectar mais um partido para sua “ampla aliança” rumo à reeleição

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Ex-senador Ricardo Ferraço. Foto: Senado

“O coração de Ricardo é tucano.” Com essa frase, uma pessoa muito próxima a Ricardo Ferraço já indicava na tarde dessa segunda-feira (27), em conversa com o colunista, que o caminho do ex-senador seria o de regresso ao PSDB. De noite, a notícia foi confirmada oficialmente pelo próprio Ricardo. Fiel ao estilo lacônico adotado nos últimos anos, ele só não verbalizou os motivos da sua decisão. É o que nos propomos analisar na coluna desta terça (29).

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Em primeiro lugar, quando decidiu trocar o PSDB pelo DEM, Ricardo saiu do ninho social-democrata pela porta da frente e até hoje cultiva excelente relação com muitos dos principais líderes do partido no país, sendo o primeiro deles justamente o presidente nacional dos tucanos, Bruno Araújo. Podemos citar também o senador pelo Ceará e ex-presidente nacional da sigla, Tasso Jereissati.

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O trânsito direto de Ricardo com Bruno foi fundamental, por exemplo, para o então senador vencer, em 2018, a queda de braço com o grupo de Paulo Hartung instalado no PSDB (representado à época por César Colnago) e levar o partido a apoiar a volta de Renato Casagrande (PSB) ao Palácio Anchieta na eleição daquele ano.

Nos altos escalões do ninho, Ricardo só não se dá bem com Aécio Neves e com os aecistas. Em outubro de 2017, mesmo sendo da mesma bancada, o então senador capixaba apoiou a decisão da Primeira Turma do STF de afastar Aécio, a qual acabaria derrubada pelo plenário do Senado – Ricardo só não votou pela manutenção do afastamento porque estava em viagem oficial nos Emirados Árabes, mas se declarou “envergonhado” com a decisão dos colegas.

No âmbito estadual, Ricardo também se dá muito bem com quem no momento está à frente do PSDB. Há algum tempo, a legenda já não está nas mãos do grupo do ex-governador Paulo Hartung no Espírito Santo. O presidente estadual, Vandinho Leite, chegou a trabalhar como assessor parlamentar de Ricardo no Senado, durante um biênio em que esteve sem mandato, entre 2015 e 2017.

Enfim, se “amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito” (Milton), o coração de Ricardo de fato está cheio de amigos no PSDB. Mas é claro que há muito mais que isso. Na política, as decisões estratégicas não são tomadas com o coração – ou, pelo menos, não só com o coração –, mas regidas pela razão e por cálculos pragmáticos.

E, na decisão estratégica de Ricardo, é preciso levar em conta alguém que, em termos políticos, tem sido o melhor “amigo” dele pelo menos desde 2018, isto é, seu maior aliado: o governador Renato Casagrande (PSB).

Desde que encerrou seu mandato no Senado, sem ter conseguido se reeleger em 2018, Ricardo tem aparecido muito pouco em público. Mas, nos gabinetes do poder, mantém-se extremamente entrosado com Casagrande e não dá nenhum o que não esteja previamente conversado e sincronizado com a caminhada do governador (rumo ao projeto de reeleição).

Ora, partindo dessa premissa, não é difícil compreender que o retorno de Ricardo ao PSDB favorece não só a ele mesmo, mas também, seguramente, a Casagrande. Ajuda a escancarar de vez, por dentro, a porta para que o PSDB decida se coligar com o PSB e apoiar a reeleição do governador no segundo semestre. Agora de volta ao ninho, é certamente nesse sentido que Ricardo fará as gestões internas nas discussões do partido sobre as eleições estaduais.

Assim, Ricardo ajuda Casagrande a arregimentar mais um partido importante – mas, no momento, meio “solto” – para a “ampla aliança” que o governador deseja repetir este ano, conforme o próprio declarou no congresso estadual do PSB realizado no último domingo (27). Na ocasião, o presidente Vandinho Leite disse que o PSDB-ES só vai começar a debater a eleição majoritária no dia 20 de abril, mas indicou que o partido pode, sim, ingressar nessa aliança, graças à capacidade de articulação de Casagrande, de acordo com ele.

Além do PSDB, Ricardo tinha convites de filiação do PDT e do Podemos, somados ao assédio fortíssimo que vinha recebendo dos dirigentes do Progressistas (PP). Diga-se de agem, Ricardo também é muito bem relacionado com os respectivos líderes estaduais dessas três agremiações: Sérgio Vidigal, Gilson Daniel e Marcus Vicente.

Ocorre que essas três legendas já se encontram altamente fidelizadas ao projeto político-eleitoral liderado por Casagrande e com certeza estarão em sua coligação. Desse ponto de vista, entrando em um desses três partidos, o que Ricardo poderia agregar a Casagrande nessa parceria entre os dois?

Ao contrário, se tivesse entrado em um desses três partidos, particularmente no PP, Ricardo poderia até atrapalhar um pouco não só Casagrande como também a si mesmo. Sim, também a si mesmo, pois não podemos perder de vista que Ricardo é altamente cotado para a posição de vice na chapa a ser encabeçada por Casagrande.

Ora, o PP tem reivindicado publicamente um espaço na chapa majoritária de Casagrande – seja com o candidato a vice, seja emplacando o candidato a senador. O nome que o partido trabalha como pretenso candidato ao Senado é o do deputado federal Josias da Vitória. Se Ricardo tivesse entrado no PP, seria gente de peso demais no mesmo partido. E, se ele viesse a se tornar o vice de Casagrande, pelo PP, o partido poderia esquecer a candidatura ao Senado.

Agora, com Ricardo no PSDB, o PP pode se concentrar em trabalhar para emplacar a candidatura de Da Vitória ao Senado na chapa oficial… Ou algum outro nome como candidato a vice-governador na mesma chapa. Olhando a questão por esse ângulo, a decisão de Ricardo de não ir para o PP é boa, também, para o próprio PP.

Theodorico: “A família é indivisível”

Praticamente em simultâneo, enquanto Ricardo confirmava a sua (re)filiação ao PSDB, seu pai e sua madrasta, Theodorico Ferraço e Norma Ayub, eram anunciados como novas “aquisições” do PP. Theodorico tentará se reeleger na Assembleia Legislativa, enquanto Norma buscará a reeleição na Câmara dos Deputados.

Tal situação comprovou algo que já se percebia desde que os três políticos da família Ferraço decidiram sair do União Brasil: aonde Theodorico fosse, Norma necessariamente o acompanharia; mas o caminho do pai não necessariamente seria seguido por Ricardo.

O próprio Theodorico já sinalizava isso em bate-papo comigo na semana ada: “Ricardo é de maior, é vacinado… Pode seguir o melhor caminho para ele. Mas, independentemente da política, a família é indivisível”.

PP, um transformer político

Com esse desfecho, o PP atingiu a sua prioridade, que nunca foi nem a filiação de Ricardo nem a de Theodorico, mas sim a de Norma. Para garantirem a vinda de Norma, a pré-condição foi filiar também Theodorico e acomodá-lo na chapa de candidatos do PP a deputado estadual.

E por que Norma era a prioridade? Porque a prioridade máxima do PP, no Brasil e no Espírito Santo, é eleger a maior bancada possível de deputados federais. Com a confirmação de Norma, o PP pode afirmar que já é, no presente, um gigante político no Espírito Santo, reunindo quatro dos dez deputados federais do nosso Estado: Evair de Melo, Josias da Vitória, Neucimar Fraga e Norma Ayub, sendo os três últimos recém-filiados, nesta janela de março para trocas.

Eleitoralmente, o PP agora também se sente em condições de fazer de três a quatro deputados federais nas eleições de outubro, o que, se confirmado, consolidará esse atual “gigantismo político” do partido no Espírito Santo, pelos próximos anos.

“Com essas filiações, o Progressistas  se torna o maior partido do Espírito Santo em termos de representação, com quatro deputados federais com mandato pelo Estado. E estamos trabalhando para fazer de três a quatro federais pelo Estado”, disse à coluna o secretário-geral do PP estadual, Marcos Delmaestro.

E Madureira, gente?

Também recém-filiado ao PP e candidato à reeleição, o deputado estadual Marcos Madureira terá agora que dividir espaço na chapa de estaduais com Theodorico Ferraço. Na última sexta-feira (25), publicamos que essa ideia não agradava muito a Madureira. Mas Delmaestro afirmou que a situação está pacificada dentro do partido e que não haverá defecções na chapa:

“Ninguém sai. Madureira fica. A Raquel Lessa também fica. O marido dela, Paulo Lessa, participou do ato de filiação de Ferraço. E Ferraço pegou um monte de fichas de filiação e está buscando mais gente para trazer para a chapa.”

Partido bolsonarista ou casagrandista?

Em tempo: os quatro deputados “progressistas” são bolsonaristas – e o PP, cumpre lembrar, apoia a reeleição de Bolsonaro à Presidência. Mas vai entender… Tirando Evair, todos são aliados de Casagrande no Espírito Santo.

Direita ou esquerda?

Centrão.

Neucimar tá onde, afinal?

Falando nessas “dissonâncias”, Neucimar Fraga está no PP desde semana ada, mas apareceu na noite dessa segunda (27), em rede estadual, na propaganda do PSD na televisão, como presidente estadual da legenda (o que, de fato, era… até semana ada).

Com que roupa eu vou?

É que os políticos trocam de partido como quem troca de roupa. E a política muda tão rapidamente… Não deu tempo de atualizar as inserções.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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